Fonte: “Diário do Nordeste”
Os ipês-amarelos são os mais utilizados para a arborização das cidades, proporcionando um bonito contraste quando suas flores caem ao chão. No sertão, é espetáculo de rara beleza
Quando o ipê flora já a partir de setembro, os profetas populares avaliam como sinal de muita chuva na estação seguinte. Também chamado de pau d´arco, a arvore é bastante apreciada
Ainda há tempo para apreciar uma das raras belezas do semiárido: o ipê-amarelo totalmente coberto de flores
Crato. Está chegando ao fim um dos espetáculos mais bonitos da natureza: a floração do pau d´arco, também denominado ipê. Em meio à paisagem cinzenta, provocada pela seca, que enche de tristeza o sertão nordestino, o ipê quebra o clima de desolação, tingindo de amarelo o Cariri ressecado pelo Sol. A florada começa no mês de setembro, coincidentemente com a Semana da Pátria, e termina no final de outubro, quando as folhas caem, transformando o chão num tapete amarelo.
"As cores têm papel fundamental na vida de todos. É através delas que mostramos o que sentimos e também são elas que demonstram um pouco de cada um. Está em tudo o que envolve vida. A cor é praticamente o sentido da vida, seria impossível, surreal, imaginarmos um mundo preto e branco, ou melhor, sem cor. Não teria vida e muito menos sentido das coisas", diz a artista plástica Edilma Rocha, com curso na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
"O amarelo é uma cor que contribui para a felicidade. É uma cor brilhante, alegre, que simboliza o luxo - é como estar em festa a cada dia. Associa-se com a parte intelectual da mente e a expressão de nossos pensamentos", complementa o advogado e cronista Emerson Monteiro Lacerda.
Encontrado em todas as regiões do Brasil, o ipê sempre chamou a atenção de poetas, escritores e até de políticos. Em 1961, o então presidente Jânio Quadros declarou o pau-brasil a Árvore Nacional e o ipê-amarelo, da espécie Tabebuia vellosoi, a Flor Nacional.
Sombra do centenário
No Cariri, a árvore é o símbolo do ensino universitário. O Seminário São José do Crato, embrião da Universidade Regional do Cariri, nasceu na sombra de um centenário pau d´arco que ainda hoje resiste às intempéries do tempo. No encontro de ex-alunos do Seminário realizado este ano, alguns participantes mataram a saudade na sombra da árvore.Conhecido por sua beleza e pela resistência e durabilidade de sua madeira, os ipês foram muito usados na construção de telhados de igrejas dos séculos XVII e XVIII. Se não fosse por eles, muitas teriam se perdido com o tempo. Até hoje a madeira do ipê é muito valorizada, sendo bastante utilizada na construção civil e naval, na fabricação de portas, janelas, linhas, caibros e forras.
Fins decorativos
Apesar de sofrer com o corte predatório por parte de madeireiros, o ipê ainda sobrevive graças ao cultivo para fins decorativos. Pelo seu menor porte (alguns ficam entre 10 a 20 metros), os ipês-amarelos são os mais usados na arborização das cidades, proporcionando um bonito contraste, principalmente quando suas flores amarelas caem sobre o asfalto escuro.
Moradores da Rua Pedro Bantim, bairro Sossego, em Crato, preservaram no meio da rua um velho pau d´arco que, nesta época, é objeto de admiração dos transeuntes no local. O profeta João Casemiro, residente no Sítio Romualdo, município do Crato, diz que, quando o pau-d´arco flora no mês de setembro, é sinal de muitas precipitações, de que as chuvas chegam cedo, provavelmente no mês de janeiro, conforme garante ele. O bancário aposentado Manoel Ivan Pedroza diz que a flor do pau d´arco é um excelente nutriente das abelhas em busca de pólen e do néctar para fabricação do mel.
Para o poeta Patativa do Assaré, o pau-d´arco foi uma de suas fontes de inspiração. O poeta, fugindo a seu estilo tradicional de fazer versos matutos, escreveu um soneto clássico comparando-se com a árvore que, no passado, foi a "rainha do campo" mas, com o passar dos anos, perdeu a sua vitalidade.
Floração
Originária do Brasil, o ipê-amarelo é a espécie da árvore mais utilizada em paisagismo. Durante o inverno, as suas folhas caem e a árvore fica completamente despida. No início da primavera, entretanto, ela cobre-se inteiramente com sua floração amarela, dando origem ao famoso espetáculo do ipê-amarelo florido. Quanto mais frio e seco for o inverno, maior será a intensidade da florada. Os frutos amadurecem a partir de setembro a meados de outubro.
A madeira é própria para obra externas como postes, peças para pontes, tábuas, para assoalhos, rodapés, molduras, entre outros. A árvore é extremamente ornamental, principalmente quando em flor. É a espécie de ipê-amarelo mais cultivada em praças e ruas estreitas e sob redes elétricas em virtude do pequeno porte.
Medicina
Na medicina, o pau-d´arco é considerado como um excelente anti-inflamatório, antibacteriano, antifúngico e laxativo, além de ser bastante usado para tratar úlceras, infecções urinárias, psoríase, diabetes e alergias, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), como sífilis, candidíases e cancro, além de problemas gastrointestinais e alergias. Os estudos ainda não comprovaram suas propriedades anticancerígenas.A madeira da árvore é própria para construções pesadas e estruturas externas, tanto civis como navais, como quilhas de navios, pontes, dormente, postes, para tacos e tábuas de assoalho, confecção de tacos de bilhar, bengalas, eixos de rodas etc. A árvore apresenta características típicas da floresta pluvial densa. Daí ser encontrada com abundância na Floresta Amazônica. Floresce de agosto a novembro, conforme a região, com a planta totalmente despida da folhagem. Os frutos amadurecem até dezembro.
Proporção20m é a Altura máxima já vista em um ipê, que tem tronco com diâmetro variando de 60 a 80cm. Muito frequente na região Amazônica e esparsa desde o Ceará até São Paulo
Fique por dentro
Poema de Patativa
Versos do poeta Patativa do Assaré, para o pau-d´arco, outro nome do ipê: "Aquela árvore pobre e ressecada/ Pelos feios carunchos corroída/ Foi outrora, na luz da sua vida/ Qual rainha do campo, coroada/ É um velho pau-d´arco, e quem da estrada/ O contempla, sente ainda dolorida/ A sua haste parece assim erguida/ A estátua da glória já passada/ Aqui dentro do peito eu também tenho/ Infeliz coração, fiel desenho/ Do pau d´arco daquela soledade/ Com o peso dos anos abatido/ Sem prazer, sem amor e carcomido/ Dos carunchos cruéis de uma saudade".
MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura Municipal do Crato/ Secretaria de Meio Ambiente
Centro Administrativo, Bairro São Miguel, (88) 3521.9400
ANTÔNIO VICELMO,
REPÓRTER
Armando,
ResponderExcluirAgradecendo pela ótima postagem. Eu, pessoalmente, sou apaixonada por Ipês... Já tive em minha posse algumas fotos quando ainda usava câmera convencional. Infelizmente não consegui localizá-las.
O texto, então, ilustra e nos presenteia com os detalhes, com a precisão e a com a informação.
Obrigada, amigo e parabéns a Vicelmo pelo registro.
Abraço,
Claude
Vicelmo e Armando,
ResponderExcluirVocês sabem o que existe em comum entre o Ipê ( que adoro) e as orquídeas??? Ambos floram uma vez por ano. E eu amorosamente e cuidadosamente cultivo a segunda em minha casa, e aguardo passo a passo, o desenrolar dessa "gestação".
Abraço aos dois e um belo final de semana rodeado de Ipês, se possível: Liduina Belchior.
E VIVA OS IPÊS!
ResponderExcluirBELOS, POÉTICOS. E POESIA NUNCA É DEMAIS...
Armando Rafael,
ResponderExcluirParabéns pela postagem tão oportuna pelas cores dos Ipês amarelos que deixam o belíssimo
tapete de flôres na esperança do sertanejo como um sinal de chuvas.
Agradeço a Vicelmo a quem admiro e respeito por usar parte de um texto meu sôbre as côres. Com muita inteligencia encaixou perfeitamente aos seus escritos através de pesquisas as côres através da vida.
Agradeço aos dois e os parabenizo.
Edilma Rocha