Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 13 de abril de 2014

O que nossos vizinhos pensam do Crato? - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Longe de mim o desejo de fomentar a rivalidade latente entre Crato e Juazeiro. Primeiro por que fui dirigente regional da Coelce em Juazeiro durante 15 anos. E ao retornar para Fortaleza, onde originalmente eu era lotado, sai de Juazeiro com muitos amigos e a maior das honrarias que um cratense poderá ter granjeado na vizinha cidade: o título de cidadão juazeirense. Segundo o coronel José Ronald de Brito, apenas cinco cratenses possuem tamanha distinção. Nesses 15 anos de convivência com os juazeirenses, somente ouvi deles palavras de admiração pelo Crato.

Vi em Juazeiro um povo dedicado ao trabalho, que luta para conseguir as benesses para sua terra. Para tanto, toda a comunidade unida se faz representar pelas suas lideranças políticas e de classes. Certa vez, eu testemunhei pessoalmente, uma caravana de juazeirenses composta de todos os seus representantes: deputados federais e estaduais, prefeito, vice-prefeito, vereadores, presidente de Associação Comercial, clubes de diretores lojistas e de serviços visitando o governador do Estado, a fim de solicitar para Juazeiro a sede regional de um órgão público. Jamais tomei conhecimento de movimentação semelhante dos nossos conterrâneos em benefício do nosso querido Crato. Convém lembrar que a pressão de um grupo é muito mais produtiva do que uma voz solitária.

Desejo deixar bem claro que particularmente eu concordo com parte das opiniões de um jornalista de Juazeiro, abaixo transcrita e que espero ser um palpite isoldado.

"---- assim como o povo do Juazeiro é responsável pelo progresso do Juazeiro, o responsável pela paralisia de Crato é o próprio povo de Crato - - - Cada cidade tem sua alma, seu espírito.  Desenvolvimento é resultado do espírito de um povo. O do Juazeiro é de trabalho e progresso, enquanto o de Crato é de diversão e lazer."

Finalizando, gostaria que o povo cratense tomasse conhecimento dessa declaração e se unisse para trabalhar pela nossa terra. Para tanto temos que formar novas lideranças, esquecendo que candidatos a cargos políticos de outras regiões não têm nenhum compromisso com o Crato. Tenho certeza que a coisa não está perdida.

Conforme recente análise realizada pelo competente médico e escritor cratense Dr. José Flávio Pinheiro Vieira, o  IDH do Crato, índice que mensura os indicadores de longevidade de um povo, sua qualidade de vida, de educação e renda, somente fica atrás do de Fortaleza e praticamente empatado com Sobral, que é o segundo colocado. E o Dr. José Flavio acrescenta: "Queiramos ou não, vivemos num éden".

Finalizando sua análise, o Dr. José Flávio conclui que devemos centrar nossas atenções em nossa vocação de centro irradiador de cultura e capital ecológico. O caminho é esse ai. Vamos à luta!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Carta de um Rei para outro Rei - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

A Armênia é um pequeno e milenar país da Ásia, sem saída para o mar, tendo o seu território apenas 30.000 km quadrados de área, após perder aproximadamente nove décimos de seu território original para o império otomano e também para a extinta União Soviética, que a anexou, como uma de suas repúblicas comunistas, numa prova de que os grandes países absorvem as nações mais pobres e menores em sua insaciável sede de poder, desde tempos imemoriáveis.   

Como todo país milenar, a Armênia é repleta de lendas. Entre as perdas territoriais que o país sofreu, encontra-se o Monte Ararat de 5.165m de altitude, atualmente pertencente à Turquia, que segundo o relato  bíblico foi o local onde aportou a Arca de Noé. (Gen, 8,4). Aliás, devido a fertilidade e beleza do Vale de Arax e da região de Van existe uma teoria entre o povo armênio, de que o Jardim do Éden era lá na Armênia.

No mundo artístico brasileiro, a atriz Aracy Balabanian é filha de Armênios, que fugiram do pais para o Brasil, quando houve um grande genocídio na Armênia, conseqüência da invasão do império Turco-otomano nos anos entre 1921 e 1923.

Nos primeiros anos do Século I, reinava na Armênia o rei Abgar. Segundo uma tradição armênia resgatada pelo cronista Agatangueghós, o rei foi acometido de uma doença tida como incurável pela insipiente medicina da época. Ouvindo falar de um poderoso profeta que percorria as margens do Rio Jordão, pregando o amor e curando doentes, devolvendo a visão aos cegos, a audição aos surdos e a voz aos mudos, o rei escreveu uma carta a Jesus pedindo que ele viesse até Edessa sua cidade, para curá-lo. A carta foi enviada por um mensageiro real e entregue ao destinatário poucos dias antes da paixão. Por meio do apóstolo Tomé, Jesus respondeu ao rei que não poderia ir curá-lo pessoalmente, mas que enviaria um de seus discípulos. Segundo a tradição armênia, o mensageiro retornou com essa resposta e uma imagem de Jesus estampada em um lenço.

Logo após a ressurreição de Jesus, o apóstolo Judas Tadeu chegou à Edessa e curou o rei Abgar. Em seguida, percorreu todo o país falando sobre Jesus e pregando sua mensagem. Converteu muitas pessoas ao cristianismo e realizou o batismo de adultos e crianças.   

O sucessor do rei Abgar perseguiu os cristãos, tendo mandado a assassinar apóstolo Tadeu e muitos dos que haviam aderido à nova religião, inclusive sua própria filha Sandujt, que havia se convertido ao cristianismo.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Fonte: Revista Família Cristã, N° 940; pág. 79

terça-feira, 1 de abril de 2014

Maribondo - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Há pessoas, animais e objetos que passam a fazer parte de nossas famílias, como se delas fossem membros pelo grau de benquerença e adesão.

O velho Malaquias, feitor do eito, foi o primeiro colaborador e companheiro do meu pai desde quando ele se estabeleceu como agricultor no sitio São José, creio que aí por volta de 1925 e privava de nosso convívio. Na época das chuvas liderava um grupo de trabalhadores no plantio de feijão, milho, e arroz e, na moagem cuidava do canavial, fazendo o replantio da cana ou preparando a queima do palhiço.

Entre os animais, ouvia falar do cachorro Tarzan, que morreu antes do meu nascimento, mas em cujo local onde foi enterrado, minha mãe plantou um pé de pequi, hoje uma frondosa árvore sexagenária, conhecida por "Pequizeiro do Tarzan" e, encontra-se ainda produzindo deliciosos frutos, além de preservar a memória do querido cachorro.

Outro animal que era a cara da nossa casa era o cavalo "Maribondo". Não sei qual sua raça, creio que era mesmo um cavalo "pé duro", mas muito bom de "baixos" como dizíamos de cavalo marchador. Somente meu pai podia montar nele. Qualquer outro que tentasse era impiedosamente derrubado.

Lembro-me de que o cavalo Maribondo era o meio de transporte que o meu pai utilizava em suas viagens para a Fazenda Mão Esquerda que ele possuía no estado de Pernambuco, distante cerca de 100 km do Crato. Ele costumava sair às 7 horas da manhã, lá chegando antes do dia escurecer.

Não sabia por que o cavalo Maribondo tinha esse nome, somente tomando conhecimento da razão há cerca de dois ou três anos. O cavalo pertencia ao Sr. Domingos Ferreira, um cidadão de Nova Olinda. Não sei se ele já era amigo de meu pai antes do cavalo ganhar o novo e definitivo nome. Muitas vezes ele visitava meu pai em nossa casa do São José.

O Sr. Domingos vinha montado em seu bonito cavalo para feira do Crato. Certa segunda-feira, amarrou o cavalo sob a sombra de um pé de ficus. Quando foi sair, o cavalo levantou a cabeça e assanhou uma caixa de maribondo, daquele tipo que a gente chamava de "boca torta." Os maribondos ferroaram cruelmente o cavalo que empinou e saiu dando pulos, atirando o pobre homem sobre o calçamento, a uma boa distância. Foi uma queda horrível que quase o deixou morto. Meu pai passava pelo local na hora e socorreu o Sr. Domingos que  precisou ser hospitalizado por vários dias. Não sei se daí surgiu a amizade entre os dois. O certo é que meu pai comprou o cavalo, pois o Sr. Domingos quis se desfazer dele. Por esse motivo, no São José ele passou a ser chamado de Maribondo.

Quando eu tinha pouco mais de doze anos e Maribondo já velho e cansado, tornara-se dócil e qualquer criança poderia montá-lo com segurança. Certo dia, Maribondo encontrava-se selado e meu pai gritou pelo meu nome, mandando que eu montasse no cavalo e fosse até o sitio Pau Seco levar um recado a uma pessoa. Pulava de contentamento, pois pela primeira vez eu iria montar o Maribondo, sem ser na garupa, como sempre acontecia quando eu acompanhava meu pai em suas andanças. De repente, ouvíamos a voz de mamãe que gritava pedindo a meu pai que não fizesse isso, porque aquele cavalo iria me matar. Meu pai virou-se para mim e disse:
- Volte! Vá lavar os pés, porque sua mãe quer você num altar"!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo