As velhas moendas estão virando sucata na bagaceira dos engenhos. Outras estão sendo vendidas para outros Estados para fabricação de cachaça e álcool. Recentemente, o proprietário do Engenho Padre Cícero, Antônio Sampaio, vendeu para o Estado de Sergipe, por R$ 10 mil, um centenário engenho que funcionava no Sítio Venha Ver, a quatro quilômetros de Barbalha.
Hoje, o quilo da rapadura está sendo vendido a R$ 0,80 centavos. A batida, temperada com erva-doce e cravo da índia custa R$ 1,00 o quilo. Os maiores consumidores são os romeiros do Padre Cícero. "É possível que sobreviva um ou dois engenhos para atender a este mercado formado por saudosistas", vaticina Antônio.
O rosário de lamentações é puxado também pelo proprietário do Engenho Santo Antônio, Antônio de Pedro, que também está colocando o gado para pastar dentro das canas. Antônio garante que este é o último ano de moagem. "Estou acabando com uma tradição que foi herdada do meu avô", complementa ele.
Na área dos engenhos estão sendo construídos condomínios, casas de veraneio, pistas de vaquejadas e postos de combustíveis. Antônio de Pedro conta nos dedos os últimos remanescentes de uma aristocracia rural que dominou o Cariri desde sua colonização.
Destilaria de álcool
Depois do processo de sucateamento do setor, agravado com o fechamento da Usina Manoel Costa Filho de Barbalha, o governo do Estado pretende, agora, reerguer a atividade sucroalcooleira no Ceará, mais especificamente na Região do Cariri. O secretário de Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana, já anunciou que o governo busca atrair investidores para instalação de destilaria de álcool na região do Cariri.
"No entanto, pelo andar da carruagem, o projeto vai chegar atrasado", diz o industrial Rommel Bezerra, proprietário de uma destilaria de cachaça no Crato, lembrando que a cada ano diminui a área plantada de cana na região. Já foram ocupados 10 mil hectares, produzindo 500 mil toneladas. Hoje, são apenas mil hectares, gerando 50 mil toneladas do produto. Rommel destaca que o governo vai começar pelo plantio de uma variedade que se adapte às terras e ao clima da região caririense.
A pretensão de recuperar o setor canavieiro já havia sido levantada pelo governo anterior, quando lançou o Programa Renovacana Cariri. A meta era, em cinco anos, elevar em 260% a produção de cana-de-açúcar no Estado, de onde se destilaria o álcool. Entretanto, apesar de gerar um aumento na quantidade de hectares cultivados, a revitalização esperada do parque industrial ainda não foi alcançada. " (TV Canal 13)
*Até os anos 70, quando morei no Crato, existiam vários engenhos de cana-de-açúcar. Quando retornei em 2000, já não havia nenhum. Um dos prazeres de todas as famílias urbanas era passar férias, feriados , ou passear , num sítio, em tempos de moagem. Aqui tinha até a feira da rapadura. Ela não faltava nas nossas casas , inclusive a batida, e eram ainda processadas pelas donas de casa. Em qualquer dia, a minha mãe transformava a rapadura em mel, e o mel em alfinim. Eu adorava puxar o alfinim. Comia que enjoava. Nas visitas aos engenhos , a gente se lambuzava de tanta garapa e mel, e ainda levava pra casa, aos baldes. Gostava do cheiro, e da fartura. Um dos tais que frequentávamos, como passeio e programa dos mais animados, ficava nas imediações do Lameiro. Tinha ainda como alternativa o engenho de Seu Nemésio ( amigo do meu pai) .
E como se não bastasse, comprávamos a cana na porta de casa , e ela era descascada por meu avô ou pai . Depois de rolada , iam dostribuindo entre a meninada. Até nas praças, Exposição, festa de Padroeira o rolete de cana era a nossa pedida maior.
Engenhos de cana-de-açúcar era uma paisagem natural do Crato , e do Cariri, e de todas as localidades do país.O algodão também sumiu ; as casas de farinha perderam o caráter festivo e produtivo... Tudo mudou, passou !
Hoje estive passeando nas ruas do Crato com uma amiga de infância, que mora noutra localidade, e comentávamos : é surpreendente o quanto Crato, Juazeiro e Barbalha cresceram ,nos últimos anos, e assumiram outra personalidade física.Nem vou salientar que o Juazeiro disparou em tudo, e que Barbalha mantém os seus casarinhos... nem precisa ! Mas , no geral, a nossa região tão progressista , precisa ainda, e muito, melhorar , na sua qualidade de vida. Pensamos até num mutirão pra lavar a Praça da Sé com sabão. A gente sonha com uma cidade mais linda, mais alinhada , e com um povo mais amoroso, no sentido de mantê-la limpa e bonita. Sonhamos com a melhoria da infra-estrutura turística; a preservação do ecossistema, na sua valorização e consciência maior por parte dos seus habitantes. Mas, como não sou política,( sou apenas cidadã comum) confio num programa específico, administrativo.Que ele chegue no papel e na ação, e conte com o apoio do seu povo .Que todos se envolvam , pela melhoria da nossa comunidade. Como fazê-lo é outra questão. Vale a discussão, e as suas diversas formas de manifestação.
Ora, ora... Eu só queria lembrar a magia dos engenhos de cana , desaparecidos por inúmeros motivos. Imagens , fazem parte do passado...!
Socorro Moreira