sábado, 7 de agosto de 2010

Um momento com Cecília Meireles...



Traze-me

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!


4º Motivo Da Rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzidas,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
e um dia me acabarei.


2 comentários:

  1. Claude,

    de Cecília posso dizer que foi uma das minhas primeiras paixões poéticas.Gosto, gosto, gosto muito.
    Vou deixar aqui um poema dela, que sai do meu baú, claro.

    "Epigrama nº 9

    O vento voa
    a noite toda se atordoa,
    a folha cai.

    Haverá mesmo algum pensamento
    sobre essa noite? sobre esse vento?
    sobre essa folha que se vai?"

    Lindo não é?
    Xêros

    ResponderExcluir
  2. Stela, só agora vi seu comentário-poema.
    Você já o expôs mais adiante, então fica-me aqui a oportunidade de um abraço...

    Claude

    ResponderExcluir