quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A poesia de Domingos Barroso

Pulmões Que Ardem
Entendo a tua paranoia em ser feliz.
Desde criança te incutiram esse difuso sonho.

E tu não percebeste
que não se pode colher
todas as conchas do mar
(há aquelas que são casas de moluscos) .

Nem assoprar todas as nuvens
a fim de um límpido céu ao teu deleite
(noutro extremo outros loucos assopram) .

Entendo ainda mais essa tua agonia
quando vislumbras teus olhos tristes
e sabes que passou a infância.

Que será da vida na fase terminal da tua doença?
Onde aquela eletricidade dos teus jovens cabelos?

A dor não é a efemeridade da pessoa
mas o engano de todo pensamento
(e como perdeste tempo pensando
sobre a chuva, sobre o tempo,
sobre a vida)

Enquanto deverias apenas
ter dançado debaixo da chuva
e bebido a água direto das nuvens.

Mesmo agora (revelado e limpo)
tu não consegues morrer em paz.

(ver claramente que dentro do teu coração
algo existe que não se queima à toa)

por Domingos Barroso

Um comentário:

  1. Domingos,

    Que poesia maravilhosa !
    Fala da vida e suas dores com maestria e leveza.
    É um previlégio para o Cariricaturas lhe ter por aqui.
    Abraço !

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