sábado, 29 de maio de 2010

Um poema de Everardo Norões

Poema VII


Restos de falas na mesa

e a náusea matinal.

O bule, a xícara, os copos.

A mão, submersa no sal,



da tarde, na planície,

tão clara, dessa mesa,

onde deslizam os repastos

da habitual tristeza



que cobre a toalha branca

de rendas. E essa fome,

bordada sobre a mesa

como as iniciais de um nome.



O jarro com flores e

as cinzas do outro dia,

fugindo aos arabescos

das rendas, tão frias,



como as coisas distantes

que nos aguardam à mesa:

o leite, o bule, o café,

o sono, a morte, a incerteza.


Em: Poemas. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1999. Prêmio Eugênio Coimbra (Conselho Municipal de Cultura), categoria Poesia, 1998.

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