terça-feira, 30 de março de 2010

A JANELA DA CASA DA FRENTE- Do outro lado da Rua - Por Xico Bizerra.

Estava tão perto, bastava atravessar a rua, no caso, a Avenida Teodorico Teles, onde morava Padim Zuza, meu avô. Do outro lado, ela e seu sorriso, à mesma distância, claro. A vontade de ir até àquela janela do outro lado só era menor que a timidez que impedia seu atravessar. Coisa de adolescente. Sempre, à mesma hora, o ritual repetido: debruçar-se à janela, aprumar a vista para a janela da casa de frente, sonhar. Sabia que ela tinha o mesmo desejo e a mesma timidez, por isso, o mesmo ritual.

Era a melhor parte das férias. Numa tarde de um junho quase julho passaram pela rua que os separava quase 30 fuscas, duas freiras e uma carroça carregando móveis usados, puxada por um cavalo castanho. Seu irmão menor viu e contou. Ele mesmo nada percebera além do debruçamento da menina à sua frente. Apenas praquela janela tinha olhos.

Nas férias seguintes, a casa da janela enfeitada foi alugada a outra família. Foi a pior parte das férias. Numa tarde, ele contou 41 fuscas passando pela rua, a maioria deles branco. Duas freiras voltaram a passar. À tardinha, bem lentamente, passou uma carroça de saudades puxada por um cavalo azul.
Xico Bizerra

4 comentários:

  1. Prezado Xico Bizerra.

    Quantas lembranças,
    Dos tempos de infancia.
    Quantas saudades do velho Zuza,
    Da casa do outro lado da rua.
    Dos fuscas, das freiras, da menina e muito mais.
    Coisas que o tempo levou,
    E que pelo seu valor,
    Não esqueceremos jamais.

    Parabens pela bela cronica.
    A. Morais

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  2. Senti-me tocada pelas tuas, e pelas minhas lembranças.

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  3. Morais,

    Xico descreveu tão bem o cenário que de certa forma me senti aquela menina na janela... Creio que muitas histórias de amor de gente da nossa época começaram assim e exatamente desta forma...

    Texto tocante...

    Abraço,

    Claude

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  4. obrigado a Morais, a Socorro e a Claude por serem tão generosos.
    Abraços a todos,
    XICO BIZERRA

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