segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A poesia de Domingos Barroso

Varanda

O meu coração trancafiado
dentro da concha
é um molusco
exuberante.

Ninguém sabe
o quanto é prazeroso
seus sonhos.

As últimas lembraças
do primeiro beijo,
um desastre -

a doce virgem já fumava
e tinha um hálito cancerígeno.

Manhã de Segunda

Passei a madrugada
curando a asma
do meu filho.

É tempo do pequeno
fazer natação.

Não será igual ao pai -
um incauto.

Até hoje o poeta nunca aprendeu
a nadar nem andar de bicicleta
muito menos a dirigir.

Seu mundo,
sua alcova:
paredes, teto.

Às vezes surgem
alguns fantasmas
arrastando correntes.

Meu divertimento predileto
erguer a espada e partir ao meio
os grilhões.

É claro, em certas ocasiões,
feria-lhes os calcanhares.

Os vultos urravam de dor.
Mas ao mesmo tempo gargalhavam.

Felizes, beijavam-me as faces,
e prometiam nunca mais assustar-me.

Era eu então quem sorria:

"ingênuos fantasmas,
não entendem eles
que suas sombras
vêm da minha luz..."

Quanto ao meu filho
tomou seu aerosol

e agora se diverte
com seu playstation:


Domingos Barroso

2 comentários:

  1. meu coração tem liberdade absoluta
    tem asas, tem véus, e sabe nadar
    sonhos mirabolantes
    paladino incansável
    lembra o susto de prazer do primeiro,e do último beijo.
    hálito hals
    tosse , respiração cansada
    de quem fumou pra beijar.

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  2. Será mal de quem versa
    não saber nadar?
    será mal de quem versa
    odiar dirigir
    porque precisa estacionar?
    será mal de quem versa não correr riscos,
    pedalando a bicicleta,
    que ficou guardada na infância?
    será mal de quem versa juntar rimas,
    rabiscar páginas,
    e teclar o amanhecer em tons rosados de ternura?

    Abraços, meu poeta !

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