Um abraço no tempo
- Claude Bloc -
Olhei para a lua e abri um sorriso discreto. Será que a lua seria a mesma de qualquer ângulo pelo qual se olhasse? Olhei para o relógio. Olhei em volta... Os ponteiros eram insistentes, demoravam para se mexer. Ao redor, pessoas sorrindo, pessoas conversando. Chegadas e partidas. Cheiro de mato. Cheiro de saudade. Mas me resguardava no meu silêncio.
E amanhã como seria? Ainda teria a lua no meu olhar?
Fiquei quieta por instantes. Ensaiava quais seriam as primeiras palavras que eu diria depois... Tantas seriam as perguntas, tanta seria a ansiedade! Abri os braços, fechei os olhos e esperei sentir a brisa passar breve e suave pelos meus cabelos.
Depois, deitei-me desajeitadamente. Abracei aquele tempo guardado em meus braços. Prendi a emoção num sorriso ingênuo e brilhante. Quem era eu agora? A menina da foto ou aquela que me observava no espelho da moldura? Não sei, não sabia. Apenas sentia que me guardava inteira nessa saudade desmedida e terna ao mesmo tempo.
Sentei-me na cama. Espanei o pó naquelas velhas fotos. Contemplei numa das fotos minha face juvenil, ainda cheia de sonhos e de indecisões. Procurei um porta-retrato para encaixar aquela lembrança. No espelho, novamente encontrei meu próprio rosto, o passado refletido implacavelmente em cada marca do tempo. Num relance revi tudo pelo que passei, tudo o que a vida me fez. Isso estava escrito e pontuado no meu semblante cansado.
Olhei de novo para o retrato e me lembrei da lua. Linda e brilhante, flutuando lá fora pelo vale. Beijando as fronhas da serra. Banhando o Crato com a prata do tempo. Ouvi seu canto, meu canto. A lua clareando meu quarto, pousando nas fotos, entoando os sons da noite ao meu ouvido. Eram sons de outros tempos se misturando ao presente, pousando nos sonhos, sufocando a ausência, buscando alento.
E agora eu só via esse atropelo de lembranças espalhando saudades pela casa. Uma criança de cabelinhos pretos correndo, girando descendo os degraus da escada... Fitei, na foto, aquela menina, e me voltei para o espelho. No fundo de meus olhos castanhos a saudade ainda cintilava. Guardei as fotos. Dormi com a lua.
Claude Bloc
2 comentários:
Um abraço em você, atemporal! Bjs, linda imagem!
Menino Pachelly
Outro abraço.Vindo de você a observação fico feliz e lisonjeada.
Hoje estarei no seu show.
Talvez respinguem em mim algumas gotinhas d o seu brilho....
Claude
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