segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Amadores - Domingos Barroso

Ouvi dizer que tu vais tomar banho de cachoeira nua.
Até pelo telefone tua voz esbanja pura felicidade.

De fato o inocente fora do cárcere
vê o céu com outros pássaros nos olhos,
abraça árvores apaixonadamente,
tropeça no meio-fio e gargalha.

Enquanto eu o algoz caolho
em meados de dezembro
começa a levantar peso.

Tenho que estar forte:
o leme do meu navio
agora é um leme tosco.

Sabe, desses lemes de pirata;
e as velas, meu deus, enrijecidas
pela banha preguenta de elefante.

Espero que o vento venha mais impetuoso:
leve o barco, quebre o leme, rasgue as velas.

Como sou um algoz caolho
não vejo lágrima alguma.

Mas, lembra-te:
o vento adora dar voltas
em torno dos cílios.




domingos barroso

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