sábado, 12 de junho de 2010

Alegoria Dos Bins - por Cauê Alencar



Devagar ela se aproximou. Contra a densa neblina a sombra avançou até um ponto em que parou, hesitante, e olhou para mim. Eu estava confuso e assustado e minha imensidão branca agora não me dava conforto, mas sim trazia-me dúvidas. Estava intrigado e ao mesmo tempo confortável.
Por horas nos olhamos enquanto ela se afastava em meio ao branco, agora sem neblina alguma. Quatro, Cinco horas.
Assustou-se quando vários fragmentos de mim, pedaços de pureza e impureza se dirigiram a ela, e pularam ao seu redor, como cachorros aos braços do dono. Deveriam ter uns cem ao redor dela enquanto restavam-me dois ou três de meus mascotes.
Rapidamente levantou-se e tentou espanta-los com o balanço dos braços, o que foi inútil.
Depois de algumas tentativas vans, acalmou-se e veio até mais perto de mim, que já estava quase deitado no vasto assoalho.
- São seus?
- Sim. Respondi em tom demasiado calmo.
- Assusta-me como tais animais pulam tão enumerosos ao meu redor, poderia chama-los de volta?
- Já não posso fazer isso.
Após alguns minutos de silêncio, ela perguntou, intrigada:
- O que são?
E como que num último alívio para fechar meus olhos, respondi:
- Meus pensamentos.

2 comentários:

  1. Pura maravilha literária!!!


    Parabéns!!

    Claude

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  2. A imagem dos cães.
    A verdade intrínseca do personagem.
    A sonolência, brilho, comoção e indiferença do narrador: massa.

    Uma boa ideia.
    Um quadro transparente.
    Até a névoa.

    Novamente: massa, massa.

    Forte abraço.

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