terça-feira, 25 de agosto de 2009

A DONA DA LUZ Por João marni

A DONA DA LUZ

Sou médico há vinte e oito anos, e por trabalhar na urgência pediátrica, às vezes deparo-me com a morte.
É sempre uma experiência traumática e, derrotado, presenciar a dor da família, sobretudo a dor da mãe, é algo que não consigo aceitar como pequeno, comum, inexorável.
A mãe é um ser especial, dotado de um coração diferente, maior, mais forte, porém mais raso.
Uma vez grávida, passa por transformações físicas e psicológicas incríveis, tudo pelo concepto.
Mais do que uma simples obediência biológica em passar seus genes adiante, o vínculo criado é tão poderoso que os casos contrários são considerados aberrações.
Parido em dor, o bebê causa lágrimas de pura alegria e orgulho em sua exausta mãe!
Amamentá-lo, compreender o significado de cada um de seus sinais, de gemidos a sorrisos, só cabe a ela, em todas as fases do desenvolvimento dele.
Ante os perigos e as doenças, questiona a Deus, por quê não com ela? E por ocasião da perda, grita tão alto, como que tentando acordá-lo, chora tanto, declara seu amor tão sincera e piedosamente, que sensibiliza a todos em volta, numa onda de puro afeto, fidelidade e desolação!... O epitáfio da mãe de Santa Teresinha deveria representar as demais mães: “Para meus filhos, deixo o meu coração: pertenço ao céu”.
Pesaroso, livrando-me das luvas, vislumbro a Imaculada.
Apesar de tudo, desse caldo de sofrimento, o médico levanta-se e segue, esperançoso que momentos assim tornem-se cada vez mais raros, quando, por fim, o homem, o gestor, terá compreendido o clamor de seu povo, melhorando os indicadores de saúde.

5 comentários:

  1. Emocionada pela compreensão da dor , entrego pra você , o meu silêncio.

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  2. Dr. João Marni,

    Sei mais do que ninguem a dor de perder um filho e me emocionei com suas palavras...
    Imagino com a sua sensibilidade passar diversas vezes por entre lágrimas e corações partidos na sua profissão...
    Deus tem o poder de nos fazer viver com essa ausencia...
    Fôrça !

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  3. João Marni,
    Parabéns por tanta sensibilidade!!!
    Ás vezes os profissionais médicos de tanto ver a morte de perto ,se tornam "acostumados" com essa dor,ficando um tanto gélidos...
    Mas você ,ao contrário, fica mais condoído e consegue até sentir o sofrer do outro.
    Com admiração:Liduina.

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  4. João faz parte dos séculos das luzes. É um iluminista por natureza. Mesmo diante do drama e da irreversão dos fatos, clama por uma política de saúde em que as mães não mais chorem. Este espírito de querer domar o destino é uma das mais esperanças que o iluminismo incorporou na civilização ocidental.

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  5. Socorro querida,sei que você chorou comigo.
    um abraço
    Cara Liduina,que Deus jamais permita que sejamos indiferentes a essesgritos.
    um abraço
    Estimada Edilma que Deus a abençõe.Tenho convicção que Ele põe a mão sobre o ombro do seu filho ao caminharem juntos.Um abraço.
    Amigo Jose do vale,suas palavras me deixaram mais feliz e menos vaidoso.um grande abraço

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