sábado, 16 de outubro de 2010

o vazio das conchas das mãos

Além do mar se vê Poesia
dentro das botas também.

Pelas paredes e no reflexo dos vitrais.
Nas cerâmicas rachadas e no dorso do mármore.

A poesia é pudim, groselha, tamarindo
água para matar a sede do corpo pois
a poesia exaure os tendões e os cílios.

Não leia o poema com a mente
(nem a sua nem a do outro) .

Há de se permitir o tombo da alma
ao balé da folha seca despencando.

Não leia versos julgando-os amorosos
ou brincantes: quem desvenda o sorriso
daquele triste palhaço na sua alcova?

Não tentem aprisionar o poema
com sutis olhares de mestre.
Ninguém é mestre diante
da loucura e da lucidez
(de fogo) .

Nenhum conceito é puro.
Nenhuma mão que segura a pena é inocente.

Além do mar existe Poesia.
Além do quarto sombrio certamente.

A Poesia não é território somente dos corais ou dos ácaros.
Arranque seu coração experimente escrever sem este músculo.

O cajado do poeta são os versos
retorcidos sob a solidão necessária
de cada poema.

Escrever é o bastante
(e veja a dança) .

A Poesia é uma dança frenética (arrebatadora) .
Quem escreve não precisa de ajuda,
mas sim revelações.

7 comentários:

  1. Você e a poesia são irmanados.
    Vejo-os sempre de mãos dads , e corações em uníssono !

    Abraços, mi amor !

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  2. Domingos,

    A madrugada te revela
    entre versos dispersos,
    entre paredes e vitrais
    sementes-poemas
    sementes da mente

    E a Poesia se incorpora
    e mata a tua sede
    e exaure a noite
    e apaga os reflexos
    do teu olhar sutil

    A Poesia tem enfim
    o sopro do vento
    tem sabor de fruta
    e na loucura dos versos
    esconde
    a lucidez do poeta
    noturno
    sonata

    solidão.

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  3. Glosa de Domingos Barroso

    As conchas das mãos nunca estão vazias.
    No mínimo estão cheias de nada
    e mesmo o nada é poesia.

    Tenho poesia no corpo todo,
    nos olhos doentes de tanta luz,
    nos pés gretados de tantos caminhos,
    nas botas, nas unhas, nos cabelos
    que caem e renascem a cada dia.

    Leio o poema com os olhos,
    sinto o poema com os dedos
    com o nariz, com os ouvidos e com a língua.
    Leio o poema com os cinco sentidos.

    As folhas caem, mas, antes de cair, bailam
    no ar, valsam suaves ou rodopiam endiabradas.
    As folhas têm alma: a nossa alma.

    Os versos são formas lúdicas ou são o corpo do amor,
    mas a dor do poeta, esse palhaço, quem saberá?

    O poema é livre como o voo do pássaro
    e se queima no fogo das imagens iluminadas.

    Ninguém escreve ou lê impunemente um poema.

    Poesia se escreve com sangue pulsando nas palavras
    e inundando a forma fecha, de concha, do poema.

    O meu bordão flori a cada verso que eu escrevo.
    Planto o meu bordão na rocha no meio do deserto
    e não brota água, mas sangue convulso.

    Escrever é uma dança imóvel à espera da revelação.

    (Um abraço, Domingos, do amigo Brandão.)

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  4. Socorro (Sacerdotisa),
    a fraternidade poética
    é o nosso elo, sempre

    Carinhoso abraço.

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  5. Claude, obrigado pelos versos
    e pelo imenso carinho
    ...

    Fraterno abraço.

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  6. Grandioso poeta
    e meu amigo,
    José Carlos Brandão

    tal homenagem
    enche meus olhos
    de puras lágrimas
    e profundamente a alma
    se abriga (em cada imagem)
    contentíssima
    ...

    Forte abraço,
    meu amigo.

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