sábado, 5 de setembro de 2009

"Quases" - Por Claude Bloc


Se eu forçasse a memória, me sairia dela mais do que quero lembrar. Muitas vezes nem preciso é. Basta passarem-se os dias: um dia qualquer de setembro, de outubro ou de novembro. Dias em que me sinto despreparada para lidar com o acaso, porque o ano começou a tanto tempo que já não o estou mais esperando. Fico então me conformando com o mínimo e disso passo a tirar uma série de conclusões amarrotadas.

Digo pra mim mesma que dói às vezes esse sintoma, que não há mais vontade de senti-lo, mas a coisa é maior que a vontade. Entro, então, nesse mar perigoso até onde dá pé, enroscando-me entre os lençóis espumantes das ondas, afundando entre as fronhas das marés, até quase me afogar em outubro de tanto esperar chegar à praia e à luz. Fico a espreitar o vento para que ele me embale em suas vestes enquanto espero pelo sim, pela vida que se perpetua nessas águas, em meu silêncio.

E setembro passa. E volta a noção do desperdício. Do tempo cheiroso em que as lembranças se deitavam todas as noites à espera de um mero sinal, de um acorde, da têmpera do tempo que parecia desfiar-se sem retorno por uma eternidade.

Setembro passa. Lavo meus pés em água mansa. A vida inteira num minuto. E vou aos poucos desfazendo meus “quases” nessa fração de tempo em que deixei meus versos escorrerem. Quase agora. Quase sempre.
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Texto e foto por Claude Bloc
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