Professorinha
- Claude Bloc -
Sou professora desde que eu tinha 14 anos. Algo a estranhar? Pode ser, para as gerações mais novas que não conhecem e não sabem como era difícil, nessa época, se conseguir um professor que dominasse a Língua Francesa.
Quando comecei a dar aulas, eu tinha estado e na França por um ano - havia pouco tempo – e, estando lá, tinha estudado num colégio de freiras que eram amigas de minha avó Germaine, a quem eu carinhosamente chamava de Mamie Menotte. Isso me trouxe a experiência de conhecer a escrita do Francês e entender as “peripécias” da Língua no que tange às suas peculiaridades. Pois é, chegou o dia de enfrentar a primeira aula. No início, sem experiência tudo era difícil. Eu, professora, aos 14 anos, sozinha diante dos alunos, tentando captar a atenção deles... Bom, mas era uma tentativa. Madre Feitosa havia posto em minhas mãos um voto de confiança e eu teria que superar minha timidez e dar conta do recado.
Felizmente nessa época as salas de aula não pareciam, como hoje, um salão de festas com crianças barulhentas, parecendo “Gremlins” ou coisa assim. Não havia ninguém voando ou gritando pela sala, apenas vários pares de olhos me olhando esperando o desfecho daquele momento. Não posso dizer que foi esse o pior dia de minha vida, pois hoje sei o que pode ser bem pior, mas foi um passo difícil, pois tive que me superar, imitando meus mestres.
O fato é que acabei conquistando aquela turma e a pouca diferença de idade foi motivo de interação e não de afastamento. Eu e eles havíamos dado um passo à frente, todos aprendemos.
Hoje acredito ser muito importante na vida de um professor o momento em que ele vê que algo deu certo e com isso concluir que pode seguir adiante. Foi isso que fiz e nunca me esquecerei dessa lição e ao mesmo tempo de como trabalhar tão cedo foi útil e benfazejo para mim.
Nunca esquecerei igualmente de como, era nessa época, estar do outro lado da sala, sentada passivamente, como aluna, apenas bebendo da fonte. A simples menção do nome de algum professor mais austero já me provocava medo e fazia as cordas do meu coração darem um nó cego por dentro. Minha timidez era um verdadeiro fardo. Eu por exemplo, morria de medo de Alderico Damasceno. Não conseguia abrir a boca para falar palavra alguma perto dele. Se um dia eu tivesse tido a oportunidade de ter sido sabatinada por esse mestre acho que desabaria desmaiada aos pés dele. Ridículo, mas verdadeiro.
Daí porque decidi nunca agir com firmeza excessiva em relação aos meus alunos. Não quis adotar essa retaliação para não deixá-los exasperados. Creio que a idéia de nunca esquecer como é estar no lugar do aluno fez bem ao meu processo educativo. Mesmo diante de minha pouca experiência tirei minhas próprias conclusões. Aprendi com isso. Sem esquecer de como é gratificante ler o reconhecimento nos olhos de quem nos ouve.
Diante disso, concluí nesse processo, que todo professor não deve entrar em sala sem ter preparado sua aula. Essa é a regra primordial. O resto a gente aprende com o tempo, mas é sempre útil imaginar e supor como será a aula que preparamos e manter os pés no chão. Incentivar a aprender pelo prazer de aprender e não pela obrigação.
Enfim, posso dizer que embora nem tudo sejam flores, amo meu trabalho, sou apaixonada pela minha profissão. Dedico-me. E afirmo: continuo aprendendo, afinal tudo na vida é um aprendizado.
Claude Bloc