sábado, 18 de junho de 2011

Ode fluvial




O rio flui entre as montanhas
imóveis,
com seus rochedos cinzentos de joelhos
como velhos
mortos
de fadiga.

O silêncio flui com a água sobre a nudez da terra
que flui
com a carne
da morte, como se da mesma fonte
entre os pássaros
e os bois
no pasto.

Tanta noite e somos manhã
e somos estranhos fluindo com a água da dor,
cantando
a música do inverno,
essa brancura
de gelo
e inanição.

A morte lava o meu suor, as minhas feridas, a minha
angústia
e sou polido
pelas pedras, por
este chão familiar e estranho – e reconheço
outro ser
em mim, nesta desolação.

A limpidez das coisas e o sentimento de exílio,
enquanto a beleza flui
com o rio
e suas águas claras
e seu espelho
de ausência imóvel no dia longínquo,
rio
fluindo,
como a vida,
da ponta dos dedos.



Um comentário:

  1. José Carlos,

    Seu texto passeia pelas terras e águas como se nos conduzisse através do tempo num voo interminável. A foto diz muito, mas o que está escrito transborda em leveza.

    Abraço,

    Claude

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