O Pássaro Cativo
Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
*Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
*
É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam, É que, criança, os pássaros não falam.
Sem que os homens os possam entender.
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
*
“Não quero o teu alpiste!
“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste.
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci.
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
*Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi ...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas ...
*
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes?
Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
*"Quero voar! voar! ... "
Estas coisas o pássaro diria,
Estas coisas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão...
*
Olavo Bilac
Olavo Bilac
Do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário