quarta-feira, 26 de maio de 2010

O ventilador

Quarto empoeirado.
Ventilador com bronquite.

Faz tempo que não gripo.

Meu ventilador companheiro
tem acolhido a asma
que seria minha.

Em troca,
ofereço-lhe vida.

Chamo-lhe " me dá o pé, louro."
Abro-lhe o ventre.
Limpo suas costelas.

Faz tempo que não gripo.

Era pra estar morto o poeta
de tanta poeira do quarto.

Mas o ventilador camarada
recebe de bom grado
meu estado físico.

Respira por minhas narinas
as teias de aranha
brumas que caem
sobre minha cabeça.

Olho para o teto.
Crateras lunares.

Ou espinhas de adolescente.
Ou cistos.

O ventilador ouve-me
e permanece atento
criando todo poderoso
seu próprio vento.

Um comentário:

  1. Domingos,

    Até um ventilador vira poesia em suas mãos.
    Já se vacinou contra a gripe...

    Meu acento de interrogação não funciona.
    Fico devendo!

    Abraço !

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