quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Labuta

Tente escrever seu poema.
Não se desanime.

Aliás desanime-se.

O poeta não é dono das palavras.
Delas lacaio.

Escreva torto, ávido, manso.
Com os dedos das mãos
ou com o esmalte das nuvens.

Mas escreva.

Ora se atinge o pássaro em pleno voo,
ora sequer acertamos na mosca morta.

Escreva.
O poema lama, o poema sal, o poema sede.


Não se apiede das sombras.

Depois se quiser rasgue.
Triture.
Coma.

O poema escrito é seu.
Quem lê é senhor de outro.

Portanto,
não se enraiveça.

Ou melhor,
enraiveça-se.

Mas escreva.
Escreva.

O poeta é apenas
dono do silêncio -

que tem outro nome,
que mora noutro espaço.

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