sábado, 1 de maio de 2010

Café com leite

Antônio Maria
É preciso amar, sabe? Ter-se uma mulher a quem se chegue, como o barco fatigado à sua enseada de retorno. O corpo lasso e confortável, de noite, pede um cais. A mulher a quem se chega, exausto e, com a força do cansaço, dá-se o espiritualismo amor do corpo.

Como deve ser triste a vida dos homens que têm mulheres de tarde, em apartamentos de chaves emprestadas, nos lençóis dos outros! Quem assim procede (o tom é bíblico e verdadeiro) divide a mulher com o que empresta as chaves.

Para os chamados "grandes homens" a mulher é sempre uma aventura. De tarde, sempre. Aquela mulher que chega se desculpando; e se despe, desculpando-se; e se crispa, ao ser tocada e serra os olhos, com toda força, com todo desgosto, enquanto dura o compromisso. É melhor ser-se um "pequeno homem".

Amor não tem nada a ver com essas coisas. Amor não é de tarde, a não ser em alguns dias santos. Só é legítimo quando, depois, se pega no sono. E a um complemento venturoso, do qual alguns se descuidam. O café com leite, de manhã. O lento café com leite dos amantes, com a satisfação do prazer cumprido.

No mais, tudo é menor. O socialismo, a astrofísica, a especulação imobiliária, a ioga, todo asceticismo da ioga... tudo é menor. O homem só tem duas missões importantes: amar e escrever à máquina. Escrever com dois dedos e amar com a vida inteira.

3 comentários:

  1. Amei esse texto. Tanto que considero como algo que eu gostaria de ter escrito.

    Abraço,

    Claude

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  2. Compartilho da sensação! Também adoraria tê-lo feito, Claude. Beijos!

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  3. Vera, que saudades, menina !

    Tudo camninhando, viu? Você pra mim já vive na estrada da chegada... E falta pouco asfalto !

    Fgendada, novos projetos começando a construção...
    Devias vir de mala e cuia... O Crato precisa de ajudantes de luz !


    Abraços.


    Café com leite ? Ei, ei... Tudo de lindo !

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