Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Fernanda Abreu


Fernanda Sampaio de Lacerda Abreu (Rio de Janeiro, 8 de setembro de 1961) é uma cantora e compositora brasileira. Iniciou a carreira como vocal de apoio na banda Blitz, com Evandro Mesquita e, posteriormente, seguiu carreira solo, influenciada pelo samba, Sambalanço, Disco music, Rap, Funk e Funk carioca - estilo musical que ajudou a popularizar - e abandonando o pop rock da Blitz. Sua canção mais famosa é "Rio 40 Graus".
Sobre telas

- Claude Bloc -


Faço poesia
como quem pinta uma tela
testando palavras,
cores
misturando luzes,
sombras,
sentimentos,
emoções...

Sobre as telas
as linhas passeiam
como quem tenta seguir uma melodia
com um pincel na mão...
Assim,
também assim
faço poesia.




Imagem - fonte: http://carvalhar.blogspot.com/2008_05_01_archive.html
.

Colaboração de Joaquim Pinheiro


ENTREVISTA DA 2ª
EDUARDO CAMPOS

A oposição está distante da vida real do brasileiro

COM QUASE 70% DAS INTENÇÕES DE VOTO, GOVERNADOR DE PERNAMBUCO APONTA PAUTA EQUIVOCADA DE OPONENTES E OS CHAMA PARA DIÁLOGO PÓS-ELEIÇÃO

FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE

Governador mais bem avaliado do país, segundo o Datafolha, e com uma reeleição consagradora quase certa em Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) desconversa sobre suas pretensões nacionais para os próximos anos.
Em entrevista à Folha, entretanto, fala como liderança nacional. Analisa os erros dos adversários dele e do presidente Lula, chama a oposição para um diálogo mais sereno após a eleição e aponta suas articulações com o presidente para criar uma "frente ampla" de aliados. Apoiado por uma megacoalizão de 15 partidos, Campos tem 67% na pesquisa Datafolha, contra 19% de Jarbas Vasconcelos (PMDB).
Ele falou à Folha na noite da segunda-feira passada, em seu gabinete no palácio do Campo das Princesas, o mesmo no qual seu avô Miguel Arraes foi preso por tropas do Exército em 1964.



Folha - Pernambuco é o Estado onde o presidente Lula tem a melhor avaliação, e o sr. é o governador mais bem avaliado. Quanto do desempenho do seu governo deve ser creditado a Lula?
Eduardo Campos - O presidente Lula é bem avaliado em Pernambuco por justa razão. Primeiro ele é pernambucano. Segundo, ele tem feito um governo que deu oportunidade de Pernambuco tirar do papel velhos sonhos, bandeiras de anos de luta, como a refinaria de petróleo, a Transnordestina, a transposição [do rio São Francisco], estaleiros.
Mas costumo ouvir do povo um ditado: não tem vento bom pra quem não sabe para onde quer ir. Cuidamos de levar bons projetos, de mostrar que o nosso time sabe fazer.

O sr. é o governador mais bem avaliado e ruma para uma vitória expressiva no primeiro turno, posição que lhe credencia como um nome forte para 2014. O quanto sai fortalecido nacionalmente desta eleição?
O mais prudente nesse momento é governar e fazer a campanha até o dia 3. [Não estaria nessa situação] Se não tivéssemos um governo que tivesse entregue, na segurança pública: o Recife hoje tem 40% menos homicídio do que há 3,8 anos. Construímos hospitais, UPAs [Unidades de Pronto Atendimento], colocamos OS (organizações sociais) para gerir hospitais.

O sr. planeja futuramente se tornar presidente?
Não. Quero ser governador de Pernambuco mais uma vez e me dedicar como me dediquei. Costumo dizer quando quero as coisas. Não uso da velha política, daquela artimanha que o camarada diz que não quer porque quer. Não faço esse jogo.

Mas o sr. dizia, que não seria candidato à reeleição...
Sou favorável ao mandato de cinco anos com coincidência de mandato [unificar as eleições de todos os cargos eletivos], porque quatro anos com uma eleição no meio é menos do que quatro anos, porque há óbices de convênios, de iniciativa de programas. Meu partido e eu sempre nos colocamos contra a reeleição. Hoje sou candidato porque acho que temos muito mais a fazer para consolidar esse ciclo de transformação que iniciamos.

Qual a sua estimativa do desempenho do PSB nas eleições? O possível fortalecimento credencia o partido a pleitear um espaço maior na Esplanada [hoje comanda Ciência e Tecnologia e Secretaria dos Portos]?
Acho que vamos fazer em torno de 40 deputados federais -hoje somos 23- e seis senadores -hoje somos dois.
E estamos fazendo a disputa efetiva em oito Estados. Desses, somos primeiro em quatro [PE, CE, ES e PI, neste último empatado] e em quatro podemos ir ao segundo turno. É um crescimento significativo. Quanto ao governo, nunca fizemos política em troca de cargos. Mas podemos participar e temos quadros para isso.

Lula disse ter conversado com o sr. a respeito da criação de uma "organização política muito forte" para impedir que se repitam sobre o presidente pressões do Congresso como a ocorrida no mensalão. Que articulação é essa?
O presidente Lula já falou que, se dependesse dele, ele faria um grande partido. Ao longo desses anos, ele foi vendo que isso não era uma coisa fácil de acontecer.
E acho que agora evolui algo que eu entendo que tem sentido político: por que fazemos frentes nos Estados, nas disputas eleitorais, e não conseguimos manter uma institucionalidade de frente entre partidos que têm identidades e histórico de estar juntos em diversas lutas e causas?
Acho que depois da eleição precisamos conversar isso. Outros países da América Latina tiveram experiência, como a Frente Ampla, no Uruguai.

Com a possível vitória da coalizão governista, a aprovação recorde do presidente e um certo discurso de rejeição a reparos ao governo, não é possível identificar uma escalada no caminho de se tentar varrer a oposição do mapa?
Isso é um problema da oposição, não nosso. É um problema de qual oposição foi feita e qual a forma de fazê-la. Acho fundamental que todo governo tenha oposição, democracia, liberdade de imprensa. São fundamentos da vida democrática.
Agora, no momento que temos uma grande vitória, ela deve ser acompanhada de uma grande prudência e de muita humildade.
Para isso, é fundamental dialogar com a oposição. Que vai sair da urna com vitórias, com senadores, deputados e governantes. De uma maneira mais serena, menos pontuada pelos confrontos que marcaram a vida do país nesses oito anos.
Muitas vezes eu vi setores da oposição cometendo os mesmos erros que o PT cometeu quando foi oposição e pagou por esses erros.

Por exemplo?
Quando fez oposição a tudo, sistematicamente, se negou a prestar apoios a alguns governos. Aconteceu com o governo de dr. Arraes, de Brizola, de Itamar, de Mário Covas, de Franco Montoro.
E hoje muitos militantes do PT percebem que foram erros que geraram outros erros agora, quando o PT chega ao governo. Porque ficou aquilo: você fez isso comigo, vou fazer agora com você.
Acho que esse tempo passou.

Onde a oposição errou?
Prefiro ver onde é que nós acertamos. Acertamos a pauta do povo: voltar a crescer, cuidar de escola, voltar a fazer obras. Fomos para o debate do Brasil real. O Brasil construção da cidadania, da oportunidade, do resgate da autoestima do nosso povo.
Desmontamos fábricas de desigualdades pelo país.
Eles fizeram o debate do Brasil oficial. Essa foi a grande diferença. O debate oficial não chegou nas comunidades, nas universidades, na periferia. Essa pauta ficou em Brasília. Ela enche páginas e páginas de jornais, blogs, debates na TV. Mas não é o assunto da enorme maioria dos brasileiros.

Essa é a única pauta cabível? Por que a mídia...
Não é a mídia. Os políticos vão à mídia. Passam dias [debatendo] "porque a PEC tal", "porque a MP não sei o quê". Os temas escolhidos pela oposição não colaram na vida real. Se tivessem colado, o resultado seria outro.

FOLHA.com

Deixar ou ser deixada, eis a questão ! - Por Socorro Moreira



Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci (Chico Buarque)

Fazer o que , quando alguém , categoricamente, nos diz : nossa história terminou. Não quero mais a tua companhia ?
Vira obsessão , a lembrança , no passar dos dias. Nos primeiros , o dia é cheio e a cama vazia. Cheio de pensamentos , que lembram detalhes, que buscam explicações... Quando começou o desamor? Naquela tarde, naquela noite, naquela viagem...?
Onde os desencontros gritaram alto, e o tédio ocupou o lugar do prazer ?
E o tédio, no ficar das horas desgastou a ternura...
E o gesto de carinho, que no ar ficou ?

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

Agora que o tempo passou, já refeita e esquecida  do meu novo ex-amor, 
Nada a fazer... Como nada foi feito. 
A distância de tanto acontecer, se instalou. 
E ficou longe  o nosso olhar. 
E ficou desprendido o nosso cheiro. 
Meu cabelo já cansou de balançar.
Anda preso, e foge do luar,

E que venho até remoçando
Me pego cantando, sem mais, nem por quê
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

 Não creio no rejuvenescimento natural. Creio no riso  que acaba de nascer, mas morre no instante seguinte, ou se esconde,  adormece.
Já não canto, nas horas do banheiro. Já esqueço a letra das canções, e me surpreendo, quando relembro uma daquelas canções. Dói no peito, uma dor antiga, já esquecida de mim. A canção se tranca, faz birra, e diz que já não me diz, as notas que desejo ouvir.
Foi pecado esquecer aquela música de Dorival Caymmi...!

Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

 A casa ficou estranha. Ela  adoraria mudar de canto, a exemplo de tantas vezes, em que teve um jardim.
Um pé de flamboyand, ainda é semente, deslocou-se pelos caminhos, se fez amarelo, em todo setembro... Diz pra mim, ainda  lembra de mim ?
Sou feliz, na medida  em que o momento deixa. Sou feliz, quando adormeço, e acordo lembrando o colorido de um sonho. Adoro festas, no mundo onírico, quando posso comer  tortas, docinhos, e pudins... Acordo adocicada, como se tivesse sido beijada, mil vezes, sem fim !

Socorro Moreira
A Ostra e o Vento
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Vai a onda
Vem a nuvem
Cai a folha
Quem sopra meu nome?
Raia o dia
Tem sereno
O pai ralha
Meu bem trouxe um perfume?
O meu amigo secreto
Põe meu coração a balançar
Pai, o tempo está virando
Pai, me deixa respirar o vento
Vento

Nem um barco
Nem um peixe
Cai a tarde
Quem sabe meu nome?
Paisagem
Ninguém se mexe
Paira o sol
Meu bem terá ciúme?
Meu namorado erradio
Sai de déu em déu a me buscar
Pai, olha que o tempo vira
Pai, me deixa caminhar ao vento
Vento

Se o mar tem o coral
A estrela, o caramujo
Um galeão no lodo
Jogada num quintal
Enxuta, a concha guarda o mar
No seu estojo
Ai, meu amor para sempre
Nunca me conceda descansar
Pai, o tempo vai virar
Meu pai, deixa me carregar o vento
Vento
Vento, vento
                            Intuição                         



Claude,


A sua imagem é uma ternura.

A intuição é um pressentimento que seduz o lado esquerdo do meu peito, assiduamente. Irrequieta e, desassossegada muitas vezes sinto-a multifacetada.

Por vezes, raras vezes Claude faz refém o meu coração adornando-se de coloração negra e, escura, outras vezes, a maior parte das vezes sofistica-se requintadamente e, traja-se de cor branca e, clara.

Um dia luminoso e, intuitivo.

Ana (Ballet de Palavras)

Cascais - Portugal

Meu Pai- por Ferreira Gullar


meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem

quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro


De Muitas Vozes (1999)


Bolo de Castanha com Baba de Moça



Ingredientes

-2 xícaras (chá) de açúcar
-2 colheres de (sopa) de manteiga
-3 ovos (claras em neve)
-3 xícaras (chá) de farinha de trigo
-1 colher (sopa) de fermento em pó
-1 xícara(chá) de leite
-1 xícara (chá) de castanha do pará picada


Baba de Moça:

-200g de açúcar refinado
-3 gemas peneiradas
-1 vidro de leite de coco


Modo de Preparo

Bata o açúcar com a margarina e acrescente as gemas uma a uma sem parar de bater até formar uma mistura cremosa e homogênea. Misture a farinha com o fermento e acrescente à mistura sempre alternando com o leite. Adicione as castanhas e depois levemente às claras em neve. Despeje a mistura em forma de buraco no meio untada e enfarinhada. Leve para assar pó 35 minutos em forno médio. Forma de 35cm de diâmetro. Modo de fazer a Baba de Moça: Misture os ingredientes e leve ao fogo mexendo sempre. Não deixe ferver senão talha. Sirva gelado sobre fatias de bolo.
Perfeição
Legião Urbana
Composição: Renato Russo

Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...

Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...

Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...

Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...


Paulo Autran



Paulo Paquet Autran (Rio de Janeiro, 7 de setembro de 1922 — São Paulo, 12 de outubro de 2007. foi um ator brasileiro de teatro, cinema e televisão.

A Neblina - por José Newton Alves de Sousa


Desceu a neblina na serra. 
E o dia embuçou-se.
Dificilmente os músculos trabalham.
Há em tudo um sentido de agasalho. 
A neblina  abençoa-nos e ama-nos.
Suavemente , como um sonho.
E nós, mudos, guardados e tranquilos, 
abatidos nos pomos sob o céu.

CONVITE!


Convocamos os amigos e colaboradores para uma reunião especial, sobre a Casa de Vicente Leite, logo mais , às 19 h, na casa de Dona Almina Arraes.
Contamos  com a sua presença !
Carlos Rafael, Armando, Salatiel, Abidoral,  Zé Flávio, Liduína, Zélia, Emerson Monteiro,  Waldemar Farias, Pachelly, Roberto Jamacaru, Poliana Esmeraldo, Maurílio Peixoto, Jefferson Albuquerque, Josenir, Marcos Cunha, Mary, João do Crato, Kaika, Edilma, Ricardo, Joemir, Cileide,  e todos  que estejam na cidade, e puderem comparecer !

Façam a divulgação !

Um texto de Ferreira Gullar



FAZ MUITOS ANOS já que não pertenço a nenhum partido político, muito embora me preocupe todo o tempo com os problemas do país e, na medida do possível, procure contribuir para o entendimento do que ocorre. Em função disso, formulo opiniões sobre os políticos e os partidos, buscando sempre examinar os fatos com objetividade.


Minha história com o PT é indicativa desse esforço por ver as coisas objetivamente. Na época em que se discutia o nascimento desse novo partido, alguns companheiros do Partido Comunista opunham-se drasticamente à sua criação, enquanto eu argumentava a favor, por considerar positivo um novo partido de trabalhadores. Alegava eu que, se nós, comunas, não havíamos conseguido ganhar a adesão da classe operária, devíamos apoiar o novo partido que pretendia fazê-lo e, quem sabe, o conseguiria.


Lembro-me do entusiasmo de Mário Pedrosa por Lula, em quem via o renascer da luta proletária, paixão de sua juventude. Durante a campanha pela Frente Ampla, numa reunião no Teatro Casa Grande, pela primeira vez pude ver e ouvir Lula discursar.


Não gostei muito do tom raivoso do seu discurso e, especialmente, por ter acusado "essa gente de Ipanema" de dar força à ditadura militar, quando os organizadores daquela manifestação - como grande parte da intelectualidade que lutava contra o regime militar- ou moravam em Ipanema ou frequentavam sua praia e seus bares. Pouco depois, o torneiro mecânico do ABC passou a namorar uma jovem senhora da alta burguesia carioca.


Não foi isso, porém, que me fez mudar de opinião sobre o PT, mas o que veio depois: negar-se a assinar a Constituição de 1988, opor-se ferozmente a todos os governos que se seguiram ao fim da ditadura -o de Sarney, o de Collor, o de Itamar, o de FHC. Os poucos petistas que votaram pela eleição de Tancredo foram punidos. Erundina, por ter aceito o convite de Itamar para integrar seu ministério, foi expulsa.


Durante o governo FHC, a coisa se tornou ainda pior: Lula denunciou o Plano Real como uma mera jogada eleitoreira e orientou seu partido para votar contra todas as propostas que introduziam importantes mudanças na vida do país. Os petistas votaram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e, ao perderem no Congresso, entraram com uma ação no Supremo a fim de anulá-la. As privatizações foram satanizadas, inclusive a da Telefônica, graças à qual hoje todo cidadão brasileiro possui telefone. E tudo isso em nome de um esquerdismo vazio e ultrapassado, já que programa de governo o PT nunca teve.


Ao chegar à presidência da República, Lula adotou os programas contra os quais batalhara anos a fio. Não obstante, para espanto meu e de muita gente, conquistou enorme popularidade e, agora, ameaça eleger para governar o país uma senhora, até bem pouco desconhecida de todos, que nada realizou ao longo de sua obscura carreira política.


No polo oposto da disputa está José Serra, homem público, de todos conhecido por seu desempenho ao longo das décadas e por capacidade realizadora comprovada. Enquanto ele apresenta ao eleitor uma ampla lista de realizações indiscutivelmente importantes, no plano da educação, da saúde, da ampliação dos direitos do trabalhador e da cidadania, Dilma nada tem a mostrar, uma vez que sua candidatura é tão simplesmente uma invenção do presidente Lula, que a tirou da cartola, como ilusionista de circo que sabe muito bem enganar a plateia.


A possibilidade da eleição dela é bastante preocupante, porque seria a vitória da demagogia e da farsa sobre a competência e a dedicação à coisa pública. Foi Serra quem introduziu no Brasil o medicamento genérico; tornou amplo e efetivo o tratamento das pessoas contaminadas pelo vírus da Aids, o que lhe valeu o reconhecimento internacional. Suas realizações, como prefeito e governador, são provas de indiscutível competência. E Dilma, o que a habilita a exercer a Presidência da República? Nada, a não ser a palavra de Lula, que, por razões óbvias, não merece crédito.


O povo nem sempre acerta. Por duas vezes, o Brasil elegeu presidentes surgidos do nada - Jânio e Collor. O resultado foi desastroso. Acha que vale a pena correr de novo esse risco?

A divisão dos trinta e cinco camelos - Por Malba Tahan

Encontramos próximo a um refúgio no deserto três homens discutindo ao pé de um lote de camelos. Por entre pragas e impropérios gritavam:
– Não pode ser
– Isto é um roubo.
– Não aceito!
O inteligente Beramiz procurou se informar do que se tratava.
– Somos três irmãos e recebemos de herança esses 35 camelos – Esclareceu o mais velho.
– Segundo a vontade expressa do meu pai, devo receber a metade, o meu irmão Hamed Namir uma terça parte e ao Harim, o mais moço, deve tocar apenas a nona parte. Não sabemos, porém, como dividir dessa forma 35 camelos e a cada partilha proposta segue a recusa dos outros dois, pois a metade de 35 é 17 e meio. Como fazer a partilha se a terça parte e a nona parte também não são exatas?
– É muito simples – atalhou o Homem que Calculava – Encarrego-me de fazer com justiça, essa divisão, se me permite que eu junte aos 35 camelos da herança este belo animal, que em boa hora, aqui me trouxe!

Nesse ponto, procurei intervir na questão:
– Não posso consentir em semelhante loucura! Como poderíamos concluir a viagem se ficássemos sem o camelo?
– Não te preocupes com o resultado, ó bagdali! – replicou-me em voz baixa Beremiz.
– Sei muito bem o que estou fazendo. Ceda-me o teu camelo e verás no fim a que conclusão quero chegar.
Tal foi o tom de segurança com que ele falou que não tive dúvidas de entregar o meu belo jamal, que imediatamente, foi reunido aos 35 ali presentes, para serem repartidos pelos três herdeiros.
– Vou meus amigos, fazer a divisão justa e exata dos camelos que são agora, como vêem, em número de 36. – E, voltando-se para o mais velho dos irmãos assim falou:
– Deverias receber a metade de 35, isto é, 17 e meio. Receberás 18. Nada tens a reclamar, pois é claro que saíste lucrando com esta divisão!
E, dirigindo-se ao segundo herdeiro, continuou:
– E tu, Hamed Namir, deverás receber um terço de 35, isto 11 e pouco. Vais receber um terço de 36, isto é, 12. Não poderás protestar, pois tu também saíste com visível lucro na transação.
E disse, por fim, ao mais moço:
– E tu, jovem Harim Namir, segundo a vontade de teu pai, deverias receber uma nona parte de 35, isto é, 3 e tanto. Vais receber uma nona parte de 36, isto é 4. O teu lucro foi igualmente notável. Só tens a agradecer-me pelo resultado!
E concluiu com a maior segurança e serenidade:
– Pela vantajosa divisão feita entre os irmãos Namir – partilha em que todos os três saíram lucrando – couberam 18camelos ao primeiro, 12 camelos ao segundo e quatro ao terceiro, o que dá o resultado (18+12+4) de 34 camelos. Dos 36 camelos, sobram dois. Um pertence, como sabem, ao bagdali, meu amigo e companheiro. Outro toca por direito a mim, por ter resolvido, a contento de todos, o complicado problema da herança!
– Sois inteligente, ó estrangeiro! – Exclamou o mais velho dos três irmãos. – Aceitamos vossa partilha na certeza de que foi feita com justiça e equidade.

Extraído de “O Homem que calculava” - Malba Tahan – Record

                       I like Chopin                      

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