Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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domingo, 24 de janeiro de 2010

Oráculo

Quando o fogo queima
não te assustes

é apenas por fora
a casca.

Quando a água molha
não te encolhas

é apenas por fora
a camiseta.

Nem o fogo salva
tampouco a água renova

se alimentares o medo.

Beija teus próprios pés
curva-te diante dos teus olhos
sem pressa.

Tua morte te espera
última chamada
na escadaria.

Não ouses fugir
por favor, sem trapaças.

A morte é fina
como uma chuva
fugindo da memória.

Mas a morte também é densa
feito a última seringa
cheia de coágulos.

AMO AMAR VOCÊ por Rosa Guerrera

Onde o porque ?
Não sei dizer,
sofrer
querer
viver sem ter
ser e não ser
dor acolher
pranto descer
sonho morrer
sem renascer.

Não mais temer
gritar ,
dizer
que sem saber
sem mais porque
sinto que amo
amar você !

Pensemos no Haiti, rezemos pelo Haiti

A embaixatriz brasileira no Haiti
Por LUKA
A respeito da embaixatriz Roseana Kipman no Haiti a repórter Heloisa Vilella traz informações importantes.
http://blogs.r7.com/correspondentes-internacionais/2010/01/23/olhando-o-haiti-com-outro-filtro/
23 janeiro 2010
Olhando o Haiti com outro filtro
Publicado por: Heloisa Villela
Foram cinco horas subindo o morro. Passando por cima de corpos, por gente rezando, cantando e queimando as vitimas. Roseana Kipman, mulher do embaixador brasileiro no Haiti, Igor Kipman, não é uma mulher avessa ao trabalho pesado. Não é do tipo salto alto, “não piso na lama”. Foi ela que localizou o corpo da brasileira Zilda Arns quando, conversando com um padre haitiano, descobriu exatamente onde Zilda estava no momento do terremoto. E orientou o trabalho dos engenheiros.
“Quando apontei a laje certa e pedia a ele para removê-la, logo vi o pé da Zilda. Disse a eles que era o pé dela. Ele me perguntou como eu sabia. Eu sou mulher, conheço o pé de outra mulher”. E ela tinha toda razão.
roseana kipman
Roseana Kipman dá aulas de português aqui no Haiti. Mas ensina muito mais aos brasileiros, que chegam aqui com visões pré-concebidas do país. “Essa historia de que eles estão queimando corpos porque são violentos, esse monte de coisa que estão falando lá no Brasil, não é nada disso… Eles aqui acreditam que quem morre sem uma parte do corpo vai voltar na próxima vida sem aquela parte. Por isso, eles queimam o corpo”.
Pra mim, em particular, ela esclareceu algo que vinha me embatucando desde que botei o pé em Porto Príncipe. Em dez dias de trabalho, entrevistei várias pessoas que perderam tudo, inclusive os parentes. Mães sem filhos, filhos sem pais, etc. E nesses dias todos, vi apenas uma mulher chorar, desesperada.
A embaixatriz esclareceu. Disse que esse aqui é um povo sobrevivente. Que já passou e ainda passa por muitas privações. O índice de mortalidade infantil é muito alto. “Ninguém pode ficar se apegando a uma criança que pode morrer”. É, como repetiu dona Roseana, uma questão de sobrevivência. Outro exemplo? As pessoas comem, em media, um prato de comida, dia sim, dia não. E os mais fortes são os primeiros a comer. As crianças ficam para o fim. Um homem forte pode salvar uma criança. Mas alimentar a criança que não vai poder salvar a vida de um adulto forte não faria o menor sentido.
E por aí vai. A lista é longa. Olhar o país com um filtro que já veio pronto, no momento de uma tragédia como esta, não vai permitir a ninguém compreender o que se passa, já se passou e ainda vai se passar no Haiti. Falar de violência quando os haitianos retiram mercadorias das lojas que ruíram e que as retroescavadeiras começam a limpar é, no mínimo, um erro de interpretação.
Ao lado dessas lojas, barraquinhas vendem de tudo. As feiras, nas ruas, estão abarrotadas de produtos. Se houvesse violência e vandalismo, todos os vendedores seriam atacados. E nós, obviamente estrangeiros, também. Andei no meio dos chamados saques. Nunca me senti ameaçada. Nunca senti medo de ser assaltada ou tratada com brutalidade. Conheci um povo pacífico, que sorri fácil quando a gente chega perto.
Dona Roseana Kipman não é daquelas otimistas ingênuas. Ela diz que o Haiti já passou por três furacões no ano passado e agora um terremoto. “Que será que vai acontecer no ano que vem?”, ela pergunta. Eu tento uma saída positiva: vai ser ano de reconstrução. Mas ela me corrige: “Vamos ver. Deus é um cara divertido!”.

Fonte: http://blogln.ning.com/ Portal Luis Nassif

Jesus foi ao paraíso - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Felicidade otimizada – versão 2050.

Nas encostas de Santa Teresa escorre mais história que águas de enxurrada.

Jesus, décima geração carioca de família mineira para assentar, no Escondidinho, vida na cidade. Rio Comprido, o bairro; Morro dos Prazeres, a vizinhança.

Jesus identificava no prazer, a doutrina da elite. Levou o Rio à partição, entre arcaicos e pós-humanos. Ele, um ser arcaico. Ser pós-humano, só adivinhando. Não havia contato entre eles.

Prazeres, conquista dos pós-humanos. Da vida, pelo desenvolvimento da tecnologia. Corpos pós-humanos, distintos da classe de Jesus. Realizado upgrade dos sistemas biológicos, quando Jesus, permanecia igual ao seres antigos. Os pós-humanos já não eram seus corpos, enquanto Jesus, sujeito à escassez, fazia história para superá-la. Seres turbinados, usavam o corpo igual um carro de luxo. Jesus e sua classe, conquistavam equilíbrio entre assimetrias da vida e a paz interior. Seres pós-humanos, mundo conquistado, intimidade difusa, prazeres da vida.

Não bem por acaso. Uma chance em milhões. Era comum os pós-humanos excursionarem pelo centro do Rio. Curiosos, em gôndolas móveis, refrigeradas, isolamento acústico; nos olhos, a alegria de zoológico. Eventualmente, saíam do isolamento, mantendo contato com os arcaicos. Experiências supremas. Sensações, decantadas nos recolhos dos pós-humanos, da Barra, Recreio e parte de Jacarepaguá.

Turismo por quê? Contradição da conquista. Mundo virtual, não se sabia por que, embora de infinita variação, tinha ranço de repetição. Travo, reduzindo imprevisibilidade. Terapeutas recomendavam passeios turísticos. Novas práticas incorporadas ao acervo virtual. Descobrira-se que o contato físico, mesmo breve, apenas toque, ampliava a experiência.

Jesus, pela histórica Barão de Petrópolis, chegava à Rua da Estrela. Ia ao Largo do Estácio, cantar sambas, longos fraseados, misturando rap, funks, variado improviso. Na praça Condessa Paulo de Frontin, o Metrô. Quando punha os pés na praça, veículos de pós-humanos estacionavam. Guardas armados, ocuparam pontos estratégicos. Crianças arcaicas careteavam, provocando olhares admirados nos pós-humanos. Jesus, acostumado àquilo, seguia, indiferente, ao metrô. Na escadaria, sentiu uma mão no ombro. Virou-se. O olhar de felicidade de uma linda moça. Invés de se indignar com o utilitarismo do gesto, abriu largo sorriso. Os olhos, estreitando-se, penetravam intimamente a mulher. Ela jamais experimentara algo igual. Porquanto, deixou, com Jesus, um cartão nano-eletrônico.

Se Jesus pusesse o dígito sobre o ícone dela virtualmente se conectariam. Jesus precisaria de Cyber Café. Ela tinha conexão cerebral. Imediato no ambiente captado pelo cartão nano-eletrônico. Jesus sentia-a de modo difuso, imagem virtualizada por óculos especiais. Ela, sem intermediações.

A sessão de música terminou, foi a um Cyber ali mesmo no Largo do Estácio. Conectou-se com a moça.

Ponto neutro. Zona Sul, Maria Angélica, quase esquina da Alexandre Ferreira. Jesus encontrou-se com Madalena αβ. Alfa, versão amigável com arcaicos. Beta, possibilidades secundárias. Versão especial de engenharia reversa dos sistemas biológicos. Design, poucas unidades no mercado. Tinha contradições. Tendia para a arcaica unidade entre ser e corpo. Unificando-se, propendia para a historicidade da vida. A engenharia molecular projetara-a para ter mobilidade, flexibilidade e longevidade. Substituídos arcaicos sistemas biológicos por outros otimizados, mais agradáveis, duradouros, sem panes, moléstias e envelhecimento, a história não mais existia. A vida, aproveitar, gozar, ter prazer. No erro nato, o encontro entre Jesus e Madalena αβ.

“Sei tudo sobre vocês”. Madalena αβ, procurando o mesmo olhar de Jesus na entrada do Metrô. “Eu, quase nada, sobre você”. Jesus, ignorante, confessava. “Como não sabe? Meus professores diziam que a opção de permanecer como são era de vocês mesmos.” Madalena, precisa, questionou. “Nossa, sim. Mas opção, não. Não temos grana para upgrade. Mudança cara. Manutenção impraticável para a maioria.” Jesus, com razões econômicas. “Mas novas versões são criadas todos os anos, pessoas se modificando.” Madalena, otimista. “Ilusório. Os que puderam fazer upgrade mudaram de nível, inatingível para quem não o fez até então. A barreira entre nós e vocês elevou-se muito. Desde essa separação, mais ninguém pôde ultrapassar o muro que nos separa.” Madalena αβ pegou na mão de Jesus e o levou para o carro.

Entre a Rua dos Mineiros e a Ladeira dos Africanos, janela para a Baia da Guanabara, Jesus e Madalena αβ tocavam-se continuamente. O carro, deixado no estacionamento do metrô em Botafogo. Movimento de corpos, fenomenais. Jesus completava-se nela. Madalena viajava em delírios de prazer. Orgasmos múltiplos, jamais a exaustão. Jesus, nada assemelhado vira. A pele da moça se transformava no curso do prazer. Ora ampliava escalas térmicas; noutras o brilho acentuava-se; a textura se multiplicava, de aveludado ao úmido, áspero ao liso; trocas energéticas como pulsos de choques; aderências qual ventosas. Madalena αβ lhe dissera. “Minha pele é proteção da integridade e canal de comunicação íntima e prazer.” Jesus esgotou-se, suado, deitando-se de bruços com os braços arriados abaixo da cama, respirando agitado, o coração acelerado.

Madalena αβ circulava pelo quarto auto-acariciando o corpo nu. “Meu sangue tem a versão mais avançada de respiróticos. Minhas reservas de oxigênio chegam para 24 horas. Assustei-me ao sentir o funcionamento do teu coração. Um pulsar sedutor, mas se manifesta qual sensação de abismo. Como se a qualquer momento, se abrisse enorme poder desagregador.” Jesus, com a boca ressecada pela respiração apressada, balbuciou com esforço: “Sem coração..respiração...cansaço.. exaustão...deusa...desigual...” “Sou vida otimizada, jamais sangrarei, pois minhas plaquetas são milhares de vezes superiores às tuas, meu sistema de defesa é o que tem de melhor no mercado, os softwares dos meus glóbulos brancos têm capacidade para deletar qualquer vírus, outros micróbios ou venenos existentes. Minha pele, pulmões e aparelho digestivo estão bloqueados para qualquer substância potencialmente tóxica. Meu sangue circula por células energéticas, não preciso da bomba cardíaca...”

Jesus, após descanso, levantou-se. Madalena αβ, aproximou-se de modo sedutor. Continuaram se amando.

O dia amanhecia, quando Jesus, esgotado, adormeceu profundamente. Por volta de 18 horas acordou. Não mais a encontrou. Tomou banho e foi para um Cyber na Gomes Lopes. Conectou-se com ela, propondo contato presencial. Ela, excitada, desejou relação sensual, em meio virtual. Jesus, contrariado, desejava-a feito paz interior, aceitou a proposta. Constrangido, numa área reservada do Cyber, relacionou-se com ela. Finda a sessão, passava da meia noite, desceu o morro, sensação plena, mente em desassossego. Madalena αβ, amor em Jesus. Mais do que sensações, precisava dela, olhar, viajar pupila a dentro, ao encontro da intimidade. Aí, o aleph que os fazia unos, apagava todas as diferenças. Jesus queria fundir-se, refundação deles mesmos.

E Madalena αβ? Em banquete, aos milhares, os prazeres da degustação. Retorno primitivo ao gosto. Não precisava comer para alimentar-se. Nada do que mastigava seria digerido no seu organismo. Tudo seria bloqueado e retirado do corpo por nano-robôs sobre roupas especiais que se prestavam para tal. Por tais vestimentas é que se alimentava pelos mesmos métodos moleculares. Vale dizer que também por eles recebia vitaminas, hormônios, enzimas e outras substâncias que facilitavam a relação sensual com o mundo.

Quebra da segurança? Simulação competente de Jesus? Um quantum de imprevisibilidade.

Madalena αβ, na praia sob o sol. A sombra de Jesus projetou-se sobre ela. Muito curiosa levantou-se. Não compreendia porque o rapaz a procurava. “Porque temos propósitos fundamentais na vida...” Madalena abriu os braços para a vastidão da paisagem, negando. “Que propósitos? O fundamento é o upgrade. A evolução cada vez mais avantajada dos requisitos da felicidade. Estou update” Jesus de mãos postas. “Não é diferente da minha felicidade. Toda essa complicação dominadora é muito simples. É você. O dia de hoje foi vazio. A razão do sol não estava somente em mim, eu precisava de você.” A face interrogativa de Madalena. “Como precisava de mim? Você não se basta? Precisa de outro para viver?” Jesus, inocente. “Você não?” Madalena, terminativa. “Não, tudo que necessito está sobre minha pele. Na minha mente. O que não compreendo basta comunicar meu cérebro com as bibliotecas de inteligência artificial, imediatamente tenho respostas. Quando quero me apresentar diferente posso ser qualquer personagem do passado e do presente, pois existem milhares de arquivos de emoções das pessoas. Já tenho teu arquivo completo. Posso usá-lo quando quiser.”

Jesus parou a conversa, afastou-se um pouco de Madalena αβ e deitou o olhar na imensidão do mar. Inspirou profundamente o cheiro de maresia. Mergulhou seu olhar no vasto verde esmeralda e suas franjas de espuma branca. Voltou-se para Madalena, aproximou-se e deu-lhe forte abraço. Beijou-a com grande paz e, lentamente, afastou-se enquanto dizia: “O upgrade sou eu...Upgrade de cada momento, sem intervalo, até a próxima versão. O update contínuo....”

Madalena αβ olhando-o se afastar na areia branca da Barra da Tijuca, sentiu-se uma versão defasada. E gritou: “Jesus...vou....”

por José do Vale

Virgínia Woolf



Virginia Woolf (Londres, 25 de Janeiro de 1882 — Lewes, 28 de Março de 1941) foi uma das mais importantes escritoras britânicas.

Estreou na literatura em 1915 com um romance (The Voyage Out) e posteriormente teria realizado uma série de obras notáveis, as quais lhe valeriam o título de "a Proust inglesa". Faleceu em 1941, tendo cometido suicídio.

Virginia Woolf era filha do editor Leslie Stephen, o qual deu-lhe uma educação esmerada, de forma que a jovem teria frequentado desde cedo o mundo literário.

Em 1912, casou-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que revelou escritores como Katherine Mansfield e T.S. Eliot. Virginia Woolf apresentava crises depressivas. Em 1941, deixou um bilhete para seu marido, Leonard Woolf, e para a irmã, Vanessa. Neste bilhete, ela se despede das pessoas que mais amara na vida, e se mata de forma triunfante.

Virginia Woolf foi integrante do grupo de Bloomsbury, círculo de intelectuais que, após a Primeira Guerra Mundial, se posicionaria contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana. Deste grupo participaram, dentre outros, os escritores Roger Fry e Duncan Grant; os historiadores e economistas Lytton Strachey e John Maynard Keynes; e os críticos Clive Bell e Desmond McCarthy.

A obra de Virginia é classificada como modernista. O fluxo de consciência foi uma de suas marcas mais conhecidas e da qual é considerada uma das criadoras.

Suas reflexões sobre a arte literária - da liberdade de criação ao prazer da leitura - baseadas em obras-primas de Conrad, Defoe, Dostoievski, Jane Austen, Joyce, Montaigne, Tolstoi, Tchekov, Sterne, entre outros clássicos, foram reunidos em dois volumes publicados pela Hogarth Press em 1925 e 1932 sob o título de The Common Reader - O Leitor Comum, homenagem explícita da autora àquele que, livre de qualquer tipo de obrigação, lê para seu próprio desfrute pessoal. Uma seleta destes ensaios, reveladores da busca de Virginia Woolf por uma estética não só do texto mas de sua percepção, foi reunida em língua portuguesa em 2007 pela Graphia Editorial, com tradução de Luciana Viegas.

Sua primeira obra foi A viagem, publicada em 1915.

O romance Mrs. Dalloway ficou conhecido pelo filme As Horas, baseado na obra homônima de Michael Cunningham, filme no qual Virginia foi interpretada por Nicole Kidman, premiada com um Oscar por seu retrato da escritora britânica. As Horas conta várias histórias, mescla a vida da própria autora numa personagem e coloca algumas particularidades de Mrs. Dalloway numa dessas histórias. Em Mrs. Dalloway, Virginia descreve um único dia da personagem, quando ela prepara uma festa.

Sua obra mais conhecida é Orlando, publicada em 1928. É uma fantasia histórica sobre a era elisabetana.

Após terminar As Ondas, uma de suas obras mais importantes, Virginia Woolf estava exausta. Ela seguiu então para a sua casa de campo levando o livro das cartas entre os poetas Elizabeth Barrett e Robert Browning. Na leitura, percebeu a presença permanente de um cachorro, Flush; resolve então, por diversão, escrever a visão desse cachorro do mundo à sua volta. Essa obra foi muito elogiada por fazer um relato minucioso sobre a época dos poetas. Ironicamente foi a obra que mais deu retorno financeiro à escritora e a mais traduzida em outros idiomas.

Sua última obra foi Entre os atos, publicada em 1941, posterior à sua morte.

No dia 28 de março de 1941, após ter um colapso nervoso Virginia suicidou-se. Ela vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e entrou no Rio Ouse, afogando-se. Seu corpo só foi encontrado no dia 18 de abril.

Em seu último bilhete para o marido, Leonardo Woolf, Virginia escreveu:

Querido,
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V.


wikipédia

Empadão de palmito


Para a massa


Ingredientes


4 xícaras (chá) de farinha de trigo
2 ovos
4 colheres (sopa) de manteiga
1 xícara (chá) de gordura vegetal
sal a gosto


Modo de Preparo


1. Numa tigela, junte todos os ingredientes e misture muito bem com as mãos. Aos poucos, o calor da sua mão fará a gordura e a manteiga derreterem.

2. Misture bem até obter uma massa homogênea.

3. Divida a massa em duas porções. Com as mãos, espalhe uma das porções de massa, cubrindo o fundo e toda a lateral de uma fôrma de fundo removível. Esta massa não pode ser aberta com um rolo de macarrão, pois sua textura lembra a de uma farofa úmida. Se faltar massa, pegue um pouco da outra metade.

4. Para fazer a "tampa" da torta, coloque a outra parte da massa sobre um pedaço grande de filme. Com as mãos, vá pressionando a massa com cuidado, abrindo em formato de disco (do tamanho da forma). Reserve esse disco de massa.


Para o recheio

Ingredientes


2 vidros de palmito em conserva
2 dentes de alho picados
1 cebola picada
2 tomates
1 colher (sopa) de farinha de trigo
1 copo (americano) de leite
3 colheres (sopa) de azeite de oliva
2 gemas
1/2 xícara (chá) de salsinha
sal e noz-moscada a gosto

Modo de Preparo


1. Preaqueça o forno a 180ºC (temperatura média).

2. Pique o palmito em rodelas não muito finas.

3. Com uma faca, corte o tomate ao meio e retire as sementes. Corte cada metade em tiras finas. As tiras devem ser cortadas em quadrados pequenos.

4. Dissolva a farinha de trigo no leite, com cuidado para não empelotar.

5. Numa panela, leve o azeite ao fogo médio. Quando estiver bem quente, junte a cebola e o alho picados e misture. Deixe refogar por 4 minutos.

6. Acrescente o tomate na panela e misture. Junte o palmito e refogue por 5 minutos.

7. Adicione o leite com a farinha diluída ao preparado da panela e misture muito bem. Tempere com sal, noz-moscada e salsinha. Quando engrossar, desligue o fogo.

8. Distribua o recheio dentro da fôrma forrada com a massa e espalhe bem com o auxílio das costas de uma colher.

9. Em seguida, coloque o disco de massa reservado sobre a torta. Você deve pegar o disco com o filme por baixo, para evitar que a massa se quebre.

10. Retire o filme de cima da massa e aperte bem as bordas para baixo.

11. Numa tigelinha, bata as gemas com um garfo. Pincele a superfície da torta com as gemas batidas.

12. Leve a torta ao forno para assar por, aproximadamente, 30 minutos ou até ela ficar bem dourada.

13. Retire do forno e desenforme. Sirva quente.

Suave inventário das parcerias de Tom e Chico



"Chico Buarque conheceu Tom Jobim em 1966. Os dois foram apresentados pelo produtor Aloysio de Oliveira. Tom já era o maior compositor brasileiro, celebrizado em âmbito mundial. E Chico já dava seus primeiros rápidos passos para logo se tornar a unanimidade nacional proferida por Millôr Fernandes. Dois anos depois, já em 1968, Tom e Chico já eram parceiros. Construíram obra pequena, só que de previsível caráter exemplar. Sobrinha de Sueli Costa, a cantora Fernanda Cunha faz, ao lado do violonista Zé Carlos, suave inventário desse fino cancioneiro no CD Zíngaro - batizado com o nome da versão instrumental da música que, com letra de Chico, ficaria conhecida como Retrato em Branco e Preto.

Com voz afinada, sempre bem colocada, Fernanda interpreta sem dramaticidade músicas como Eu te Amo (gravada por sua mãe, a saudosa Telma Costa, em duo com Chico na década de 80) e Olha Maria. Sabiá, por exemplo, voa alto sem a amargura contida em muitos registros deste tema que foi uma espécie de triste carta de despedida dos exilados pela ditadura militar. Se (ainda) lhe falta alguma leveza para encarar um samba como Piano na Mangueira, cujo suingue repousa mais no violão de Zé Carlos, a jovem cantora oferece elegantes registros de Meninos Eu Vi e Pois É. Já Zé Carlos - sem querer aparentar virtuosismo - dá muito bem o seu recado, evocando no violão, por exemplo, a original pulsação nordestina de A Violeira. Enfim, um bom disco resultante de uma boa idéia. "

Falando de Amor - Tom e Vinícius

Se eu pudesse por um dia,
Esse amor, essa alegria,
Eu te juro, te daria,
Se pudesse esse amor todo dia.
Chega perto, vem sem medo,
Chega mais, meu coração,
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro-canção.
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor,
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor.
Chora flauta, chora pinho,
Choro eu, o teu cantor,
Chora manso, bem baixinho,
Nesse choro falando de amor.
Quando passas, tão bonita,
Nessa rua banhada de sol,
Minha alma segue aflita
E eu esqueço até do futebol.
Vem depressa, vem sem medo,
Foi pra ti, meu coração,
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro-canção,
Lá no fundo do meu coração...

TOM JOBIM





Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1927 — Nova Iorque, 8 de dezembro de 1994), mais conhecido como Tom Jobim, foi um compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro.
É considerado um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores do movimento da bossa nova. É praticamente uma unanimidade entre críticos e público em termos de qualidade e sofisticação musical.

Nasceu no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro e mudou-se com a família no ano seguinte para Ipanema, onde foi criado. A ausência do pai durante a infância e adolescência lhe impôs um contido ressentimento, desenvolvendo no maestro uma profunda relação com a tristeza e o romantismo melódico, transferido peculiarmente para as construções harmônicas e melódicas. Aprendeu a tocar violão e piano em aulas, entre outros, com o professor alemão Hans-Joachim Koellreutter, introdutor da técnica dodecafônica no Brasil.

No dia 15 de outubro de 1949, Antônio Carlos Jobim casou-se com Thereza Otero Hermanny (1985), com quem teve dois filhos, Paulo (n. 1950) e Elizabeth (1957).

Declarou em entrevista à TV Globo, em 1987, que o Rio de Janeiro onde viveu sua infância era muito diferente do Rio que se encontrava na época da entrevista.
Pensou em trabalhar como arquiteto, chegando a cursar o primeiro ano da faculdade e até a se empregar em um escritório, mas logo desistiu e resolveu ser pianista. Tocava em bares e boates em Copacabana, como no Beco das Garrafas no início dos anos 1950, até que em 1952 foi contratado como arranjador pela gravadora Continental, onde trabalhou com Sávio Silveira. Além dos arranjos, também tinha a função de transcrever para a pauta as melodias de compositores que não dominavam a escrita musical. Datam dessa época as primeiras composições, sendo a primeira gravada "Incerteza", uma parceria com Newton Mendonça, na voz de Mauricy Moura.
Depois da Continental, foi para a Odeon. Entretanto, não tinha tanto tempo para se dedicar à composição, que lhe interessava mais. É nesse época que compõe alguns sambas, em parceria de Billy Blanco: Tereza da Praia, gravada por Lúcio Alves e Dick Farney pela Continental (1954), Solidão e a Sinfonia do Rio de Janeiro. Tereza da Praia o primeiro sucesso. Depois disso, ocorreram outras parcerias, como com a cantora e compositora Dolores Duran, na canção Se é por Falta de Adeus.

Em 1956 musicou a peça Orfeu da Conceição com Vinícius de Moraes, que se tornou um de seus parceiros mais constantes. Dessa peça fez bastante sucesso a canção antológica Se Todos Fossem Iguais a Você, gravada diversas vezes. Tom Jobim fez parte do núcleo embrionário da bossa nova. O LP Canção do Amor Demais (1958), em parceria com Vinícius, e interpretações de Elizeth Cardoso, foi acompanhado pelo violão de um baiano até então desconhecido, João Gilberto. A orquestração é considerada um marco inaugural da bossa nova, pela originalidade das melodias e harmonias. Inclui, entre outras, Canção do Amor Demais, Chega de Saudade e Eu Não Existo sem Você. A consolidação da bossa nova como estilo musical veio logo em seguida com o 78 rotações Chega de Saudade, interpretado por João Gilberto, lançado em 1959, com arranjos e direção musical de Tom, selou os rumos que a música popular brasileira tomaria dali para frente. No mesmo ano foi a vez de Sílvia Telles gravar Amor de Gente Moça, um disco com 12 canções de Tom, entre elas "Só em Teus Braços", "Dindi" (com Aloysio de Oliveira) e "A Felicidade" (com Vinícius).

Tom foi um dos destaques do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova York em 1962. No ano seguinte compôs, com Vinícius, um dos maiores sucessos e possivelmente a canção brasileira mais executada no exterior: "Garota de Ipanema". Nos anos de 1962 e 1963 a quantidade de "clássicos" produzidos por Tom é impressionante: "Samba do Avião", "Só Danço Samba" (com Vinícius), "Ela é Carioca" (com Vinícius), "O Morro Não Tem Vez", "Inútil Paisagem" (com Aloysio), "Vivo Sonhando". Nos Estados Unidos gravou discos (o primeiro individual foi The Composer of Desafinado, Plays, de 1965), participou de espetáculos e fundou sua própria editora, a Corcovado Music.

O sucesso fora do Brasil o fez voltar aos EUA em 1967 para gravar com um dos grandes mitos americanos, Frank Sinatra. O disco Francis Albert Sinatra e Antônio Carlos Jobim, com arranjos de Claus Ogerman, incluiu versões em inglês das canções de Tom ("The Girl From Ipanema", "How Insensitive", "Dindi", "Quiet Night of Quiet Stars") e composições americanas, como "I Concentrate On You", de Cole Porter. No fim dos anos 1960, depois de lançar o disco Wave (com a faixa-título, Triste, Lamento entre outras instrumentais), participou de festivais no Brasil, conquistando o primeiro lugar no III Festival Internacional da Canção (Rede Globo), com Sabiá, parceria com Chico Buarque, interpretado por Cynara e Cybele, do Quarteto em Cy. Sabiá conquistou o júri, mas não o público, que vaiou ostensivamente a interpretação diante dos constrangidos compositores.

Aprofundando seus estudos musicais, adquirindo influências de compositores eruditos, principalmente Villa-Lobos e Debussy, Tom Jobim prosseguiu gravando e compondo músicas vocais e instrumentais de rara inspiração, juntando harmonias do jazz (Stone Flower) e elementos tipicamente brasileiros, fruto de suas pesquisas sobre a cultura brasileira. É o caso de "Matita Perê" e "Urubu", lançados na década de 1970, que marcam a aliança entre sua sofisticação harmônica e sua qualidade de letrista. São desses dois discos Águas de Março, Ana Luiza, Lígia, Correnteza, O Boto, Ângela. Também nessa época grava discos com outros artistas, como Elis e Tom, com Elis Regina, Miúcha e Tom Jobim e Edu e Tom, com Edu Lobo.

Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura, cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro da versão brasileira de We are the world, o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste Já (1985) abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva, com as canções Chega de mágoa e Seca d´água. Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro.

Em 1987, lançou Passarim, obra de um compositor já consagrado, que pode desenvolver seu trabalho sem qualquer receio, acompanhado por uma banda grande, a Banda Nova. Além da faixa-título, Gabriela, Luiza, Chansong, Borzeguim e Anos Dourados (com Chico Buarque) são os destaques. Em 1992 foi enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Seu último álbum, Antônio Brasileiro, foi lançado em 1994, pouco antes da sua morte de parada cardíaca quando estava se recuperando de um câncer de bexiga, em dezembro, nos EUA.

Algumas biografias foram publicadas, entre elas Antônio Carlos Jobim, um Homem Iluminado, de sua irmã Helena Jobim, Antônio Carlos Jobim - Uma Biografia, de Sérgio Cabral, e Tons sobre Tom, de Márcia Cezimbra, Tárik de Souza e Tessy Callado.

Antônio Carlos Jobim era doutor «honoris causa» pela Universidade Nova de Lisboa / Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, por volta de 1991.

O Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro foi renomeado Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão - Antônio Carlos Jobim ' junto ao Congresso Nacional por uma comissão de notáveis, formada por Chico Buarque, Oscar Niemeyer, João Ubaldo Ribeiro, Antônio Cândido, Antônio Houaiss e Edu Lobo, criada e pessoalmente coordenada pelo crítico Ricardo Cravo Albin.
wikipédia

Vida de Aposentada : Sombra e Àgua Fresca ? - por Socorro Moreira


Nunca me aposento por tempo de serviço. Aposento-me das funções que o mental consegue exaurir. Foi assim como bancária, como professora de Matemática, como culinarista. Agora é a vez do coração, que teimoso, resiste! Anda sonolento, desapaixonado pelos desencontros, pela falta de estímulo. O coração é o único órgão que só se aposenta com a morte.
Vida de aposentado não é moleza não... A gente acorda mais cedo porque dorme demais; sente todas as preguiças dos longos feriados; desaproveita as férias, que já não existem... Costuma tirar um dia pra nada fazer: não lavar a panela do leite, não fazer almoço, não lavar as roupinhas íntimas. Aposentados, nem todos vivem com uma sacola do lado, pra trazer de uma em uma, coisinhas que entopem a dispensa e a geladeira... Eu prefiro comprar uma recreativa, papel e canetas, alugar uns filmes; passar umas horinhas numa loja de disco ou livraria; comer batata frita, numa lanchonete ou restaurante, desafiando as taxas , que adoram uma alta , só pra limitar a nossa vida. Nos intervalos do ócio, eu me esqueço de fazer poesia. Até aprendi a jogar Poker, na internet... Ainda bem que o serviço pode ser gratuito, do contrário, não sobraria grana pras bananas, e pras pomadinhas de arnica.
Mas eu sei que esta vida pode ser mudada... Que ela pode ser mais saudável, e que o meu coração pode se aposentar, na felicidade... Não penso em ter alguém ao meu lado, mas de poder ficar ao lado de alguém, e ser itinerante, como a própria vida.
Quero aposentar-me das incompreensões, das questões minúsculas, e de tudo que eu rejeito , e não participo. Quero outras coligações amorosas e políticas, como esse blogue, que eu tanto ativo!
Quero as amizades que o tempo e a boa vontade construiu. Quero as afinidades reunidas!
Quero também uma varanda, uma rede e um jardim, e a lua faceira, olhando pra mim !
Quero ganhar todas as estrelas com um só olhar, e viver num céu azul, sombreado de branco , com a chuva molhando e aspergindo cristais de vida, em mim !

24 de Janeiro - Dia Nacional do Aposentado.



APOSENTADOS DA VIDA
(Magdalena Léa)
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Com a palavra Mira y Lopez: "Um adulto comum, normal, que ganha a vida profissionalmente, vê-se, subitamente, inválido pela sociedade, que o condena, da noite para o dia, à inação, à inatividade e ao tédio, afastando-o do trabalho, para convertê-lo em um parasita dos cofres públicos, da família, ou da economia previdencial ou assistencial."

E isto é tanto mais triste quando sabemos que, se o trabalho o aposenta, o indivíduo se aposenta da vida. Sente-se esgotado, esvaziado de interesse. É como se, ao despedi-lo, o chefe lhe dissesse: "Pode ir embora, você não serve para mais nada."

E continua Mira y Lopez: "Curioso e paradoxal, no caso, é que os que assim legislam fazem-no pensando que, com a idade, se dá o desgaste e a deficiência do indivíduo, diminuindo as aptidões necessárias para o rendimento satisfatório do trabalho.

Se isto é assim, perguntamos por que se despede obrigatoriamente o porteiro, o ascensorista, o datilógrafo, o secretário, ou qualquer outro funcionário da empresa, e não se faz o mesmo com o chefe? Por que se supõe que, após os 65 anos, um homem não pode ser professor, mas pode ser Ministro da Educação? Não pode ser chefe de seção, mas pode ser Chefe da Nação?

Se você ocupa um posto medíocre, jubilam-no a uma idade determinada, mas se você é bispo, deputado, banqueiro, homem de negócios, escritor afamado ou qualquer outra pessoa de prestígio, estará a salvo, mesmo que sua mente deixe de ser normal e se torne esclerosada e retrógrada.

É óbvio que nos achamos diante um contra-senso que tem de ser sanado quanto antes, substituindo-se o critério de idade e de posição pelo de capacidade e rendimento."

Assim falou Mira y Lopez, em seu livro "A Arte de Envelhecer", em 1961. E, ainda hoje, as leis se baseiam no pressuposto da deficiência de rendimento, no trabalho das pessoas de idade.

Tudo isso é verdade. A lamentável verdade.

Mas você não há de viver se lamentando; é um desgaste inútil de energia. A revolta não resolve. Você pode e deve usar sua energia para conduzir-se na nova situação. E então usufruir a vida até a última gota. Esta vida que lhe foi dada para ser vivida e não sofrida.

O medo da aposentadoria tem íntima ligação com o medo da velhice. Aposentado e velho são tidos como sinônimos. Daí o impacto.

Será bom observar que ao longo da vida se nos apresentam aposentadorias nos vários setores - de família, de trabalho, e sócio-sexual.

Ao chegar à idade madura, o homem está se aposentando da mocidade, e num suspiro sai: "Já não sou mais jovem..." No teatro da vida, já não é mais o "mocinho", é o pai do "mocinho".

Aposenta-se como chefe de família, ao deparar-se com os filhos já adultos, que erguem o nariz mais alto que eles. Suspiram. "Já não sou o maior..."

É mais ou menos pelo mesmo tempo que lhe vem a aposentadoria do trabalho e, então, aquele suspiro fundo: "Não sou mais ninguém... não sirvo para mais nada..."

A soma das frustrações leva à depressão e a depressão à impotência sexual, já que ele se sente impotente em tantos setores. E aí, o suspiro quase que é o último: "Já não sou mais homem..."

Quanto à mulher, sofre também suas aposentadorias; da mocidade ao nascer da primeira ruga; de mulher, com a vinda da menopausa; e de mamãe, quando o filhão diz: "tchau, mãe" e ela não é mais necessária; a do trabalho também, agora que tendo se igualado ao homem, ganhou seus direitos e... seus deveres.

Eis o campo aberto para doenças psicossomáticas, que são as respostas do organismo ao stress, fruto das emoções negativas, das frustrações.

É certo que o trabalho cria no indivíduo um hábito enraizado, um vício difícil de vencer. Aquela coisa de sair todos os dias, faça chuva, ou faça sol, com frio ou com calor, e enfrentar o trânsito engarrafado na angústia do horário fixo. E no ambiente do trabalho há problemas de relacionamentos com colegas e chefes.

Embora sejam coisas bastante desagradáveis, estão inseridas no ritmo de vida do indivíduo e ele pensa que não pode parar. Pode.

Paradoxalmente, vemos nos jornais que as mulheres pleitearam na Constituinte o direito à aposentadoria, aos vinte e cinco anos de serviço, e que os homens protestaram contra a discriminação injusta para com eles, que têm de cumprir trinta anos.

E então? A aposentadoria é um prêmio ou um castigo?

Aposentando-se mais cedo, haverá mais tempo para realizações. É o tempo integral o merecido prêmio pelos anos de trabalho.

De um ângulo positivo de visão, a compulsória, que tanto amedronta e desgosta, pode ser vista, não como um fim, mas como um novo começo.

E a vida aí está. Se ela mudou, mude você com ela. Ponha a sua energia a serviço de construir uma nova etapa.

Não podemos ficar parados à espera de que algo de bom e de justo aconteça. A espera pode ser longa e nos levar à desesperança.

Lamentar o que está errado no mundo não será a solução. São tantas as coisas que vemos, que precisam de correções urgentes. E que podemos fazer? Nada? Nada, não.

Podemos dizer que, a cada ano, sobe a média de vida e a capacidade para se ser forte de corpo e mente, não se deixando abater.

A Dra. Bernice Sachis, psiquiatra norte-americana, declarou em um Congresso, que mais da metade das pessoas que procuram médicos por causa de problemas físicos têm problemas emocionais, que são, em parte ou totalmente, responsáveis pelos distúrbios.

Magdalena Léa
poetisa e escritora.
Autora do livro
"Quem Tem Medo de Envelhecer?"



APOSENTADORIA, UM DIREITO DE TODO O CIDADÃO! Certamente, você já ouviu falar da Previdência Social. Você sabe o que significa esta, que é considerada um direito de todo cidadão brasileiro?
Pois bem, se você não sabe, vai saber agora. A Previdência Social estabelece e rege um contrato que o trabalhador faz com o governo federal. Nesse contrato, ele se compromete a pagar, todo mês, uma quantia previamente calculada, ao Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS).

O Ministério, por sua vez, se compromete a devolver a quantia sob a forma de benefícios, sempre que o empregado não puder trabalhar temporariamente, por ter sofrido um "acidente de trabalho" ou se aposentar por opção ou por invalidez.

Benefícios da Previdência Social

Aposentadoria por idade
Têm direito ao benefício os trabalhadores urbanos do sexo masculino, aos 65 anos, e do sexo feminino, aos 60 anos de idade. Os trabalhadores rurais podem pedir aposentadoria por idade com cinco anos a menos: aos 60 anos, homens, e aos 55 anos, mulheres.

Para solicitar o benefício, os trabalhadores urbanos, inscritos a partir de 25 de julho de 1991, precisam comprovar 180 contribuições mensais. Os rurais têm de provar, com documentos, 180 meses de trabalho no campo.

Aposentadoria por invalidez
Benefício concedido aos trabalhadores que, por doença ou acidente, forem considerados, pela perícia médica da Previdência Social, incapacitados para exercer suas atividades ou outro tipo de serviço que lhes garanta o sustento.

Não tem direito à aposentadoria por invalidez quem, ao se filiar à Previdência Social, já tiver doença ou lesão que geraria o benefício, a não ser quando a incapacidade resultar no agravamento da enfermidade.

Aposentadoria por tempo de contribuição
Pode ser integral ou proporcional. Para ter direito à aposentadoria integral, o trabalhador homem deve comprovar pelo menos 35 anos de contribuição e a trabalhadora mulher, 30 anos. Para requerer a aposentadoria proporcional, o trabalhador tem que combinar dois requisitos: tempo de contribuição e a idade mínima.

Aposentadoria especial
Benefício concedido ao segurado que tenha trabalhado em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física. Para ter direito à aposentadoria especial, o trabalhador deverá comprovar, além do tempo de trabalho, efetiva exposição aos agentes físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais pelo período exigido para a concessão do benefício (15, 20 ou 25 anos).