terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O DILÚVIO



a menina está de cama com febre
e sonha com um dilúvio
a casa navegando como a arca de Noé
quando acordou a casa navegava
com alguns bichos e ela

passou uma mulher com um cachorrinho
mas não passou Tcheckhov
nem Moby Dick
a cultura morreu afogada

Quando chegou Moisés já era tarde
nem o cabelo de Sansão se salvou
nem a língua de Dalila
ou a bandeja de prata de Salomé

a menina ficou abandonada no mundo
sozinha para criar uma outra humanidade
mas feliz da vida porque estava viva
e antes só do que mal acompanhada

(Gregório Vaz)



3 comentários:

  1. Ah, Gregório Vaz sou eu, também. É um heterônimo. Meu lado mais bravo.

    ResponderExcluir
  2. Carlos Brandão,

    Um só escritor já é orgulho demais aqui no Cariricaturas, imagine em dose dupla.(Gregório Vaz)
    Quisera eu possuir apenas hum dos seus sete livros de poesia.
    Um escritor laureado por homenagens por todo o Brasil e presente quase que diariamente por aqui como um simples colaborador.
    A modestia parece lhe ser familiar, caro poeta.
    Acho que essa menina saiu sã e salva das águas do nosso Rio Granjeiro. Para mim é uma referencia poética, se me permite...
    Abraço !

    ResponderExcluir
  3. José Carlos,

    Um poema ao mesmo tempo doce e atento às questões da vida.

    Creio que seu lado bravo é também sutil, sábio e coerente.

    (Prazer em conhecer Gregório Vaz)

    Abraço,

    Claude

    ResponderExcluir