Por
Marcos Antonio Vanceto
(Publicado na revista "Boletim Salesiano", nº março-abril 2012)
Agostinho Balmes
Odísio foi oratoriano e aluno da Escola Profissional Domingos Sávio, em Turim,
na Itália, e conheceu Dom Bosco. O Santo dos Jovens marcou profundamente a vida
do escultor, discípulo de Rodin que deixou a terra natal para espalhar sua arte
pelo Brasil.
Animado pelos 70 anos de fundação da igreja matriz da Paróquia do Senhor Bom
Jesus do Monte, em Piracicaba, SP, iniciei em 2007 uma pesquisa detalhada sobre
sua história. Descobri que o Cristo Redentor da torre da igreja foi esculpido
por Agostinho Balmes Odísio, que residia em Limeira, SP. A imagem, de 5m de
altura, de cimento armado, começou a ser montada por ele em 19 de abril de 1932
e foi inaugurada entre os dias 5 a 15 de novembro do mesmo ano. Até então,
pensava que o autor da obra era um escultor qualquer, de uma cidade vizinha.
As coisas começaram a ficar surpreendentes depois que conheci a neta de
Agostinho, Vera Odísio Siqueira, que esteve em Piracicaba em 2007 em busca de
informações sobre a obra de seu avô para um livro que estava escrevendo. Recebi
em agosto de 2011 um exemplar do livro De Dom Bosco a Padre Cícero, lançado no
Memorial Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, CE, em 19 de julho de 2011.
Confesso que fiquei impressionado com a saga desse ex-aluno de Dom Bosco e com
as junções históricas e as coincidências com a Família Salesiana, na Itália e
no Brasil. Prova de que Dom Bosco e Maria Auxiliadora agem nas pessoas com a
sabedoria que transcende os dias, os anos, os séculos.
Ex-aluno de Dom
Bosco - Agostinho nasceu em 1º de maio de 1881, em Turim, Itália. Estudou na
Escola Profissional Domingos Sávio, fundada por Dom Bosco; serviu na Companhia
dos Bersaglieris e integrou a banda do primeiro Oratório Festivo de Dom Bosco,
em Valdocco. Sim, ele conheceu São João Bosco em vida e, aos 7 anos, ele e sua
mãe Maria foram ao enterro de Dom Bosco, que faleceu aos 72 anos, em 31 de
janeiro de 1888.
Ao deixar a
Itália, em 1913, seu destino era Buenos Aires, na Argentina, onde residia seu
único irmão. Porém, o navio aportou em Santos, SP, onde Agostinho conheceu
Natale Frateschi, imigrante italiano da cidade de Lucca, dono de uma loja de
Armador e Marmoraria em Franca. Frateschi logo ofereceu ao já então conhecido
artista italiano oportunidade de trabalho. Na cidade de Franca, Agostinho
conheceu Dosolina, uma das filhas de Natale, com quem se casou. Da união
nasceram sete filhos, dois homens e cinco mulheres.
Franca foi a
primeira cidade paulista a ganhar obras de Agostinho. Depois vieram São Paulo,
Campinas, Caçapava, Guaratinguetá, Jundiaí, Limeira, Piracicaba,
Pindamonhangaba e São José dos Campos, entre outras. No Rio de Janeiro e em
Minas Gerais, passou por Camanducaia, Itajubá, Juiz de Fora, Ouro Fino, Pouso
Alegre, Santa Rita do Sapucaí, Santos Dumont, Três Corações, Uberaba e muitas
outras. Em 1934, mudou-se para o Ceará. Deixou sua obra registrada em mais de
30 cidades, entre elas Juazeiro do Norte (terra de Padre Cícero) e a capital
Fortaleza. Pelo Nordeste, circulou ainda nos estados da Paraíba e do Piauí
Dom Bosco e
Padre Cícero - No Brasil, Agostinho tornou-se um dos fieis defensores e
seguidores de padre Cícero, conselheiro e guia espiritual do povo do sertão,
que destinou seus bens aos Salesianos para que dessem continuidade ao seu
trabalho. Dom Bosco e padre Cícero foram duas grandes influências na vida de
Agostinho. Na página 19 do livro encontramos a evidência: "Sua formação
foi guiada pelos Salesianos e ele sempre manteve uma ligação forte com Dom
Bosco, procurando, em toda a cidade que morava ou trabalhava, a família salesiana.
Em Fortaleza, sua oficina tinha o nome de Dom Bosco com uma imagem na
fachada".
A genialidade de
Agostinho ficou mesmo registrada na escultura e na arte sacra. Mas ele atuou
também em outras áreas. Como arquiteto e engenheiro, projetou, construiu e
reformou igrejas e logradouros públicos. Escreveu ainda peças teatrais e
óperas.
Antes de vir para o Brasil, já era um artista reconhecido na Itália. Em 1912,
esculpiu o busto de Vittorio Emanuelle II, no Palazzio Venezia (Roma), obra com
a qual conquistou o primeiro lugar de um concurso e uma bolsa de estudos na
França. Estudou na Escola de Belas Artes e Arquitetura de Paris, onde foi
discípulo de Auguste Rodin, um dos maiores escultores da nossa história. Em sua
terra natal, deixou belas obras, como o nicho em homenagem a Dom Bosco na
Escola Profissional Domingos Sávio e trabalhos na Igreja de São Genésio,
magnífico templo da região do Piemonte.
Não tinha o hábito de assinar suas obras, o que, segundo sua neta, dificultou
um pouco o mapeamento de sua produção. Agostinho faleceu em 29 de agosto de
1948, deixando importante patrimônio histórico e cultural para o Brasil.
Marcos
Antonio Vanceto
Fonte:
Boletim Salesiano
Nota do Postador
Em Crato, Agostinho Balmes Odisio foi também autor de outros projetos, como o monumento do Cristo Redendor (foto acima),
Palácio Episcopal, busto de Dom Quintino, na Praça da Sé; altar-mor e altar da
capela do Sagrado Coração de Jesus, ambos na Catedral; gruta de Nossa Senhora
de Lourdes e estátua de São Geraldo, no Colégio Santa Teresa de Jesus;
altar-mor da capela do Seminário Diocesano São José, dentre outros. Em Juazeiro
do Norte, Agostino Balmes Odísio trabalhou na reforma da Igreja-Matriz de Nossa
Senhora das Dores (hoje Santuário Diocesano e Basílica Menor) onde projetou os
altares e esculpiu estátuas, medalhões e painéis daquele templo.