Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Poesia é Palavra



“…O mais perfeito dos sons humanos é a palavra. 
A poesia por sua vez é a forma mais perfeita da palavra. “

Sono de Primavera – Poemas Chineses

Tramas e princípios - José do Vale Pinheiro Feitosa

O verbo tramar tem, no Houaiss, quatro acepções principais: o conceito original e três por sentido figurado. O conceito original não vem ao caso aqui, mas os sentidos figurados sim. Dos três eu gostaria de trabalhar meu pensamento com um deles: planejar ou executar bem um projetol. Pode ser que os desvios da disciplina me escapem eventualmente pelos outros dois, mas procuro a autocrítica e tento evitá-los o tempo todo. Enfim não tolero: maquinações, intrigas, complôs ou conspirações. Seria negar a minha própria história política e social.

Aliás, quem se politizou na minha geração teve que seguir uma disciplina de estudos muito além das matérias básicas do curso universitário que eventualmente escolheu para se graduar. Desde muito cedo, em debate e por leitura dirigida ou induzida como foi o caso da antropologia cultural ou no ano em que freqüentei a faculdade de economia. Aliás, quem estuda epidemiologia e controle de doenças vive na matéria prima da sociologia e estatística. A verdade é que além das teorias de estrutura e funções, quem optou pela ação política precisou beber na filosofia, história, economia, sociologia e pedagogia.

É enganoso imaginar que adotar uma visão de mundo não seja um grande esforço de debate, confrontos com a realidade e busca teórica para explicações. Como igual é ter o cartão de apresentações cheio de princípios. Por exemplo, o princípio da ética. Que sabemos são regras de comportamento em coletividade. E comportamento é conduta perfeitamente sujeita a variações históricas, de classe social, de tipos culturais etc. Claro que a civilização ocidental greco-romana tem princípios éticos que até norteiam o que é e não é civilizado. Mesmo assim ter princípio para a ação política é sentir o peso da realidade.

Qualquer pessoa ousa falar sobre qualquer assunto nos dias atuais. A novidade maior é que as telecomunicações permitem que num computador se acessem bibliotecas fabulosas. Neste momento é interessante ouvir-se o que se tem para dizer, pois mesmo uma má leitura de algo é importante para o aprendizado do especialista no assunto. O erro do generalista não é mais o centro da conversa. Ao contrário a conversa agora põe em xeque o universo compartimentado do conhecimento. Põe mais em xeque o especialista do que o generalista (ou não especializado em determinado assunto).

Os médicos estão vigiados pelo Dr. Google. Um diagnóstico pode ser avaliado pelo doente ou seus familiares, e o médico terá de deixar a torre de marfim da sabedoria incontestável. Este é o mundo que vivemos. Não conspirando contra os poderosos ou os mais fracos. Mas tentando compreender a realidade que inventa poderoso e determina fraco. E o passo histórico seguinte a toda compreensão: quem compreender age, transforma, modifica. Mesmo quando tenta manter o status quo usa da compreensão.

Ficamos assim: ser de direita, esquerda ou ter ideologia não é categoria de denúncia. Menos ainda trama sem princípios. São categorias válidas de como se faz política e como se preparam projetos de história. O projeto realizado e acabado é outra coisa: muito da realidade já o terá adicionado desde o início de novos elementos.

Resposta ao Armando Rafael, por Zé Nilton

Ave, Armando, você me descobriu.É isto. Acompanho a cultura local com muito zelo e respeito. Fazemos a renovação do santo todo ano. Logo eu um descrente, mas crente na força dos homens que fazem de tudo para se manterem nas trocas com o sagrado.

E tem mais: neste mês será inaugurada a Capela do Sagrado Coração de Jesus do Sítio Minguiriba. Doeu o terreno, botei mão na massa, com todos da comunidade.


Fí-lo alimentado por princípios e não por devaneios teóricos que orientam práticas sociais.

E fui buscar em Emille Durkheim, um dos fundadores da Sociologia, tido como consevador, a inspiração para a motivação em compreender as forças simbólicas que dão suporte a permanência de uma vasta população morando na Serra do Araripe.

Ele disse que "a religião é uma coisa eminentemente social. As representações religiosas são representações coletivas que exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras de agir que não nasceram senão de grupos reunidos e que estão destinados a suscitar, a manter ou a refazer certos estados mentais desses grupos" (Durkeim, Emile. "Sociologia da Religião e Teoria do Conhecimento". Sociologia, São Paulo: Editora Ática, 1990.

Disse melhor do que o velho Marx, ou não.

Então, para alguns, que aliás não são das Ciências Sociais, as coisas são bem bonitinhas: tem direita, esquerda e a ideologia tramando as posições, nem sempre com princípios que antecedem qualquer visão de mundo.

Governo do Crato promove a I MOSTRA CRATO DE CINEMA E VÍDEO, de 13 a 18 de Junho - Por: Dihelson Mendonça



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A
contece em Crato-CE, no Teatro Municipal Salviano Saraiva, de 13 a 18 de junho, a primeira Mostra Crato de Cinema e Vídeo, em comemoração aos 100 anos da inauguração do primeiro cinema do interior do Ceará, o "Cinema Paraíso", acontecido em 3 de maio de 1911 pelo italiano Vittorio di Maio. O evento é promovido pelo Governo do Crato, por meio da Secretaria de Cultura do Município, em parceria com a Universidade Regional do Cariri ( URCA ), Cineastas Cratenses, e reúne mais de 30 trabalhos, dentre curtas e longas-metragens produzidos exclusivamente por cineastas do Crato ou que possuem ligações com a cidade.

CRATO-CE, uma cidade marcada pelo Pioneirismo

A cidade do Crato, localizada no Sul do Ceará, ao longo da sua história, tem sido palco de inúmeros eventos pioneiros que tiveram ressonância posterior no Ceará e no Brasil. Exemplo disso foi quando a 3 de maio de 1817, José Martiniano Pereira de Alencar ( pai do escritor José de Alencar ), e filho de D. Bárbara de Alencar, proclamou do púlpito da Matriz do Crato a independência do Brasil, 5 anos antes do restante do país e já com regime republicano, estando 72 anos à frente do Macheral Deodoro da Fonseca.

Foi em Crato também, que em 1938 foi instalada a primeira usina hidroelétrica em solo Cearense, ao sopé da Chapada do Araripe; A primeira Diocese do interior; A primeira estação de rádio, a Rádio Araripe do Crato, inaugurada em 28 agosto de 1951; O Hospital São Francisco de Assis, em 23 de dez 1936; A casa de caridade em 1868; A primeira agência do Banco do Brasil do interior, em 1 set de 1936; O primeira unidade do SESI; O primeiro SESC; O primeiro time de futebol do interior do estado, o Crato Futebol Clube, em 1919; O Ideal Clube em 1916, que deu origem posteriormente ao famoso Crato Tênis Clube, ( que é de 1932 ); Os clubes de serra: Serrano, em 1961, Itaytera, em 1965 e Clube Recreativo Grangeiro em 1966.

Crato é pioneiro ainda com a primeira unidade da AABB do interior do estado, em inaugurada em 1955; Nas faculdades de filosofia, de 1960; Ciencias econômicas, em 1961; Faculdade de Direito, em 1973. Como se isso não bastasse, rodou pelas ruas do Crato ( calçadas especialmente para isso ), o primeiro automóvel do interior, adquirido pelo empresário Cratense Siqueira Campos, em 29 de set 1919; O primeiro Aeroporto do interior, em 1933 ( Campo de aviação ); Aeroporto N. S de Fátima, em 1953; Sociedade de Cultura Artística do Crato ( SCAC ), uma das maiores entidades culturais e artísticas do Ceará, em 1950, e a própria Universidade Regional do Cariri - URCA em 1986, são apenas alguns exemplos que comprovam o pioneirismo da cidade que é considerada "o coração pulsante do Cariri" e a prova inequívoca de que foi na cidade de Frei Carlos Maria de Ferrara, onde o Cariri realmente começou.

O pioneirismo do Crato se estende inclusive pela sétima arte, quando em 3 de junho de 1911 o italiano Vittorio di Maio inaugurava o primeiro cinema do interior cearense. Mas mesmo antes disso, já circulavam pelas suas ruas, alguns exibidores ambulantes, utilizando-se de um aparelho conhecido como Bioscópio e da Lanterna Mágica, que funcionavam a partir de discos e placas de vidro com gravações de imagens. Um desses exibidores foi o famoso Luiz Gonzaga de Oliveira ( Gonzaguinha ), bisavô do cineasta Cratense contemporâneo, Jackson de Oliveira Bantim.

Segundo a neta de Gonzaguinha, Alda de Oliveira Fontenele, hoje com 94 anos de idade, no inicio eram projetadas imagens coloridas que chegavam a assombrar a platéia. Com o tempo, vieram os filmes mudos com atores de gestos exagerados e muito maquiados. Ela lembra ainda que a trilha sonora era feita ao vivo por um pianista ou uma bandinha de músicos que acompanhavam as tensões das cenas. "Dona Vevé", como é conhecida, disse que os filmes se repetiam por varias semanas seguidas, isto porque eles vinham da capital em lombo de burros trazidos por tropeiros que comercializavam na cidade do Crato.

Mas somente no dia 03 de Junho de 1911, um Italiano de Nápoles chamado Vittorio di Maio, que visitava o Brasil e já havia inaugurado em 1897 um cinema em Petrópolis e outro em Fortaleza, inauguraria também a primeira sala de projeção do interior do Ceará, na cidade do Crato, chamada Cinema Paraíso, cujo primeiro filme exibido foi "Borboletas Douradas", e como o cinema era mudo, uma banda de música participava das sessões cinematográficas, animando o ambiente seguindo fielmente as cenas do filme. O anúncio do cartaz desses primeiros "sucessos de bilheteria" era feito da forma que anunciavam os espetáculos circenses da época: Um palhaço, e a meninada pelas ruas da cidade carregando o cartaz do dia. A criançada era marcada com tinta no pulso, valendo-lhes o ingresso gratúito para as sessões. O auditório era dividido com uma grade ( alambrado ), para diferenciar o tipo de ingresso. Desta grade para mais atrás, o ingresso era mais caro, porque neste tipo de cinema, quanto mais distante da tela, melhor era a visão para os espectadores. E para mais próximo da tela, a entrada era mais barata. Nos intervalos, enquanto as máquinas esfriavam, e eram trocados os rolos de fitas, uma banda de música tocava para os espectadores, bem como ao lado do prédio, havia também uma lanchonete.

Para comemorar os 100 anos desta data histórica, o radialista e memorialista cratense Huberto Cabral ( Foto ), elaborou um conjunto de eventos, que, promovidos pela administração municipal Samuel Araripe, através da Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude ( Danielle Esmeraldo ), com apoio de entidades como a Universidade Regional do Cariri, Instituto Cultural do Cariri, cineastas e entusiastas do cinema, resultaram na Primeira Mostra Crato de Cinema e Vídeo, a ser realizada no Teatro Municipal Salviano Saraiva, de 13 a 18 de junho, onde serão apresentados mais de 30 filmes de cineastas cratenses ou ligados ao Crato, entre curtas e longas-metragens, além de uma pequena exposição com um histórico do cinema no Crato no Hall do teatro, onde já existem duas máquinas projetoras da época de um dos melhores cinemas da cidade, o Cine Moderno.

Na primeira noite, será feita uma leitura dramática “Os Primórdios do Cinema no Crato”, entrega do Selo Cultural do Araripe – Troféu Vittorio di Maio; Avant-Premiére do tele-conto O Cinematografo Herege, de Jefferson de Albuquerque Jr e um coquetel aos presentes. Nos dias seguintes, trabalhos de cineastas renomados como “As Sete Almas Santas Vaqueiras” de Jackson Bantim, “Corisco e Dadá” de Rosemberg Cariry; “Sargento Getúlio” de Hermano Penna, estarão lado a lado com o cinema produzido pela nova geração, como “Caldeirão do Beato Zé Lourenço” de Catulo Teles e Franciolli Luciano; “Também sou teu Povo” de Franklin Lacerda e Orlando Pereira, e “Cerca” do cineasta Glauco Vieira, além de vários outros.

Segundo a secretária de Cultura do Crato, Danielle Esmeraldo, "a Primeira Mostra Crato de Cinema e Vídeo se configura como o primeiro passo para que num esforço contínuo, se possa revitalizar o cinema Cratense, com a importante colaboração de muitos nomes que fizeram e fazem a história do cinema no Crato".

PROGRAMAÇÃO OFICIAL:

SEG 13

19h
Abertura Oficial
- Leitura Dramática “Os Primórdios do Cinema no Crato” - com Luiz Carlos Salatiel e Kelvya Maia”
- Homenageados com o Selo Cultural do Araripe – Troféu Vittorio di Mayo;
AVANT PREMIÈRE do tele-conto “O Cinematografo Herege” 30'- de Jefferson de Albuquerque Jr, numa livre adaptação do conto homônimo de José Flavio Vieira;
- Coquetel

TER 14

19h
Exibição do curta: “As Sete Almas Santas Vaqueiras” 30'- de Jackson Bantim
Exibição do Longa: “Ave Poesia” 82'- de Rosemberg Cariry”

QUA 15

9h
Exibição do Curta: “Dona Cíça do Barro Cru” 12' – de Jefferson de Albuquerque Jr.;
Exibição do Curta: “A ordem dos Penitentes” 25' - de Petrus Cariry;
Exibição do Curta: “Também sou teu Povo” 15' - de Franklin Lacerda e Orlando Pereira;
Exibição do Curta: “Água pra que te quero?” 16'- de Nívea Uchoa;

14h
Exibição do Curta: “Superação” 15' - de Franciolli Luciano e alunos da Escola Estadual Moisés Bento de Jatí;
Exibição do Curta: “Drama” 20' - de Franklin Lacerda, Ana Rosa Borges (Roteiro);
Exibição do Curta: “DZU´NHURAE - O Filho das Águas” 28' - de Pachelly Jamacaru;
Exibição do Média: “Crato” 50' - de Virgínia Soares - Produção IMAGO (URCA);

19h
Exibição do Curta: “O Auto de Leidiana” 26' - de Rosemberg Cariry;
Exibição do Longa: “Fronteira das Almas” 90' - de Hermano Penna;

QUI 16

9h
Curtas da ONG VERDE VIDA – “Mestres da Cultura” de Genivan Brasil e Paulo Fuísca. “Box de Vídeos” - Alunos do Verde Vida
Exibição do Média: “Assombrações do Cariri” 20' - Documentário de Jackson Bantim;

14h
Exibição do Curta: “Matando a Fome” 05' - de Franciolli Luciano;
Exibição do Curta: “Músicos Camponses” 12' - de Jefferson de Albuquerque Jr.;
Exibição do Curta: “Chapada do Araripe - Como foi, como será? (parte III)” 30' de Jefferson de Albuquerque Jr.;

15h10min
Exibição de Curta: “Seu Mundô – O Guardião da Floresta” 16' – de Laerto Xenofonte;
- Roda de Conversa: “Estórias de Cinema - Colóquio com cineastas, produtores, atores e cinéfilos. Reativação do Cine-clube Crato”;

19h
Exibição do Média: “Formação Romualdo, o Milagre Paleontológico”22' - Documentário de Jackson Bantim e Álamo Feitosa;
Exibição do Longa: “Corisco e Dadá” 90' - de Rosemberg Cariry;

SEX 17

9h
Exibição de Curta: “Caldeirão do Beato Zé Lourenço” 15' – de Catulo Teles e Franciolli Luciano;
Exibição de Curta: “Cerca” 15' – de Glauco Vieira;
Exibição de Média: “A Enchente do Crato” 60' - de Joaquim dos Bombons;

14h
Exibição de Média: “Lua Cambará” 60' – de Ronaldo Correia de Brito;
Exibição de Curta: “Cabaré-Memória de Uma Vida” 15' - Alexandre Lucas / Coletivo Camaradas;
Exibição de Curta: “Catadores de Pequi” 12' - de Zuiglio Brito e LaislaYanael;

19h
Exibição do Curta: “Dez anos do Chá de Flor” 15' - de Cristina Diogo e Maria Dias/Juriti Produções;
Exibição de Longa: “O Grão” 90' - de Petrus Cariri;

SÁB 18

17h
Exibição de Longa: “Sargento Getúlio” 90' - de Hermano Penna;

19h
Exibição de Longa: “Padre Cícero” 90' – de Helder Martins;

20h30min
- Encerramento

Maiores informações:

Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude
www.culturacrato.blogspot.com
Email: culturacrato@gmail.com
Rua Teopisto Abath s/n
Telefone: +55 (88) 3523-2365

Por: Dihelson Mendonça

Helena e o Vento - José do Vale Pinheiro Feitosa




Prece ao Vento - música de Gilvan Chaves, Alcyr Pires Vermelho e Fernando Luiz Câmara cantada pelo Trio Nagô.


Ontem por volta das 18 horas, a considerar a variação do tempo entre um território e outro: romperam-se as barreiras dos céus. Num repente que assusta nossos espíritos afeitos ao esperado.

Um tsunami de ventos. Dizer que foi um vendaval não desvenda a surpresa de quem estava nas ruas do Rio. Não houve anúncios. Abriram-se as vagas de uma ventania que já vai levantando, arrastando, derrubando, quebrando, dobrando, enfim num gerúndio que parece durar até o infinito.

Afinal para nós os portadores da finitude, o infinito é tudo aquilo que vai até a marca do fim. Maria Helena Carvalho abriu os olhos mais do que todas as surpresas anteriores. Mas logo os fechou com o pavor dos argueiros a danificar a visão.

Jarros de flores caiam. Um canto agudíssimo saía de cada fresta de sua residência. As portas interiores da casa batiam quase a ultrapassar os batentes dos portais. Sobre o teto da casa barulhos de coisas em velocidade estorvadas por obstáculos.

Tudo que era flexível estava em espasmos quase epiléticos. O que era sólido ameaçava rachar e quebrar-se. Os líquidos eram maremotos proporcionais ao espelho de suas águas, como aquelas no copo que Helena desejava beber.

Um mundo estava literalmente se desagregando. Se espatifando. Se vidros houvesse se estilhaçariam. As pétalas das flores se esgarçavam. As folhas voavam. Os galhos se quebravam e caíam em rodopio em alvos potenciais. Poderia ser qualquer alvo, era apenas uma questão de grande chance de acertar.

A prova maior da pouca separação entre a intimidade do mundo e a intimidade de Helena: os pensamentos eram ciclones endoidecidos. Helena não conseguia juntar idéias, buscar uma experiência anterior. Não tomava qualquer decisão por falta de uma reflexão para mover a vontade.

Mas acontece. No nevoeiro enlouquecido do medo, quando todas as idéias corriam aos ventos, Helena lembrou uma simpatia da mãe. Lá nos idos dos tempos perdidos, naquele interior de Cachoeira do Itapemirim, as casinhas da roça com as telhas ameaçadas pela ventania. Todas as crianças apavoradas e a mãe de Helena fazia uma “simpatia”.

Helena nem refletiu e partiu para a janela da frente de sua casa a repetir o que a mãe fazia. Abriu a tesoura para a ventania. Ela cortaria as cordas do vento. Enfraqueceria o vento ao dividi-lo em partes. Era uma medida quase militar.

E o vento cessou. O mundo novamente tinha a humanidade de Helena. A “simpatia” funcionou.

Todos à 1ª Mostra Crato de Cinema e Vídeo!


Programação da Abertura da 1ª Mostra Crato de Cinema e Vídeo

13/06, Segunda-feira

19h - Abertura Oficial

• Leitura Dramática “Os Primórdios do Cinema no Crato” - com Luiz Carlos Salatiel e Kelvya Maia”

• Homenageados com o Selo Cultural do Araripe – Troféu Vittorio di Mayo

1. AVANT PREMIÈRE do tele-conto “O Cinematografo Herege” - de Jefferson de Albuquerque Jr, numa livre adaptação do conto homônimo de José Flavio Vieira

• Coquetel

Juazeiro do Norte ou Reino da Luminura

Juazeiro do Norte fica no Cariri cearense, no coração do Nordeste. Terra de encontros e caldeirão mítico de povos dos sertões. Terra do centro, terra santa, ainda encantada, embora pareça uma cidade ordinária. Quem assim a vê não sabe da cidadela sagrada que é. A Sedição de Juazeiro, depois do massacre de Canudos pelos exércitos da República, foi a segunda importante guerra do mar contra o sertão.
Considero Juazeiro do Norte o ensaio cultural de um Brasil que teima em se firmar a revelia de sua atrasada classe dominante, constituindo-se em uma civilização diversa e única: pelas principais vertentes culturais herdadas de povos que por lá viveram e pela capacidade em gerar uma cultura original, com seus mitos fundadores, sua religião, seus deuses e demônios, seus artistas
e poetas, seus guerreiros e profetas.

Conectada com temporalidades, simbologias e sociabilidades distintas, feita de ambiguidades sem fim, sendo a um só tempo sagrada e profana, figural e abstrata, tradicional e contemporânea, punk e armorial, líquida e fincada na terra, Juazeiro do Norte é um presente do povo sertanejo ao Nordeste, ao Brasil e ao mundo.

Sua riqueza advém dos romeiros, da religiosidade e da arte popular. Diz-se que lá uma verdade comporta 70 mentiras e cada uma destas contém 70 verdades, ad infinitum, até a glória de Deus. Este caleidoscópio do mundo, o poeta Oswald Barroso chamou de
“reino da luminura”.

Nesse lugar de histórias e visões, cantorias e orações, romeiros e artesãos que cintilam feito estrelas no céu da imaginação de inúmeros cineastas acontecerá o 21º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema de hoje a 16 de junho.

Pela primeira vez, o evento estende suas atividades ao interior do Estado. Realizado em Fortaleza de 8 a 15 do mesmo mês, o Cine Ceará traz o tema “Religião e religiosidade no cinema”, homenageando os 100 anos de emancipação política do município.

Rosemberg Cariry, Cineasta
FONTE:Jornal O POVO ON LINE

"36 horas" - José Nilton Mariano Saraiva

Fosse hoje, o major Pike, do exército americano, poderia ser rotulado de o “cara”. Agente do serviço secreto “yanque”, sabia só tudo em termos de estratégias e informações confidenciais, oriundas do “alto comando aliado”. E isso, já ali, nos estertores da Segunda Grande Guerra Mundial, quando o “bote final” (invasão via Normandia), estava sendo ultimado. Por conta disso, ali estava, diante de um mapa pendurado na parede à sua frente, mostrando (usando as mãos) e detalhando ao “General-Comandante” responsável pela operação, qual o plano/trajeto que seria posto em prática. Tão entusiasmado estava, que num certo momento, ao deslocar o dedo indicador de um ponto a outro do mapa, como a traçar a rota a ser percorrida, levou um pequeno corte, em razão da textura e aspereza das bordas do papel. Imediatamente colocou o dedo na boca e reclamou da qualidade do papel do mapa (ATENTEM BEM PRA ESTE “PEQUENO DETALHE”).
Na outra ponta, apavorado com a iminente perspectiva de ser derrotado e pagar um duro castigo pela carnificina monstruosa que houvera provocado, Hitler estava “com a macaca no corpo”; uma pilha, possesso, bufando de raiva, distribuindo impropérios a torto e a direito, queria porque queria que se fizesse o impossível pra descobrir a data, hora e lugar em que os aliados atacariam (a Normandia, que a inteligência alemã houvera sugerido, era considerada um local muito “óbvio” pra ser verdade).
Pois bem, mandado a Lisboa para uma última missão secreta, o major Pink comete uma mancada homérica: à noite, pra relaxar, entra num certo ambiente e pede um simplório café; ao levantar-se e dar alguns passos, passa mal e... desmaia.
Na cena seguinte, o major Pink acorda um tanto quanto zonzo, sem entender onde está; levanta-se com dificuldade da cama, vai até uma pequena pia onde lava o rosto, pega uma toalha, se enxágua e aí, quando levanta a cabeça e ver-se no espelho, recua assustado e com ar de espanto ante a imagem refletida: boa parte dos seus cabelos está embranquecida e sua pele ressecada, dando-lhe uma aparência de “velho”.
Apavora-se com aquela visão dantesca e, ao tentar sair pra procurar alguém que o ajude a entender tal “assombração”, esbarra num casal que, “coincidentemente”, adentrava o recinto. Estes o tranqüilizam, pedem-lhe pra que mantenha a calma, informam-lhe que ele se encontra em um Hospital Militar “americano” em plena Alemanha e se apresentam como o médico e a enfermeira que estão cuidando dele. Visivelmente eufóricos, gentilmente lhe oferecem um “jornal do dia”, para que fique a par das notícias; e ai, outro susto grande, de arrepiar e fundir a cuca: a data da impressão do jornal (daquele dia) é anos à frente (1950) da que ele imagina está vivendo (1945).
Ao questionar a data do jornal e os cabelos já grisalhos, é cientificado que sofrera um acidente e ficara com amnésia por vários anos, que estaria “retornando” naquele exato momento (daí a alegria de todos), que a guerra “já era”, que os aliados haviam vencido e ocupado a Alemanha. E as surpresas se sucedem: mostram-lhe algumas (supostas) cartas do pai, narram fatos e reuniões acontecidos no passado (que ele mesmo confirma) e que aquela enfermeira tão prestativa (Anna) era também... a sua esposa.
A partir dessa “intimidade” (com breves minutos de descanso), o médico instrui o major Pike para tentar lembrar com o máximo possível de detalhes, o que estava fazendo antes do acidente que lhe causou a traumática perda de memória, se ainda se lembrava do plano original dos aliados pra invadir a Alemanha (o dia, a hora, o local) e por aí vai. Ele, no princípio desconfiado e relutante, acaba por se convencer da nova realidade e... conta só tudo, tim-tim-por-tim-tim.
Na parada pra um breve lanche, ao manipular o recipiente contendo “sal”, derruba-o, e uma pequena porção escapa pelo orifício e se esparrama sobre a mesa; ele, então, pacientemente, começa a juntar o “sal” com os dedos a fim de devolvê-lo ao saleiro; e aí, a surpresa maior (O “PEQUENO DETALHE”): no contato do “sal” com o corte no dedo (que fora provocado pelo “mapa”, na noite anterior), a dor. Intrigado, ele leva o dedo à boca (como fizera na noite anterior), pede licença pra ir ao banheiro e lá examina e constata o ferimento e... faz-se a luz (lembra de tudo).
Ao ficar a sós com a suposta “esposa”, faz algumas perguntas bobas, se aproxima, agarra-a com força, agride-a com violência, mostra-lhe que havia descoberto tudo e exige que ela lhe conte a verdade. Ela, apavorada, conta-lhe que também é americana, fora prisioneira dos campos de concentração nazista (mostra-lhe a numeração no braço) e que topara fazer aquela encenação em troca da liberdade e, enfim... abre o bocão: na verdade, ele fora sedado na noite anterior (lá em Lisboa), transportado pra a Alemanha, se submetido a um especialista em maquiagem (daí o cabelo grisalho e a pele ressecada) e sido internado num “hospital” (previamente preparado e onde todos se comunicavam em inglês e mantinham hábitos americanizados) com o único objetivo de lhe “arrancarem” aquela informação tão valiosa (qual a hora, dia e onde se daria o desembarque dos aliados) que, literalmente, definiria o destino da guerra. E que o prazo entre o seu seqüestro e a obtenção de tais informações (de acordo com o comando alemão) não poderia de maneira alguma exceder 36 horas.
A solução pra tentar desfazer tudo que ele houvera informado, de bandeja ??? Ela própria (a enfermeira) sairia aos prantos e comunicaria aos “chefes” que ele desde o começo sabia de tudo, que houvera descoberto a farsa, que propositadamente fornecera informações falsas e estava, portanto, enganando a todos, fazendo-os de tolos.
Fato é que os alemães (que, lembremo-nos, entendiam como “óbvio” demais o desembarque através da Normandia) se “convenceram” que as informações fornecidas pelo major Pike (posteriormente preso, encarcerado, torturado, mas que, “duro na queda”, nada mais revelara) realmente eram falsas, não tinham nenhum fundamento ou credibilidade e... desconsideraram-na.
Resultado ??? A invasão foi feita exatamente pela “óbvia” Normandia, no dia e hora que os alemães tinham tomado conhecimento através do major Pike e, caso lhe tivessem dado crédito poderiam ter mudado o rumo da história; (todos sabemos que foi a partir dali – Normandia - que os aliados partiram pra a vitória).
O major Pike conseguiu fugir (com a enfermeira-americana) e após a guerra foi condecorado pelos relevantes serviços prestados.
Um outro filme marcante.

Pêndulo




            PÊNDULO


Diante de coisa tão sem graça
não paramos de dar risada.

Nunca encontramos a nossa face
perdida no espelho do não.

Quanto mais vivemos
mais nos desconhecemos.

Quanto mais perto chegamos da morte
mais perto estamos da vida.