quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O cachorro




O cachorro

O cachorro me olhou com o silêncio
lacrimejante das janelas-enigma,
sempre fechadas, sem palavras, sangue
e sal diluidor, e latiu forte

como a morte, como árvore de espantos.
O cachorro rompeu o seu silêncio
de pedra exausta: precisava a dor
dizer ao mundo. O sangue na terra

clamava aos céus, o breve fim, a angústia
milenar, consentida, mas angústia.
O cachorro floriu diante do mar,

em êxtase com a água, a eternidade
nos olhos mansos, vendo o tempo frágil
desfazer-se na fria areia efêmera.

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2 comentários:

  1. José Carlos Brandão,
    Poeta e amigo:

    sempre a provocar
    um sopro além
    da própria existência
    - o cachorro
    também é terra.

    Forte abraço.

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  2. Ótimo texto, José Carlos.

    Seu pensamento me chegou tal qual uma tela pintada sobre os sentimentos.

    Seu "cachorro" vive deveras!

    Abraço,

    Claude

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