O Rio está um tanto quente como uma cortina antes da frente fria. Há muito que não vejo os belíssimos dias de maio desta cidade. Os mesmos dias de maio que o poeta chileno Pablo Neruda lembrava no seu livro: Confesso que Vivi. Foi quando tive um longo diálogo com minhas tias pelo Skype.
Elas, felizmente, não leram o Cariricaturas no dia de ontem. Eu teria as orelhas puxadas mesmo no ambiente virtual. Aquilo postado soube por um primo que tem uma memória fotográfica e a tudo assistiu na varanda enquanto costurava uma sela que havia se rasgado. Ele é uma das minhas fontes sobre elas. Vamos à troca de palavras.
- Tia Mundinha, as senhora não considera ter saudade boa coisa para a senhora, não é?
- Mas meu filho quem foi que disse diferente? Tenho tantas saudades das coisas passadas e distantes que me torno mais viva com as coisas diante de mim. Saudade, viu, é peça de ajuste. É capaz de separar os objetos e fatos do mundo conosco dentro.
- Tia Rosinha a senhora não pensa como tia Mundinha, não é verdade?
- É e num é. Eu tenho que viver o agora e saudade é de coisa vivida. Mas não esqueço quando podia mais, lamentar o que deveria e não fiz, ter amor pelo que já não existe. Sempre prometi amor duradouro e quando dura, se ama até aquilo que já não está mais.
- Tia Maria o que a senhora pensa disto tudo?
- Eu não gosto de ficar me lamentando pelas coisas passadas. Nem me preocupo com as mudanças que a vida faz. O que não pode ser modificado de um modo, o será de outro. A sabedoria é achar que este outro existe. O mesmo corpo que foi menina serviu para a adolescência e hoje, como foi outrora, é o mesmo da minha idade. E vou dizer uma coisa, chegar até aqui é um privilégio danado. Ainda estar em companhia das meninas e ter uns sobrinhos queridos como você é tudo que me esforcei por ter. Mesmo quando não se pode, se busca algo parecido.
- Não quero deixar as senhoras perdendo sono, amanhã tudo começa muito cedo, mas me digam uma coisa, bem simples, o que diria para alguém ainda jovem mas que um dia terá as idades das senhoras?
Rosinha foi a primeira a responder – Faça tudo de bom para ter saudade. Ela é a medalha premiada de quem fez coisas tão boas que se busca algo igual, mesmo que no sentimento de privação delas.
Tia Maria veio em seguida – A nossa idade não é diferente da medição da idade em qualquer época da vida. Aniversário é comemoração por ter vivido, mas viver, em qualquer idade, é inventar o que ainda não existe.
E finalmente tia Mundinha – Não tem nada para dizer. Viver, talvez, seja o resumo de antes, de agora e depois.
Elas, felizmente, não leram o Cariricaturas no dia de ontem. Eu teria as orelhas puxadas mesmo no ambiente virtual. Aquilo postado soube por um primo que tem uma memória fotográfica e a tudo assistiu na varanda enquanto costurava uma sela que havia se rasgado. Ele é uma das minhas fontes sobre elas. Vamos à troca de palavras.
- Tia Mundinha, as senhora não considera ter saudade boa coisa para a senhora, não é?
- Mas meu filho quem foi que disse diferente? Tenho tantas saudades das coisas passadas e distantes que me torno mais viva com as coisas diante de mim. Saudade, viu, é peça de ajuste. É capaz de separar os objetos e fatos do mundo conosco dentro.
- Tia Rosinha a senhora não pensa como tia Mundinha, não é verdade?
- É e num é. Eu tenho que viver o agora e saudade é de coisa vivida. Mas não esqueço quando podia mais, lamentar o que deveria e não fiz, ter amor pelo que já não existe. Sempre prometi amor duradouro e quando dura, se ama até aquilo que já não está mais.
- Tia Maria o que a senhora pensa disto tudo?
- Eu não gosto de ficar me lamentando pelas coisas passadas. Nem me preocupo com as mudanças que a vida faz. O que não pode ser modificado de um modo, o será de outro. A sabedoria é achar que este outro existe. O mesmo corpo que foi menina serviu para a adolescência e hoje, como foi outrora, é o mesmo da minha idade. E vou dizer uma coisa, chegar até aqui é um privilégio danado. Ainda estar em companhia das meninas e ter uns sobrinhos queridos como você é tudo que me esforcei por ter. Mesmo quando não se pode, se busca algo parecido.
- Não quero deixar as senhoras perdendo sono, amanhã tudo começa muito cedo, mas me digam uma coisa, bem simples, o que diria para alguém ainda jovem mas que um dia terá as idades das senhoras?
Rosinha foi a primeira a responder – Faça tudo de bom para ter saudade. Ela é a medalha premiada de quem fez coisas tão boas que se busca algo igual, mesmo que no sentimento de privação delas.
Tia Maria veio em seguida – A nossa idade não é diferente da medição da idade em qualquer época da vida. Aniversário é comemoração por ter vivido, mas viver, em qualquer idade, é inventar o que ainda não existe.
E finalmente tia Mundinha – Não tem nada para dizer. Viver, talvez, seja o resumo de antes, de agora e depois.