Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Luar de Agosto- por Socorro Moreira
Blues
esgrimir contra o sol:
sempre encontra uma maneira
de lançar seus raios
com trancinhas
enrubescendo
meus travesseiros.
Meus dias deveriam
ser melhores
com menos apelos
e o batimento cardíaco
nem tão desumano.
A varanda espera
que eu me debruce
sobre as plantinhas
assobie uma canção
estale os dedos
corte as unhas.
Em vão,
inútil.
Sequer tenho olhos
para vislumbrar o sorriso
marcado pelas duas rachaduras
na borda da minha xícara.
Roman Polanski
Por Norma Hauer
O RIO DA MINHA CIDADE - por Wilton Dedê
O RIO DA MINHA CIDADE
Sobre o chão onde os pajés dançavam , uma vila se formou
Todo dia longe ressoava o machado do lenhador
Ouçam os corações dos guerreiros esperando a noite
Em que os astros vão trazer a volta dos trovões
Foi há muito tempo. Quando as aguas desciam do sopé da Chapada do Araripe desenhando caminhos entre veredas, fazendo riscos cavados no chão, varando cercas e, aos poucos, engolindo outros “caminhos d`àgua”, formando riachos e afunilando um destino único para todas as águas. Onde todos os fios d`água caminhavam juntos, nascia o Rio da minha cidade. A partir daí suas águas pairavam belas, frias, serenas. Corriam calmas, como se quisesse cumprimentar as árvores à sua margem. Como se quisesse ouvir os pássaros, beijar as borboletas que nelas se miravam. Como quem quisesse lambuzar-se nas barreiras lamacentas. Era um Rio lindo.
A música das suas águas batendo nas pedras era como uma cantiga de ninar. Como o velho chchchchiado da chchchchuva chchchovendo de noite, como pingos bantendo nas telhas. Misturava-se aos silvos das cigarras quando a tarde vinha. Nessa hora suas águas ficavam com um tom vermelho amarelado. Imitava o céu onde o sol se punha. O contraste com o verde que o rodeava desenhava uma autentica aquarela. Amanhecia e lá estava êle. Sereno, calmo, dia e noite a deslizar sobre as pedras aquela limpinha e fria água trazendo o cheiro das ribeiras da serra. Cheiro de mato e barro. Tinha a musica dos pássaros e som do vento. Tinha a cor da luz do sol. Era um Rio. O Rio da minha cidade.
Dávamos nomes aos vários locais onde a água diminuía seu ritmo, formando poças onde, aos montes, tomávamos banho. Arriscávamos tudo para estar lá. Encarnávamos o D´zunhurae e simplesmente íamos ao Rio. Também pudera. Queríamos mesmo era mergulhar naquelas águas: Banho da Mata do Seu Lino, Banho do Poço da Pedra do Quebra Cú, Banho da Ponte, Banho da Barreira... eram tantos que nem lembro. Sei bem do paraíso que era para todos nós. Mas... um dia chegaram os homens trazendo a urbanidade e o progresso.
Um tambor amedrontou a mata quando o dia clareou
Na clareira respondeu a flauta um aviso de terror
Um cacique descobriu pegadas de um estranho caçador
Uma tribo foi exterminada onde o rio avermelhou...
Desde lá nosso Rio nunca mais teve paz. Nunca mais foi o mesmo Rio. Nunca mais nossa aquarela. Nunca mais nossos sonhos. Aos poucos a sua cor foi mudando. A sua beleza foi desaparecendo. As suas margens foram sumindo. Nunca mais brincadeiras. Nunca mais banhos. Nunca mais os pássaros o procuraram. Nunca mais as cigarras. Nunca mais as borboletas. Nunca mais nossos sonhos e nossa aquarela.
Antes das chuvas quando um trovão tombou das estrelas
E a selva escura viu brilhar nas mãos de um deus
Armas de estrondo e luz como avisou a lenda
Onça negra caminhou nas cinzas da fogueira que passou
Gavião voando contra a brisa viu a mancha do trator
Aos poucos suas margens foram sendo molduradas por ruas, calçadas, estradas de negro asfalto. Manchas deixadas pelo trator. A “ Onça Negra” do progresso se instalou como previa a lenda. A modernidade havia chegado.
Restou-nos a lembrança. Hoje nosso rio está quase morto. Ainda ensaia alguns suspiros quando as chuvas de inverno trazem água da Chapada do Araripe e conseguem lavar um pouco o seu leito. Depois, com a ida das chuvas ele agoniza de novo. Junto com ele agonizam as nossas lembranças, os nossos sonhos. Foi há muito tempo.
OBS-Poesia incidental “ A VOLTA DOS TROVÕES” de Braulio Tavares e Fuba.
Fonte: recebido por e-mail e autorizada a publicação
CHRONICAS CARIRIANAS
AS CIDADES DE FREI CARLOS
Por Zé Nilton*
Já lá se vão 39 anos da publicação do livro A cidade de Frei Carlos**, reunião de trabalhos esparsos do pesquisador Pe. Antonio Gomes de Araújo, clérigo da Diocese de Crato, Ceará.
Para o pesquisador de hoje a leitura dos textos dizem menos em comparação ao muito que dizem os anexos do livro.
Outro dia estava pensando por que o Pe. Gomes desinteressou-se em aprofundar sobre as gêneses da formação histórica do Cariri à luz de novos documentos coligidos à custa da sofreguidão de um pároco de aldeia, movido pelo entusiasmo e perseverança em fechar uma compreensibilidade sobre o Século XVIII no quadrilátero sul cearense?
De onde olho, hoje, muito fácil seria tripudiar nas falhas e nos hiatos cometidos pelo Pe. Gomes, em parte pelo seu modo intransigente e panegírico na defesa da História providencialista, e em parte pela fragmentariedade mesma de documentos elucidativos, o estado da arte de nossos primórdios.
De jeito nenhum. Teremos sempre uma atitude de profundo respeito àquele que se superou na busca de periodizar e por as coisas no lugar em meio a lacunas, descontinuidades, brechas, abismos, ausências e silêncios das fontes sobre nossa gênese.
O professor de História Pe. Antonio Gomes de Araújo compreendeu desde logo o sentido do fazer histórico na suma relativista que repõe a verdade histórica. Poderia ter ficado no céu das interpretações de segunda mão de como teria acontecido por aqui os nossos primeiros dias. Contrariamente, desceu ao inferno dos arquivos longínquos e poeirentos para fazer valer o sentido heurístico da ciência histórica e contrapor verdades.
Foi nessa que tomou a dianteira sobre fatos e acontecimentos da História do Cariri escrita por um Antonio Bezerra, um Dr. Pedro Thebèrge, um João Brígido e por fim a um Carlos Studart Filho.
Mas eu falei dos apensos do livro “A Cidade de Frei Carlos”. Pois bem, algo intrigante. Após escrevê-lo Pe. Gomes ajunta documentos importantes em torno da figura maior de seu intento, o Frade da Ordem dos Capuchinhos Italiano, Frei Carlos Maria de Ferrara.
Lá está que frei Carlos chegou ao Nordeste em 1736. Em 1738 a Junta das Missões, organismo de administração bipartite entre a Coroa e as ordens religiosas, discutia em reunião a necessidade de situar uma aldeia para o capuchinho. E revela que em 1739 frei Carlos já enviara uma carta à Junta das Missões, em Pernambuco, na qual “reclama que faça o ouvidor do Ceará a medição para a aldeia dos Jenipapos e que se chame o Pe. Ezequias Gameiro que já foi missionário dos Canindé para incorporá-los na mesma Missão”. (p. 80). Há outra carta do dia 21 de outubro de 1739 enviada por representante dos Jenipapos ao governador de Pernambuco de igual solicitação.
Sabemos que esses Jenipapos e Canindé estiveram na ponta da segunda fase da Guerra dos Bárbaros, a partir de 1712. Que os Jenipapos foram parciais dos Feitosa na luta contra os Montes. Que as duas tribos por falarem a mesma língua foram aldeadas em Quixadá, nas imediações do que hoje é Banabuiú. Que dali por força de lei seguiram para formar corpo social na elevação da Vila de Monte-mor, o novo da América, Baturité, em abril de 1764.
Então, Frei Carlos andou por estes sertões do meio fundando aldeias que seriam futuras vilas e hoje cidades. Quando se instala na Missão do Miranda, em 1740, trouxe saldos deteriorados de várias etnias. Índios alquebrados submetidos que foram a tantos desassossegos e violências. De vez em quando se ausentava para animar outros aldeamentos.
Pe. Gomes ressalta esta epopéia de Ferrara. Mas não o faz de modo enfático e apologético como fizera ao repercutir Antonio Bezerra quanto aos começos históricos de nossa cidade sob a inspiração de Frei Carlos.
Deixa uma sensação de abandono de sua luta na árdua tarefa de esclarecer o passado e ao mesmo tempo de uma profunda humildade como escritor pioneiro, quando diz: “Estas NOTAS modificam ou anulam, confirmam, contrariam ou enriquecem passagens constantes do texto do trabalho, cabendo ao leitor a tarefa do confronto”. Valeu, Pe. Gomes!
Quase terminando, Gomes trata os franciscanos como uma só Ordem. Hoje sabemos que franciscanos e capuchinhos são de ordens diferentes, com objetivos desiguais quanto à catequese no Nordeste. Não chegaram por aqui ao mesmo tempo. Bem, mas aí já é outra História...
Terminando, comecei com a frase “Já lá se vão”. Aprendi com um grande mineiro, o jornalista fundador do Diário de Minas, de saudosa memória, Newton Prates, quando me pedia para datilografar suas memórias para o jornal. Pois é como mineiro, cauteloso, que inicio uma série de despretensiosos artigos sobre a nossa formação histórica.
*Antropólogo. Professor do Departamento de Ciências Sociais da URCA
E-mail: figueiredo.jnilton@gmail.com
** Faculdade de Filosofia de Crato. Coleção Estudos e Pesquisas. Volume V. 1971
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BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS
Olá pessoas queridas: venham para a roda de histórias de Bisaflor, a fogueira já está acesa, Sia Maria já fez um bolo de milho e agora está passando o café. Trago hoje uma história chinesa que li em um livro de Ítalo Calvino. É uma história muito boa, sei que vocês vão gostar.
E atenção: quem na roda, depois, recontar a história vai ganhar três cafunés.
A SENHORA NÚMERO TRÊS
Há muitos séculos atrás, numa cidade da China, havia uma hospedaria – a Taberna do Pontilhão – administrada por uma mulher de cerca de trinta anos, conhecida como a Senhora Número Três. Supunha-se que esta mulher era viúva, sem filhos e sem nenhum parente. Na verdade, não se sabia quem era nem de onde viera; mas todos concordavam que sua hospedaria tinha boas instalações e que ela era uma pessoa de posses, pois além da hospedaria, possuía uma excelente tropa de burros, constituída por animais fortes, bonitos e resistentes.
A Senhora Número Três era, também, conhecida por sua generosidade; costumava cobrar preços mais baixos, caso o viajante alegasse que estava com pouco dinheiro, motivo pelo qual não faltavam hóspedes na Taberna do Pontilhão.
Aconteceu um dia que um viajante chamado Chao Chi Ho, em viagem à capital, parou para pernoitar na Taberna do Pontilhão e acomodou-se com mais uns seis hóspedes num amplo dormitório. A Senhora Número Três o tratou muito bem, como era do seu costume e na hora de dormir ofereceu vinho a todos e tomou, também, uma taça. O senhor Chao Chi Ho agradeceu, não costumava beber vinho, e foi deitar-se numa última cama, junto à parede que divisava com o quarto da hospedeira.
Os hóspedes que tomaram vinho, logo adormeceram e a Senhora Número Três recolheu-se ao seu quarto um pouco mais tarde da noite, fechou a porta e apagou a vela.
Chao estava inquieto, não conseguia pregar o olho e, lá por volta da meia noite, escutando um barulho no quarto da hospedeira, percebeu que ela havia acendido a vela. Olhou por uma fresta que havia na parede e viu a mulher retirar de dentro de uma caixa, pequenas peças de madeira com cerca de quinze centímetros de altura: um vaqueiro, um boi e um arado, depositando-as em chão de terra batida, numa pequena área perto do piso da lareira. Depois colocou um pouco de água na boca e borrifou nas figuras que, de imediato ganharam vida, o vaqueiro esporeou o boi que fez movimentar o arado para frente e para trás, arando a terra. Quando o chão estava preparado, ela entregou um pacote de sementes de trigo-mouro ao vaqueiro, que as semeou. Em poucos minutos as sementes brotaram, floresceram e deram grãos maduros, que foram colhidos e debulhados pelo vaqueiro. A mulher os moeu num pequeno moinho. O vaqueiro, o boi e o arado voltaram a ser figuras de madeira que a Senhora Número Três guardou na caixa. A última tarefa da hospedeira foi fazer bolos com o trigo moído naquela noite.
Ao amanhecer todos os hóspedes se levantaram e se preparavam para seguir viagem, quando a Senhora Número Três os convidou para tomarem o café da manhã, oferecendo-lhes os bolos que fizera à noite.
Chao agradeceu e saiu da Taberna do Pontilhão, mas procurou um jeitinho de olhar para trás e, sem que a mulher percebesse, viu que cada hóspede que comia o bolo, caía de quatro e começava a zurrar. A mulher se apossava dos seus pertences e, cada vez mais, aumentava sua tropa de burros.
O homem observou tudo que acontecera naquela noite na Taberna do Pontilhão, mas não comentou nada com ninguém. Quando retornava de sua viagem à capital, teve que fazer um novo pernoite na hospedaria da Senhora Número Três. Ele vinha munido de uma boa porção de bolos de trigo, fresquinhos e do mesmo formato e tamanho dos da hospedeira, que o recebeu muito bem.
Naquela noite não havia outros hóspedes na Taberna. Antes do senhor Chao se recolher, a hospedeira perguntou se ele queria algo para comer ou beber. Ele agradeceu, queria só no café da manhã comer alguma coisa, e a mulher lhe prometeu uma boa refeição.
Durante a noite Chao observou a mulher repetir a mesma mágica de arar a terra, do plantio e crescimento do trigo e a feitura dos bolos, que a hospedeira colocou na mesa do café da manhã, no dia seguinte.
Chao aproveitou-se de um instante em que a mulher saiu da sala e trocou um dos bolos que trouxera por um feito por ela. Quando a Senhora Número Três retornou à sala, admirou-se que seu hóspede ainda não estivesse se alimentando:
- Mas você ainda não comeu dos meus bolos!
- Eu estava aguardando sua volta. Eu trouxe uns bolos da capital, gostaria que você experimentasse.
- Dê-me um.
A mulher estendeu a mão e recebeu um dos seus bolos mágicos, aquele que Chao retirara do prato. Mordeu o bolo e caiu de quatro, zurrando, transformada numa bela e vigorosa jumenta, na qual Chao colocou cabresto, montou e retornou para sua cidade, levando consigo a caixa com as figuras de madeira, pensando em usá-las em seu proveito.
No entanto, ele nunca conseguiu dar vida às peças porque não sabia das palavras mágicas, por isso não pode transformar pessoas em burros, mas tinha a seu serviço a jumenta mais resistente e vigorosa da região, que era capaz de viajar muitas léguas por dia, em qualquer tipo de estrada.
Alguns anos depois, montado na sua jumenta, o senhor Chao passava na frente de um Tempo, quando, de repente, um velho começou a dar boas risadas, bater palmas, fazendo grande alarido:
- Mas é a Senhora Número Três, da Taberna do Pontilhão! O que lhe aconteceu?
O velho se aproximou, segurou nas rédeas da jumenta e falou para Chao:
- É certo que ela tentou lhe fazer algum mal, eu sei, mas lhe garanto que ela já foi plenamente castigada por seus pecados. Deixe que eu a liberte.
Dizendo isso, o velho retirou o cabresto da cabeça da jumenta, que imediatamente largou a pele de animal e se transformou em gente.
A Senhora Número Três saudou o velho e sumiu.
Nunca mais se soube dela.
Mãos dadas - por Drummond
Privilégio do mar - Por Drummond
Drummond
Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um poeta, contista e cronista brasileiro.
Elba Ramalho
Roberto de Niro
Nelson Piquet
Candeia
João Donato- Um ícone da MPB !
Entre as composições mais conhecidas do músico, estão: "Amazonas", "Lugar Comum", "Simples Carinho", "Até Quem Sabe" e "Nasci Para Bailar". Segundo o crítico musical Tárik de Souza: "Durante muito tempo, João Donato foi um mito das internas da MPB. Gênio, desligado, louco, de tudo um pouco.