Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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.....................
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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Poesia pequenina - Alexandre Lucas

Vem como menina
Com versos nos lábios
E calafrios na alma
Vem rimando com o olhar
Tropeçando nas palavras
Deixando o sorriso cair
Rodopiando em dança de cisne
Vem fraterna, vem cúmplice
Sem as cobranças de um cativeiro.

Alexandre Lucas

Pe Gomes e o Rio de la Plata - Por Everardo Norões


Padre Antonio Gomes de Araújo. Meu professor e um dos maiores historiadores do Ceará, da escola de Capistrano de Abreu. Batina negra, com larga faixa a esconder um 38 duplo, segundo as más línguas. Temido – não só dos alunos – , um dia, em plena aula, caiu da cadeira. Ninguém ousou mexer-se. De súbito, levanta-se, aponta o indicador e sentencia:
-Agora, podem rir!
Numa de suas aulas, a temível inquirição, feita sempre de surpresa.
- Quem foi o descobridor do Rio da Prata?
Apesar de bom aluno de sua matéria, não sabia responder.
De pronto, um colega sopra:
-Juan Diaz Solis!
Salvei-me e nunca mais esqueci Juan Diaz Solis.
Às margens de Colonia del Sacramento, Uruguai, relembro o episódio.
E saboreio as Crônicas del Rio de La Plata, seleção e prólogo de Horacio Jorge Becco, publicadas pela Ayacucho, excelente biblioteca on line do governo bolivariano da Venezuela. E ali está o relato de Francisco Lopez de Gomara (1511-1560), “cronista da Índias”, que nunca esteve por estes lados, mas ouviu de outros os relatos que escreveu, entre os quais “o da empresa de conquista do Rio da Prata, em que o navegante Juan Diaz Solis encontrara uma terrível morte nas mãos dos índios no ano 1516”...

por Everardo Norões

Areia - Manoel Ricardo Lima


areia
Manoel Ricardo de Lima

a água dorme no fundo
da casa. mas tudo dorme
no fundo da casa. se uma
esfera de papéis
avulsos, o grampo do fundo
da esfera desfeito

o exílio encostado ao lado
da janela, uma ou
duas árvores. alguém conversa
o tempo inteiro e fala alto
sobre desertos sem
qualidade -
uma linha muda, um vinco
no chão


Do livro quando todos os acidentes acontecem (Rio de Janeiro, 7Letras, 2009).

Estrela Guia - por Edilma Rocha




Fui um dia entre sonhos
e promessas em vão,
Estrela guia.
Alcancei os ceus numa nave
e me deixei levar pela ilusão

Flutuei por entre nuvens
e promessas de amor.
Acreditei no sol que cobria
minha dor

Mergulhei na escuridão
Sem saber do tempo
Calei -me aos novos sentimentos
Que nasceram de mim e brotaram
ao vento...

Fui e voltei aos lugares
que podia sobrevoar
E quando me dei conta
só historias a contar.

Se era feliz, não sabia
Pois molhei o rosto com
as águas do amanhecer
E ao despertar do dia
não sabia mais viver.

Caminho sem rumo
paraquedas perdido
Caindo na realidade
de um sonho vivido

Dedico estes versos a Claude

Edilma Rocha

Ramo Lá !


Auto-explicativas ?- Colaboração de Caio Bonates











Cantor e compositor Eduardo Júnior no programa Cariri Encantando


O programa Cariri Encantado desta sexta, 30, será com o cantor, compositor e radialista cratense Eduardo Júnior.

Eduardo Júnior tem discos gravados, com obra autoral, e realiza constantes shows acompanhado do grupo Os Filhos do Crato. A matéria-prima utilizada pelo compositor são os autênticos ritmos do Nordeste brasileiro, como o forró pé-de-serra.

No programa de amanhã, veiculado pela Rádio Educadora AM 1020, das 14 às 15 horas, Eduardo Júnior falará sobre seu trabalho artístico e de comunicador de rádio, além de comentar as músicas de sua autoria que serão tocadas.

A apresentação do programa é de Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael Dias. Apoio do CCBNB Cariri.

Meu nome é Dora (no espelho do tempo )- Por Socorro Moreira



Alguns me perguntam nas entrelinhas: por que você separou-se do marido, nos idos de 1975? Respondo sempre, com objetiva naturalidade: gente, porque eu queria namorar todas as pessoas amáveis, e mulher casada só pode ter olhos para o seu marido( ainda hoje, penso isso).
Namorar não significa fazer sexo... Se bem que, também significa!
Namorar é andar de mãos dadas, ficar horas penduradas no telefone, rindo e falando bobagens. Ir ao cinema, dançar de rosto colado, trocar poemas, bilhetes, fazer coisas, em parceria... Enfim!
Namorar é pensar que está namorando, e pronto! Mesmo que o namoro seja irreal, unilateral... Mesmo que seja indefinido: Romance ou amizade?
-Tanto faz!
Por essas pequenas emoções, de certa forma, existencialmente vitais, corri riscos, paguei vultosos preços... Tudo por um par de asas, que me levassem, aonde moram os meus desejos.
Descontando a minha insensatez juvenil, simplesmente, peguei o beco da vida!
Igual a todos os que não ousaram;
igual àqueles que nunca precisaram sair do caminho do meio;
igual àqueles enfileirados e disciplinados!
Fui triste, fui só, e fui estúpida ,e maravilhosamente feliz!
Recife, primeira estação. Lá, busquei o Cais de Santa Rita. Não como o buscam as doidivanas, mas, como o buscam as santas, e ligeiramente profanas. Santos sonhos, com gosto de todas as culpas!
Fiz dois anos de terapia pra soltar meu primeiro “pôrra”!
Depois foi ficando pô, até ficar, só no “p” da vida.
Dois anos de terapia pra ficar bem com aquilo que sou, e como vou ficando... Consegui!
Agora, como pecadora remida, uso créditos, solto meus pós de artifícios. Salpico afetos pelo reino da memória, e o subproduto, eu reciclo! Posto aqui, nesta rádio imaginária, que às vezes, se chama Blog!
Com margaridas e girassóis nos cabelos, talos de lírios na boca, eu revivo, em boas companhias, minhas incursões e excursões amorosas.
Eu tenho uma prima que conhece os meus “causos”... (Combinamos um dia, que ela os publicaria, depois da minha morte. Por via das dúvidas, resolvi antecipar o ato, e não a sorte!)
Os bem sucedidos, os engraçados, e os “sórdidos”, vou postá-los na seqüência. Será meu café presente, com aromas do passado.
Estou em 1975. Quem quiser fazer regressão no tempo... É bem-vindo!
Estou no auge da minha performance feminina.
Meu nome é Dora!


Socorro Moreira
Ofereço esse texto a minha prima amiga Maryfran, que acompanhou toda minha trajétória de vida. Agradeço-lhe pela compreensão e afeto, sempre em doação !

Garimpando versos e prosas- Foto Desafio !!!


Foto do dia - A lembrança querida de Seu Ramiro Maia e sua filha Ismênia.

Quisera essa doçura e sabedoria, nos últimos dias da minha vida.

Onéssimo Gomes - Por Norma Hauer


Foi no dia 28 de outubro de 1914 que ele nasceu. Seu nome: ONÉSSIMO GOMES,

Ele foi um grande seresteiro, embora não tenha muitos registros de sua voz nas poucas gravações autênticas que deixou.

Trabalhou muito tempo na administração da Rádio Mayrink Veiga apesar de ser um grande intérprete de serestas. E isso atrapalhou sua carreira de cantor.
Na Mayrink ele era quase tudo,de administrador a contra-regra.

Começou a chamar atenção como seresteiro ao gravar composições de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, antes lançadas em discos pelo próprio Sílvio. Mas Onéssimo tinha um timbre diferente e um modo próprio de interpretar, fato que mostrou em duas músicas que podem ser citadas como as que marcaram sua carreira: "Brinquedo do Destino", de Herivelto Martins e Aldo Cabral e "Violão", de Vitório Júnior e Wilson Ferreira, ambas gravadas ainda em 78 rotações.
Já na fase dos LPs tornou a gravar essas melodias em um LP de nome "Serestas do Brasil", onde também incluiu "Noite Cheia de Estrelas", "Mimi" , "Serenata"...

Foi Onéssimo Gomes quem "descobriu" Jamelão, o grande cantor da Mangueira e o
levou para gravar, o que na época não era fácil os sambistas conseguirem, principalmente de Escolas de amba.

Onéssimo Gomes faleceu em 13 de setembro de 1999, aos 85 anos
Norma Hauer

Doidas e Santas - Martha Medeiros

Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar o nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá prá ocupar uma vida, não é mesmo?

Mas, além disso, temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar loura e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.

Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos.

Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.

Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra.

Paroles, paroles ...

COMPOSITORES DO BRASIL




LUIZ MELODIA

Por Zé Nilton


Luiz Carlos dos Santos, carioca, nascido no morro, viveu nas quebradas de São Carlos, por onde só anda quem conhece. Do pai herdou o apelido e um destino: ser compositor, cantor e malandro que no lugar da teoria tem cicatrizes profundas, feitas de vida. Que não admite o samba domado, nem escola estilizada.

Cresceu bebendo a pura música jorrada das fontes perenes que nascem das entranhas do Morro de São Carlos e do bairro do Estácio. Não quis saber de leituras formais nem do trabalho alienante. Preferiu ser desde cedo o que ele alcunhou de “musiquim”, talvez uma mistura de música com botequim. Aproveitou bem o tempo da felicidade musical em que todos os ritmos e todas as tendências eram postas à disposição para o deleite de todos. Ouviu The Beatles, The Sheik, The Foudation, Renato e seus Bleu Caps, Roberto Carlos, Jorge Bem, Noel Rosa, Ismael Silva e a nata dos chorões da época.

Com sua voz profunda, por vezes estrangulada, dizendo frases cortantes, Luiz Melodia é dono de uma música cuja densidade recobre a influência natural, saída do rádio e das quebradas. Um compositor que desconhece teorias – chegou a ser reprovado num primeiro exame da Ordem dos Músicos e considerado por ela sem condições de tocar e cantar . Um trovador da boêmia carioca.

Descobertro pelo poeta Walli Sailormoon, que logo se encantou com sua música My Black, que de imediato sugeriu a mudança do título para “Pérola Negra”, nome de um homossexual do morro, Melodia só fez crescer no cenário da Música Popular Brasileira.

Compositor intuitivo, sua obra inicialmente causou polêmica entre a crítica especializada. Mas para ele nunca houve meias medidas. Nunca deu bolas ou fez questão de ser amado ou odiado. Seu jeito é único, seu estilo é único e sua música reflete todas as influências. Vem da longa tradição dos violões de morro e explode no som eletrizado.

Luiz Melodia será o nosso homenageado no COMPOSITORES DO BRASIL de hoje. Um programa cultural que procura dignificar os grandes mestres da MPB de todos os tempos, sem apologia ao que seria as músicas do passado, mas ao que representam para o fortalecimento de nossa identidade hoje.

Vamos falar e tocar algumas de suas composições, como:

Passarinho viu, de LM, com Luiz Melodia
Pra quê, de LM, com Luiz Melodia
Jeito danado, de LM, com Luiz Melodia
Vale quanto pesa, de LM, com Luiz Melodia
Farrapo Humano, de LM, com Jads Macalé
Ébano, de LM, com Luiz Melodia
Estácio - Holy - Estácio, de LM, com Maria Betânia
Magrelinha, de LM, com Luiz Melodia
Congênito, de LM, com Luiz Melodia
Pérola negra, de LM, com Gal Costa
Presente cotidiano, de LM, com Luiz Melodia
Dores de Amores, de LM, com Luiz Melodia e Zezé Motta
Juventude Transviada, de LM, com Luiz Melodia

Quem ouvir, verá !

Informações:
Programa Compositores do Brasil
Sempre às quintas-feiras, às 14 horas
Rádio Educadora do Cariri – 1020 kz.
Apoio: CCBN.

Um sinal - Por Claude Bloc



Quando fores à minha terra
Deixa-me um sinal
quando quiseres.
Uma pedra, uma estrela uma palavra
um cheiro de jasmim , a primavera

Quando voltares
Conta-me rápido tua história
Fala-me sempre a conta exata
Conta-me tudo, num momento,
Cala teu sentimento...

Sei que retornas, conheço o tempo
Mas não me escondas teu destino
Que o caminho acharei a qualquer custo
Enxovalhado de saudade
E do meu pranto.

Será um tempo pressentido
entre o vácuo e o contorno dessa serra
Varrendo o mar, molhando o vento
abrindo velas do meu barco
em silêncio
no inevitável
porto da espera.

Texto e imagem por Claude Bloc

Teias

Ludmilla, mal havia pulado dos bancos da faculdade de psicologia, arranjara aquele emprego. Lá se encontrava por mais de cinco anos. O salário não representava muito, mas carregava aquele glamour do primeiro trabalho . Por outro lado, se tratava de uma pequena fábrica de confecções, cabia-lhe a assistência psicológica a umas cento e vinte almas. Nada além do cardápio trivial de qualquer empresa : stress, problemas de relacionamento doméstico, conflitos de colegas em serviço. Comprovara, rapidamente , a máxima : de louco todos temos lá a nossa cotinha. A maior parte das vezes, a simples conversa já aliviava os funcionários de suas tensões. Ludmilla, trabalhando tão próximo a tecelões , aos poucos percebeu que a vida tem lá suas similaridades com aquela nobre arte. Também, nós, vamos tecendo uma imensa rede de contatos e relacionamentos. O desenho final do bordado depende da habilidade de cada um. Muitas vezes terminamos por criar teias em que nós próprios nos enredamos e terminamos fisgados pelas armadilhas que nós mesmos preparamos.
Naquele dia, já de tardizinha, procurou o consultório um mecânico especialista na manutenção de máquinas de costura. Alto, meio desengonçado, desconfiado como cachorro em noite junina. Chamava-se Elesbão. Contou então o motivo da sua visita . Estava casado há 15 quinze anos com uma mulher muito legal, mas valente e ciumenta como galinha de pinto novo. Não tinham filhos. O problema é que há uns três anos mantinha um colete com uma outra moça bem mais nova e que conhecera ali mesmo na fábrica. Vivia , agora, assaltado pelo terrível fantasma da culpa e do medo. A cada dia o cerco parecia ir se fechando e temia o desfecho que poderia resultar em morte ou capação. Ludmilla tentou orientá-lo pelos dois caminhos possíveis: antecipar-se e contar tudo à patroa, assumindo as conseqüências ou encerrar o namoro com a amante. Elesbão prometeu pensar e decidir. Desapareceu, como por encanto.
Uns três meses depois ele retorna ao consultório ainda mais sobressaltado. Contou à doutora que ainda não tinha tomado uma decisão, mas que mesmo assim a coisa havia piorado muito. Ludmilla perguntou se a esposa havia descoberto a tramóia. Elesbão respondeu que era bem pior : a amante estava grávida. A psicóloga então se sobressaltou: agora a porca havia torcido o rabo e apartado. Juntava-se à traição, a terrível frustração da esposa estéril ter sido substituído por outra fecunda e , pior, bem mais nova. Ela, então, informou que agora só existia uma vereda a ser trilhada: contar à esposa. Elesbão ainda resmungou , contrargumentou, mas terminou se convencendo da terrível sinuca de bico. Deixou o consultório como quem caminha para o cadafalso.
Dias depois, no natal da fábrica, a nossa psicóloga topou com o nosso mecânico e a esposa na solenidade. Ele já havia espantado o anjo da guarda e sua corte. Melado, apresentou a patroa à doutora e explicou, com voz meio pastosa:
– Doutora, seguí suas orientações, contei tudo a ela e fui perdoado. A senhora salvou nosso casamento!
Ludmilla pareceu feliz e os cumprimentou , mas sua sensibilidade feminina leu nos olhos da esposa, ainda um certo travo, uma raiva contida com dificuldade. Percebeu que a bomba ainda não tinha sido desarmada: apenas tinham aumentado um pouco o tamanho do estopim. Passaram-se alguns meses e, de repente, Elesbão retorna ao consultório, com ar de preocupação. Informa à psicóloga que a coisa voltou a complicar e solta a bomba: resolvera casar com a amante. Fora pressionado, o menino nascera e não queriam deixar o inocente como mais um “filho de guaimum”. A doutora se sobressaltou: “Tá doido, rapaz! Agora você cometeu um crime! Bigamia dá cadeia, entendeu?” Elesbão, no entanto, esclareceu mais uma vez a questão. Vivia maritalmente com a esposa oficial há quinze anos, mas não era casado oficialmente com ela. Ludmilla, então, saltou dos seus tamancos e lembrou a ele que agora a coisa havia tomado dimensões muito mais perigosas. Quando a esposa constatasse que a quenga agora era ela e não a amante, o circo seria incinerado sem deixar vestígios. Elesbão saiu da psicoterapia com ar de rato que foge da perseguição do bichano.
Passados uns três meses, lá volta nosso mecânico ao consultório. Conta que a doutora tinha razão, a esposa descobrira sua nova e desconfortável condição e armara um barraco terrível. Ele, então, havia resolvido tudo: deu entrada na separação judicial da amante, mas claro, continuava ainda com ela, até por conta da criança que não tinha culpa de nada. Um ano depois, adentra novamente no consultório e informa que havia se divorciado da amante, por fim e casado com a esposa oficial: “passamos o papel!” A psicóloga acreditou que , finalmente, tudo chegara a um bom termo. Lembrou que ela também havia se separado recentemente, que as coisas eram assim, casamento tinha prazo de validade, como qualquer outro produto perecível e desejou felicidades mil ao novo/velho casal.
Ludmilla ficou atônita quando uns cinco meses depois topou novamente com Elesbão na fila do consultório. Que poderia agora ter acontecido? Chegada a sua vez, ele relatou os últimos fatos. A coisa tinha piorado de novo. A amante tinha até suportado a separação, mas quando soube do casamento com a esposa, rodou a baiana. Voltara a ser novamente a outra, a rapariga de Elesbão. Acabou o relacionamento. E, pior, arranjou um outro marido, um refil. O mecânico estão ficou triste pelos cantos, capiongo, perdera a graça de viver. Não só por perder a amante de tantos anos, mas pelo afastamento do filho com quem já havia se afeiçoado. O clima em casa começou a ficar mais turbulento e não deu outra: resolvera se separar da esposa, tinham apartado os trapos! Ludmilla não conseguira mais entender a intrincada teia de fios tecida por Elesbão:
--- O senhor parece uma aranha doida! Criou um labirinto tão inlinhado que terminou perdido no meio dele! Sinceramente, eu não vejo saída não! Agora , é dar a volta por cima, por as coisas nos seus devidos lugares e tentar rearrumar a vida, enquanto é tempo!
Elesbão fitou a doutora com aqueles olhos pidões de cachorro em churrascaria. Puxou, então, o primeiro fio da nova teia:
--- Doutora, se mal pregunto, já que a senhora também está desimpedida, não estaria a fim de um relacionamento estável e sincero?

J. Flávio Vieira

Pensamento para o Dia 29/10/2009


“Um devoto e investigador sincero não pode ter qualquer interesse pelos prazeres mundanos e paixões. Esses desejos inferiores devem ser abandonados, já que eles estão na raiz de toda a miséria. O que é exatamente é a liberação (Moksha)? Ela é a paz imperturbável (Shanti), obtida através do esforço espiritual (Sadhana) para a limpeza do coração (Chittha Shuddhi). Ela é a negação das impressões que se obtém através dos sentidos.”
Sathya Sai Baba
“Você precisa desenvolver valores humanos. Sem eles, você é humano apenas na forma. O homem está preenchido com sentimentos como raiva, desejo, cobiça, inveja etc., que são características animais. A raiva é a natureza de um cachorro. A mente instável é a qualidade de um macaco. Você não é um cachorro e tampouco um macaco. Quando tiver um ataque de raiva, lembre-se de que você não é um cachorro e, então, sua raiva diminuirá. Atualmente, várias características animais estão desenfreadas nos seres humanos. Nós necessitamos cultivar as qualidades humanas da compaixão, da verdade, da paciência, da empatia etc.”
Sathya Sai Baba

“O estado atual dos acontecimentos é devido à perda de fé dos homens em si mesmos e nas Escrituras (Shastras). Mesmo aqueles que declaram ter fé não se guiam conforme as Escrituras. Conseqüentemente, as virtudes e a bondade diminuíram no mundo e a maldade conseguiu uma posição de controle. Para que o cenário atual seja transformado e o mundo desfrute de paz e segurança, todos devem cultivar a fé nas Escrituras e praticar as determinações nelas propostas.”
Sathya Sai Baba

Da infância à adolescência - Por Glória Pinheiro

Vizinha à esquina, a penúltima casa do primeiro quarteirão da rua Leandro Bezerra, havia uma casa até onde meus olhos alcançam, era uma casa com muitas portas ao invés de uma porta com uma ou mais janelas...
Naquela casa moravam o Sr. José Conrado, a esposa Lindalva e os filhos que estavam chegando, inclusive um que atualmente é presidente da AFAC - Associação dos Filhos e Amigos do Crato, nosso amigo Wilton Dedê.
Na mesma rua do lado oposto, moravam os franceses. Até meus 7 anos de idade incompletos, sabia da existência dos franceses por um motivo muito especial, quando Dona Janine passava em frente da nossa casa dirigindo uma monareta. Naquele momento sempre havia um garoto maior e atento que falava: "- Olhem, lá vem a francesa!" Interrompíamos nossas brincadeiras e todos corriam para observar a motociclista. Para nós crianças uma novidade aquele transporte e uma mulher conduzindo-o, melhor ainda!
Pois bem, o Sr. José Conrado foi Pracinha na II Guerra Mundial, tendo ido à Itália pela FEB - Força Expedicionária Brasileira. Por isso ele, Sr. Hubert e Dona Janine eram bastante amigos. Por volta de 1959, as duas famílias se mudaram para a Rua Dr. Irineu Pinheiro, minha família chegou poucos meses antes deles. Não sei se por coincidência ou pela amizade que tinham, assim que os franceses chegaram, em seguida chegou a família do Sr. José Conrado. Os três tinham algo em comum participaram efetivamente da Segunda Grande Guerra.
O Sr José Conrado tinha um filho do primeiro matrimônio, era órfão de mãe, foi criado pela avó costumava aparecer por lá de vez em quando. Do segundo casamento, eram quatro ou cinco filhos, a mais velha de nome Josélia, Dadim, Wilton Dedê, seguidos de uma ou duas irmãs mais novas.
Continuando, houve uma época em que Dominique e eu costumávamos ir quase todas as tardes ler as revistas Capricho e outras do gênero, na casa de Lindalva. Ela possuia uma pilha de quase um metro de altura daquelas revistas de fotonovelas expostas em sua sala de visitas. Sentávamos lá e Dominique parecia que fazia leitura dinâmica de tão rápido que lia. Enquanto eu lia uma revista ela lia duas ou três! Talvez porque eu me prendia as fotos...
Lindalva costumava sair de casa e apesar das crianças o silêncio reinava, pareciam crianças tranquilas. Mas quando retornava Lindalva quase sempre aplicava uma surra nos filhos. Sempre aparecia um motivo, uma vez escutei ela perguntar: "Quem comeu os biscoitos?!?" No outro dia: "Quem comeu deste bolo?!?!" E castigava as crianças, era severa não admitia que os filhos comessem fora da hora pré-estabelecida por ela. Dominique e eu só escutava a gritaria das crianças e o barulho das repreensões e chineladas que vinham lá da cozinha. De certa forma isto me tirava o embalo na leitura pois aquelas revistas profanas eram determinantemente proibidas por meu pai.
Algumas vezes pedia emprestada uma ou duas revistas para ler em casa escondida no meu quarto. Toda vez que escutava os passos de papai, assustada, escondia a revista debaixo do travesseiro. Essa fase de curiosidade para saber dos dramalhões fotográficos ou "coisas do amor" foi por volta de meus 13 a 14 anos de idade. Durou pouco, porque passei a ser mais seletiva lendo as crônicas e poemas de Vinicius de Moraes.
Por Gloria Pinheiro

Simples assim - Por Claude Bloc

O sentimento transpira
Pelas janelas do dia
Pelos calores da tarde
Noites quentes, noites frias.

Noites frias ao relento
Olhos presos no luar
Ruas quietas modorrentas
Suspiros de bem-amar.

Noites quentes, sem sossego
Brilhantes soltos no céu
Estrelas a reluzir
Como o brilho nesses olhos
Que fingem o que já sei
Não preciso de respostas
Pois sempre serás, serei.


Texto e foto por Claude Bloc