quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A poesia de Everardo Norões


CEMITÉRIO DE MUCUGÊ



Do desterro de pedra,

contemplo

a pequena cidade muda.

Escalo seus andares,

a mão se fere nas cinzas

dos seus ossos.

A cal ofusca,

a nuvem cala:

nunca mais eu voltarei aqui.



Nunca mais eu voltarei aqui,

para despir a paz dos Meteoros:

o lume que se esconde nas aguadas,

o garimpo do corpo,

os epitáfios.



As bromélias sangram nos meus pés.

Avisto a lousa cega,

o muro descarnado.

Um bordado de letras — seus insetos —

o escalar das heras

nos portais.

Devo subir degraus,

sangrar os lábios,

resvalar pelas pedras meus pecados;

arrancar do umbigo das colinas,

a raiz do silêncio,

Teu mau-trato,



Do desterro de pedra

me contemplo:

urna luz repartida entre as ruínas,

um azul que alucina

as tuas águas...


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