quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Folhas secas

- Claude Bloc -

Já era fim de tarde. Um sol laranja vigiava, no meu jardim, a areia e as pedras por onde eu andava descalça. Minha cabeça procurava em vão, entre as lembranças, os caminhos para onde os sonhos corriam, mas nunca os encontrava. Eles sempre estavam adiante. E eu pensava: Um dia os alcanço!
 De minha concha, observava o mundo pela janela e, aos poucos ia crescendo a vontade e a coragem de enfrentar o tempo. Saí devagar me esgueirando por entre a folhagem, escondida de outros olhares, rodopiando pela tarde ainda quente, sumindo pelos telhados. Pulando por sobre os muros.
A tarde me vê. Sinto que nem suspira pra me observar nessa rotina terrestre. Só ela me vê, mas fica muda. A rua se espicha entre casas e passa olhando o meu jardim onde a cidreira enrama. É nesse verde que cumpro minha pena diária, minha rotina.
Uma mulher varre as folhas secas... Bato as asas bem de leve. Ela nem me vê. Apenas espia a vida, como se o mundo fosse vazio. Nesse exato momento sinto o vento. Ele traz forte o cheiro maciço do manjericão e da malva. Embriago-me e deleito-me com os odores das plantas molhadas, para esquecer as criaturas duras desse mundo. Solto-me no ar, sigo o hálito da terra, o perfume das rosas.
De repente volto a reparar naquela mulher no meu jardim. Creio que sente cansaço e tenta guardar-me consigo, por entre seus pensamentos. Arrisco-me nos ares com a intenção de aproveitar as alturas enquanto meus rastros são tranquilamente apagados das flores cheiradas por mim. Aqui e ali, meus dedos tocam as poças d’água. O tempo dá um nó. A tarde vai findando. No jardim volto a pousar e a varrer as folhas secas. O sonho está despertando.
Boa noite!

Claude Bloc



2 comentários:

  1. Claude,

    Este é um dos textos mais belo que voce já escreveu.
    Quem lhe conhece sabe que veio do fundo do coração que está sempre cheio de esperanças renovadas.
    Bom dia!

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  2. Obrigada, mana...

    Gosto quando gostam do que escrevo e quando falam com sinceridade a respeito de minhas palavras.

    Pena que por aí as pessoas considerem isso bajulação. Não sabem ter a sensibilidade necessária para distinguir um sentimento verdadeiro de uma simples necessidade de aparecer.

    De você e para você essa amizade fraterna que nos faz melhores a cada dia.

    Abraço,

    Claude

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