Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 6 de dezembro de 2009

O Beijo da Lua - Por Claude Bloc

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A lua nascia. Em volta da casa, as árvores velavam o sono inquieto dos cães. A noite chegava por entre silvos, chiados e coaxares, parecendo desprovida de laços temporais.
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Ainda sonolento, ele se levantou em meio àquela quase absoluta escuridão. Não havia percebido a chegada da noite. Ficara ali sentado pensando por tanto tempo que o sono lhe viera sem aviso. Simplesmente fechara os olhos. Os pensamentos e as lembranças foram se embaralhando com os sonhos, fluindo por entre os vapores oníricos de seu íntimo. Abandonara-se àquele sonho, sentindo-se livre, verdadeiramente livre porque liberto das amarras da razão. Sonhos e desejos cingidos num abraço carnal, abrasados pela vontade do encontro. Esperara durante muito tempo por esta, finalmente palpável, possibilidade.

Alongou o corpo massageando a nuca. Ficara por quanto tempo ali? Não usava relógio, mas imaginava que por mais de uma hora estivera preso àquele mergulho emocional. Cada som que ouvira, parecia-lhe sincronizado com a emoção, com as imagens cambiantes e cúmplices que lhe povoavam o íntimo.

Caminhou até a porta. Sentiu, apesar de tudo, certa tristeza por estar ali sozinho naquele momento. Só!

A noite crescia sorrateiramente. Ele parecia encontrar-se com a própria voz sussurrando sutilezas num solilóquio, transitando num inesperado ruído interior. Decidiu ir até o alpendre. O silêncio momentâneo o incomodava. A tensão que sentia revelava o profundo momento reflexivo. Tinha certeza de que preferia a liberdade de uma solidão planejada... Teria sonhado além do possível?

Os cães agora o rodeavam afáveis, mas atentos. Executavam um alegre balé canino. Satisfeitos com a atenção recebida, afastaram-se aos poucos. Seu olhar seguiu os cães agora encobertos pela escuridão. De súbito reparou no rastro de luz que se projetava sobre o gramado ao lado da casa. A lua!

Desceu o batente e agachou-se ao tocar a grama com os pés. Sentiu-se naquele instante encapsulado na pele de um personagem diferente do que sempre fora: onisciente, esquivo, mas internamente dócil e indefeso. Acomodou-se na grama apoiando a cabeça sobre as mãos. Permaneceu imóvel. O detalhe essencial agora ficava por conta do cenário. Procurou conciliar a cena obscura e sua abstração, como se delineasse uma pintura ao natural. Sutilmente foi executando a obra com pinceladas gestuais leves, contidas, na tentativa de capturar o espírito de outras épocas com o filtro das emoções atuais. A tela de repente se envolveu de grandes gotas de luz. Assim, deitado na grama, deixou-se incitar pelas estrelas, cada uma tocando um espaço peculiar em suas lembranças.

Sentiu-se um ponto apenas naquela imensidão. Entregou-se ao êxtase daquele abraço com o universo. Cada célula do seu corpo oscilava entre silêncio explícito e o suspiro da noite. Repassou sua vida, repassou todos os momentos - passado, presente - repassou o tempo à mercê da emoção daquele espetáculo. Escutou o oráculo. Pressentiu as vertigens dos sorrisos, os presságios da tarde finda, o silente apelo da felicidade.

... E seguiu a lua em seu vôo solitário. ...E bebeu-lhe o hálito orvalhado num beijo.


Texto por Claude Bloc
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3 comentários:

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Claude

Gostei muito deste seu texto. E a lua rasgando a escuridão da noite, como se fosse a vida nascendo de um ovo, ficou muito bonito e me tocou muito.

Claude Bloc disse...

Carlos,

Agradeço pelas suas palavras demonstrando a sensibilidade de um poeta...(embora você diga não ser)

Abraço natalino.

Claude

Anônimo disse...

Claude

Não tenho alma de poeta, mas sinto a sua sensibilidade passada no seu texto. Embora não sendo poeta, gosto de ler as suas poesia e seus textos.

Parabéns


Abraços