Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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domingo, 24 de outubro de 2010

Johann strauss ( filho)


Johann Strauss, dito II (nascido Johann Baptist Strauss ou Johann Sebastian Strauß; Viena, 25 de Outubro de 1825 — Viena, 3 de Junho de 1899) foi um grande compositor austríaco da Era Romântica famoso por ter escrito mais de 500 valsas, polkas, marchas, e quadrilhas. Filho de Johann Strauss I, e irmão dos compositores Josef Strauss e Eduard Strauss. Conhecido como "O Rei da Valsa", foi responsável pela popularidade da valsa em Viena durante o século XIX. Algumas das mais famosas obras incluem The Blue Danube (O Danúbio Azul), Wein Weib und Gesang, Tales from the Vienna Woods, Tritsch-Tratsch-Polka, o Kaiser-Walzer, e da opereta Die Fledermaus (O Morcego).

Georges Bizet



Georges Alexandre César Léopold Bizet (Paris, 25 de outubro de 1838 - Bougival, 3 de junho de 1875) foi um compositor francês da época do romantismo. Suas obras mais conhecidas são as óperas Carmen e Les pêcheurs de perles ("Os pescadores de pérolas").

Pablo Picasso


Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, ou simplesmente Pablo Picasso (Málaga, 25 de outubro de 1881 — Mougins, 8 de abril de 1973), foi um pintor, escultor e desenhista espanhol, tendo também desenvolvido a poesia.

Foi reconhecidamente um dos mestres da arte do século XX. É considerado um dos artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo, tendo criado milhares de trabalhos, não somente pinturas, mas também esculturas e cerâmica, usando, enfim, todos os tipos de materiais. Ele também é conhecido como sendo o co-fundador do Cubismo, junto com Georges Braque.

Nós e o mar - Roberto Menescal






Nós e o mar
Roberto Menescal
Composição: (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli)

Lá se vai mais um dia assim
E a vontade que não tenha fim
Esse sol
E viver, ver chegar ao fim
Essa onda que cresceu morreu
A seus pés

E olhar
Pro céu que é tão bonito
E olhar
Pra esse olhar perdido nesse mar azul
Uma onda nasceu
Calma desceu sorrindo
Lá vem vindo

Lá se vai mais um dia assim
Nossa praia que não tem mais fim
Acabou
Vai subindo uma lua assim
E a camélia que flutua nua no céu

Eu sou fã de Roberto MENESCAL !



Roberto Batalha Menescal (Vitória, 25 de outubro de 1937) é um músico brasileiro. Foi um dos fundadores do movimento bossa nova.

Participava das reuniões no apartamento da cantora Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana, onde o movimento começou. Menescal é um dos mais importantes compositores, ao lado de Tom Jobim, Carlos Lyra, Vinícius de Moraes. Criou canções que hoje são consideradas hinos do movimento e da própria música popular, como O barquinho, Você, Nós e o mar, Ah se eu pudesse, Rio, entre outras. Ronaldo Bôscoli é um de seus parceiros mais constantes.

Suas canções quase sempre apresentam o mar como temática.

Como músico, acompanhou em shows e gravações, Nara Leão, Wanda Sá, Sylvia Telles, Lúcio Alves, Maysa, Aracy de Almeida, Dorival Caymmi, Elis Regina, entre outros.

Tocou ao lados dos músicos Luiz Eça, Luiz Carlos Vinhas, Bebeto Castilho, Hélcio Milito, Eumir Deodato, Ugo Marotta, Sergio Barrozo, Oscar Castro Neves, João Palma, Edison Machado, Wilson das Neves, Antônio Adolfo, Hermes Contesini, José Roberto Bertrami, João Donato e tantos outros.
weikipédia

A liberdade das raposas no galinheiro - José do Vale Pinheiro Feitosa

Esta semana que se encerra uma notícia frequentou este blog. Se tratava de uma lei de autoria de uma deputada do PT que criaria um conselho de comunicação social e fora para sanção do governador. O blog apenas repercutiu o debate em Fortaleza. Mas isso rodou a internet como mote da atual campanha eleitoral, qual seja a da liberdade de imprensa. Pelo que recebi por e-mail hoje o nascedouro da lei tinha sido no poder executivo do Estado e ela fora vetada. Então eu respondi a quem me mandou o e-mail nestes termos:

Caro amigo,

Você vai achar que é provocação, mas não é. A respeito do debate sobre censura à imprensa ou à liberdade de expressão. Como é do teu conhecimento teve aquele episódio da Maria Rita Kehl no Estadão que mostrou uma tremenda contradição à linha de defesa da liberdade do jornal, que em editorial, muito melhor que outros, mostrou que tem lado nesta campanha. Isso é correto, como fez o Mino Carta. Mas aconteceu. Depois o PSDB denunciou a Revista do Brasil ao TSE e este apreendeu a tiragem inteira que é de 360 mil exemplares e proibiu sua leitura on line.

Não me pergunte o que motivou ou se tinha razões para assim proceder. Não por que o argumento da liberdade de expressão não é relativo. Não pode ser por que a revista foi financiada pela Cult ou o Estadão pelo sistema financeiro, ou para melhor comparação pela FIESP. O tema tem que se encontrar na raiz. E na raiz, aparentemente, a Revista não fez mais ou menos do que fazem a Veja, o Estadão e a Folha de São Paulo. Convenhamos, o TSE censurar uma revista para um público específico e financiada por setores de trabalhadores e classe média é mais fácil do que censurar empresas. Nisso reside este discurso contraditório da censura nos dias atuais.

Além do mais não teve nenhuma manifestação de defesa da revista por parte Associação Nacional dos Jornais (ANJ), cujo presidente é Judith Brito, funcionária do grupo Folha e que em abril deste ano disse que a imprensa iria fazer o papel da oposição. Então entramos no campo do cinismo do mais forte: abrem o bico longo para condenar o que fazem os países mais adiantados, mas se calam num caso deste.

Em outras palavras, pedi uma troca de opiniões com você pois vejo aí a única opção de ter uma racionalidade. Estas gritas de interesses cruzados terminam se anulando e a sociedade é que perde. Não vou defender aqui especificamente qualquer meio de comunicação, mas acho por bem discutir a liberdade de expressão, ampla e geral. Falta o irrestrito para completar a frase do tempo da ditadura: neste caso o irrestrito não pode ser da raposa no galinheiro. Tem de haver a proteção das aves e que não são as “galinhas verdes” que costumam ocupar o centro do debate.

Abraços

José do Vale

"UMA APRENDIZ DE PINTORA AOS 86 ANOS"



















Acordei cedo nesse domingo nublado. Chove desde ontem, a chuva do Cajú como frisou Emerson Monteiro. Molhou ai no Crato e amenizou um pouco o calor que rondava a velha "Mauricéia Desvairada" (o Recife). Um silêncio inusitado na minha rua, talvez pra combinar com a atmosfera de preguiça geral. Passando pelo corredor me deparo com os quadros pintados por minha mãe. Detenho-me nos traços firmes de suas pinceladas de aluna dedicada em seus 86 anos de vida. Mãos que nos afagaram, acalentaram e que vez ou outra brandia uma chinela em merecidos corretivos. Na verdade sobrava sempre para meu irmão Ricardo que sempre foi um raio nas “prezepadas”. Eu só levei uma, o resto corria em volta da mesa e ela não me alcançava. As minhas irmãs eram de uma doçura só, como o são até hoje as meninas daquela época: educadas com esmero. Rua José Carvalho de tantos amigos, brincadeiras mil (peteca, amarelinha, mata-mata, pião, triângulo, etc) e namoricos, flertes, quadrilha no São João, a banda do mestre Azul, o Cine Moderno pertinho de nós. “Old Good Time” disse o Beatle Paul McCartney”. Mas permitam-me retornar ao assunto porque falar sobre esse período de nossas vidas dá um livro de bom tamanho e que já iniciei escrever, Eu tenho a impressão que os Duarte e os Monteiros, as bandas familiares combinaram Genes muito peculiares no que diz respeito à saúde e aparência física. Eu me espanto com minha mãe. Inevitavelmente sou levado a fazer comparações com pessoas da mesma idade e até mais jovens e que não apresentam a força, a saúde, a lucidez e a disposição assim como ela. Gosta de viajar, de festas. Às vezes fico observando ela sentada a tarde lendo a Veja, o Jornal do Commercio ou um bom romance, quando não, palavras cruzadas. Mas sobre a sua produção (singelas evidente) na arte do pincel, encontram-se a maioria nas galerias da “família”, em Crato, Juazeiro, Recife, Brasília, Potengi, Petrolina, Fortaleza, quer dizer, uma “pintora” quase nacional, porque artista mesmo só a tia Telma e Edilma Saraiva. Por coincidência a tia Telma e a minha mãe têm uma amizade antiga, foram inclusive colegas de colégio. As duas são jovens senhoras com a diferença de consagrações. A Telma de reconhecido talento nacional e internacional, minha mãe, a “consagração familiar”.



Nilo Sérgio Monteiro

RENASCENDO COM AS CHUVAS DE VERÃO - Por Edilma Rocha

Lhe encontrei entre plumas
tentando dormir...
Seus olhos perdidos
e embriagados
sob efeito das drogas
do sono.

No interior do quarto
o frio tremia nas cobertas
e a dor batia forte
no peito.

Uma TV chiando
sem expectador algum...
Na tela do computador
as caretas assistiam
a fuga do poeta.

Lá fora os pingos fortes
da chuva de verão
batiam na vidraça
cobertas por cerradas
cortinas azuis.

Batiam fazendo
um convite para acordar
e renascer para a vida
entre flores
das mangueiras
e chuvas de verão.

ENTREVISTA-DORES

João Nicodemos

Os programas de entrevistas a que temos acesso pelos canais de TV seguem modelos já consagrados nas emissoras internacionais. São os chamados Talking Show, como os programas apresentados por Jô Soares e Marília Gabriela. Não tenho o hábito de assisti-los e quase não vejo TV, mas vez por outra presto atenção e, conforme percebo, a ânsia de comentar e demonstrar conhecimento sobre os assuntos apresentados, às vezes transformam os programas em debates de opiniões onde sempre vence o (a) entrevistador (a) “donos do campo e da bola”. Muito comum tratar um assunto sério como motivo de piadas pelo simples fato de não ser do interesse ou conhecimento dos entrevistadores, deixando grande parte da audiência desinformada ou inconformada com a condução do assunto, muitas vezes de interesse público.

Dia desses, numa entrevista com eminente psiquiatra onde eram tratados assuntos como saúde mental, violência e afins, o tema recorrente das drogas surgiu (neste ponto, muitos leitores e telespectadores “mudam de assunto”), e diante da pergunta “o que é que tem por trás de um simples baseado?” ficamos sem ouvir a resposta. A perguntadora atropelou a com um comentário pessoal e deixou os expectadores na expectativa. Mas isso me levou a continuar examinando este assunto, e procurar respostas para a tal pergunta: O que é que tem por trás de um simples baseado? (que pra quem não sabe é um cigarro de maconha). Cheguei a algumas possibilidades de resposta e passo a enumerá-las:

· Plantações ilegais da droga, trabalho semi-escravo e mortes;

· Tráfico e guerras de traficantes, balas perdidas (muitas vezes “encontradas” em inocentes);

· Crianças aliciadas para o consumo e o tráfico;

· Famílias desfeitas por mortes, prisões e violência doméstica;

· Corrupção para permitir todo o processo desde o cultivo até o consumo da droga;

· Jovens que perdem as oportunidades de estudo e trabalho.

· Doenças mentais que surgem devido ao uso constante da droga;

· Jovens desperdiçando os melhores anos de suas vidas, sua energia e inteligência;

· Permissividade da Sociedade, do Estado e da Família, por ignorância e conivência;

· Possibilidade de abrir o caminho para drogas mais perigosas e para o crime;

· Drogas que financiam o crime organizado e, em casos extremos chegam a substituir o Estado (de direito) determinando territórios e ditando leis próprias, espalhando o terror e cobrando por proteção;

· Associação do tráfico de drogas, com o tráfico internacional de escravos (para a prostituição), pedofilia;

· Criação de milícias que se colocam acima da Lei praticando todo tipo de crimes;

É possível enumerar tantos efeitos maléficos que fico assustado de pensar que algumas pessoas (do bem) ainda considerem “inofensivo um simples baseado”. Conheço inúmeros casos de pessoas que jogaram e jogam suas vidas no vazio subjugadas pelo vício, que começara com um hábito “inocente” de fumar só nos finais de semana, ou só “pra relaxar”.

Basta recorrer ao dicionário para se ter uma idéia de alguns dos significados de “relaxar”:

1.Tornar frouxo ou lasso; afrouxar.2.Moderar, abrandar.3.Corromper, depravar. 4.Debilitar, enfraquecer.5.Distender, descontrair.
Verbo intransitivo .6.Afrouxar, entibiar.7.Tornar-se menos tenso (2).Verbo pronominal. 8.Perder a força ou o vigor.9.Desmazelar-se.
(mini Dicionário Aurélio, versão digital).

A idade da inocência, dizem os psicólogos, termina aos oito anos. Jean Paul Sartre, filósofo francês, escreveu uma trilogia onde um dos títulos é IDADE DA RAZÃO. Já pensei em escrever sobre a idade da Ilusão, que, no meu entendimento, situa-se entre a adolescência e os vinte e poucos anos (mas pode prolongar-se por longo tempo) e, finalmente, a idade da Desilusão, onde me encontro. Desilusão no melhor sentido da palavra,deixar de se iludir ou, recorrendo ao velho amigo “Aurélinho”: (verbo transitivo – Tirar ilusões, ou perdê-las; desenganar(-se). Este é um assunto profundo que pretendo tratar em outro texto, com melhor reflexão.

A Realidade, por mais dura que seja, é melhor que qualquer lapso de ilusão. É o que quero ver, sentir e perceber. E o que desejo a todos.

Por onde andam seus sonhos? (II)
- Claude Bloc -

Por onde andam seus sonhos? Lá estava impertinentemente a pergunta. Apressei o passo. Fechei os olhos. Fingi que não era comigo. Sentei-me rapidamente tentando me concentrar e digitei o mais rápido que pude, procurando inutilmente me desvencilhar da questão, mas não consegui. Estava na minha cabeça, no papel onde fiz uns rabiscos, na tela do monitor, em todos os lugares para onde olhava, me deixando meio tonta.

Parei por um momento e depois me engalfinhei com aquela interrogação insistente. Revirei com cuidado a caixa de papelão das memórias e não me veio nem um simples sonho, nem mesmo daqueles que a gente imagina quando criança “quando crescer quero encontrar …” Nenhum mesmo! Nada. Nem daqueles em que a gente costuma lembrar as brincadeiras na rua, em casa, quando a gente pensa nos colegas da escola, nada! Nem mesmo das brigas homéricas com os irmãos mais novos atalhando o espaço para sonhar futuros improváveis.

Revirando a caixa mais um pouco, dei de cara meus antigos óculos de armação em madrepérola, lentes de uma adolescente tímida que, finalmente, descobria o mundo. Ainda consegui ouvir bem de longe as vozes dos intrépidos seresteiros que se “arriscavam” cantando na Irineu Pinheiro. E os suspiros ingênuos daquela menina acanhada que se esgueirava pelas venezianas para ouvir a música que entrava em sua casa pelo labirinto da fantasia – sim porque sonho, projeto, coisa séria é outra história – e o meu sonho nessa época se perdia por entre vocais apaixonados e melodiosos violões, belos filmes, romances. Tudo muito bem fantasiado e nada feito.
.
Soterrados bem no fundo da caixa, embaixo de uma pilha de lembranças mal digitadas e pobremente redigidas, estavam alguns dos meus velhos sonhos, uns já bem amarrotados, por isso, abri mão de mergulhar mais fundo com medo de arriscar encontrar alguma esperança embaraçada nos meus, digamos, sonhos.

Ainda bem, pois admito muitas vezes minha mediocridade, com toda modéstia. Admito também que choro outras tantas vezes sobre os sonhos derramados. Mas mesmo que a você muitas vezes eu pareça triste posso afirmar que sou apenas uma mulher que ainda tem sonhos guardados, sonhos travessos e não revelados. Sonhos preservados com cuidado.

E você... Por onde andam seus sonhos?


Claude Bloc

BEIJOS


BEIJOS


Beije,

Não tenhas medo!

Solte os laços que impedem

Que o teu desejo se cumpra.

Deixe-se cair na vertiginosa sensação

Do hiperespaço

Que te levará ao infinito.

Beije!

Sinta transmutar-se na metafísica dos corpos

Que se enlaçam na eterna dança

De dizer SIM ao amor.


Nilo Sérgio

A SAÍDA


A SAÍDA


Procuro a

porta da saída que o poeta disse existir!

Minha barba mal feita no rosto desfeito

A velha navalha jogada sobre a mesa.

Lágrimas antigas enferrujaram a mascara de ferro

Da minha dor.

Procurei uma porta e nunca encontrei poeta!

Apenas o monótono caminhar para o desconhecido.

Não sei se entro no ocaso para amar o transitório

Ou ame o transitório

Para entrar no ocaso.


Nilo Sérgio

"O VAQUEIRO "



Cearense...

Cara enrugada

Pensativa, nostálgica.

Gosto da terra na boca

Mãos molhadas de suor

E a fé no “padim ciço”.

Mãos calejadas, terço na mão, cantigas e orações.

Mãos de aço de vaqueiro valente

Olhos profundos negros como a noite

Cara curtida, retalhada a ferro e espinhos.

Do alto do seu cavalo,

Na sua armadura de couro

Descansa seu olhar de prata

Sobre a caatinga que domou.


Nilo Sérgio

Biblioteca de Fernando Pessoa está acessível na internet.

Poetas, seresteiros, namorados correi....

É chegada a hora. A biblioteca digital de Fernando Pessoa está ao seu alcance.

O caminho é este:  http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2233

Por Rubem Alves- Colaboração de Ismênia Maia


GANHEI CORAGEM

Rubem Alves

... colunista da Folha de S. Paulo ...

mesmo que o mais corajoso entre nós só raramente
tem coragem para aquilo que ele realmente conhece",
observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe
acerca da hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente.
Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus
como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar:

a democracia é o governo do povo.
Não sei se foi bom negócio;
o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável,
é de uma imensa mediocridade.
Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo
como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha
para que o povo, na planície,
se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso
que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição.
Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias
pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário
pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa
numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado.
O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros,
porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces;
a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola
com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos
sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões,
se transformaram em donos do circo.

O circo cristão era diferente:
judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa,
se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro
"O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo,
a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos que, isoladamente,
são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
se incorporados a um grupo tornam-se capazes
dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos,
são capazes de pôr fogo num índio adormecido
e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,
segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo
é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens
e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista
que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam
a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung,
o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular.
O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche,
de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock,
não gosto de música sertaneja,
não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo,
eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos
e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno",
à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça,
é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves

Blogs sob ataques

Um novo tipo de censura feroz planta raizes na internet. Até pela relativa fragilidade do meio. Blogs estão sendo sabotados desde ontem. Especialmente blogs afinados com a campanha da Dilma: o Viomundo do Luis Carlos Azenha e o Escrivinhador do Rodrigo Vianna.

Além de ser um crime de invasão do meio privado é um crime político pois procura calar uma das vozes em disputa. Ninguém de bom senso em qualquer das duas campanhas ficará calado com esta prática.

Em qualquer circunstância a sabotagem da manifestação é um dano político que atinge os dois lados e interdita o debate da liberdade expressão.

Zé Bolinha leu Quadrinhos - José do Vale Pinheiro Feitosa

João Bolinha era um personagem travesso da revista Sesinho (dedicada ao público infantil pelo SESI). Não era muito diferente do que é Zé Bolinha, igualmente travesso. O que tinha de diferença soma-se pelos acréscimos do Zé. Este com tendência à cara azeda, um tanto macambúzio e com a síndrome do mérito – só ele merece.

As semelhanças são muitas. O João e o Zé são uma juntada de bolinhas ligadas umas às outras por fios. As bolinhas são independentes, apenas se movem por ação do fio que as liga. Por isso mesmo o único movimento coerente dos dois é quando alguém puxa os cordões. Isso não impede que manifestem suas almas de pivete (menino esperto).

A Sesinho era muito querida da geração que hoje passeia entre os 60 e 70 anos. E era uma revista que adotava os quadrinhos. Que eram vistos pelos olhares severos dos adultos letrados como um caminho para a preguiça intelectual. Mas aí Conceição Romão tinha uma livraria, precisava devolver as não vendidas e as editoras queriam apenas as capas, economia de transporte. As horas noturnas de então viram minhas pupilas de olhar sobre elas.

O Sesinho era, também, o nome do personagem principal da revista. Era um menino que respeitava os outros, assim como esses criados por avó. Arrumadinho, limpinho e com a postura de uma soprano no mais extenso de uma ária. Por isso mesmo que existiam os meninos em contraponto a Sesinho na sua turma: Bocão, Nina, Ruivo, João Bolinha e outros.

O Zé Bolinha, um personagem do vasto do Brasil, é notívago e por isso não gosta muito de turma. Também é duro agüentar o Zé. Se joga futebol quer ser o dono da bola. Gosta de provocar os outros, mas quando leva uma espanada, sai correndo para casa chorando, querendo que a mãe olhe dentro dele para examinar o quanto seu orgulho foi ferido.

As revistas em quadrinho são uma invenção, um modo de se movimentar, de inventar personagens e enredos inseparáveis da cultura americana. Falar em nacionalismo neste ramo é quase uma globalização. Os americanos chamavam os quadrinhos de “comics” e sua era de ouro aconteceu entre 1938 e os anos 50. Neste auge nasceram os super-heróis. Até hoje rendem filmes em série a Hollywood.

Zé Bolinha, diferente de João Bolinha que frequentava apenas a turma de Sesinho, deu para se acompanhar de uns personagens “sinistros”. De cara amarrada, com um palavrório de chumbo, idéias de deixar a idade média vermelha de vergonha e tão radical que nem as bulas papais podem tanto.

Pois personagens idênticos aos amigos de Zé Bolinha que acabaram o ouro da era dos quadrinhos. Os acadêmicos ligados à Psicologia e área de comportamento, nos anos 50, abriram as baterias contra o ouro da era e foi criado o Código de Ética dos Quadrinhos, levando à queda no número de leitores.

A turma do Zé Bolinha, com uma longa ficha corrida de censura, pauladas em quem pensa diferente e age do modo não convencional pela convenção deles mesmo, fazem uma cruzada pela liberdade de expressão. Na verdade com uma flor na mão e um porrete na outra. Precisam “limpar” a área para criarem o código de censura do pós-moderno, aquele mesmo do “fim-da-história”.

Se o ouro era americano, não menos importante foi para a nossa inseminação a fabulosa história em quadrinho francesa e, agora, os japoneses nadam de braçada no pedaço. O Brasil abriu alas no ramo através do Tico-Tico no inicio do século XX, imitando uma revista francesa. Lançada numa quarta feira, dia 11 de outubro de 1905, a revista seguia o modelo da revista francesa “La Semaine de Suzette”.

O Zé Bolinha deve ter lido O Tico Tico. Ele é cisne do canto derradeiro, daqueles idos que já queimou muitos anos. A revista passou mais de vinte anos com o mesmo preço. Não existia a moda da inflação. Mas esta tal de inflação é o bicho que rói o sólido das instituições. Assim como as bolinhas provocam uma inflação de ética.

Um dos gênios do desenho da revista foi o cearense, de Fortaleza, Luis Sá que desenhava figuras arredondadas e que se tornaram o “must” dela. São dele: “Réco-Réco”, “Azeitona” e “Bolão’. Ela não teve rival à altura até a década de 30 quando os quadrinhos americanos invadiram a América Latina.

Zé Bolinha deve ter sido aficionado dos Gibis. Que virou um genérico dos quadrinhos, que o Zé, como meizinha, quis patentear como dele, na maior, apagando o nome do verdadeiro pai dos genéricos. Na verdade era uma revista com este nome e do particular virou o geral. Desta época tem a história da Editora Ebal, de Adolfo Aizen. Esta deu muitas alegrias à molecada do tempo de então.
Mas assim como o samba fez a antropofagia da invasão jazzística dos anos 40, o quadrinho brasileiro também tem sua bossa nova. As nossas tiras nos jornais, no estilo charge, são desenvolturas aqui deste povo. E isso não começa no século XX, já vem do XIX com o trabalho pioneiro de Angelo Agostini.

Igualmente é preciso fazer com Zé Bolinha e sua turma. Fazer a antropofagia desta variedade e torná-la mais viva na nossa alma como elemento que cria uma outra linguagem. Nem a de apenas uns ou somente outros.