Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Show, show,show !!! - A apresentaçaõ de Pachelly Jamacaru - Aconteceu na noite de hoje, no Sesc Juazeiro

Show intimista : voz e violão - do jeito que a gente gosta !
Apresentou  composições inéditas  com  novas e velhas  parcerias : Abidoral Jamacaru, Abidoral pai, Domingos Barroso, Rosemberg Cariri, Dandinha Vilar, e para minha surpresa e emoção, musicalizou  uns riscos poéticos  que fiz,  e  tornaram-se especiais , no canto de uma belíssima melodia, de sua autoria.
"Demais" me comoveu demais ! 

Depois do show , nosso alegre agradecimento, pelo deleite de ouvir Pachelly Jamacaru !
Você arrasou , nos tantos estilos : toada, blues, embolada...Voz marcante, belíssimo timbre, interpretação  personal, violão destro, matreiro !
Menção especial para a participação de Elisa Moura, interpretando uma das suas composições, e o canto de Pachelly , numa canção de Thiago Araripe.
Tudo bem cuidado,   com o jeito apurado , elegante , de fazer arte, que lhe é peculiar.
Deus me livre, que eu tivesse perdido esse show !
Obrigada , grande artista , pelo prazer de  vê-lo e ouvi-lo !
Parabéns pelo seu talento. 
A linha melódica  da sua criação, me enternece !

Eu não existo sem você... com Osvaldo Montenegro

From me to you

Recadinho do Coração - Para alguém ...

Samba em Prelúdio - com Toquinho e Maria Creusa

Lombalgia

Desagradável escrever
sentado no pufe:
as costas doem
pra chuchu.

Mesmo que escrevamos
arrebatamentos infantis
ficamos com aquela postura
de corcunda ao final do dia.

A tensão do franco atirador
some dos ombros com as cãibras.

A gravidade do olhar
invade as retinas
quando deveria haver
apenas guloseimas.

De fato torturante
escrever sentado
em um dócil pufe.

Devo logo comprar
aquela cadeira giratória.

Dessas que ao leve vento
e ao inesperado torpor
o bardo voe.

Uma questão de idade – Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Há trinta e sete anos, recém-casados, eu e Carlos fomos morar na cidade de São João d’Aliança em Goiás, distante cento e cinqüenta e dois quilômetros de Brasília. Nessa época, Carlos trabalhava na construção da estrada São João d’Aliança a Alto Paraíso. São João d’Aliança era uma cidade antiga de uma única rua. Alugamos uma casa e como Carlos trabalhava o dia todo, eu ficava muito sozinha. Antes que pudesse me dar conta que seria difícil ter amigas nessa pequena cidade, duas mulheres com idade de mais ou menos sessenta anos, nossas vizinhas, vieram nos fazer uma visita. Elas foram tão acolhedoras, tão educadas que me senti grata pela delicadeza delas. Apesar da diferença de idade minha e de Carlos, para as nossas novas amigas, pois eu tinha vinte e três anos e Carlos vinte e sete, nos alegramos em ter pessoas tão boas morando perto de nós. Assim ganharíamos experiência com elas e, elas se alegrariam com a nossa juventude.

Moramos apenas dois meses nessa cidade, mas foi o suficiente para reconhecer o quanto as nossas amigas eram bondosas, como a maioria das pessoas que moram em cidades pequenas. Fomos convidados por elas para passar um domingo em Alto Paraíso, uma região montanhosa, cheia de vales e muito verde, onde elas tinham uma irmã que morava lá. À medida que subíamos a serra, ficávamos maravilhados com a beleza de um rio que descia ordenadamente. Era uma visão radiante da natureza. Fomos muito bem recebidos pela família das nossas amigas. Lá chegando, elas nos ofereceram papa de milho. Olhando a mesa repleta de pratos cheios de uma papa amarela, eu logo desconfiei que fosse canjica e aceitei. Carlos disse que não queria. E eu sabendo o quanto ele gosta de canjica, perguntei por que não aceitou e expliquei o que era. Ele respondeu: “É canjica? Então eu quero!” Rimos muito e explicamos a elas que aquilo que elas chamavam papa de milho, na nossa terra é canjica.

Ainda hoje lembro com carinho dessas duas mulheres maravilhosas que nos trataram tão bem e, supriram a falta que sentíamos dos nossos familiares. Com essas lembranças agradeço a Deus por ter colocado no nosso caminho essas pessoas de bem. Tem gente que vem ao mundo para distribuir bondade e sempre são recompensadas pelas Bênçãos Divinas.

Relembrando os fatos ocorridos em épocas passadas, notamos como a nossa percepção do tempo muda à medida que os anos passam. Há mais de quinze anos estávamos conversando com uma prima de Carlos sobre esse período em que moramos em São João da Aliança. Então sem pensar, fui dizendo para ela, que lá nós só tínhamos como amigas duas velhinhas de sessenta anos. Entretanto não foi no sentido de desvalorizar minhas amigas, mas para ressaltar a nossa diferença de idade. Mesmo assim a prima de Carlos, quase que me crucificou, pois essa era a idade dela. Tive muito trabalho para consertar meu erro. Fui explicar que com vinte três anos, achava que pessoas com mais de sessenta anos já eram velhas. Mas com minha idade do momento já não pensava assim. O certo é que fui perdoada e hoje tenho muito cuidado quando o assunto é idade. Aprendi a lição, pois viver é um eterno aprendizado.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Saudades de Corujinha Baiana !

Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trêmulo sem ritmo
na esfera da vida.

Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.

Eles dizem-me no seu despertar:
" Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito."

E no meu sonho eu respondo-lhes:
"Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."

Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:

"Quem és tu?"
( Kahlil Gibran )

A FEIRA DE ANTIGAMENTE – POR PEDRO ESMERALDO


No tempo de minha infância, observava com muita tensão o movimento circulante dos mascates na antiga estrada velha que liga Crato a Juazeiro para a movimentação da feira do Crato.

Era coordenada por uma legião enorme de romeiros que marchava em direção do Crato a fim de buscar seus bens necessários para sua subsistência.

A feira do Crato sempre foi considerada uma das maiores feiras do nordeste. Tinha toda espécie de bugiganga, como especiarias, cereais e também pequenos animais domésticos: aves canoras, suínos, ovinos e caprinos. Era longa e seu movimento assustador. Não havia outro igual.

O povo de Juazeiro, possuidor de grande vocação para as obras artesanais, fabricava seus utensílios durante a semana, após o movimento do seu trabalho árduo na agricultura; produzia durante a semana a sua cultura agrícola para depois vir movimentar seus negócios na feira do Crato.

Era uma comunidade pacífica e capacitada para pendores artesanais com grande movimentação de utensílios domésticos, o que aproveitava o seu labor com a venda nesta devida feira. Os mais pobres não tinham condições financeiras e carregavam na cabeça os seus produtos manufaturados, os mais bem aquinhoados utilizavam seu transporte utilitário que eram as carroças de tração animal, o que vinha ser mais atenuantes na sua tarefa, e os menos possuidores de recursos teriam de concordar com as sujeições dos fiscais da prefeituras.

Nessa época, quase não havia carro, já que as duas principais cidades do cariri eram incipientes no movimento progressista e não podiam movimentar, de maneira alguma, os seus serviços com mais eficiência em busca da civilização mais bem acentuada, além disso, arcavam com poucos recursos financeiros e ainda não possuíam métodos educativos evoluídos. Esses movimentos eram suavizados e controlados pelos poderosos coronéis do sertão. Por isso, os técnicos da produção agrícola traziam pouco poder aquisitivo ao sertanejo que era completamente rudimentar, pois eram dominados por uma classe ruborizada e grosseira de pseudo-protencionistas.

Nesse período, ou sejam entre as décadas de 40 e 50, observava-se um comportamento ruidoso, deixando todo o pessoal submisso, sem procurar meios favoráveis para melhorar sua vida económica. Esses movimentos eram controlados pelos poderosos coronéis, a fim de se locupletarem com as benesses dos trabalhos agrícolas e procuravam controlar a submissão que, há tanto, dilacerava os pobres, deixando-os conviver em absoluta pobreza.

Por sua vez, causava admiração em observar a coragem desse povo humilde conduzir as suas quinquilharias para movimentar a feira do Crato.

Convém notar que essa classe pobre durante dias e noites, tinha que se desloca das suas atividades agrícolas para administrar em casa a sua tarefa artesanal, fabricando rudimentarmente os seus utensílios para, juntamente com a mulher e filhos, complementar com produto agrícola a sua economia. Fabricava de tudo desde vassouras, bacias de flandres, foice, espingardas, garruchas etc.

Hoje, devido a modernidade, não temos mais esse movimento febril, já que as coisas mudaram tudo para melhor, pois vemos um trabalho mais sofisticado e com melhoria de produtividade e adequando ao tempo moderno. Esse tempo de miséria já passou. Graças a Deus.

Crato-CE, 29 de Julho de 2010

Flerte Matrimonial Dos Objetos

A minha xícara
tem duas pequeninas
fissuras na borda

(o quadro se assemelha
a um sorriso)

e logo que a cafeteira
canta ofegantes suspiros

o som passa pelas covinhas
da minha xícara

trazendo-me à alma
um estalo.

Levanto-me da escrivaninha.
Arrasto-me os chinelos.

Da porta da cozinha
(emocionado)

vejo a cafeteira
e minha xícara
próximas,

em profundo deleite
sem uma pontinha
de ciúme

por ser, afinal, o poeta
o único desvairado
senhor delas
e delas escravo.

Do baú de Stela Siebra Brito

Metafísica é para isso?

Sei mais falar do que me fere
daquilo que me atormenta
me amedronta
me encurrala me açoita me violenta

Sei mais falar do silêncio
das palavras malditas
incontidas
encurtadas
invertidas

Sei mais falar do meu avesso
atravessado na garganta
sei mais falar do que me cala
e me mata.

No entanto vem o vento
e ultrapasso o desvão da memória humana:

um homem passa de bicicleta
escuto o barulho do mar
cai uma chuvinha fina fria
encharca minha alma
me lava.

Renasço.

Até o próximo ano !

E a vida continua. . A rotina já se restabeleceu. Começo a avaliar , com todo meu espírito crítico , os nossos lapsos,  distrações, e vou anotando num carderninho, para que no futuro  não se repitam, e que o projeto LIVRO, volte a acontecer em 2011.
Não tenho na boca  um gosto amargo de festa. Tenho a lombra  de ter sorvido um coquetel de alegrias. Encontros ... Foi a nossa tônica !

Fotos autorizadas à Claude por Dihelson Mendonça

Por João Nicodemos

o poeta olha o mundo
vê as pessoas
vê as coisas

não move um dedo
nem pisca um olho

mas
quem vê dentro
sabe...

Um texto que não foi publicado - Por Edilma Rocha

MENINA DA RUA DA VALA - Por Edilma
O mundo se resumia apenas em uma rua na mente de uma criança. Os limites iam desde a casa do Sr. Antonio Alves até a oficina do Sr. Moreirinha. Sair mais adiante para a escola Pio X na praça da Sé, só acompanhada de Vilanir. E a alma de criança se deliciava com aquele imenso mundo de descobertas vividas em uma rua. A rua da vala.
Menina sapeca, só uma entre três irmãos. As brincadeiras eram de meninos, jogava bola no final da tarde enquanto todos trabalhavam na casa e depois de muito corre-corre e suja de barro, era hora de entrar para se tornar uma princesinha. Vestido rodado, grande laço na cintura, meias de crochê; os cabelos eram penteados com capricho, afinal, todas as tardes as menininhas passeavam na calçada. Ao entardecer a luz elétrica dava o sinal para apagar três vezes e tudo escurecia, era hora de dormir. Tudo começava outra vez com um outro dia cheio de novidades na rua da vala...
Tinha o homem que vendia maçãs todas as quintas aguardado por todos com o dinheirinho bem apertado entre os dedos da mão. Vermelhas, brilhantes, lindas como a história de Branca de Neve e estava ali mesmo, naquela rua. As duas da tarde, todos os dias, era do padeiro o caminho da calçada, pão dôce quentinho com a forma de jacaré. Coisas simples e deliciosas para a garotada. Sem deixar de falar do picolé de Bantim que os meninos traziam de uma audaciosa corrida atravessando o beco e chegando a praça Siqueira Campos. Os correios ficava na esquina para colecionar os sêlos. No prédio do palácio do comércio, a alta escadaria para a nossa felicidade e ainda o escritorio da Companhia Real que estampava nas paredes as fotos do lindos aviões, pilotos e aeromoças. Os bangalôs da rua pertenciam as familias ricas, como o Sr. Antonio Alves, Dr. Hermano Teles e Sr. Aderson Tavares. As outras casas eram simples e de paredes coladas, enfileiradas com calçadas que perdiamos de vista até o canal...
O dia mais festivo era de chuva. Todos nas janelas admirando aquele rio forte e perigoso, sair, era proibido. As águas turvas e barrentas que vinham dos dois lados da cidade desciam com uma velocidade tão grande que levavam tudo pelo caminho. Um espetáculo aguardado todos os anos e depois de tudo, a brincadeira dos barquinhos de papel que corriam pelas cochias e iam embora rapidamente... Ficava uma arreia fininha para o jôgo de triangulo e bila; hora dos carinhos e bonecas sairem de casa. Nas noites de São João podíamos ficar até a luz ir embora pois as fogueiras iluminavam a rua da infância. Cada um recebia uma caixinha cheia de traques, pixites e bombinhas compradas em Sr. Heleno. E tudo era festa ! Se ficasse dodói, os doutores estavam na rua; Dr. José Wlisses, Dr. Jéferson e Dr.Mauricio Teles; se precisasse estudar, Juracy Batista estava nos esperando com a terrivel palmatória. Não havia doenças graves, só olhinho com dordolho que amanheciam fechados, nada que uma água morna não resolvesse. Bebia leite com toddy e tomava Emulsão Escot que o papai dizia que era prá não ficar burra e raquítica.
Felizes lembranças que ficaram para sempre de uma rua tão pequena e tão grande no coração de criança... As amiguinhas ? Foram embora atrás dos seus sonhos... Mas reencontrei três preciosas delas, Zelia, Verônica e Socorro Moreira.

Edilma Rocha

Amanhã, 31 de Julho, é o aniversário de Liduína Belchior Vilar !

Aguardamos o momento de apagar as velas . Chamas de vida que ela encerra !

Um abraço carinhoso , meu, em especial !

Dois Corações (A arte de amar)- Por Vera Barbosa

"De que é feito o amor? Dizem que o amor é paz." Os versos, na voz de Nana Caymmi, dão início à bela canção, e eu me ponho a acreditar que a afirmação é verdadeira. Depois de um longo processo de reconstrução interior, finalmente, redescobri o amor - e ele a mim. E, nessa fase de purificação do sentimento, sinto-me leve como uma bolinha de sabão. Serenidade, substantivo abstrato essencial à concretização da felicidade. A definição a meu respeito, hoje, é essa: estou serena.

Nos últimos meses, eu vinha me policiando e me reservando, a fim de evitar uma aproximação nociva de quem quer que fosse. Tá, eu não sou de cristal, mas quebro. Fico sem as pernas quando me decepciono com alguém e, a partir daí, faço mil questionamentos, revejo meus atos e conceitos (e também dos que me são próximos) à procura de uma resposta sobre o descaso com que as pessoas tratam os sentimentos alheios. Enfim, eu penso sem parar e não chego a conclusão alguma, além das tão conhecidas por todos: o ser humano é inconstante, egoísta e incompreensível.

Entretanto, em se tratando do que eu sinto e penso, tenho muita clareza do que me agrada, bem como do que tenho a oferecer e também do que espero. "Eu nunca quis pouco, falo de quantidade e intensidade", como Caetano explicitou. Claro, como qualquer outra pessoa, também tenho dúvidas, mas, quando elas surgem, eu não as ignoro, pois acredito que podem crescer e virar um bicho de sete cabeças que acabará me engolindo. E o começo-meio-e-fim vira um círculo vicioso: eu vivo, experimento, sinto. Aí, tudo vai pelo ralo, e eu recomeço o ciclo.

Diante das decepções vividas, eu decidi ficar na minha e evitei, ao máximo, um contato mais íntimo com qualquer pretendente. Em alguns momentos, hesitei e sucumbi ao desejo de burlar a solidão, mas nada que significasse uma ameça incisiva de quebra do meu silêncio. E fui ficando assim, bem comigo mesma, tranquila, desisti de apressar o rio e deixei que ele corresse sozinho. Foi então que constatei mais uma verdade: se você cuida bem do seu jardim, não precisa caçar borboletas, pois elas vêm e pousam sozinhas em seu canteiro.

Para arrematar o raciocínio, apesar dessa contenção de emoção a que me propus, nunca deixei de acreditar no ser humano e no amor. E a vida, tão generosa comigo, apronta suas peripécias e me coloca no caminho da refação sentimental. Quando menos espero, estou pronta para outra. Outra experiência, veja bem, não outra decepção. Porque essa sempre magoa e maltrata, não há como estar pronta para recebê-la.

E foi assim que tudo aconteceu, natural e espontaneamente. Chegou o momento de me entregar de corpo e alma e, sem pudores, me desnudo para essa que ainda é a melhor de todas as sensações que a vida pode nos proporcionar. Termino com os versos do saudoso Gonzaguinha, num brinde à delicadeza do amor.

Vida, vida, vida
Que seja do jeito que for
Mar, amar, amor
Se é dor, quero um mar dessa dor
Quero meu peito repleto
De tudo que eu possa abraçar
Quero a sede e a fome eternas
De amar, e amar, e amar

por Vera Barbosa

Viagem - Por Ana Cecília S.Bastos

 
Ela registrou seus sonhos no caderno que lhe dei
de presente.
Ela arrumou na mala pedaços  de sua alma.
Suas veias abertas sangram em despedida.
Ela diz adeus para lugar nenhum e parte,
sem quandos nem ondes.

Fantasmas melancólicos dormem em sua cama
solitária.

A lágrima sobre a mesa.


por Ana Cecília.

CESUMAR - Universidade Privada de Maringá ( PR)- por Edmar Cordeiro

Edmar , depois  de vivenciar as festividades  do Cariricaturas, voltou  para sua morada , e nos manda notícias de lá. 

Abraços ! Você deixou saudades.

Hoje, hoje! às 20h, SESC de Juazeiro do Norte.

Por Vera Barbosa



o verbo
mudo
não me cala
o verso


                                                                     ( Vera Barbosa)

Conversa puxa conversa (4) - Por Sônia Lessa



A fila do supermercado era longa.
Dava tempo de muita conversa.
O fio da meada era o preço do ovo de Páscoa: ela ia comprar na cidade,
segundo uma amiga, era mais barato.
Argumentei que não valia a pena,
a passagem do ônibus equivalia à diferença.
Contou-me que era cobradora de ônibus,
tinha carteira para andar "de graça".
Disse-lhe que deveria ser por isso que seu rosto me era familiar.
Cabelo sarará, olhos verdes, pele clara,
certamente cruzamento de judeu com negro.
Ponderou que talvez não fosse ela quem eu pensava,
pois há dois anos estava de licença.
Havia sido vítima de 6 assaltos e tomara a decisão de pedir demissão.
O gerente lhe sugeriu licença médica. Categórica, observou
que o conselho do gerente era melhor situação
para a empresa e para ela:
para a empresa, porque era sabido que cobradores de ônibus
costumam reaver, através da Justiça,
o dinheiro com que ressarcem a companhia quando ônibus são assaltados;
para ela, porque ainda devia o correspondente aos 2 últimos assaltos
e durante a licença não era permitido que lhe fizessem descontos no salário.
Melhor então que ficasse à custa do INSS.
Interrompi minha recém-conhecida nesta parte da conversa
e confessei minha surpresa por não saber
que os cobradores dos ônibus assaltados arcam com tal prejuízo.
Explicou-me que os donos das empresas fazem isso
para evitar combinações entre cobradores e assaltantes...
Nessa altura, atônita, ainda pude perguntar-lhe
se em alguma das vezes havia sido agredida.
Fez expressão de sofrimento e com um gesto de cabeça afirmou que sim.
Começou a falar baixinho, só para mim,
deixando curiosas nossas vizinhas de fila.
Foi-se chegando, cabeça quase encostada na minha,
cochichou que o pior acontecera fora do ônibus.
Costumava sair de casa às 3 horas da manhã, porque às 4
partia o primeiro ônibus da garagem.
Estava com a farda de cobradora
e mesmo assim fora estuprada por 3 homens.
Nas ocorrências dentro do ônibus, pelo menos, os assaltantes
levavam somente o dinheiro que depois lhe descontavam.
Nessa vida já se iam 4 anos.
Agora seus nervos estavam esgotados.
Foi licenciada e talvez lhe aposentassem.
Na última eleição para deputado o gerente lhe visitara em casa
e advertiu-lhe de que o INSS podia ter métodos capazes de reabilitá-la,
sobre isso não sabia ao certo. Mas o motivo da visita era lembrá-la
que o dono da empresa era candidato
e contava com o voto dos empregados.
Em tom de quem extrai confissão perguntei-lhe se havia votado nele.
Secou as lágrimas com o dorso da mão que segurava
um pacote de margarina.
Outra vez, fez expressão de sofrimento
e com um gesto de cabeça afirmou que sim.

Ilustração do artista plástico cearense Mário Sanders
por Sônia Lessa

Lembrado por Aloiso

Matão, raízes



Vídeo de lançamento do livro "Memória da terra" (22-07-10), de JCMBrandão, mostrando que o autor faz poemas telúricos porque tem suas origens na terra.

__________