Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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sábado, 10 de outubro de 2009
Horário de Cinderela soando... Fiquem descalças. Escondam os sapatos....Uma carruagem nos espera ! - Por Socorro Moreira
Guiomar - Por Rejane Gonçalves
Vi os cabelos de Guiomar, cortados à faca pelos soldados que a conduziam, sumirem na escuridão do corredor da delegacia daquela cidade pequena. Minha quase aldeia, aonde o tempo também vai devagar e arrasta-se pestanas adentro das janelas que olham.
Nunca esqueci.
Comemorando o desaniversário - Para a criança que há em nós.
;
Um bom de desaniversário pra mim
Pra quem?
Pra mim.
Pra ti.
Um bom de desaniversário pra ti.
Pra mim?
Sim sim.
Ó sim!
Vamos comprimentarmos com uma xícara de chá
Um desaniversário pra tiiiii!
O sono - Por Claude Bloc
Não sei se eu disfarço
o meu passo
ou se o desfaço
e pronto.
Nada sei desse abraço,
dessa noite,
desse encanto.
Tudo mais é suave,
o sono é manso
e do passo ao traço
eu descanso.
Aos amigos um "Queijos e Vinhos" pelo nosso desaniversário...
Pronto! Seria um “queijos e vinhos”... Que tal?
Pois é, minha gente, hoje é o nosso desaniversário. De todos nós.
Saúde a todos!!!
A HOMOSSEXUALIDADE PELA ÓTICA DA CIÊNCIA
“... os entregou a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, ao contrário da natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens... (Rom 1: 26-27).
Fiz questão de destacar as expressões “paixões infames”, “modo natural de suas relações íntimas” “contrário da natureza” “torpeza” e “homens com homens” do trecho bíblico acima, extraído da epístola de Paulo aos Romanos, para tentar discorrer sobre o polêmico tema da naturalidade e/ou anti-naturalidade do sexo entre iguais (homossexualismo) à luz da ciência.
Segundo a bíblia o homossexualismo é uma paixão infame, contrária à natureza. A lógica por trás desta idéia é a de que o sexo serve exclusivamente para reprodução. “Crescei e multiplicai-vos” é a ordem de Deus. Com base nesta e mais uma meia dúzia de passagens bíblicas algumas pessoas se posicionam radicalmente contra a relação sexual entre iguais. Isto me levou a refletir sobre a questão e me deixou com uma dúvida cruel: o homossexualismo é ou não é natural? Tentemos definir o termo “natural”.
Filosoficamente falando o natural é aquilo que existe na Natureza. Impõe-se como algo a decifrar e a respeitar e opõe-se ao objeto do pensar. Nas palavras de Imanuel Kant “o natural é o auto-produzido, sem a intervenção (manipulação, desconstrução) humana”. Partindo desta definição podemos deduzir duas coisas (1) que as coisas relativas à cultura (entendida como a modificação da natureza pela intervenção humana através da técnica) não são naturais e (2) que aquilo que existe na natureza por si mesmo, como manifestação espontânea, é natural.
Agora pensemos o seguinte: se dentro da multiplicidade de animais e diversidade de comportamentos sexuais apresentados por eles conseguirmos perceber e registrar empiricamente a existência de comportamentos homossexuais, o que devemos concluir? Que são anti-naturais ou naturais?
As implicações das respostas às perguntas acima são muitas e vão depender de vários fatores, variando de pessoa para pessoa, de subjetividade para subjetividade. Então, abandonemos as opiniões e vamos aos fatos que ocorrem na natureza e que já foram registrados por vários cientistas.
1 – Os animais apresentam pelo menos 5 variedades de comportamentos homossexuais: cortejo, afeição, formação de casais, criação de filhotes e contato sexual.
O cortejo inclui todas as formas que os animais empregam para se exibir e conquistar parceiros. O pavão, por exemplo, para conquistar a fêmea exibe sua cauda. Mas não é só a fêmea que é atraída. Frequentemente, observa-se um macho exibindo a cauda para outro macho e, não raro, um dos dois termina montando o companheiro.
A afeição inclui beijos, esfregações e carinhos de toda ordem. Macacos bonobos de lábios colados e leões roçando a juba são demonstrações de afeto realizadas sempre antes ou depois de uma relação sexual.
A formação de casais homossexuais talvez seja a categoria mais surpreendente de todas. Mais de 70 espécies de aves realizam casamentos duradouros de indivíduos do mesmo sexo. Essas uniões também são adotadas por mamíferos. Leões e elefantes machos costumam formar laços mais duradouros que casais heterossexuais.
A criação de filhotes nem sempre envolve a dupla pai e mãe. O pássaro cantor (Wilsonia citrina), nativo da América Central, é uma espécie na qual um macho atrai o outro por meio do canto no início do período reprodutivo. Depois eles se juntam, constroem o ninho e cuidam dos ovos e das crias abandonadas por outros indivíduos.
O contato sexual propriamente dito dispensa maiores explicações.
Quando fiz o meu ensino médio os meus livros de biologia faziam questão de deixar claro que sexo serve para gerar descendentes e perpetuar as espécies. Então, como explicar as ligações entre fêmeas e fêmeas ou entre machos e machos que, evidentemente, não levam à procriação? A coisa fica ainda mais interessante – e complicada – quando se leva em consideração alguns outros dados relativos a comportamentos animais: em algumas comunidades de girafas de maioria masculina, as fêmeas disponíveis podem ser ignoradas pelos machos, que preferem a companhia de um igual. Em tese, esta constatação joga por terra a idéia de que o homossexualismo só ocorre quando falta opção. Outra teoria derrubada pelos recentes estudos na área foi a da ingenuidade animal. Vários estudos afirmam que, machos e fêmeas são tão parecidos que eles próprios chegam a se confundir. O galo-da-serra sempre foi citado como exemplo. Os zoólogos diziam que os machos copulavam entre si por não saberem distinguir a fêmea. Mas, em um estudo, um galo montou em apenas uma fêmea e em mais de 100 machos. Se ele não soubesse diferenciar um do outro, era de esperar que acertasse em metade das vezes, e não que errasse todas.
Um outro argumento é o da dominação. Um individuo mais importante cobriria o subalterno para deixar claro quem é que manda. Apesar da explicação servir para muitas espécies, para outras parece não servir. É o caso das morsas, onde os dominantes são montados pelos dominados.
Há um certo consenso entre os biólogos hoje em dia que nem sempre as espécies adquirem características vantajosas para a sua sobrevivência. Ao contrário, há diversos traços que parecem mais atrapalhar do que ajudar a evolução. Babuínos chegam a ser tão violentos com as fêmeas que as vezes as matam. Algumas aves chegam a defecar após o ato de cópula, o que parece ser um método anticoncepcional, já que expelem o sêmen que acabaram de receber. O infanticídio e o canibalismo de filhotes entre mamíferos são outros rituais difíceis de explicar. Quando se trata de sexo e relacionamentos homossexuais o que já se sabe é que algumas espécies faz o que faz porque gosta mesmo. Os mais marcantes são evidentes entre os macacos, cujas reações, por serem parecidas com as de humanos, são mais fáceis de avaliar. Fêmeas de várias espécies, inclusive de bonobos, parentes dos chimpanzés, chegam a ter orgasmo em relações homossexuais.
Diante de tantos fatos, evidenciados e catalogados por diferentes cientistas ao longo de anos de pesquisa, com critérios objetivos e métodos rigorosos, sobre o comportamento homossexual de vários animais, deixo meus leitores com mais uma pergunta: por que o homossexualismo entre humanos – que, afinal de contas, constituem apenas mais uma espécie animal – ainda continua a ser encarado como “paixão infame”, e “contrário à natureza”? Se o homossexualismo acontece naturalmente entre várias espécies animais, o mais lógico seria admitir os relacionamentos homossexuais entre humanos também como naturais. Anti-natural, ao meu ver, é o preconceito. Este sim deveria ser abolido, execrado e esquecido pela/da nossa sociedade. Mas, como bem disse Einstein: “triste época a nossa, é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito”.
Mistura de passado e sonho- Por Socorro Moreira
Tire os cabelos dos bobs mas use pouco laquê; o vento nunca consegue desmanchar a formusura.
E o vestido, já foi buscar na modista ? O tubinho de renda... Forrado de rosa ou azul? Caso não esteja pronto, deixe pra missa do domingo,e use sua saia banlon com uma blusinha "volta ao mundo", ou um outro figurino.
Não consigo é trocar Helena pela Max Factor : cilion, rímel, pó compacto, rouge e baton .Helena Rubistein maqulia as nossas misses, e as moças que não desfilam...Por timidez, claro !
Agora só falta o sapato de salto brotinho. Cuidado com a costura das meias, pra que não fique torta.
Roube o perfume da penteadeira de Dona Janine : será Cabochard , Madame Rochas ou Fleur de Rocaille ?
O seu ? Aposto que é igual ao meu : White Magnólia !
Seja discreta no mambo. Fica feio rebolar tanto. Dance um bolero pra começar, e evite o alto amasso. Melhor dançar com alguém mais baixo.
Vontade de ir no futuro, sem deixar de brincar no passado, só pra colar uma música , que a Rita canta bonito:
Só de Você
Composição: R. de Carvalho / R. Lee
Será que a gente ainda será
A velha estória de amor que sempre acaba bem, meu bem
Meio demodée para hoje em dia
Antigamente, tudo era bem mais chique
Porque a gente nem sabe porque
Mas acontece que eu nasci pra ser só de você
É claro que a sorte também ajudou
Ultimamente, um romance dura pouco
Cola, seu rosto no meu rosto
Enrola, seu corpo no meu corpo
Agora, está na hora de dançar...
As mãos estão suando, e o coração descompassado ? Sorria, menina, tem gente chegando...Justo o seu par preferido. Mas, e a fila ? Tem gente esperando a segunda dança... E eu num canto fotografando e fazendo renda, brigada com meu primeiro encanto, que dança com outra menina.
Convenção da família Gomes de Matos - Fotos de Ismênia Maia
Ismènia Maia - Entre amigos!- por Socorro Moreira
"Procura-se um amigo
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive. " (Vinícius de Moraes"
* Ismênia Maia é assim!
Saudades de um tempo...Saudades de Geraldo e do Parque Municipal
pelos olhos do brooklin
mas nem tudo o que sonhei
me embalando em teu nome
nem todo canto foi bom
fugaz sabor de bombom
a ainda assim o som não pode ficar
brilhará quando parar de nevar
“fica para a próxima paz”
o mel da luz na boca do mar
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mana humana
maria de manau ou caiena
o verso
ponte para o universo
abril do quinhentos do terceiro
milênio
cada tempo inventa os seus meses
e enfeitemos a mesa
a terra é flor que se cheire
quando a vã sabedoria rasgou
em nagasaki o azul
tremeram as terras humanas
no peito de cada pessoa humana
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chapéu da via-láctea
rabo de baleia
banana e telepatia
o show não é só na tv
hollywood e rabanete
teu novo sabonete
o brilho dos teus dentes
continente muito quente
a boca da estrela
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dê conta do recado
ai bela flor do lácio
a energia da paixão
me escondeu
no frio louco do alaska
a segunda coca-cola
menina esqueça agora
choveu
e o sol entrou nas escolas
nas asas das cabeças novas
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sei do perfume mortal
da equação artificial
Geraldo Urano
Formigas e Pirilampos- por Socorro Moreira
A festa acabou
o bolo sobrou
chuva de formigas
de um céu invisível
fertilizam o doce
que no sangue existe
incansáveis , dançam
mas estragam a folha,
que protege a flor,
bebem compulsivas
todo seu olor!
magistradas
adivinham o mel
que na pele fica
ou se clorofilam,
numa fila infinda!
Piedosas,
ardentes,
ciganas...
num passinho curto
bailam pela vida!
Pirilampos
Lua nova , noite escura
Estrelas do solo , piscam pro destino
Beiram nas estradas , que nunca terminam
Brincam no asfalto sem pensar na sina
Desconhecem o sol - dele fragmentos
Desconhecem cores , mas respiram verde
Azul petróleo , mata e céu...
É por lá que morrem!
Caçando luzes
eu me perco sempre
Sempre me dispersa
este vôo ausente.
Pouso breve,
como um beijo tímido .
Pouso leve
com a alma voa!
Andanças
levei-as ao brejo
lá tem ótimo pasto
verduras fresquinhas
capim alucinógeno
Acabou-se o tempo
de queixumes
azedumes
cruzes e ais
agora as minhas vacas
outrora magras
tem dorso reluzente
ancas ligeiramente arrebitadas
e um olhar intrigante
no canto dos lábios
São todas felizes
piscam para a lua
uivam feito lobas
não param de mascar chiclete
e adoram campari
Texto de Tiburi sobre Madonna - Colaboração de Luiza
"A Indústria Cultural substituiu a totalidade daquilo que antigamente as pessoas chamavam de arte, mas manteve a promessa de felicidade que a arte promovia
Raramente alguém que diga Indústria Cultural sabe o que está a dizer. A própria expressão cunhada num livro de 1947 por dois autores – Max Horkheimer e Theodor Adorno – sempre criticados por quem jamais os leu de fato, foi apropriada pela indústria que, no ato mesmo de apropriação, aniquilou seu potencial crítico. Ler ou simplesmente citar autores críticos já faz, de certo modo, parte da Indústria Cultural, mas entender o que eles possam ter dito não faz. É assim que, hoje, enquanto o crítico dos produtos culturais usa a expressão com certa vergonha por achá-la inatual, a empresa de entretenimento com franqueza invejável diz agir em nome da Indústria Cultural. A expressão deixou de ser sinônimo de crítica ao lixo cultural (Adorno, por exemplo, dizia que “toda” a cultura era lixo, reaproveitando Freud). Ninguém mais vê mal algum em que a cultura possa ser associada a algo como lixo ou que haja lixo como cultura. Falar de lixo já não assusta. É claro que toda cultura tem relação com o resto da cultura anterior, com o que sobra da pesquisa científica e da produção artística. É certo que toda cultura de massa vive da alimentação que eruditos e populares fornecem às massas, verdade que a construção da ideologia que alimenta as massas vêm de cima pra baixo e, por isso, se falar que cidadãos comuns chafurdam na lama da cultura não é nada demais, muito menos dizer que se lambuzam na cultura de massas. Que o lixo seja cultura é normal e aceitável. Em vez de criar temos que reciclar. Toda a cultura torna-se pastiche.
No entanto, o fato de que a expressão Indústria Cultural seja assumida e não indique nada demais é um problema cultural grave. Significa que, no embate da crítica com seu objeto, a própria crítica foi devorada e só temos que nos conformar que ela passou a fazer parte do sistema contra o qual se dirigia. Ou seja, podemos colocar o sentido crítico da “indústria cultural” no lixo que ela mesma criticava. Porém, analisando um pouco mais, o que foi para o lixo numa manobra que põe em risco o sentido da coisa que se quer designar com a palavra “cultura”, foi a crítica. Com a crítica vai-se embora o sentido da cultura. Ficamos só com a indústria que parece dar mais garantias: emoções baratas como produtos made in China com know-how americano num contexto em que as formas de vida, nossos gestos, pensamentos e ações servem à religião do mercado, à sua versão mais “espiritualizada” cuja crítica Guy Débord, por exemplo, tornou imortal em seu A Sociedade do Espetáculo. Aquilo que chamávamos Vida é o que fica entre o muro da Indústria Cultural e o espelho sem reflexo do Espetáculo.
Falar em Indústria Cultural ainda era um modo de pensar o processo de produção da cultura. Quem quiser se manter crítico não deve colocar o termo no lixo sem antes verificar sua possibilidade de reutilização. Estamos em tempo de valorizar o lixo. Do mesmo modo o lixo como sobra cultural. A crítica, neste sentido, é também uma questão de ecologia cultural. Não de sustentabilidade da cultura diante de sua aniquilação total em indústria, mas da chance de que outras formas de vida e experiência não regulamentadas pela indústria possam ser preservadas. O problema nem é a cultura, mas a indústria que substitui aquilo que muitos esperavam que ainda tivesse a ver com arte, criação, resistência, liberdade de expressão. Coisas velhas que, infelizmente para os mais “espertos”, ainda podem vender bem. Afinal, o que não vira mercadoria? Fugir, não há como negar, ainda é preciso.
Se definirmos “cultura” como processo e obra humana, o que se revela no lugar existencial do qual não podemos fugir é que a vida inteira foi substituída pela indústria. Ao dizer indústria refiro-me à produção em série com vistas ao lucro e que, para tanto, necessita de escravização em graus variados. A indústria define-se pelo processo de produção que envolve a dominação de uns por outros. Se há produção em série é porque há o objetivo da cópia e da distribuição em série de um mesmo produto. Se o objetivo é a reprodução e distribuição, nada mais lógico do que prever quem será o destinatário, seja do produto, seja da mensagem. A este destinatário o “sistema” chama consumidor. Para que haja consumidor, ou seja, alguém que corresponda às produções industriais que devem ser tão efêmeras quanto exige o lucro esperado, é preciso que se controle um sentido da espécie humana que desde que foi descoberto (ou inventado) não deixa de ser manipulado por seu potencial mágico: o desejo.
Assim é que tanto a indústria de automóveis quanto a da pornografia, tanto a indústria cinematográfica quanto a musical ou literária, têm o mesmo propósito. Atingir a aura do capital, servir ao seu valor de culto, afinal não há nada que escape (salvo exceções que confirmam a regra) da religião do capital. Espetáculo é só o seu nome pomposo. Claro que as mercadorias culturais valem muito menos, mas quem trabalha com elas, mesmo se sentindo menos bem remunerado, saberá que, muitas vezes, terá um lucro extra em prazer e, quem sabe, até pagamento em narcisismo. Ou será que o artista seria incapaz de mensurar o que deseja com a obra que faz quando deve incluir o lucro no todo dos seus propósitos? Perguntas como esta não deixam em paz quem se ligue à arte. Será que alguém ainda pode ser romântico diante da Indústria? Quem conseguir se salvar do ideal do lucro é o único que terá vivido uma vida justa como artista. Mas a quem ela ainda pode interessar em termos estéticos e éticos? E apesar de tudo isso, esta crítica não pode significar apenas que o artista deve ser pobre para garantir seu lugar no céu da ideologia da arte.
Indústria, não devemos esquecer, é o contrário do artesanato, ou seja, da produção em pequena escala que dificilmente envolve mais-valia. A maior parte dos artistas vive de uma produção fora da indústria, a qual chamamos de processo. O artista atual ou vive mais próximo do que antigamente chamávamos de artesão ou vive dentro da indústria. Não há terceira alternativa. Arte, no entanto, não é palavra que possa ser aplicada ao que se deve chamar Indústria Cultural, sem que se sinta certa vertigem. Aqui temos que tratar de negócios. Precisamos voltar nossos olhos para o business. Arte, se ainda quisermos pensar no seu potencial de emancipação, resistência, crítica, etc. seria uma irrupção de algo completamente outro em relação à mercadoria. O que se poderá esperar ou desejar na vida industrializada além de mercadorias? Arte seria algo que muitas vezes está presente nos produtos industriais, mas que não interessa realmente à Indústria para além do lucro que pode render. Também artistas sérios buscam nela seu lugar ao sol.
Indústria como bussiness
Neste ponto, já posso incluir o fantástico exemplo de Madonna no contexto da Indústria Cultural e pensar o que o seu fenômeno significa nestes tempos em que podemos chamar de Espetáculo à religião da Indústria Cultural.
Madonna é vista como uma artista, termo que lhe pode ser bem aplicado, caso se entenda arte como sinônimo de mercadoria. Madonna é um claro produto industrial, como os carros que são fabricados em série na mítica cidade de Detroit onde ela nasceu e viveu até se tornar aquilo que, sem desmontar o mito, chamam “rainha do pop”. Madonna não é arte, contudo, no sentido de produto insubmisso à sua transformação em mercadoria. Ela é pura e explicitamente mercadoria. Ninguém pode lhe objetar a falsidade. Quem pergunta se ela é arte está equivocado quanto ao estatuto da questão.
Madonna não é nada, dirão seus críticos mais ferrenhos, aqueles que percebem sua inexpressividade musical, mas desconsideram a competência espetacular que é o seu foco. Dizer que ela é uma má artista é um exagero que desconsidera que sua questão, a despeito da enganação que a publicidade faz com o povo usando o apelativo da arte, não é a arte, mas o Espetáculo. Quem entender de mercadoria não poderá se revoltar contra Madonna. Como mercadoria ela nem pode ser cobrada de qualquer ética para além do que ela está a vender.
Madonna é um produto muito competente da Indústria Cultural que culmina na Sociedade do Espetáculo. Ela é uma empresa que usa a cena da arte. É um negócio como qualquer negócio. Emblema da competência, ela é a alegoria perfeita da Indústria Cultural e a melhor expressão da falta de expressão do Espetáculo. Vazio estético apresentado com pompa de efeitos especiais e corpo de plástico, pura esteticidade que impera com sua marca autoritária de coisa a ser seguida por hordas de imitadores e “consumidores”, aparência de beleza eterna que sobrevive ao tempo, estereótipo e simulacro. Imitar a produção não serve para alimentar seu ego. Isto não vem ao caso. O que importa é a série de produtos que são vendidos com a marca da Madonna. Nada de novo se diz aqui. A única coisa que seria realmente uma novidade seria a consciência de que a imersão no meramente estético que a mercadoria Madonna define é que estamos diante de uma máscara sem rosto. Só o que podemos lhe objetar é aparecer tanto e roubar espaço em nosso imaginário. É não pedir licença. A Indústria Cultural é um eterno saque indevido, um roubo, no tempo do imaginário que seria um direito de todos.
Madonna ou Vênus
Assim como no Renascimento italiano a Vênus surgindo das águas na pintura de Botticelli representou a verdade, Madonna é a nova verdade na passagem dos séculos. É a Indústria Cultural emergindo no Espetáculo. O mito do nascimento da Vênus na pintura de Botticelli mostrava que a verdade deveria estar nua e livre das roupas da cultura. Madonna inverte tudo. Enquanto a Vênus nascia do mar, sustentada por uma concha, Madonna surge de dentro de carros, holofotes, lasers, luzes e toda a parafernália que adorna o kitsch pomposo do pop com seus trejeitos herdeiros das óperas, feito de rituais de efeito sadomasoquista e lúdico-tecnológico. Seu corpo forte e musculoso, capaz de enfrentar toda fraqueza, que promete superar toda morte, é o emblema do poder invejável, o poder que faz qualquer um entregar sua liberdade em nome de um sentido, uma proteção pela adoração da imagem.
Aqueles, feministas ou não, que viram em Madonna a emblemática da mulher poderosa porque desbocada, sexualmente livre, determinada, competitiva, e apesar de toda a sorte de liberdade, capaz de ser uma boa e caretíssima mãe, não percebem que ela mesma é uma montagem que deriva da cultura patriarcal que continua dizendo o que devem ser as mulheres. Não mais do que coisa para olhos alheios. Sem moralismo quem poderá objetar que há algum mal nisso tudo? Temos apenas que cuidar para que a ausência de moralismo não nos jogue de cara no chão do cinismo que a tudo perdoa.
Madonna não é feminista. Seria feminista se não fosse senhora e serva da indústria, rainha e súdita do pop. Madonna, emblema da indústria, é fabricada pela indústria que precisa levar em conta as demandas feministas, pois “mulheres” também é uma excelente mercadoria.
A Indústria Cultural substituiu a totalidade daquilo que antigamente chamamos de arte. Mas manteve a promessa de felicidade que a arte promovia. A arte, assim como a crítica, foi descartada já que o que ela prometia custava caro em termos de experiência. A crise da arte não pode ser separada do capitalismo, do consumismo e da indústria que promete dar tudo aquilo que a arte antigamente prometia, mas por meios mais fáceis. O que a arte prometia era felicidade pelo estranhamento e pela distância. A indústria afirma que a felicidade pode vir sem estranhamento nem distância. Ela está ao alcance do cartão de crédito, ou dada de graça em rádios e tevês, e, hoje em dia, dada a qualquer um que aceite a publicidade, basta um pouco de prostituição ou aluguel dos seus sentidos. Nenhum de nós cobra pelo aluguel de nossos olhos e ouvidos. Somos otários ou ingênuos. A publicidade vende a idéia de que basta comprar e ter, que basta comprar para lucrar em entendimento e emoção. Quem não queira lucrar não deixará de ser otário. Pagará igualmente pela própria possibilidade que parece vir de graça. A publicidade, parasita de toda mídia, não irá deixá-lo em paz, seja pelo chamado do tele-marketing que já era uma potência da invenção de Graham Bell, seja antes de assistir o filme no telão do cinema onde se compra o ingresso para ver um determinado “produto cultural” e quem sabe “lucrar” vendo sinais de “arte”, e paga-se pela propaganda que não se pediu para ver. A única justiça seria ingressos de graça ou pagamento pelo aluguel da nossa paciência de rebanho.
Em show da Madonna no Rio, em um país pobre como o Brasil, os ingressos ao preço indecente do nosso salário mínimo de fome sobraram porque também haverá fome diante da Indústria Cultural. Ela não é acessível como finge ser. Nem Madonna escapa da nossa fome. E mesmo quando o preço do ingresso vale a emoção, ninguém sai sabendo mais do que aquilo que já se sabia quando se usa qualquer droga, o efeito é sempre o mesmo."
Cérebro é uma coisa maravilhosa, todas as pessoas deveriam ter um!...rs..
E, não me venham com este papinho mais que furado..”gosto não se discute" e tal. Não, não me venham com desculpinhas maltrapilhas. A maioria das pessoas tem gosto musical eclético, também tenho, porém, costumo comparar gosto musical com paladar, uns gostam de comida oriental, outros preferem a comida francesa, outros tantos, a brasileira, e assim por diante, mas causa-me espanto que alguém consiga descer goela abaixo, e ainda deleitar-se.. com comida estragada! Enfim...
Que gozem os tambores!..rs..nem cabe discutir Madonna e Arte no mesmo parágrafo, e duvido que ela considere seu trabalho, arte!
Madonna é fake. Só consome quem gosta porque se identifica!
Não conheço uma só pessoa do meu círculo de amizades que admire ou mesmo curta a Madonna, e sinceramente, se um dia... conhecer alguém que goste, aniquilo..kkkk....!(preconceito??!!) bem, preconceito, às vezes, também é algo maravilhoso, assim como o cérebro...nos poupa um tempo precioso..rs..
Bom feriadão!
Sobremesa do Domingo - "Torta Ton Ton" - Por Socorro Moreira
Ingredientes:
1 lata de leite condensado
2 latas de leite de vaca (usar a lata de leite condensado vazia como medida)
3 ovos (gemas e claras separados)
3 colheres de sopa de amido de milho (Maizena)
1 pacote de 100 gramas de côco ralado ou 100 gramas de côco natural ralado com 5 colheres de sopa de açúcar
6 colheres de sopa de açúcar
Confecção:
1ª. camada:
Misturar o leite condensado, com as duas latas de leite de vaca, uma lata de leite de côco ,as 3 gemas, a maizena (ou amido de milho).
Levar ao fogo, e cozinhar até obter um creme.
Colocar em um pirex (travessa de vidro) e deixar esfriar.
2ª. camada:
Bater as 3 claras em suspiro firme, acrescentar 6 colheres de sopa de açúcar e bater mais um pouco. Misturar uma lata de creme de leite sem o soro.
3ª. camada:
Em uma panela (frigideira), misturar o coco ralado com 5 colheres de sopa de açúcar e sempre mexendo, deixar dourar.
Colocar em seguida sobre a 2a. camada de doce.Levar ao refrigerador por no mínimo 3 horas e servir gelado.
* Essa torta eu faço desde que eu era menina, e nunca abusei. Sem erros !
Sugestão para o almoço do Domingo - Por Socorro Moreira
Ingredientes
Refogue o creme do liquidificador com o frango desfiado, as azeitonas e o sal até ficar com uma textura espessa
Coloque o refogado numa assadeira, cubra com mussarela e espalhe a batata palha por cima
Leve ao forno até borbulhar
Sirva com arroz branco
SAKURA - por Cesar Augusto
Barack Obama e o prêmio Nobel da paz - Arte : Claúdio Teixeira
Cláudio Teixeira
"A caricatura é uma arte apreciada no mundo inteiro e o interesse do público em ter sua própria caricatura é cada vez maior. "
Renato Russo - Artista pensador
"...Quero ter alguém com quem conversar. Alguém que depois não use o que eu disse contra mim...
Tenho saudades de tudo que ainda não vi
É a verdade o que assombra, o descaso o que condena, a estupidez o que destrói...
Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
acreditar nos sonhos que se têem
ou que os seus planos nunca vão dar certo
ou que você nunca vais ser alguém...
... Aqui no Brasil, nós somos alegres mas nós não somos felizes. Existe toda uma melancolia e uma saudade que a gente herdou dos portugueses e que a gente ainda nem começou a resolver. A gente não sabe o que é esse nosso país.
Quando querem transformar
Dignidade em doença
Quando querem transformar
Inteligência em traição
Quando querem transformar
Estupidez em recompensa
Quando querem transformar
Esperança em maldição:
É o bem contra o mal
E você de que lado está?
Quando nascemos fomos programados
Pra comer o que vocês nos empurraram
com os enlatados dos USA
das nove às seis
desde pequenos nós comemos lixo
comercial e industrial
mas agora chegou a nossa vez
vamos cuspir de volta todo o lixo
em cima de vocês!
Somos filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim, que deve ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
Aí então, vocês vão ver!
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema
Com as suas leis!
Quando se aprende a amar,o mundo passa a ser seu.
Triste coisa é querer bem a quem não sabe perdoar...
Nunca, Nunca, Nunca deixe alguém te dizer que aquilo que você acredita é babaquice, que de repente o teu sonho não vai dar certo...
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há.
Disciplina é liberdade;
Compaixão é fortaleza;
Ter bondade é ter coragem.
Tenho saudades de tudo que ainda não vi.
Antes Das Seis
(Legião Urbana)
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Vem e me diz o que aconteceu
Faz de conta que passou
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Daqui vejo seu descanso
Perto do seu travesseiro
Depois quero ver se acerto
Dos dois quem acorda primeiro
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Enquanto a vida vai e vem
Você procura achar alguém
Que um dia possa lhe dizer
-Quero ficar só com você
Quem inventou o amor?
Giz
Legião Urbana
E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero
Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
Pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz
Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
Está tudo bem, tudo bem...
uh...uh...
Quem pensa por si só é livre e ser livre é coisa muito séria. "
Renato Russo
Tom Zé - Um dos criadores do Tropicalismo
Compositor, cantor, arranjador e ator nascido em Irará (BA), Tom Zé é uma das figuras mais originais e controvertidas da MPB.
Essencial - Por : Ana Cecília S.Bastos
Atalhos e veredas - Por Claude Bloc
A caminhada solitária me fazia encontrar, no meio do mato, a calma necessária para repor as coisas em ordem na minha cabeça. Saía sozinha, mas sentia-me protegida. Estava com os pássaros e com as árvores e imaginava os mundos que ficavam mais além. A água escorrendo pelos leitos, descendo as encostas. O vento fresco passando suas mãos em meus cabelos. Assim, me punha num espaço onde só eu estava, para refletir e entender as lágrimas e os desencantos.
Se sentia raiva, jogava pedras nos cupinzeiros ou açoitava com galhos de cana fístula a vegetação já sofrida das beiras de estrada, e ia subindo a serra. Mais adiante, sentava nos lajeiros e ficava de pés estendidos, absorta, sonhando com uma vida ainda idealizada e perfeita. Eram gestos e idéias de uma menina que se sentia um pouco mais aquém do universo limite. Imatura e introvertida.
Ainda sentada, fechava os olhos sentindo o sol tinir na minha pele. Apertava as pálpebras tentando afastar a luminosidade que me incomodava. Estava instalada ali no meio do nada, em pleno silêncio. Queria sentir-me como as aves e poder bater as asas, aliviar a tensão e afrouxar o pranto. Voltava-me em pensamento para imagens, cenas vividas, palavras injustas. Tudo se repetia. O nó na garganta, o enredo. Sobravam-me lágrimas no argumento. Mas naquele momento eu estava presa ao canto hipnótico dos pássaros, seu acasalamento fora do tempo. E pensava: quem era eu para voar? Ficava apenas ali sozinha, sentada nas pedreiras, eu apenas pastoreando sonhos, a cor das manhãs e os presságios das noites.
Deduzi que sempre tinha de percorrer aquele caminho e depois dele, tantos outros. Descalça, sentindo a terra entre os dedos. Não haveria tempo para sapatos. Não havia mais tempo para tristezas. Depois, bem depois, segui meu rumo. Escrevi como pude a minha história. Levava os sonhos nos ombros e a vontade de agarrar o mundo mais além. Queria olhar na mira sem medo de ser abatida mais uma vez em pleno vôo.