quarta-feira, 27 de julho de 2011

A ÁGUA NEGRA










 
 
A ÁGUA NEGRA

A caixa d’água no escuro do sótão não dorme.
Um demônio vigia e ronca no cotovelo da escada.
Os mortos nunca estão suficientemente lavados.
Ouço no fundo do inferno o canto de Orfeu.

As idéias se afogaram no bronze salgado do mar.
Os ratos insones passeiam no cemitério dos navios.
Onde o ouro obscuro que tanto me atrai e mata?
O vento se envergonha do corpo nu de Eurídice.

Pendurei Eurídice pelos cabelos no mais alto mastro.
Os marinheiros com a garganta seca gritam de sede.
Os tambores rubros retumbam, os canhões explodem.

A guerra não tem fim, os campanários desabam no caos.
A água negra inunda a casa do sótão até o porão.
O meu anjo da guarda perde as penas das asas negras.



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