Juazeiro do Norte fica no Cariri cearense, no coração do Nordeste. Terra de encontros e caldeirão mítico de povos dos sertões. Terra do centro, terra santa, ainda encantada, embora pareça uma cidade ordinária. Quem assim a vê não sabe da cidadela sagrada que é. A Sedição de Juazeiro, depois do massacre de Canudos pelos exércitos da República, foi a segunda importante guerra do mar contra o sertão.
Considero Juazeiro do Norte o ensaio cultural de um Brasil que teima em se firmar a revelia de sua atrasada classe dominante, constituindo-se em uma civilização diversa e única: pelas principais vertentes culturais herdadas de povos que por lá viveram e pela capacidade em gerar uma cultura original, com seus mitos fundadores, sua religião, seus deuses e demônios, seus artistas
e poetas, seus guerreiros e profetas.
Conectada com temporalidades, simbologias e sociabilidades distintas, feita de ambiguidades sem fim, sendo a um só tempo sagrada e profana, figural e abstrata, tradicional e contemporânea, punk e armorial, líquida e fincada na terra, Juazeiro do Norte é um presente do povo sertanejo ao Nordeste, ao Brasil e ao mundo.
Sua riqueza advém dos romeiros, da religiosidade e da arte popular. Diz-se que lá uma verdade comporta 70 mentiras e cada uma destas contém 70 verdades, ad infinitum, até a glória de Deus. Este caleidoscópio do mundo, o poeta Oswald Barroso chamou de
“reino da luminura”.
Nesse lugar de histórias e visões, cantorias e orações, romeiros e artesãos que cintilam feito estrelas no céu da imaginação de inúmeros cineastas acontecerá o 21º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema de hoje a 16 de junho.
Pela primeira vez, o evento estende suas atividades ao interior do Estado. Realizado em Fortaleza de 8 a 15 do mesmo mês, o Cine Ceará traz o tema “Religião e religiosidade no cinema”, homenageando os 100 anos de emancipação política do município.
Rosemberg Cariry, Cineasta
FONTE:Jornal O POVO ON LINE
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