A alma está farta?
Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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sábado, 27 de novembro de 2010
Idolatria primária - Emerson Monteiro
A realidade mesma, a que merece respeito e ocupação dos sentidos, quantas vezes deixamos de lado, o amor aos filhos, aos pais, ao marido, à mulher, ao próximo, que se tornaram assuntos vulgares, matéria das novelas sucessivas da televisão, reino vasto das emoções enlatadas...
Para onde dirigir a visão, o indivíduo cumpre determinações do mercado de consumo, até em termos de crença, que, para muitos, raia campos de mera credulidade, preenchimento das fichas do invisível a preço do imediatismo.
No entanto a fome de justiça e a fé continuam rasgando as entranhas dos tempos e dos costumes. Aceitar o desconhecido precisa de consciência, pois a dureza do solo cotidiano assim exige. Essa atitude conformista de engolir as pílulas douradas do esquecimento da realidade jamais satisfará o desejo de equilíbrio que nasce com a gente e sobreviverá para sempre nos demais.
Preencher o vazio apenas com farrapos desnecessários anestesia durante algum tempo, contudo a cólica volta mais forte na sensação de inutilidade e perda de mínimas condições de amor. Disso anda cheio o mundo, homens impacientes, angustiados e agressivos, sem responder ao para que viessem e sumiram longe na próxima curva, fora de ao menos oferecer outros meios e exemplos aos que os aguardaram, na solução dos dramas existenciais elementares.
Nesse apetite agoniado de música nova os dentes mastigaram fel de pedra e poeira, disparos sem qualquer nexo revolucionário a não ser a intenção de ferir os céus da boca das feras inexistentes da droga, no padrão oficial da vontade.
Correm pelas ruas ventos de medo na forma dos ídolos vagos de quaisquer significados. Gente complexa, desavisada no estágio das consequências do que querem, e fazem lama onde antes havia ar puro, água limpa e esperança. Isso constrange, revira de dentro as barrigas famintas de outros sonhos que não fossem tão só de desespero e temor.
Os tais batalhões de gente agressiva pelo simples gesto de ferir, vingar o que ninguém sabe quando, embalados na ira dos atores no palco gigantesco das florestas das cidades artificiais produzem massas, batatas estragadas e luas cinzentas, que ainda brilham no espaço desses turnos assustados.
Silenciosas, gerações inteiras fixam os olhos nas imagens de terras estranhas, senhores de cicatrizes e tatuagens escuras, vestes andrajosas, garras afiadas, numa praia deserta e maré de esperas insistentes. Só.
As carcaças de barcos antigos projetam suas sombras no pôr do sol envoltas nas águas verdes que estiram os dedos às várias outras estações perdidas nas praias dos mundos enigmáticos.
Pensamento para o Dia 27/11/2010
“Dos instrumentos utilizados por todos, o corpo com as mãos prontas executa o pensamento que é expresso em palavras. As ações, a obra, o trabalho com os quais a mão do homem está engajada, esses são a fonte de toda a felicidade ou miséria para todos. O homem afirma que está feliz ou que está ansioso ou com medo, ou que está em apuros. Ele atribui a causa dessas condições a qualquer outra pessoa que não ele próprio. Essa crença baseia-se em um fundamento errado. Felicidade e miséria são devidas às suas próprias ações. Se alguém aceita ou rejeita essa verdade, ele terá de sofrer todas as consequências de suas ações. Essa é a lei da natureza.”
Sathya Sai Baba
Convite de Cacá Araújo
ATO DRAMÁTICO CARIRIENSE
PROGRAMAÇÃO PARA SÁBADO, DIA 27.NOV.2010
17h30min - Ônibus Juazeiro do Norte/Crato: BUZU-TEATRO (Livre, 25min)
Comunidade Oitão de Teatro, de Juazeiro do Norte-CE
19h00min - AFRODESCENDÊNCIA (Livre, 30min)
Cia. de Dança Vid'Art - Projeto Nova Vida, de Crato-CE
19h30min - O VELÓRIO SHOW (12 anos, 60min)
Cia. dos Sem, de Juazeiro do Norte-CE
20h30min - Seminário “Teatro
Brasileiro Caririense” / Entrega de Certificados e Outorga do Troféu Juscelino
Leal Lobo Júnior
22h00min - Show de Encerramento: LIFANCO / VALORES CULTURAIS
Uma boneca chamada " PEQUETITA" - Por Rosa Guerrera
Almas que se encontram - Paulo Fuentes
Dizem que para o amor chegar...
Não há dia...
Não há hora...
E nem momento marcado para acontecer.
Ele vem de repente e se instala...
No mais sensível dos nossos órgãos...
O coração.
Começo a acreditar que sim...
Mas percebo também...
Que pelo fato deste momento...
Não ser determinado pelas pessoas...
Quando chega, quase sempre...
Os sintomas são arrebatadores...
Vira tudo às avessas...
E a bagunça feliz se faz instalada.
Quando duas almas se encontram...
O que realça primeiro...
Não é a aparência física...
Mas a semelhança das almas.
Elas se compreendem...
E sentem falta uma da outra....
Se entristecem...
Por não terem se encontrado antes...
Afinal tudo poderia ser tão diferente.
No entanto sabem que o caminho é este...
E que não haverá retorno...
Para as suas pretensões.
É como se elas falassem além das palavras...
Entendessem a tristeza do outro...
A alegria e o desejo...
Mesmo estando em lugares diferentes.
Quando almas afins se entrelaçam...
Passam a sentir saudade uma da outra...
Em um processo contínuo de reaproximação...
Até a consumação.
Almas que se encontram...
Podem sofrer bastante também...
Pois muitas vezes...
Tais encontros acontecem...
Em momentos onde não mais podem extravasar...
Toda a plenitude do amor...
Que carregam, toda a alegria de amar...
E de querer compartilhar a vida com o outro...
Toda a emoção contida...
À espera do encontro final.
Desejam coisas que se tornam quase impossíveis...
Mas que são tão simples de viver...
Como ver o pôr-do-sol...
Ou de caminhar...
Por uma estrada com lindas árvores...
Ver a noite chegar...
Ir ao cinema e comer pipocas...
Rir e brincar...
Brigar às vezes...
Mas fazer as pazes...
Com um jeitinho muito especial.
Amar e amar, muitas vezes...
Sabendo que logo depois...
Poderão estar juntas de novo...
Sem que a despedida se faça presente.
Porém muitas vezes...
Elas se encontram em um tempo...
E em um espaço diferente...
Do que suas realidades possam permitir.
Mas depois que se encontram...
Ficam marcadas ... tatuadas...
E ainda que nunca venham a caminhar...
Para sempre juntas...
Elas jamais conseguirão se separar...
E o mais importante ...
Terão de se encontrar em algum lugar.
Almas que se encontram...
Jamais se sentirão sozinhas...
Porquanto entenderão, por si só...
A infinita necessidade...
Que têm uma da outra para toda a eternidade.
(Paulo Fuentes)
P.S. para Nicodemos - por Socorro Moreira
Carta a um amigo do Sul.
Meu Caro,
Não quis entrar no tema que ocupou a mídia há algum tempo (alguns dias significam muito tempo para a imprensa novidadeira e sua crônica falta de memória) nem acho que minha opinião tenha grande importância, mas vou dizer o que penso sobre uma história que andou circulando.
Não sei se perdi o gosto pela polêmica e, enquanto poeta, prefiro o silêncio ruidoso das contemplações, ou me conformei com a incapacidade humana de superar seus instintos mais baixos, que nos aproximam dos animais. Falo em segunda pessoa do plural, sabendo que muitos não se enquadram e, espero que eu também, nessa categoria de seres que sofrem da síndrome de Narciso, que “acha feio o que não é espelho”, e que rejeita como feio ou errado tudo o que não se pareça consigo mesmo. Levanto algumas hipóteses sobre o tema:
Desde a infância já exercitamos a xenofobia promovendo brigas com os meninos da rua de baixo, com a torcida adversária, com os alunos da outra escola, da outra classe e enfim, com os que consideramos diferentes.
A própria antropologia e suas ramificações, desenvolve suas pesquisas para identificar e classificar o “outro”, os povos exóticos, diferentes, com suas esquisitices de primitivos, e não pelas semelhanças, que nos aproximam.
Existe um comportamento interessante, creio que herdado de alguma cultura religiosa, de estar procurando saber de quem é a “culpa” em qualquer situação ou acontecimento indesejado. Seja em relacionamentos de casal ou que envolvam maior número de pessoas, é comum ouvir ou dizer: “não foi culpa minha”, “é culpa sua”, “precisamos encontrar os culpados”. Em nome disso a humanidade já cometeu incontáveis violências contra si mesmo, para encontrar os culpados, como se a culpa fosse inerente ao ser humano. Assim, Eva foi culpada por ceder à serpente, Adão foi culpado em ceder a Eva e sucessivamente a “culpa sempre é do outro”.
Já morei nos quatro cantos do Brasil (ainda falta uns tantos) e o que mais me admira neste belo país é sua diversidade cultural, seus sotaques, seus variados sabores.
Cada região, que abrange vários Estados, apresenta peculiaridades regionais tão importantes que é impossível classificar de “paraíbas”, de “baianos”, “nortistas” e generalizar jocosamente os brasileiros de origem do Norte ou Nordeste. Morei por dez anos no Ceará e conheço de perto pelo menos cinco estados da região nordeste, morei em Minas Gerais, Matogrosso do Sul, Rio de Janeiro e atualmente moro na Paraíba. Sei do que estou falando e posso dizer que uma das belezas deste país continental é sua diversidade cultural. Diversidade que anda ameaçada pelas redes nacionais de televisão que desrespeitam sistematicamente as peculiaridades regionais e, por vezes, querem interferir até no fuso horário de um lugar. Pretendem impor um “carioquês” como sotaque nacional padronizando comportamentos e opiniões.
Já ouvi algumas vezes, pessoas jovens falando que o Brasil é muito grande e deveria ser dividido. Isso me assusta muito e fico me perguntando que tipo de sentimento move uma idéia tão disparatada? Será que aprendem isso na escola? Será que é nas conversas pela internet?
Este tipo de opinião se deve à falta de conhecimento da grandeza e da beleza deste país que recebe e abriga imigrantes do mundo todo.
Foi muito infeliz o comentário daquela estudante de direito sobre os nordestinos e as eleições. Espero que ela receba a punição prevista em Lei, e ainda sirva de exemplo e reflexão para os demais que por desventura pensem da mesma forma.
Sustento a idéia de que somos, todos os serem humanos, diferentes uns dos outros, não havendo um só idêntico a mim, ou a você, ou a qualquer outro. Somos todos diferentes uns dos outros e, neste caso, somos todos iguais. Nossas diferenças nos tornam iguais... Parece ilógico, mas não é. Então o melhor é reconhecer e respeitar as diferenças, se quisermos viver em paz.
Despedida - Por Marcos Barreto de Melo
Por trás da verde serra
Tudo era despedida
Uma vida que se encerra
E a lágrima dorida
No meu rosto escorria