Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ida Gomes

O universo de Geraldo Vietri





Vietri sempre retratou bem os imigrantes em suas histórias e o governo de Portugal concedeu-lhe uma importante comenda devido à boa imagem que dera a eles em suas tramas.

Depois de “Antonio Maria”, Sergio Cardoso e Aracy Balabanian viajaram pelo Brasil, se apresentando em teatros, animando bailes. A novela teve um remake na TV Manchete, na década de 80, com um ator português de verdade no papel principal, mas fracassou. Foi o próprioVietri que a reescreveu. O segredo do português foi revelado já nos primeiros capítulos, que ele era milionário em Portugal. Este foi um erro.

“Nino, o Italianinho” (69/70), com Juca de Oliveira e Aracy Balabanian, também foi um grande sucesso de Vietri. Trabalham também Miriam Muniz (no papel muito divertido de Dona Santa, uma verdadeira mamma italiana), Marcos Plonka (o judeu Max), Elias Gleiser (Donato), Denis Carvalho (Julinho), Marisa Sanches, Graça Mello, Lucia Melo, Bibi Vogel (Natália), Paulo Figueiredo (Vitor), Uccio Gaetta (Angelo).

A história se passa numa vila – Bixiga. Retrata o dia-a-dia dos moradores de uma rua. Nino havia vindo ao Brasil com quinze anos de idade acompanhado de seu tio Angelo (Uccio Gaetta). Era açougueiro e noivo de Natalia (Bibi Vogel). Ela troca o Nino por um dono de uma joalheria – Renato (Wilson Fragoso). Diz, entre outras ofensas, para o italianinho - “Não aguento mais o seu cheio de carne. Sinto nojo!”. Nino pouco a pouco de aproxima de Bianca (Aracy Balabanian), uma moça coxa. A novela durou um ano. Eram sempre no horário das 19h00.

Vietri acabou formando uma equipe. Em várias novelas vão aparecer os mesmos atores. Ele exigia exclusividade. De vez em quando descobria novos talentos. Gostava de incentivar atores iniciantes.

“Nino” foi a primeira novela brasileira a ser exportada para países da América Latina. Chegou até os Estados Unidos

Vietri fez alguns filmes, utilizando artistas de seu grupo, como “Os Imorais”, que fala sobre homossexualidade, “Senhora” (76) , com Elaine Cristina e Paulo Figueiredo, e também “Tiradentes, o Mártir da Independência”, com Adriano Reis

“A Fábrica” (71/72), com quase os mesmos atores de “Nino”, acrescentando Lima Duarte (Pepê) e o cantor Gilbert. Juca de Oliveira e Aracy Balabanian, desta vez, não ficam juntos no final.

Vitoria Bonelli (72/73), com Berta Zemel. Jaime Bonelli (Raul Cortez), um milionário endividado, morre no primeiro capítulo. Perdem tudo, Vitoria junto com seus filhos, que tem nomes de apóstolos: Tiago (Tony Ramos), Lucas (Flaminio Favero, abandonou a carreira artística alguns anos depois, atualmente é dono de um restaurante), Mateus (Carlos Alberto Ricelli) e Veronica (Anamaria Dias, atualmente é diretora e produtora de teatro), acabam montando uma cantina – Cantina Bonelli.

Trabalham também: Yara Lins, Etti Fraser, Dina Lisboa, Rutnéia de Morais, Graça Melo, Carmen Monegal  e Paulo Figueiredo.

Vietri deu o papel a Berta Zemel porque a personagem Vitoria foi baseada nela mesma – uma mulher forte, corajosa, que é capaz de tudo para defender sua família.

Aos poucos Tony Ramos e outros vão se firmando como grandes atores.

“Meu Rio Português” (75), atores principais: Jonas Melo e Márcia Maria. Uma nova homenagem ao povo lusitano.

“Os Apóstolos de Judas” (76), novamente com Jonas Melo e Márcia Maria nos papéis principais. Vietri acabou repetindo uma cena igualzinha a do “Nino, o Italianinho”. Judas era um feirante, a noiva Márcia Maria o despreza, diz mais ou menos as mesmas coisas que Natalia dissera na outra novela.

Por que Vietri estava se repetindo? Acho que ficou tão fascinado com o sucesso anterior de “Nino”, quis repeti-lo. Não sei, é uma hipótese minha. Dias Gomes veio a fazer a mesma coisa, anos depois, com o personagem que virava lobisomem.

Aconteceu uma coisa interessante nesta novela – um velhinho muito pobre (Sadi Cabral), amigo do Judas, morre e deixa-lhe uma fortuna, ele era seu único herdeiro. Na verdade, o velho era milionário, estava desgostoso com a família e havia virado mendigo.

Aí, a personagem da Márcia Maria, procura Judas. Não me lembro se ele a perdoa e acabam juntos no final.

Em “João Brasileiro, o Bom Baiano” (78), Jonas Melo é um baiano morando em São Paulo, na pensão da Dona Pina (Nair Bello). Era uma outra mamma, do tipo de Dona Santa, de “Nino”. João estava fugindo de alguma coisa na Bahia? O que seria? Uma mulher? Exato. A trama estava parecida com “Antonio Maria”, mas mesmo assim caiu no gosto do público, fez sucesso.

Por que Vietri se repetia? Falta de talento não era. Não sei porque.

Aí a TV Tupi faliu, mas não faltou emprego para Vietri. Fez na Globo ”Olhai os Lírios do Campo”, adaptação de Erico Verissimo.

Trabalhou na Cultura, depois Bandeirantes, com “Dona Santa”, uma reprodução da Dona Santa, de “Nino, O Italianinho”? Não sei, talvez.

Infelizmente, sua novela “Renúncia”, baseada no livro homônimo de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, só teve 12 capítulos, foi tirada do ar. Vietri estava modificando um pouco a história de Emmanuel, que se passa, uma parte na Irlanda, e outra, nos Estados Unidos. Na trama do novelista, era Portugal e Brasil. Seria uma nova homenagem ao povo português? Tirando do ar, na época, alegaram que foi por causa do horário eleitoral. Não acredito...

Na Manchete fez “Santa Maria Fabril”, uma nova adaptação de “A Fábrica”? Não sei. Fez uma nova adaptação de “Antonio Maria”, desta vez utilizando atores portugueses. Infelizmente, fracassou.

Na CNT – Central nacional de Televisão – fez “ Irmã Catarina” e “Antonio dos Milagres”.

Quase no final da vida, para a ASJ (Associação do Senhor Jesus), onde, em parceria com a Igreja Católica, fez várias novelas de cunho religioso. Essa associação funciona em Valinhos e possuí uma rede de televisão, encabeçada pela TV Século XXI.

Geraldo Vietri morreu na sua querida São Paulo, onde se passaram todas as suas histórias, em 1996, com 66 anos, vítima de complicações bronco-pulmonares.

De fato, ele foi muito importante por ter sido o primeiro a apresentar novelas bem brasileiras, singelas, retratando nossa gente, nossos problemas, nosso quotidiano, sem as apelações que vemos atualmente.

Ele sabia muito bem dosar humor com drama, o que muitos novelistas atuais não fazem.

Para mim, particularmente, foi importante assistir a suas novelas, bem como a de outros. Inteirei-me da linguagem coloquial, das gírias, da vida dos grandes centros, fiquei até com vontade de virar novelista.

Me divertia durante horas diante da TV, junto com a família, até jantando na sala para não perder nada.

Por que as novelas, hoje em dia, não estão fazendo tanto sucesso? Elas não se renovaram, caíram numa mesmice muito grande. Quando algum autor propõe uma coisa diferente, seu projeto é engavetado. Acho que os canais têm medo de arriscar o novo e não agradar o público.

Nota - Várias informações sobre Vietri e suas novelas obtive consultando o Google. Pude ver duas cenas das novelas “Antonio Maria” e “Nino, o italianinho”, também uma entrevista com Vietri. Dêem uma olhadinha.

Fabiano Possebon

Arthur Schopenhauer


A glória é tanto mais tardia quanto mais duradoura há de ser, porque todo fruto delicioso amadurece lentamente.

A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais.

Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência.

O dinheiro é uma felicidade humana abstracta; por isso aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeira felicidade humana, dedica-se completamente a ele.

Nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é hipocrisia.

O amor é a compensação da morte.

A riqueza influencia-nos como a água do mar. Quanto mais bebemos, mais sede temos..

A arte é uma flor nascida no caminho da nossa vida, e que se desenvolve para suavizá-la.

Quanto mais elevado é o espírito mais ele sofre.

Toda a nação troça das outras e todas têm razão.

A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos.

Do mesmo modo que no início da primavera todas as folhas têm a mesma cor e quase a mesma forma, nós também, na nossa tenra infância, somos todos semelhantes e, portanto, perfeitamente harmonizados.

A honra cavalheiresca é filha da arrogância e da tolice.

Quando a felicidade se apresenta devemos abrir-lhe todas as portas porque jamais foi considerada inoportuna.

Arthur Schopenhauer

Luis Bunüel



Luis Buñuel (Calanda, 22 de Fevereiro de 1900 — Cidade do México, 29 de Julho de 1983) foi um realizador de cinema espanhol, nacionalizado mexicano. Trabalhou com Salvador Dalí, de quem sofreu fortes influências na sua obra surrealista.

A obra cinematográfica de Buñuel, aclamada pela crítica mas sempre cercada por uma aura de escândalo, tornou-o um dos mais controversos cineastas do mundo, sempre fiel a si mesmo. Buñuel também influenciou fortemente a carreira do realizador conterrâneo Pedro Almodovar.

Luis Buñuel Portolés nasceu ao meio-dia de 22 de Fevereiro de 1900, na aldeia de Calanda, Teruel, Espanha. Era filho de Leonardo Buñuel González, um señorito e proprietário abastado que fizera fortuna em Cuba com um negócio de ferragens, e de María Portolés Cerezuela, "a rapariga mais bonita e saudável da aldeia". Pouco depois, a família estabeleceu a sua residência em Saragoça, e só ia a Calanda durante a Semana Santa e nas férias de Verão. Luis era o mais velho de sete irmãos e irmãs, com quem teve uma infância feliz, saudável e despreocupada, em contacto com a rica natureza campestre da sua terra. Teve, desde cedo, uma grande sensibilidade em relação ao inusual e ao extraordinário, e facilmente se encantava com animais, plantas e fenómenos naturais, que observava atentamente, imbuído de uma religiosidade pagã. Foi também na infância que adquiriu um enorme fascínio pela morte, quando inadvertidamente, deparou com um burro putrefacto numa valeta.


Luis Buñuel (abaixo no centro), 1930.Em 1908 viu o seu primeiro filme num cinema de Saragoça. Estudou num colégio de Jesuítas, cuja influência se faria sentir para o resto da sua vida. Com a adolescência, perdeu a fé, tornando-se anti-clerical e ateu, e, em 1915, foi expulso do colégio, tendo terminado os seus estudos secundários no Instituto de Saragoça.


Em 1917, Buñuel foi estudar em Madrid, instalando-se na prestigiada e elitista Residencia de Estudiantes, onde permaneceria até Janeiro de 1925. Aí conheceu várias luminárias das letras, artes e ciências espanholas e internacionais e conviveu com muitos daqueles que fizeram parte da famosa Geração de 27, tomando conhecimento das vanguardas artísticas e literárias da época — cubismo, dadaísmo e surrealismo. Foi também na Residencia que se tornou grande amigo de três camaradas e companheiros de boémia que tiveram nele (e em quem ele teve) uma influência fundamental: Pepín Bello, Federico García Lorca e Salvador Dalí. Nesses anos, Buñuel tornou-se um fanático da cultura física e do atletismo. Frequentava além disso, os cafés de Madrid e as suas tertúlias, bem assim como os seus bordéis.

Em 1920, fundou o primeiro cineclube espanhol. Em 1921, participou na representação teatral de Don Juan Tenorio, de Zorrilla, em Toledo. Em 1922, publica os primeiros textos literários, influenciados por Ramón Gómez de la Serna. Em 1924, depois de ter frequentado, sem grande convicção, vários cursos universitários, acabou por se licenciar em História.

Em 1925, foi viver em Paris, onde estudou cinema e trabalhou como assistente de vários realizadores entre os quais Jean Epstein. Conhece Jeanne Rucar, sua futura mulher, com quem se casará em 1934.

Em Janeiro de 1929, Buñuel e Dalí, utilizando o método surrealista do "cadáver esquisito" escrevem o guião do filme que acabaria por ter o título de Un chien andalou (Um cão andaluz). Apesar dos desmentidos, com a sua panóplia de private jokes e sub-entendidos, o filme era um subtil mas evidente ataque a García Lorca, de quem se haviam afastado, em parte porque Buñuel (machista assumido) tinha aversão à homossexualidade do poeta, tendo envidado todos os seus esforços para contrariar e sabotar a amizade amorosa que ligava aquele a um complacente Dalí. Há controvérsias quanto a esta última afirmação pois num futuro não muito distante Dalí acaba por ceder aos "encantos" da ditadura e segundo um dos filhos de Buñuel Dalí abriu mão de suas amizades em nome de dinheiro e status. Buñuel roda-o em quinze dias durante a Primavera sendo estreado a 6 de Junho em Paris, perante a nata da sociedade e da intelectualidade francesa. O filme foi um sucesso e um escândalo e durante vários meses esteve em cartaz no Studio 28. Toda a imagética surrealista (burros podres dentro de pianos de cauda, mãos cortadas, metamorfoses visuais, etc.) criara sensação e espanto. Buñuel refere que a cena inicial da navalha a cortar um globo ocular provocava desmaios na plateia, tendo mesmo chegado a ocasionar um aborto numa espectadora. A dupla é prontamente admitida no grupo surrealista de André Breton, passando a frequentar as suas reuniões semanais e a cumprir escrupulosamente os seus ditames.

No Verão de 1929, Buñuel e Dalí estão em Cadaqués a preparar um novo filme, L'Âge d'Or, subsidiado pelo visconde de Noailles. Mas a sua colaboração e amizade são depressa ensombradas pelo aparecimento de Gala Éluard, por quem Dalí se deixa enfeitiçar e influenciar totalmente. Por outro lado, a antipatia entre Buñuel e a ciumenta e intriguista Gala é instantânea e mútua, chegando aquele ao ponto, de num acesso de cólera, a tentar estrangular. Buñuel regressa a Paris onde acaba o guião e roda o filme (sem dar crédito à colaboração de Dalí), fortemente anticlerical. Uma vez exibido, cria um enorme escândalo junto da extrema-direita francesa (a sala de cinema é atacada) e da burguesia parisiense (o visconde de Noailles foi ostracizado).

Nessas obras emblemáticas estavam patentes de forma concentrada e intensíssima todos os temas básicos que a sua obra posterior continuaria a reflectir mais discretamente, mas com igual poder: o amor louco, o anti-clericalismo, a rebeldia e inconformismo diante do estabelecido e do convencional, uma ânsia de transcendência, expressos em imagens oníricas e alucinantes, cheias de dureza, de corrosivo humor negro e de uma candura embriagante.

En 1930 viajou a Hollywood, contratado pela Metro Goldwyn Mayer como «observador», com o objectivo de se familiarizar com o sistema de produção norte-americano. Conheceu Charles Chaplin e Serguei Eisenstein.

Buñuel voltou a Espanha após a proclamação da República e financiado pelo seu amigo anarquista Ramon Acín, dirigiu, em 1933, um documentário, Las Hurdes, tierra sin pan, que descrevia, de modo cru, a vida quotidiana e os costumes ancestrais de uma recôndita aldeia espanhola da Extremadura, profundamente miserável e em estado quase selvagem. As imagens e os factos descritos eram tão extraordinários e irreais, que acabariam por dar ao filme um cunho verdadeiramente surrealista. Foi um escândalo, desagradando ao governo (esquerdista) espanhol que o proibiu para grande desapontamento de Buñuel, por dar uma imagem corrompida da Espanha no estrangeiro.

No decurso da guerra civil espanhola exilou-se na França, partindo em 1938 para os EUA, estabelecendo-se em Los Angeles. Em 1941 vai trabalhar como conselheiro e chefe de montagem para o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque. Contudo, a publicação em 1942 d'A vida secreta de Salvador Dalí, onde Dalí fala do caso de L'Âge d'Or e expõe as simpatias comunistas de Buñuel, causa um pequeno escândalo e faz com que este tenha de se demitir do MoMA em 1943. Buñuel confronta Dalí e pede-lhe um empréstimo de 50 dólares que o outro, obediente a Gala, recusa por carta, em que simultaneamente faz o elogio de Franco e das virtudes da Igreja Católica. Buñuel jamais lhe perdoará a traição e a mesquinhez. Em 1946, depois de ter estado em Hollywood, acaba por partir para o México.


No início da sua fase mexicana realizou filmes comerciais, que nada tinham a ver com os seus interesses mais profundos. Mas, em 1950 recupera a sua autenticidade com Los Olvidados, sobre a vida violenta e dura dos meninos de rua na Cidade do México, onde discretamente insere elementos surrealistas, sendo muito aplaudido pela crítica. Seguem-se Subida al Cielo (1951); o exasperante Susana (1951), sobre uma criada pérfida e intriguista; El Bruto (1952); o espantoso (e muito autobiográfico) Él (1952), sobre um señorito paranóico e louco de ciúmes (com alguma razão…); Robinson Crusoe (1953); Abismos de Pasión (1953), a sua versão de O Monte dos Vendavais); Ensayo de un Crimen (1955); Nazarín (1958), sobre uma novela de Galdós, onde insere elementos anticlericais e que foi premiado em Cannes.


Em 1960, sob as críticas de outros exilados republicanos, regressou à Espanha para realizar Viridiana. O filme, cuja rodagem o governo de Franco aceitou ingenuamente subsidiar e promover no Festival de Cannes, sem que algum dos responsáveis o tivesse visionado, acabou por se revelar uma paródia impiedosa dos conceitos habituais de caridade e virtude cristãs. Ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes e depressa causou um enorme escândalo na Espanha, onde foi proibido. Buñuel vingara-se, assim, de Franco de forma absolutamente imprevisível. Apesar do sucedido, Buñuel não foi perseguido pessoalmente na Espanha, onde tinha uma segunda residência.


O sucesso internacional de Viridiana fez com que os europeus se interessassem pelo já esquecido Buñuel. Depois de filmar no México, El ángel exterminador (1962; O anjo exterminador) e Simón del Desierto (1965), passou a só filmar na França. Ao contrário dos seus produtores mexicanos, o produtor Serge Silberman dava-lhe total liberdade de acção. Teve também a preciosa colaboração do argumentista Jean-Claude Carrière, co-autor de todos os guiões que filmaria na França.

Em 1964, foi produzida a sua adaptação do romance de Octave Mirbeau, Journal d'une femme de chambre, onde Buñuel transporta para a década de 1930 a atmosfera decadente da história, em que uma criada de quarto (Jeanne Moreau) se submete aos caprichos fetichistas, mas inofensivos, do patrão velho (doido por botinas), e resiste tenazmente ao assédio sexual do exasperado patrão novo (Michel Piccoli), acabando por se casar com um criado pedófilo, assassino e reaccionário.

Segue-se Belle de jour (1967; A bela da tarde), segundo uma história de Joseph Kessel, em que uma jovem burguesa (Catherine Deneuve), muito frígida com o marido, se prostitui desavergonhadamente numa discreta casa de passe, dando rédea solta às suas fantasias masoquistas. Nessa ocasião, Dalí enviou-lhe um telegrama a propor-lhe uma sequência de Um Cão Andaluz. Buñuel respondeu-lhe: "Águas passadas não movem moinhos."

Em 1969, filma La Voie Lactée (A Via Láctea, também. O estranho caminho de São Tiago), relato da peregrinação de dois vagabundos franceses a Santiago de Compostela, onde Buñuel evoca a sua paixão pelo romance pícaro espanhol e onde reflecte ironicamente sobre o cristianismo e as suas múltiplas heresias.

Em 1970 Buñuel voltou à Espanha e à sua amada Toledo para filmar Tristana (Tristana, Amor Perverso), segundo um romance de Benito Pérez Galdós, em que um velho señorito (Fernando Rey) com fumaças de anticlerical e livre-pensador, seduz a sua ingénua pupila (Catherine Deneuve), vindo mais tarde a cair nas mãos dela, que não deixa de se vingar.

Em 1972, filma Le Charme Discret de la Bourgeoisie (O Discreto Charme da Burguesia), onde a alienação, a arrogância, a falta de escrúpulos, a desonestidade e a amoralidade da burguesia são objecto do seu humor negro. Buñuel introduz no filme pequenos apontamentos e historietas de carácter saborosamente surrealista e onírico. O filme ganharia o Óscar para o Melhor Filme Estrangeiro.

Em 1974, filma Le fantôme de la liberté, conjunto de historietas e episódios puramente surrealistas, que se vão sucedendo à maneira de um sonho.

Por fim, em 1976, roda Cet obscur object du désir, adaptação muito livre de La femme et le pantin de Pierre Louÿs, em que um homem maduro é manipulado e frustrado por uma jovem e desejável mulher, que o atraiçoa.


Depois de ter filmado Cet obscur object du désir, Buñuel retirou-se. Estava cada vez mais surdo e a saúde começava a faltar-lhe. Sempre fora um grande bebedor e fumador, e apesar da sua enorme resistência, começou a sofrer de diabetes e de cancro do fígado.

Em Novembro de 1982, o também muito combalido Dalí (Gala morrera em Junho desse ano), voltou ao ataque, enviando-lhe a seguinte mensagem:

"Querido Buñuel: de dez em dez anos envio-te uma carta com a qual não estás de acordo, mas eu insisto. Esta noite concebi um filme que podemos fazer em dez dias, não a propósito do demónio filosófico, mas do nosso diabolinho. Se te apetecer, vem ver-me ao castelo de Púbol. Um abraço: Dalí".
"Recebi os teus dois telegramas. Fantástica a ideia do filme, mas retirei-me do cinema há cinco anos e quase não saio de casa. É uma pena. Um abraço: Buñuel".
Em 1983 publicou a sua excelente autobiografia, Mon Dernier Soupir (O meu último suspiro), na qual, já próximo da morte, reafirma as suas convicções. À semelhança do personagem Don Lope (o señorito ateu de Tristana), nos últimos anos da sua vida Buñuel, apesar de se declarar ateu, aproximou-se da Igreja, e um dos seus melhores amigos era um padre com quem frequentemente discorria sobre teologia e os mistérios da fé.

Morreu na Cidade do México em 29 de Julho de 1983 e, conforme os seus desejos, foi cremado e as suas cinzas dispersas.

wikipédia

Rubens de Falco




Rubens de Falco da Costa (São Paulo, 19 de outubro de 1931 — São Paulo, 22 de fevereiro de 2008) foi um ator brasileiro.


No início da carreira, em 1955, participou das atividades dos jograis em São Paulo, ao lado de nomes como Armando Bogus, Rui Afonso, Italo Rossi e Felipe Wagner.

De marcantes atuações no teatro (tendo participado, dentre outras peças, da montagem original de Os Ossos do Barão, de Jorge Andrade, em 1963 no Teatro Brasileiro de Comédia), Rubens foi ter o grande reconhecimento de crítica e público ao começar a atuar na televisão, sendo frequentemente escalado para papéis em telenovelas.

Fez parte do elenco das últimas novelas levadas ao ar pelas TVs Tupi e Manchete: Drácula e Brida, respectivamente.

Leôncio, o senhor algoz da personagem-título de Escrava Isaura, um dos maiores vilões da teledramaturgia brasileira, é considerado o maior papel de Rubens na TV.

Nesse mesmo veículo, Rubens protagonizou por duas vezes o papel de imperador - Maximiliano em A Rainha Louca (1967), e Francisco José em A Última Valsa (1969) -, além de outras personagens de sucesso como o misterioso Agenor em O Grito (1975); Samir Hayala em O Astro (1978); Roberto Steen, o protagonista masculino de A Sucessora (1978); o poderoso Daniel em Gaivotas (1979) e o Barão de Araruna na primeira versão da novela Sinhá Moça (1986).

Recentemente participou da regravação de A Escrava Isaura na Rede Record, desta vez no papel de Comendador Almeida, pai de Leôncio.

Em outubro de 2006, sofreu um acidente vascular cerebral. Em virtude de problemas decorrentes deste AVC, o ator esteve internado de outubro de 2006 a 22 de fevereiro de 2008, no Centro Integrado de Atendimento ao Idoso (CIAI), em São Paulo, quando faleceu vítima de um ataque cardíaco, decorrente de uma embolia, aos 76 anos de idade.

A lista continua...


Lista de Caririês de Socorro Moreira


Pixote- jogador ruim de baralho
Peruando - espiar quem tá jogando
Deu pitaco , na minha vida.
Esculhambação
Binga
Pimba

" se liga me ligasse, eu tbém ligava liga; como liga não me liga, eu tbém não ligo liga".

Desplanaviado
juízo curto
subir nas paredes
fulo de raiva
pela bola sete
mulézinha
inchirida
mama na égua
tosse de cachorro
bufa
rolete de cana
lavar os terém ( lavar os trens da cozinha)
engomar as çalças
pega rapaz
pressão e colchete
brincar de cinturão queimado
galocha
biscate
(boa) bisca
pé-de-anjo
essa menina tem chita, e é das miudinhas
lamparina
umbuzada
baixa da égua
pisa na fulô
cabaço
tina
miolo de pote
bucho cheio, mão lavada e pé na estrada
uns quinhentos anos
mulher de vida fácil
dondoca
emperiquitada
dor de viado
quem não pode com o pote , não pega na rodilha.
gente fina
gente que o Brasil precisa
pai d'água
fela da gaita
chifre em cabeça de cavalo
latrina
coragem de mamar em onça
seboso
carniceiro
bila
comer manga com febre
injuriado
fumar numa quenga
espivitado
boca de siri
com jeito vai...
pedir o pinico
abrir as pernas
Se derreter toda
arreia , macacada
olhar de banda
escruvutiar
ficar com a pulga atrás da orelha
remela
ir para a berlinda
segurar a vela
ficar no caritó
levar um fora
mijar fora do pinico
doce de coco- enjoativo
cama de campanha
cortinado
detefon
puxar a brasa
passar uma rasteira
encabulado
perna de pau
cumieira da casa
lelé da cuca
fera
fazer a cama
alegre como pinto em bosta
ver passarinho verde
bolo fofo
liseira
você tá é frito
cintura de pilão
baladeira
trunfa
requebrado
corpete
anágua
combinação
salto Luiz XV
radiola
toca-fita
comer feito padre
lamber os beiços
espinela caída
banho de cuia
chateau [chatô]
dor-de-cotovelo
volvo - nó nas tripas
caganeira
tísico
pote dágua
quartinha
sianinha
assobiar e chupar cana
tiquim
batata da perna
quengo
zoada da mutuca
faz que olha
ficar intrigada/o de sangue a fogo
voz de taquara rachada
levar bomba
encarquilhada
pagar mico
falar que só papagaio
pular uma fogueira
pular fora
cair de boca
sumir do mapa
tamanco
gigolete
pulga atrás da orelha
cão chupando manga
triscar
triscado
tomar umas e outras
telegrama urgente
carta aérea
bitola do trem
olhar de peixe morto
birinaite
abiscoitado
tabaréu
coquete
até de baixo d'água
galante
bandoleira
cavar a propria cova
comer o pão que o diabo amassou
frieira
couro de pisar fumo
não bebe, come com farinha
pé d'água
cilion
abacaxi
é uma uva
aperriada
é sopa !mamão com açúcar
couro cru
fazer nas coxas
torar
empelotar
mangar
tirar sarro
escangotararenga
paparicar
puxar a sardinha
chuviscar
pileque
palmatória
papael passado
desquite
tem pai que é cego
tamborete de samba (ou tamborete de forró)
amarrar a égua
.........
Cansei ! rs


Lista de Caririês de Edilma

Ninguem pode com Socorro Moreira
Eita memória !

Acabou com todos nós.
Ufa !kkkkk
Tinha alguma coisa, agora é nada...


Magote de moça
Ganharam os bredos
Catrevagem
Ocustumado
Impreterido
Rodore
Morto a fome
Futrica
Futuca
Esgalamido
Nó nas tripa
Esgulepado
Murrinha
Liso
Jumelória
Breu
Esculhanbado
Quenga
Perobo
Abestalhado
Abestado

Corpete
Combinação
Caiu no gôto
Espinhela caída
Difrusso
Reimoso

O violão de Geraldo Azevedo na noite do domingo

Um amanhecer solitário - por Edilma Rocha

Mais um fim de semana
Nasce com um novo dia
Solitário, longo...
Porém as nuvens se abrem
Lentamente, brincando
De esconde esconde
Convidando para ver o sol...
O azul foge e aparece
Entre flocos brancos
Que se vão rapidamente....
O calor aquece o coração
Amigo e querido
Aquece a vida...
As lembranças vão e vêem
Como nuvens a bailar no céu
Entre poesias, beijos
Dos amigos distantes
Como eu...

Mentes, mente

O primeiro autômato a desafiar a mente humana foi intitulado “O Turco”. A geringonça foi construída em 1769, por um certo Johan Wofgang von Kempelen, escritor, inventor. Edgar Alan Poe, escritor de gênio, estudou detidamente os pequenos detalhes visíveis do funcionamento do intrigante aparelho que jogava xadrez e teria induzido à derrota até mesmo Napoleão. Após assistir a inúmeras apresentações do autômato, Poe logo perceberia que “O Turco” não era “pura máquina”. E antes de o embuste ter sido desfeito na prática, o escritor já havia colocado em ‘xeque’ o estranho engenho. Segundo sua opinião, uma verdadeira máquina não poderia perder uma única partida. Os argumentos utilizados por Poe para desvendar a farsa estão contidos no conto/ensaio O jogador de xadrez de Maelzel, do livro Histórias extraordinárias. A nosso ver, esses argumentos avançam alguns daqueles que seriam utilizados, mais de cem anos depois, no famoso Teste de Turing. Alan Turing foi o matemático britânico que concebeu um teste, numa publicação de 1950 (Computing Machinery and Intelligence), para verificar se um programa de computador é ou não ‘inteligente’. Turing foi também quem primeiro concebeu, em 1952, sem auxílio de computador, um programa para o jogo de xadrez.

A questão da inteligência artificial versus inteligência humana foi objeto de um livro muito interessante, intitulado A mente nova do rei, de Roger Penrose (cuja edição original, The Emperor’s New Mind – Concerning Computers, Minds and the Laws of Physics, é de 1989). Curiosamente, em nenhum trecho do livro há referência ao ensaio de Poe, embora a literatura tenha sido, em mais esse exemplo, mais rápida do que a ciência...

Somente em 1997, o argumento de Poe foi comprovado, quando o famoso computador Deep Blue, da IBM, conseguiu derrotar o super campeão de xadrez, Kasparov. O próprio Kasparov, em artigo recente (na revista New York Review of Books, de 11 deste mês) reconhece a capacidade inusitada do computador para ganhar partidas de xadrez, embora lamente o fato de as pessoas jogarem cada vez mais como máquinas, em vez de utilizarem o xadrez para iluminarem o conhecimento da mente humana. Ou, assim pensamos, para apreciarem a arte de jogadas clássicas de gênios como Capablanca ou Philidor.

Aliás, voltando ao autômato “O Turco”, acabou sendo descoberto que dentro dele havia sempre um enxadrista escondido. Um deles, segundo consta, era o francês Jacques-François Mouret, por sinal parente do próprio Philidor...

Essa história de “O Turco”, bem conhecida do mundo enxadrístico, foi retomada recentemente no romance A máquina de xadrez, do alemão Robert Löhr, publicado em 2007, pela Record. Ainda não o li, mas penso que deve ser boa leitura para um fim-de-semana...
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PROFESSOR VALENTE - Por Edilma Rocha











A tela aqui apresentada no estilo impressionista, rica em detalhes com empastos à óleo ,foi sempre alvo das críticas pelo estado precário de conservação dos quadros do acervo do Museu de Arte do Crato Vicente Leite. Procurei no início dos trabalhos de restauração começar pelos quadros que estavam mais danificados. E como escolha prioritária, comecei pelo Professor Valente. Tela com título: Retrato do Professor Valente, autor Alcides Cruz: pintura sôbre lona em suporte de madeira, tinta em bisnaga à óleo com mistura em terebentina e linhaça de procedência francesa com mistura àguia nacional. Não consta a data de execução, mas estudos se aproximam em 45 anos. Tem dimensões de 93X45; o seu estado de conservação, grave, com as seguintes caracteristicas de deteorização: sujeira profunda com fuligem asfáltica negra; grandes rachaduras de craklé com camadas de tinta ausentes; infestação microbiológica por fungos, môfo, grande quantidade de traças e teias de aranha no suporte trazeiro; moldura danificada; tela sem proteção e fixação. Na reconstituição foi usado preenchimento da gelatina na fixação do craklé; imunização contra insetos a base de esteres e ácido crismênico, tetrametrina e D-Phenothin; reintelamento com pintura de proteção; recuperação do suporte de madeira; enxertos de pigmentos nas áreas ausentes; reintegração cromática; película de proteção; trabalho artistico deolvendo os valores originais da obra. Esta obra foi uma doação do artista plástico, Sansão Perreira, na década de 70, então presidente da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Belísimo trabalho trazendo a personalidade do mestre e artista retratado. Imagens da obra antes de depois da restauração.
Sinto-me honrada em prestar este trabalho em prol da cultura da minha cidade natal, o Crato.
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EdilmaRocha

INRIBA DA BUCHA - Por Mundim do Vale

Meu avô dizia que quem mexe com doido, é doido e meio. Sábias palavras.
O exemplo disso aconteceu lá em Várzea Alegre.

Uma vez Darca mandou Chico Tida deixar uma manteiga da terra na casa de Vicente Ferreira, quando voltava, Chico encontrou Sá Maria com uma trouxa de pedras e foi inventar de mexer com ela. Mais pra que ele foi fazer aquilo? Sá Maria pegou uma das pedras, eu acho que a de Clarianã e rebolou. Chico abaixou-se e a pedra foi bater logo em Gessione, filho de Almir David. Aí o tempo fechou. Levaram Gessione para a farmácia de Nelinho e Almir ficou nervoso dizendo que fazia e acontecia.

Enquanto isto, Chico sabendo o pai rigoroso que tinha, aproveitou a situação para fugir e foi tratando logo de arranjar um lugar para ficar escondido. Não com medo de Almir, mas do seu pai. Quando passava em frente a igreja de São Raimundo, viu a porta aberta e entrou, quis subir para a torre mas não conseguiu. Quando já ia sair, olhou para o altar de são Raimundo e viu a cortina de baixo aberta, foi quando teve a idéia de entrar debaixo do altar e fechar a cortina.

João V8 ficou desfilando na rua: Major Joaquim Alves com um cinto na mão, dizendo que ia matar o filho de peia. Darca que já tinha procurado Chico por toda a cidade, começou a rezar e chorar desesperada:

- Ou meu São José! O bichim só tem dez anos, Cuma é qui vai viver nesse mundão de meu Deus?
O pintor Bentevi que morava vizinho Falou:

- Faça uma premessa cum São Raimundo, qui ele ai de aparecer.
- Mais se ele aparecer é pior, pruque João mata ele de peia.

João V8 vinha chegando e vendo desespero de Darca enrolou o cinto e falou:

- Pode ir caçar Francisco qui eu num vou mais açoitar ele não. Num foi ele qui atirou a peda.
Darca entrou na igreja e foi direto para o altar de São Raimundo. Chico abriu um pouco a cortina para pegar um vento, mas quando viu a mãe se aproximando, fechou imediatamente e escondeu-se lá dentro.

Darca ajoelhou-se sem ver o filho e começou:

- Meu São Raimundo. Faz muito tempo qui eu sou devota do Sinhor e nunca lhe pidí nada, mais agora chegou a hora. Eu queria pidí a meu santim uma ajuda pra Francisco aparecer. Ele é ainda uma criança e anda iscundido cum medo do sem futuro do pai, açoitar ele. Mais João já me premeteu qui num vai mais bater nele. E se João num cumprir o qui dixe, eu tomo o cinturão e inforco ele. Se Meu santim me atender quando for na sua procissão eu vou acumpanhar discalça e cum uma peda na cabeça. Traga meu bichim meu São Raimundo, qui eu garanto num deixar João açoitar ele.

Nesse momento Chico abriu a cortina e saiu mais suado do que pano de abafar cuscuz e gritou:
- Mãeêêê! Tu garante qui num vai deixar pai açoitar eu?

Darca quase morre do coração. Abraçou o filho e voltou a falar com são Raimundo:

Obrigado meu São Raimundo. Eu sabia qui o Sinhor era milagreiro. Eu só num sabia era qui o Sinhor fazia o milagre ASSIM INRIBA DA BUCHA.
Mundim do Vale

Carne recheada com farofa... para um domingo cheio de sol


Um belo dia resolvi aprender a fazer carne recheada com farofa ! Morava em SP, quando minha amiga Dinorah (de Belo Horizonte) me ensinou a fazer.
É engraçado como sentimos falta até das chatices das pessoas, não é??? Pois é. Sinto falta até da encheção de saco da irmã dela e das doidices que ela falava... hoje fico me lembrando e morro de rir sozinha!

Às vezes sinto muita falta desse tempo e das brincadeiras quando resolvíamos inventar um prato novo. Por isso, resolvi me aventurar hoje a fazer a tal carne recheada com farofa que há tempos não fazia.

Se me lembro bem, usava chã de dentro, pedia uma peça grande e abria fazendo um bifão. Mas não tinha chã em casa, só tinha maminha, e, como sempre, quando não tem tu, vai tu mesmo, desncongelei uma peça de maminha, de mais ou menos um quilo e meio, limpei beeemmmm, e abri como se fosse um bifão. Temperei com alho, sal, pimenta do reino e azeite, e dexei descansar da noite para o dia na geladeira, em um recipiente fechado.

Fiz uma farofinha básica com bacon, linguiça calabresa, cebola e alho refogados no azeite e na manteiga, 500 gramas de farinha de mandioca, azeitona verde sem caroço, sal e cheiro verde.

Retirei a carne da geladeira, separei uma agulha nova e linha clara, e comecei a costurar as laterais da carne, deixando só um buraquinho para colocar a farofa. Preenchi a carne com toda a farofa (um detalhe é que a carne não pode ficar muito cheia, de farofa, pois com o cozimento a carne dá aquela diminuída, e se estiver muito cheia pode estourar.). Depois de colocar a farofa, costurei o último pedaço.

Numa panela grande queimei uma colher de sopa de açúcar refinado e dourei a carne, sempre acrescentando um tantinho de água e virando a carne por todos os lados para dourar por igual. Depois de dourada, acrescentei um copo de água e uma cebola grande cortada em rodela, tampei a panela e depois cozinha por uns 20 minutos, verificando sempre a quantidade de líquido. Deixei ficar um tanto no fundo da panela, que a essa altura do campeonato, já estava bem grossinho.

Bom para servir com arroz branco quentinho (e couve à mineira e brócolis refogado).
Bom apetite!

ZÉ DANTAS - Por Marcos Barreto


COM ZÉ DANTAS, O SERTÃO VIROU MÚSICA




Um número incalculável de pessoas já ouviu baiões, xotes e forrós cantados por Fagner, Alceu Valença ou Elba Ramalho, como por exemplo, Riacho do Navio (com Fagner), Cintura Fina e Vem Morena (com Alceu Valença) ou, ainda, Imbalança (com Elba Ramalho). O que elas não sabem, no entanto, é que estas músicas não são inéditas, mas, na verdade, grandes sucessos de Luiz Gonzaga lançados na década de 50.
Mais intrigante ainda é o fato de quase toda essa gente desconhecer a participação do grande poeta Zé Dantas na criação destas e de tantas outras músicas que foram consagradas na voz de Luiz Gonzaga e que, sem dúvida, ajudaram Gonzaga a conquistar o troféu de Rei do Baião.
Motivado por isto e pela grande admiração que sempre tive por todo o trabalho que Zé Dantas desenvolveu junto a Luiz Gonzaga é que me dispus a fazer um pequeno relato sobre este que foi, indubitavelmente, um dos maiores compositores da música sertaneja. Além de médico e poeta, Zé Dantas foi acima de tudo um autêntico sertanejo, jamais tendo negado esta condição. Aliás, Zé Dantas sempre foi um amante do sertão e soube fazer dele a sua fonte de inspiração.
Conhecido apenas por Zé Dantas, o seu nome era José de Souza Dantas Filho. Nasceu a 27 de fevereiro de 1921, em Carnaíba, no interior de Pernambuco, sendo filho de José de Souza Dantas e Josefina Alves de Siqueira Dantas. Nesta época, Carnaíba era distrito de Pajeú das Flores. Ainda criança, demonstrou a sua extraordinária capacidade de observação, sua aguçada sensibilidade com relação ao mundo que lhe cercava e o seu apego a tudo aquilo que simbolizava o sertão.
Apesar de morar na cidade, Zé Dantas sempre freqüentou a Fazenda Brejinho, no Riacho do Navio, em Betânia - PE, que pertencia aos seus pais. Aos nove anos de idade, começou seus estudos preparativos para o exame de admissão em Triunfo-PE. Logo em seguida, passou a estudar em Recife, tendo concluído o 1º e o 2º graus nos colégios Nóbrega, Marista e Americano Batista.
Mesmo estando distante de Carnaíba, Zé Dantas continuou convivendo com o sertão, para onde se dirigia durante o período de férias. Na Fazenda Brejinho, gostava muito do contato com aquela gente simples, convivendo com os vaqueiros e trabalhadores da fazenda. O próprio Zé Dantas nos faz um relato sobre a sua vida de criança e as influências que recebeu no decorrer deste período:
“Desde menino eu era amante do folclore. Gostava de ouvir as coisas que o povo dizia e cantava, dando largas à sua sabedoria. Quando estudante em Recife, sempre que ia de férias para o interior, em vez de à cidade, preferia dirigir-me à fazenda que meu pai possuía. Ali, vivendo no meio dos sertanejos, dos quais me tornava amigo, ia recolhendo ditos, estórias, cantorias... toda riqueza da vida sertaneja. E quando regressava ao Recife levava as melhores coisas daquilo que havia recolhido, para mostrar aos amigos nas rodas que eu freqüentava. Sem saber música, eu era diretor de um orfeão no colégio e também presidente de uma sociedade literária. Acontecia então que nas festinhas do colégio eu cantava as coisas que tinha aprendido na fazenda ou ensinava a outros a cantar. Foi nessa época que escrevi a primeira crônica sobre folclore”.
Quando ainda estudante do Colégio Americano Batista, em 1938, o então jovem Zé Dantas manifestou o seu pendor para a música e o folclore do Nordeste, ao escrever, na revista “Formação”, os seus primeiros trabalhos. Eram crônicas, poesias e estórias que falavam de coisas e costumes do sertão, retratando assim o ambiente onde viveu a sua infância. Tendo nascido em Carnaíba, numa região muito seca do sertão pernambucano, Zé Dantas foi antes de tudo um sertanejo. Além disso, tinha uma capacidade admirável de expressar seus sentimentos através da poesia. Mas, Zé Dantas não se conformou em ser apenas um compositor de músicas sertanejas. Dedicou-se ainda ao estudo da vida e do folclore do Nordeste, analisando o comportamento do homem sertanejo também sob o aspecto social. Escreveu crônicas, poesias sertanejas apresentou programas de rádio e, ainda, o argumento do filme “Sertão, Balas e Votos”.
Se Zé Dantas foi sertanejo por acaso, foi ele um amante do sertão por devoção, estudioso por convicção e poeta por vocação. Dotado de todos esses requisitos, ninguém com mais autoridade do que ele para falar de sertão. Através de suas poesias, mostrou as coisas bonitas do sertão, os costumes e a vida do homem sertanejo. Da mesma forma, soube também denunciar os problemas e as injustiças sociais do povo nordestino. Sua obra, que sempre teve o sertão como motivo maior, apresenta características de cunho social e político, marcadamente. Zé Dantas foi, indiscutivelmente, um precursor das chamadas músicas do protesto, de conteúdo essencialmente político. Canções como Vozes da Seca (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas), e a Volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga/Zé Dantas), retratam o drama angustiante do homem sertanejo, vitimado pelas longas e periódicas estiagens que assolam o Nordeste, evidenciando também o descaso do governo no que diz respeito à solução destes problemas.
Um fato marcante e digno de observação na obra de Zé Dantas, notadamente na toada Vozes da Seca, consiste na sua ainda atualidade. Como vemos, Vozes da Seca continua hoje tão atual quanto foi na década de 50 ao ser lançada, uma vez que os problemas do Nordeste continuam sendo os mesmos, como também ainda são as mesmas as soluções reclamadas por Luiz Gonzaga e Zé Dantas há mais de 50 anos.
Para que tenhamos uma noção do impacto causado por esta toada, basta lembrarmos o seguinte episódio: um deputado federal, ao ser convocado para discursar em plenário, ao invés de ler o discurso, apenas referiu-se à música Vozes da Seca composta por Luiz Gonzaga e Zé Dantas, afirmando que a mesma tinha a força de cem discursos.
Zé Dantas, juntamente com Luiz Gonzaga, focalizou o Nordeste nos seus mais diferentes aspectos. No campo social, frisou a bravura do homem nordestino em Algodão (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) e as esperanças de dias melhores com o advento do progresso em Paulo Afonso (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas).
Com parceria de Luiz Gonzaga, Zé Dantas também fez músicas brejeiras, tais como O Xote das Meninas, Cintura Fina, Vem Morena, A Letra I e outras. Juntos, cantaram o sertão nos seus aspectos mais pitorescos, como em ABC do Sertão (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas), Forró de Mane Vito (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) e Samarica Parteira (Zé Dantas).
Abriram também espaço para as canções de exaltação ao sertão, como fizeram na pregação naturalista de Riacho do Navio (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas).
Não há dúvida, portanto, de que, com a parceria de Zé Dantas, Luiz Gonzaga voltou definitivamente ao seu lugar de origem, aos pés-de-serra do sertão nordestino. Suas músicas trouxeram á tona o comportamento e a vida do sertanejo, assim como as coisas bonitas do sertão, que só um homem do sertão consegue ver; mas mostraram também os graves problemas sociais do Nordeste, os quais somente o sertanejo é capaz de suportar.
Muito antes de se formar, Zé Dantas já possuía várias músicas compostas. Durante um curso de Medicina, compôs uma embolada para fixar melhor as lições de anatomia. Em 1947, quando estava prestes a concluir o curso, deu-se o seu encontro com Luiz Gonzaga, por quem Zé Dantas tinha grande admiração.Este providencial encontro ocorreu durante uma farra na praia do Pina, em Recife, e dele resultou um grande incremento à nossa música dada à riqueza das obras produzidas por Zé Dantas e Luiz Gonzaga.
Assim nos fala Zé Dantas sobre o seu encontro com Luiz Gonzaga: “Luiz puxando o fole da sanfona, com sua voz nasalada de tenor caboclo, cantava toadas sertanejas que nos faziam evocar com emoção o longínquo Riacho do Navio e nos levavam às margens do Pajeú das Flores. Eu contava “causos” “e cantava loas aprendidas no chão batido dos forrós, à luz mortiça dos candeeiros. A identidade de vocação artística nos dispensou apresentação, a surpreendente coincidência de motivação nos tornou amigos e a música nos fez parceiros. Desde então, baseados no sincretismo musical das melodias ibéricas, ameríndia e gregoriana, que deu origem à música sertaneja, apoiados no ritmo da viola e firmados no pitoresco linguajar caboclo, temos divulgado os costumes, a arte e a vida social do homem nas caatingas do nordeste brasileiro”.
De fato, do encontro de Zé Dantas com Luiz Gonzaga, resultou uma parceria inigualável. Houve uma perfeita conciliação da maneira de interpretação Luiz Gonzaga com as características tipicamente sertanejas das composições de Zé Dantas. Para Luiz Gonzaga, Zé Dantas foi o parceiro ideal, capaz de compor músicas brejeiras de pé de serra, cantando e exaltando o sertão. Para o poeta Zé Dantas, Luiz Gonzaga representou o estilo de interpretação mais indicado para as suas músicas, pelo fato de também ser um sertanejo. Houve uma compensação mútua, onde as qualidades poéticas de Zé Dantas foram aliadas à extraordinária capacidade de interpretação de Luiz Gonzaga.
Sobre este tão significativo encontro, assim se expressou o nosso Rei do Baião, Luiz Gonzaga, quando de sua entrevista ao jornal Diário de Pernambuco, em 07/10/1978:
“Ele me procurou no hotel onde eu estava hospedado, em meados de 40. Entrou aboiando, tangendo bode, chamando porco. Disse que se chamava Zé Dantas, que era de Carnaíba de Fulô e meu fã. Depois me contou que esteve aprendendo a ler (era estudante de Medicina) e que tinha umas músicas para eu conhecer que se eu gostasse delas podia gravar. Com um pedido apenas: não colocar nunca o seu nome, para seu pai não lhe retirar a pensão. Vi as músicas, gostei, gravei. Só não cumpri a promessa: coloquei seu nome nos discos. Naquele dia em que ele entrou alegre e feliz no meu apartamento, formou-se uma longa amizade que somente a morte conseguiu destruir”.
Não obstante o fato de ter sofrido influências de sua mãe, Zé Dantas também apresentava vocação para a carreira que abraçaria, o que o levou a prestar exame de vestibular ao curso de Medicina da então Universidade do Recife. Formou-se em dezembro de 1949, por esta mesma universidade e,em janeiro de 1950,seguiu para o Rio de Janeiro com o fim de estagiar no Hospital dos Servidores do Estado (HSE), tendo a obstetrícia como sua especialização. Cinco anos mais tarde, Zé Dantas passou ao quadro efetivo do Ipase, como obstetra, após ter sido aprovado em concurso.Como médico, caracterizou-se pela sua incontestável competência e pelo seu largo espírito humanitário, tendo sido muito querido por todos os seus colegas.
Em julho de 1954, casou-se com dona Iolanda Dantas, pernambucana do Recife, professora e musa dos seus versos (Zé Dantas compôs músicas em sua homenagem, como A Letra I, Fulô Ingrata, Vou casá já, Cintura Fina e Minha Fulô), a quem Zé Dantas conhecera ainda antes de sua formatura, em Recife. Após o seu casamento, fixou residência no Rio de Janeiro, onde já trabalhava no HSE. Embora residindo muito distante de sua tão querida terra, Zé Dantas jamais esqueceu suas origens, mantendo-se sempre ligado a Pernambuco e a Carnaíba, principalmente. O seu apartamento, no Rio de Janeiro, era freqüentemente visitado por amigos seus vindos do sertão de Pernambuco.Sempre demonstrou interesse em estar a par de tudo o que ocorria na sua região.Numa das vezes em que visitou Recife, o Nordeste todo agonizava com os efeitos drásticos da seca que tanto castigava os seus conterrâneos. Sensibilizado com essa angustiante situação, Zé Dantas juntou-se a alguns amigos e organizou uma campanha com o fim de arrecadar donativos para os flagelados da seca, em Carnaíba. Ao fim da campanha, Zé Dantas conseguiu enviar um caminhão com mantimentos e alimentação para os seus irmãos do sertão de Carnaíba.
A atitude de Zé Dantas nos mostra não apenas o seu espírito humano, mas também a sua constante preocupação com o caboclo nordestino, que há tanto tempo vem sofrendo as conseqüências das periódicas secas. Inconformado com esta situação de penúria, Zé Dantas quis falar mais alto, e por isso, compôs com Luiz Gonzaga a toada Vozes da Seca, na qual eles fazem um alerta ao governo sobre a seca do sertão nordestino, ao mesmo tempo em que denunciam o descaso das autoridades no que se refere à solução do problema.A sua identidade com o Nordeste reside no fato de ter sido ele um fruto puro e legítimo do sertão, pois, tendo nascido na região do Pajeú, cresceu convivendo com o povo simples do sertão, sendo conhecedor, portanto, da vida sertaneja.
Por ter sempre defendido a bandeira do Nordeste, principalmente com as suas músicas de protesto, Zé Dantas recebeu, em 1978, uma homenagem do povo de Carnaíba, com a inauguração do seu busto, em bronze, localizado em frente à casa onde residiu. Esta solenidade contou com a presença do povo carnaibano e de amigos do compositor, além de sua família e do seu grande companheiro Luiz Gonzaga.
Em outubro de 1983, uma nova homenagem foi prestada ao poeta Zé Dantas, com a aposição de uma placa na casa onde nasceu, em Carnaíba. Nesta placa, que foi inaugurada por Luiz Gonzaga e pela esposa de Zé Dantas, dona Iolanda Dantas, lê-se o seguinte: “Nasceu nesta casa, no dia 27 de fevereiro de 1921, o famoso compositor da música popular sertaneja, Dr. José de Souza Dantas Filho-Zé Dantas.
Homenagem do povo Carnaibano na 1ª Semana da Cultura”.
A parceria de Luiz Gonzaga com Zé Dantas teve início logo depois do primeiro contato, em 1947. No entanto, a primeira gravação só veio se concretizar em janeiro de 1950, com a música Vem Morena. Só então foi que Zé Dantas viveu a emoção de ouvir a sua primeira música em disco, na voz de Luiz Gonzaga.Nesta época, Zé Dantas fazia o programa “No Mundo do Baião”, ao lado de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, na Rádio Nacional (Rio de Janeiro), onde divulgavam estórias e músicas sertanejas.A partir de então, surgiram muitas outras músicas, que fizeram grande sucesso durante a década de 50.Alguns destes sucessos são hoje revividos na voz da mais nova geração de cantores nordestinos.
Dentre as inúmeras músicas que compôs, a maioria delas com a parceria de Luiz Gonzaga e com grande aceitação, podemos destacar: A Dança da Moda, Vem Morena, O Xote das Meninas, Sabiá, Vozes da Seca, Imbalança, Pisa no Pilão, Riacho do Navio, Paulo Afonso, Algodão, Forró de Mané Vito, A Letra I, Cintura Fina, Siri Jogando Bola, A Volta da Asa Branca, Acauã (sua música predileta), Noites Brasileiras, Derramaro o Gai, ABC do Sertão, Adeus Iracema, Farinhada, São João na Roça, Xote Miudinho, Vou Casá Já, Lenda de São João, Mazé e Zabé, Forró em Caruaru e São João no Arraiá, entre outras.
Não apenas parceiros, Luiz Gonzaga e Zé Dantas foram, antes de tudo, grandes amigos, havendo entre eles uma admiração recíproca.“A voz do Luiz completa o que quero dizer ao meu povo”, assim costumava falar Zé Dantas.Porém havia um problema que dificultava a continuação desta parceria: Luiz Gonzaga viajava muito pelo País, ficando pouco tempo no Rio de janeiro.Isto fez com que a parceria fosse desfeita, em 1955, passando Zé Dantas a compor sozinho, sem a participação de Luiz Gonzaga.A partir daí, Zé Dantas passou a compor também para outros cantores, como Jackson do Pandeiro, Marines e Jair Alves.Neste período, Luiz Gonzaga continuou gravando músicas de Zé Dantas, porém sem participação na composição das mesmas.
Poucos dias antes de morrer, Zé Dantas recebeu a visita de Luiz Gonzaga e, nesta ocasião, gravou as músicas que compôs durante o período em que esteve hospitalizado: Forró de Zé Antão, Praias do Nordeste, Xô Pavão (música que Zé Dantas cantava para adormecer seus filhos), Profecia e Balança a Rede (dedicada à sua mãe). Luiz Gonzaga gravou todas estas músicas porém, quando o disco saiu, Zé Dantas já não era mais vivo. Depois de sua morte, duas músicas inéditas ainda foram gravadas: Samarica Parteira (por Luiz Gonzaga) e Chegada do Inverno (pelo Quinteto Violado).
Acometido de uma grave enfermidade, Zé Dantas passou o último ano de sua vida praticamente entre a casa e o hospital. Sua morte deixou um enorme vazio entre aqueles que com ele conviviam, constituindo-se, ainda, na perda de um dos maiores talentos da música popular brasileira. Zé Dantas morreu no mesmo hospital em que foi médico durante muitos anos, no Rio de Janeiro, cercado pela família, amigos e colegas, em 11 de março de 1962, aos 41 anos de idade. O seu corpo foi velado no Rio de Janeiro e, em seguida, trazido por seus amigos para o Recife, atendendo assim ao último desejo do compositor que queria ser sepultado em Pernambuco, com uma cruz de madeira e um bode a lamber a cruz.
Ao despedir-se de Zé Dantas, falando à beira do túmulo, o seu amigo e colega de trabalho, Carlos Afonso, assim se expressou: “Foste cedo demais. Deixaste-nos para sempre, mas tua obra imorredoura aí está e ficará para que te honrem cantando eternamente, como tu querias. Ainda há poucos dias, cantavas uma das últimas composições. Bem doente, cansando com facilidade, cantavas e rias. Aquela tua última vontade de dedicares na música um maior conhecimento de idéias sociais, não a concretizaste. Mas tua obra é longa e cheia de história, geografia, folclore e principalmente, humanidade”. Sertanejo por excelência, médico, compositor, poeta e grande conhecedor do nosso folclore, Zé Dantas, ao lado de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, batalhou incansavelmente pelo engrandecimento não apenas da música nordestina, mas da música brasileira como um todo. Em parceria com Luiz Gonzaga, Zé Dantas tornou o sertão conhecido no Brasil inteiro, quando mostrou a Acauã que canta chamando a seca, A Volta da Asa Branca, depois das primeiras trovoadas, as Vozes da Seca, que clamam por uma ajuda, a vida simples e pacata às margens do Riacho do Navio, o baião que era A Dança da Moda, os namoros nas festas de Farinhada, O Xote das Meninas no Forró de Mane Vito, a assistência improvisada por uma Samarica Parteira, ou ainda, as alegrias de um São João na Roça.


Marcos Barreto de Melo

Expressões do Caririês.


Andei algumas (muitas) vezes pelo Cariricult, nestes últimos dias e constatei lá pelos bastidores uma troca amistosa e interessante sobre a diversidade linguística. Isto a propósito e a partir do texto de Maurício Tavares - "Quede, quedê, cadê".
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Depois de alguns comentários, foi sugerida a elaboração de uma lista de expressões caririenses que estão em desuso atualmente ou mesmo aquelas que se mantiveram e que são caracteristicamente do Crato e cinrcunvizinhanças.
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O assunto ficou em minha mente e fui me lembrando de alguma coisa que vou listando por aqui. Que me corrijam os mais entendidos. Que acrescentem itens à lista os que se lembrarem. Que interpretem as expressões os que não se lembram ou que nunca ouviram alguns dos itens citados.
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O objetivo é fazer um passeio pelo passado...
  • Deixa de ser fiota, menino!

  • Só o fute, mesmo!

  • Vai pegar bigu

  • Dar rabissaca

  • Pegar uma fresca

  • Pirró

  • Pixototinho ou pirrototim

  • Vestir sunga

  • Soltar a franga

  • Caba folé!

  • Tô com gastura

  • Tô com farnizim

  • Ele usa pi(n)cenez

  • Dar um cascudo ou croque

  • saia godê duplo

  • Tá com curuba?

  • cabelo rebaixado

  • rebolar no mato

  • sair de fininha

  • taca a foice

  • espichar os cabelos

  • arrochar o cinto

  • dar pichinoca

  • catolé

  • tibungar

  • caxingar

  • bunda-canastra ou cangapé

  • chamichuga

  • dispranaviada

  • levou o menino no tuntum

  • tava fuxicando

  • fez um cocó no cabelo

  • zurêia

  • qué arco, qué tarco, ou qué qui múi? - Cuma?

  • Hoje tô desprevenido

  • Sapato fanabô

  • Salto menina-moça

  • Muruanha

  • Se impiriquitar

  • Passar ruge

  • Vai brincar com a tua calunga

  • Dar uma chulipa

  • Ele veio cheio de pindureza no cinto

  • Vou lhe dar umas lapadas

  • Se preferir dou uns bofetes ou tabefes

  • No aceiro da casa

  • Home suvino

  • Vou passar uma meizinha

  • Já tô cheio/a até o tolé

  • Aperta aí o biloto!

  • Ô menina espilicute!

  • Fecha aí o rirri do teu vestido.

  • Comi tanto que deu na fraqueza.

  • Parece que a comida me ofendeu

  • Ele tá é fazendo goga, rapaz!

  • Ele se espragatou no chão

  • Vôte!

  • A água fria desceu pelo gogó!

  • Saiu fumaça até pelos buraco(s) da venta

  • Vou dar um cheiro no cangote!

  • Vou lhe dar um sabacu.

  • A muié tá de bode

  • Ela tá flertando com ele.


Obs.: Algumas palavras mantiveram a grafia da forma que eram usadas no linguajar popular.

Colaboração de A. Morais:

  • Chorar godê

Colaboração de Carlos Eduardo Esmeraldo

  • Armar a fianga= armar a rede

Colaboração de Magali

  • Califom( sutiã)
  • Pereba

Colaboração de Maurício Tavares:

  • "espilicute" por sua origem inusitada da expressão inglesa "she is pretty and cute!"

Colaboração de Glória Pinheiro

No meu tempo de criança, era:
Zabumba, hoje é banda cabaçal.


Colaboração de Liduina Belchior

Eu conheço a expressão" vou me abufelar"com você(Quer dizer: vou me agarrar)

e esta: Fulano "se abuletou" na cadeira e não saiu mais.

Para Socorro Moreira

Um por de sol encantado(r)
- Claude Bloc -

O dia hoje se arrastou.
Sábado de silêncio,
tarde de morrinha,
dia igual.
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Até que o sol resolveu se deitar
e a tarde bocejando
foi se agachando
atrás da serra.
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As nuvens se enfeitaram
se vestiram de pura seda
e no cetim da noite
se a(con)chegaram
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E o véu da tarde
foi caindo sobre a terra
em tons vibrantes
em sombras macias ...
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E foi então que a noite se apossou do dia
apagando o sol mais uma vez...
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Texto e fotos por Claude Bloc