Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Pelas fibras da alma - Emerson Monteiro

Essas tardes cinzentas que emolduram o tempo chuvoso mexem com a gente. Mexem por dentro da gente feitas brocas revirando as entranhas onde transitam escondidos pensamentos de querer ver coisas diferentes acontecerem invés de algumas outras que sacudiram os derradeiros dias, na semana anterior. Entortar os acontecimentos, eis o tal desejo principal desses bichos vivos mexendo por dentro, a querer dominar a natureza, uma espécie de coisa animada impacientando as outras coisas vivas que moram nas entranhas da pessoa. Ondas de coisas vivas invisíveis, imateriais até, digamos assim, sem ter medo de errar, são o que, por que quiséssemos dominar os momentos fugitivos, a gente, parece perseguir, como quem corre atrás de sombras, e não consegue agarrar, que vai embora na correnteza barrenta; e o velho costume de procurar fantasmas apressados nas lamas escorregadias do passado; ou mesmo estirar o pescoço, pretendendo enxergar lá adiante, depois da linha do horizonte; longe; muito longe para obter o menor sucesso. Isto é, esquecer o momento especial do presente, único ser acontecimento que, na verdade, tem valor, nos interessaria com certeza, perante todas as demais frioleiras deste mundo de passados mortos e futuros ainda de vez, na semente.
Caso haja boa vontade para concentrar esforços no presente, acham-se todos os demais fatores que empurram a manada para o curral, nas jornadas individuais ou coletivas dos rebanhos. Ninguém permanece no passado, nem pisará o futuro por conta própria antes da hora. O minuto seguinte já ficou atrás quando virou presente. Essas intenções desesperadas dos ledores da sorte habitam só as casas de jogos, nas travessas da ilusão. Quem, não fossem os filmes, garantirá, um instante depois, o placar final do jogo, deixando de lado o polvo alemão da Copa do Mundo. Quem garantirá com a absoluta segurança isso de depois?
Apertar o cinto do agora, no entanto, qualquer cidadão pode, fora de cair da cama ou botar burros na água. Reger a valsa do instante torna-se, pois, a profissão universal do senso do realismo, nas empresas produtivas.
Diga-se bem isso tudo, quando perguntarem pelo pai da criança em face das tragédias da história. Alguém houvesse de sair na dianteira e as coisas mostrariam outra cara. Pisar maneiro, ordenhar as vacas na hora certa; fechar as portas e janelas antes do pior acontecer; saber escolher as opções ideais; bater na bola da vez; substituir peças e cuidar da revisão no prazo; essas ações inevitáveis aos bons resultados servem de aviso, nos casos posteriores.
Aprender, por isso, as lições, às vezes de preços elevados, porém ainda com os pés no caminho e no tempo do presente, oferece os braços aos estudantes atenciosos. Dias melhores virão, no suor da reconstrução. E a casa pertencerá sempre aos que souberem dela utilizar as oportunidades da milenar sabedoria.

Uma lição de civilidade – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Vivíamos no Crato, em outubro de 1958, eleições disputadíssimas. Concorriam ao cargo de prefeito o senhor Pedro Felício Cavalcante pelo PSD e José Horácio Pequeno pela UDN. Os comícios eram concorridíssimos de cada lado. Os udenistas chamavam os pessedistas de “gogó”, e eu nunca soube o porquê, e estes replicavam que os udenistas eram os “carrapatos”, talvez numa referência a esse partido ter vencido várias e sucessivas eleições. O meu pai concorria ao cargo de vice-prefeito na chapa da UDN. Era a primeira vez que esse cargo, desnecessário ainda hoje, era disputado.

Gerson Moreira, um dos meninos mais udenistas que conheci, desde criança um líder natural, organizou um comício dos meninos que a cada dia ganhava mais adeptos. À medida que as eleições se aproximavam mais gente acorria ao comício dos futuros políticos da nossa cidade. Surgiram palanques, sistema de som, todo requinte que os comícios dos políticos de verdade tinham.

Pedro Felício concorria pela quarta vez e compuseram uma paródia musical cujo refrão eu guardo na memória: (“hei Pedro Felício, hei seu teimosão, hei esta será a quarta decepção...”).

Certa noite, houve um desses comícios dos meninos defronte a casa do senhor José Honor de Brito, na Rua José Carvalho, bem perto de onde eu morava. Gerson, quando me viu, me convidou para o palanque e após alguns oradores falarem muito bem, me surpreendeu dizendo: “Agora vamos ouvir o filho do futuro vice-prefeito do Crato!” E de súbito, eu me vi engasgado, com o microfone nas mãos, todo trêmulo e sem saber o que falar. Então cochichei para o Gerson: “O que é que eu digo?” E alguém não identificado respondeu: “Diga que Pedro Felício é um ladrão!” Repeti como uma marionete esse recado, sem ao certo imaginar o que estava dizendo e fui muito aplaudido pela platéia que enchia a rua defronte do palanque.

Ao final daquele comício mirim que se encerrava cedo, provavelmente às oito horas da noite, voltei para casa satisfeito, crente que havia colaborado para eleição do meu partido. Mas por cerca das dez horas daquela mesma noite, eu fui bruscamente acordado pelo meu pai. Após a aplicação do corretivo usual para a educação daquele tempo, uma expressão que meu pai usou ficou para sempre no meu íntimo: “Pedro Felício é um homem de bem, é muito honesto e meu amigo. Eu não admito que você volte a falar o que falou dele! E está proibido de ir a esses comícios.” Realmente observava que papai se dava bem com todos os políticos do PSD e com seus eleitores também. Certa vez ele viajou com Pedro Felício, Jósio Araripe e outros amigos a Minas Gerais para comprarem gado da raça gir e nelore, ainda não existentes na nossa região. Muitos dos primos e primas do meu pai, da família Pinheiro eram do PSD e jamais houve inimizade entre eles.

Terminada a apuração da cidade, naquela época apuravam-se em primeiro lugar os votos das urnas da cidade e depois a votação dos distritos, Pedro Felício vencia o pleito com uma boa maioria, algo em torno de mil votos, se não me falha a memória. Para vice-prefeito, votava-se em separado, meu pai tinha quase a mesma votação que seu Pedro. Os “pessedistas” já comemoravam a eleição como certa. Diziam que aquela diferença não daria para os currais udenistas desfazerem.

Assistíamos ansiosos os resultados dos distritos e zona rural. Estávamos nas últimas urnas e a diferença cada vez mais sendo desfeita. Encerrada a apuração registrou-se a vitória do prefeito José Horácio Pequeno por uma pequena maioria, creio que 58 ou 63 votos, não lembro ao certo, só que foi por um valor muito pequeno. Eu estava presente ao encerramento daquela apuração, observando de longe a reação dos derrotados. Pedro Felício colocou o chapéu na cabeça, desceu humildemente as escadas da antiga prefeitura, onde hoje fica o museu do Crato, e se dirigiu à Rua Nelson Alencar, residência de José Horácio Pequeno.

A molecada acompanhava cantando o hino do “teimosão”. Vi quando ele entrou na casa do prefeito eleito, cumprimentou-o efusivamente, desejou os maiores êxitos para sua administração, bebeu o que lhe foi oferecido pelo anfitrião, participou da alegria dos vitoriosos por alguns minutos e, em seguida rumou para nossa casa para cumprimentar meu pai. Aquela atitude foi uma das maiores demonstração de urbanidade que eu já presenciei num homem público.

Quatro anos mais tarde, a UDN foi derrotada, e o Senhor Pedro Felício elegeu-se prefeito do Crato, na quinta tentativa.
Em 1972, candidatou-se uma segunda vez e mais foi reconduzido à prefeitura.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Do baú de Stela







Por de sol ao som de Bolero de Ravel

Ontem eu vi o sol se deitar diferente do que vejo todo dia. Foi de um jeito muito especial: o sol foi se deitar ao som do Bolero de Ravel. O homem vestido de branco, em pé dentro de um barco remado por um pescador, tocava no sax aquela música bela, tornando o momento mais grandioso. A música, o sol, as águas do rio, a vegetação, estavam unidos na doce harmonia do universo, reverenciando o Sagrado.

Ao som da melodia o sol se despedia, espalhando nas águas do rio seu brilho dourado. O céu também estava dourado. E aquela luz amarela tão especial era mensageira da luz divina maior, de amor, de cura, de fé, do brilho que aquece e que banha, que dá nova cor ao céu, às águas e aos corações contemplativos.
Quando o sol se deita no poente, levando sua luz e seu calor, a terra vai aos pouquinhos mudando de cor. As águas refletem novos tons, a luz se vai aos poucos, o crepúsculo matiza o mundo com nova cara. As cores vão escurecendo para dar lugar à senhora das sombras. A noite pede passagem com seu manto de escuridão. É hora de silenciar, aquietar o coração, contemplar, apenas contemplar. Unir-se a este momento de sagrada beleza e deixar que o silêncio se faça na alma, que assim, calada, escutará a voz interior, para que a ausência da luz externa acenda nossa luz interna, possibilitando ouvirmos outra canção. O silêncio e as sombras são caminhos para dentro da alma. Ela precisa silenciar, contemplar, receber a dádiva divina da beleza curativa do por do sol. É o momento de guardar a luz dentro de nós, para que no silêncio ele retorne no outro dia com um brilho maior, mais intenso, irradiando o amor que alimentamos no silêncio do recolhimento.
Momento de silêncio, momento de reverência, momento de gratidão.
(Olinda, 08/12/2003)


Quase 10 anos depois lembro esse momento de beleza com muita alegria.

Dedico esta postagem ao amigo Zé Nilton Figueiredo

ÚLTIMAS NOTÍCIAS - Artista Internacionalmente reconhecido, Bruno Pedrosa recebeu o título de Cidadão Cratense no Teatro Municipal Salviano Saraiva


George Macário condena o DESCASO da Imprensa do Cariri por não divulgar informações culturais e reclama do pouco público presente

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Acima: Bruno Pedrosa posa para fotos ao lado do Pres. da Câmara Florisval Coriolano

Aconteceu ontem ( 2 ) às 19 horas, no Teatro Municipal Salviano Saraiva, uma sessão especial da Câmara de vereadores de Crato, que concedeu o título de cidadão Cratense ao artista internacionalmente reconhecido Bruno Pedrosa, nascido em Lavras da Mangabeira, que há muitos anos reside na Europa, onde tem mais de 200 trabalhos expostos em galerias, e é dos principais artistas cearenses a brilhar no mundo das artes.

Bruno Pedrosa está no Crato também por ocasião da exposição dos trabalhos restaurados do Museu de Arte Vicente Leite, que acontece de 30 de janeiro até o dia 03 de Fevereiro. A idéia do título de cidadão cratense foi proposta pelo ex-vereador "Tutu", que também se fez presente na solenidade. Após uma Sessão do ICC - Instituto Cultural do Cariri, presidida por Manoel Patrício de Aquino ( Nezim ) , que criou a cadeira Bruno Pedrosa e empossou o então Presidente da Fundação J. de Figueiredo Filho, George Macário ( foto abaixo ), como seu primeiro ocupante, a câmara de vereadores do Crato, presidida por Florisval Coriolano outorgou o título de cidadão Cratense a Bruno Pedrosa, que agora o é de fato e de direito.

O Pres. da Fundação J de Figueiredo Filho George Macário, reclamou em seu discurso, da escassez de público no teatro, e do DESCASO com que a imprensa caririense, principalmente o Rádio e a TV dão aos eventos culturais da região, questionando que o título "Crato, Capital da Cultura" não é um título outorgado pelo poder Público, mas uma consequência das manifestações do povo. George lamentou profundamente a falta de interesse do público em frequentar os museus, em interessar-se por arte em geral, e enfatizou a própria decadência tão apregoada pelo mau gosto musical das estações de Rádio não só do Cariri, mas do Ceará.

Na solenidade, alguns vereadores da oposição criticaram a escassez de representantes do governo Municipal, alegando que a administração não estaria dando a seriedade necessária aos eventos culturais, muito embora estivesse presente representando o prefeito Samuel Araripe, o seu vice Raimundo Bezerra Filho, que em discurso, rebateu todas as críticas sozinho, já que a bem da verdade, não haviam secretários de governo na reunião, justificado pelo vice-prefeito pelo fato de esta coincidir com outra reunião a acontecer no mesmo dia e horário promovida pelo Prefeito do Crato Samuel Araripe, a fim de tratar de assuntos relativos às últimas chuvas e à enchente do canal do Rio Grangeiro.

Já em seu discurso emocionado, Bruno Pedrosa disse entre outras coisas, que desde cedo aprendeu que quando se falava em Cultura e Arte no Cariri, estava associado à palavra Crato, e que o valor desta comenda era incomensurável. Visivelmente emocionado, confessou não saber fazer discursos, muito embora seu discurso foi um dos que mais emocionou a platéia. O artista Bruno Pedrosa se revela um ser humano de grande inteligência e excepcional humildade. Segundo o Vice-Prefeito Raimundo Bezerra Filho, é o tipo de solenidade em que o valor da pessoa supera em muito o valor da própria comenda recebida. A cerimônia foi conduzida pelo memorialista Huberto Cabral. Estiveram presentes na mesa de honra, a restauradora Edilma Rocha, o escritor Emerson Monteiro, e diversos vereadores do Crato.

Mais informações, logo mais no Blog do Crato, inclusive com a cobertura fotográfica completa e parte transcrita dos discursos dos vereadores e do próprio Bruno Pedrosa. O Blog do Crato gravou toda a solenidade em áudio e parte em vídeo.

Edição: Dihelson Mendonça
Para o Blog Cariricaturas