Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Cantinflas
Henry Fonda
Thomas Mann
Cecil B DeMille
Cecil Blount DeMille (Ashfield, 12 de agosto de 1881- 21 de janeiro de 1959) foi um cineasta americano, um dos 36 fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Clara Nunes
Poemas de Miguel Torga
Miguel Torga
Colaboração de CAIO MARCELO
COMPOSITORES DO BRASIL
Nossa homenagem aos 100 anos de
HAROLDO LOBO
Por Zé Nilton
“Depois das aulas, no bonde, no ponto de ônibus ou no bate-papo das confeitarias, as alunas do Instituto de Educação chegam a comentar o interesse com que aquele estranho vem acompanhando a conversa. Os olhos do homem de traços mongóis e terno banco de linho parecem duas câmaras a registrar todos os movimentos das futuras professorinhas. Ele não perde uma palavra sequer, muitas mocinhas até se afastam, para ficar longe daquele intrometido.
Dentro do ônibus, às vezes, ele finge indiferença, mas quem se preocupar mais com seus gestos verá que discretamente ele faz anotações, escrevendo frases inteiras ou rabiscando apenas algumas palavras. Seus dedos batem com ritmo num ponto qualquer do banco da frente ou na palma da outra mão, enquanto um leve movimento nos lábios denunciam que ele está solfejando alguma música. E os olhos asiáticos de repente ganham um brilho especial: ele acaba de fazer alguma descoberta”. (Nova História da Música Popular Brasileira. Abril Cultural, 1977).
De descoberta em descoberta, entendamos, de música em música, Haroldo Lobo ((Rio de Janeiro, 22 de julho de 1910 - Rio de Janeiro, 20 de julho de 1965) é um compositor brasileiro dos mais produtivos da Música Popular Brasileira principalmente em músicas de carnaval.
Até meados de 1960, a indústria fonográfica brasileira trabalhava com duas frentes comerciais: a música de carnaval e a música de meio de ano. Em tempos mais recuados os maiores investimentos corriam para o filão carnavalesco. Reparem nas chanchadas da Atlântica como a empresa do carnaval fazia girar a fortuna no mundo artístico e cultural.
Haroldo Lobo, com 80 por cento de suas músicas registradas em parceria com o excelente Milton de Oliveira, fez de tudo em se falando de composição. Diria mesmo todos os ritmos. E gostava de usar os animais da fauna ou suas onomatopéias em suas músicas, coisa inusitada no cancioneiro brasileiro.
Remetemos o leitor para os sites sobre o assunto caso queira saber mais desse mostro sagrado de nossa canção. Dê um presente ao grande compositor pelos seus 100 anos de nascimento. Ouça-o.
Pode ocorrer que ao ouvir amanhã no Compositores do Brasil algumas de suas composições sendo a maioria em ritmo de carnaval, talvez alguém interrogue:
- Música de carnaval a essa hora ? E ainda mais das antigas ? Direi:
- Sim, e porque não? Os defensores da cultura de mass media não absolutizaram o ritmo forró (muito embora o produto não o traduza) como hits de todos os momentos? Então lá vai nossa vingança. Ouviremos:
O PASSARINHO DO RELÓGIO, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira com Aracy de Almeida;
ALLAH-LA-Ô, de Haroldo Lobo e Nássara Carlos Galhardo ;
ALÔ, PANDEIRO, (Não é economia), de Haroldo Lobo e Wilson Batista com Jorge Goulart;
CABO LAURINDO, de Haroldo Lobo e Wilson Batista com Jorge Veiga e Cyro Monteiro;
GUIOMAR, de Haroldo Lobo e Wilson Batista com Joel e Gaúcho;
PRA SEU GOVERNO, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira com Gilberto Milfont;
EMÍLIA, de Haroldo Lobo e Wilson Batista com vassourinha;
TRISTEZA, de Haroldo Lobo e Niltinho, com Jair Rodrigues
MARGARIDA, de Haroldo Lobo e Wilson Batista com Quatro Ases e um Coringa;
E O 56 NÃO VEIO, de Haroldo Lobo e Wilson Batista com Deo e o conjunto de Zé Menezes;
JURO, Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, J.B. de Carvalho e conjunto Tupí
COMO SE FAZ UMA CUÍCA, de Haroldo Lobo e Wilson Batista com Anjos do Inferno;
A COROA DO REI, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira com Dircinha Batista.
Quem ouvir verá!
COMPOSITORES DO BRASIL
Rádio Educadora do Cariri – 1020 (www.blogdocrato.blogspot.com)
Quintas-feiras, de 14 às 15 horas
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Foto histórica !
Vida itinerante de uma bancária (IV)- por Socorro Moreira
Estoril - recanto dos boêmios |
Vista da Pça do Carmo, nos anos 70 |
Cristiano Câmera, meu guru ! |
Amor Declarado - por Eduardo Lara Resende
Em qualquer lugar onde fosse possível escrever usando lápis, caneta, giz, carvão ou a ponta dos dedos, a Humanidade haveria de saber do amor eterno de Priscila por Ricardo. Pri ama Cacado - era o aviso, o recado de esperança aos corações velhos dessa multidão de coroas que tem espalhada pelo mundo. Todos descrentes do amor que sorri, acarinha, acompanha nos programas de fim de semana.
Cacado era mais que o colega de escola: era o amigo, o irmão, o confidente, o.... Melhor não especular, tentar enxergar um futuro que a sonhadora Priscila não conseguia ver muito além de sucesso, felicidade, alegria, compras no shopping e, claro, o Cacado. O vapor da água quente do chuveiro embaçava o espelho do banheiro? Lá aparecia logo um Pri ama Cacado e, abaixo, um coraçãozinho bem desenhado. Carro com poeira ou lama seca em seu caminho? Cimento fresco na calçada? O quadro na sala de aula limpo e sem ninguém por perto, na hora do recreio? Pri ama Cacado.
Tudo isso pelo lado dela, que nem ligava pelo fato de Ricardo não estar tão presente como gostaria - tão próximo, tão amigo, tão irmão, tão confidente. Duas ou três vezes tinham ido ao cinema, outras tantas a festas de aniversário da turma, onde Priscila aproveitara para deixar em guardanapos, blocos de anotações da casa e até em um imã de geladeira, a marca de sua paixão.
Mas tudo começou a mudar no dia em que Priscila surpreendeu a turma rindo dela na sala de aula. Dela e do que deixara escrito no quadro, antes do recreio. Confusa, só caiu em si quando lhe explicaram que a frase 'Pri ama Cacado' compreendia um cacófato - amacacado, com jeito de macaco. Qual palavra seria mais ridícula - cacófato ou amacacado? Priscila então resolveu mudar. Treinou a tarde toda nas folhas de seu fichário escolar: Priscila ama Ricardo, Pri ama Ricardo, Pri ama Ric...Nada bom, tudo muito certinho. Parecia coisa de apaixonado velho e bobo. Foi quando ouviu da apresentadora na TV que era preciso "que nós mulheres nos amemos, nos gostemos". Uma exortação definitiva ao amor universal, sempre nas mãos e nos corações das mulheres.
A revelação coincidiu com a descoberta de que Ricardo já estava em outra, atrás de uma garota horrível, sem graça, cujo nome ela nem queria saber. Nem assim, pensou, desistiria de seus recados. Ela se amava, como havia recomendado a apresentadora. Além disso, era verdade que o Cacado ainda mexia com ela, mas pra que deixar que ele e os outros percebessem?
No dia seguinte – um novo dia para uma nova mulher – a frase apareceu bem desenhada no espelho do banheiro:
“Eu amo a gente”.
O último voo - por Eduardo Lara Resende
Oraci só tinha de seu o riso constante. Ria sem saber de felicidade ou infelicidade. Riso de poucos dentes e de olhar cheio de dor, que ele não sentia. Como sentia a vida por trás da grade da janela. Dali Oraci via o mundo coberto de grama verde. Tinha árvores, flores e uma centena de pássaros.
Uma centena de pássaros... Oraci não sabia contar. Nunca soube. Mas para ele, cem era número enorme. Cem dias, cem anos, cem pessoas visitando os hóspedes da Casa nos fins de semana... Uma multidão. Mas era para aqueles cem pássaros que Oraci tinha olhos que brilhavam e sorrisos que fazia chegar à ponta dos dedos - o braço estendido para fora da grade, querendo pegar o mundo.
Oraci também não tinha idéias. Aliás, tinha uma idéia-vontade, idéia-sonho: queria voar como aqueles pássaros. Voar como eles e com eles. Voar sorrindo, rindo muito. Gargalhando. Isso devia ter um nome, mas Oraci não sabia de nomes. Só sabia de pássaros, de sorrisos e da vontade de voar.
De tanto ver os cem pássaros, Oraci um dia descobriu que tinha asas. Só não tinha liberdade. Trocou então o riso por gestos que fazia pela janela. Estendia a mão, franzia a testa. Pedia aos pássaros que o esperassem.
E como quem quer voar sempre conta com o socorro de mãos invisíveis, em determinado amanhecer Oraci achou destrancada a porta do quarto. Justo na hora em que os cem pássaros apareciam no mundo. O homem então saiu pelo corredor. Tinha pressa, os pássaros haviam sinalizado que logo partiriam em migração.
À beira do precipício Oraci sorriu e sacudiu as asas.
Deu um salto, e então voou.