terça-feira, 8 de junho de 2010

Apenas singular - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando nasci,
Buscava eternizar-me,

Sobrevoar a poeira do tempo,
Desdobrar-me em circunstâncias,

Transpor a finitude,
Expor-me aos experimentos do espaço,

Extrair-me do cotidiano,
Antecipar-me ao futuro,
Sobretudo esgueirar-me ao passado.

E vim entre tais promessas,
Sujeitando-me ao esmeril do tempo,
Teimando em perenidade.

Qual nada me descobri mais.

Nem finito e nem eterno,
Apenas singular.

2 comentários:

  1. "Esgueirar-me do passado", só se for no plural. A união faz o presente singular.
    Gosto do escritor Zé do Vale, em prosda e verso !

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  2. José do Vale,

    Nos entremeios de sua singularidade, minhas palavras pequenas....

    Abraço,

    Claude

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    Quando nasci,
    Buscava eternizar-me,
    - ser raíz e semente
    - na posteridade

    Sobrevoar a poeira do tempo,
    Desdobrar-me em circunstâncias,
    - e nas latitudes da vida
    - ser hora, ser encontro marcado

    Transpor a finitude,
    Expor-me aos experimentos do espaço,
    - provar a seiva e o sumo
    - beber o néctar e o bálsamo

    Extrair-me do cotidiano,
    Antecipar-me ao futuro,
    Sobretudo esgueirar-me ao passado.
    - pois que no passado ficaram as dores
    - e os sorrisos abandonados

    E vim entre tais promessas,
    Sujeitando-me ao esmeril do tempo,
    Teimando em perenidade.
    - E pelo éter deixando-me ficar
    - sedimentando-me, edificando-me

    Qual nada me descobri mais.

    Nem finito e nem eterno,
    Apenas singular.

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