sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Outra Ceia

Os convivas à mesa:
ao meu lado direito,
minha xícara (com seu riso
estampado) à minha frente
minhas botas (sempre
juntinhas e silenciosas)
e à minha esquerda
uma plantinha (retirada
da varanda) .

Peço pra que um dos meus convivas
faça a prece.

As botas (para meu espanto)
levantam-se siamesas
e sussurram:

"Que o nosso senhor poeta
esqueça da sua loucura
e nos permita
voar sobre as nuvens
sem tanto devaneio..."

A plantinha abre os braços
(quase atinge o olho da xícara)

eufórica,
festeja:
"esse poeta
é fabuloso!"

A xícara retruca:
"fabuloso? ultimamente
só tem escrito frivolidades"

"Por favor, meus amigos
o peru esfria e a minha língua
anseia pelo tempero mais do que
pelos versos..."

(digo eu, destrincho a coxa
e afasto da minha mão a taça de vinho)

3 comentários:

  1. Poeta, seus versos falta nos fazem !

    Bendita noite que te trouxe de volta...Noite Feliz, haja visto !

    Abraços de Boas festas com versos ou sem versos.

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  2. A consideração dos outros: para mim uma das faces do conceito de arte que mais me atraia é esta relação entre a obra e o autor. Este poema de Domingos é bem diferente do que vinha escrevendo, mas é impressionante como é ele. As cores de arco iris das pessoas são impressionantes: tão diversificadas sobre o mesmo arco.

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  3. Domingos,

    é bom começar o dia de Natal (25)
    se deliciando com poema tão criativo.
    Adorei!

    Te mando um abraço carinhoso e beijos poéticos.
    E que 2011 venha mais rico de poesia pra todos nós.
    stela

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