- Claude Bloc -
O que restava do pé de baraúna até uns 4 anos atrás
.Quando crianças, acreditamos em tudo. Nos põem medo do que não existe, criam enredos que passam pela tangente da imaginação, rebocam as paredes da nossa criatividade, sem direito a pesar ou medir o resultado do desenlace e a autenticidade dessas fantasiosas empreitadas.
.Pois foi lá em Serra Verde que me apareceu uma dessas histórias meio escabrosas a qual, na verdade, nunca quis experienciar, nem fazer o teste de S. Tomé.
Era o seguinte: todo final de tarde a turminha de irmãos, primos e amigos que passavam as férias na casa-sede com a gente, depois de um bom banho no açude, seguia em bando para passear a pé pela fazenda. Havia algumas opções para os passeios: dirigir-se à Represa (do açude) onde morava a família Carlos, João Paulo e “Sulidade”, Maria de Geraldo, João Soares e João Franco com suas devidas famílias. Ir até o engenho no mês de julho, ou simplesmente ir à bodega de Seu Moreira, pra comprar algum bombom. Ir até o Jardim, sítio dos Botelhos e Aurélios (Orelo), que ficava perto do engenho ou pros lados do Guedes, aonde depois vieram morar Mãe Cândida (Cãida) e Mãe Naninha, duas irmãs, boleiras de mão cheia. Havia também a opção de subir a ladeira da Serra, em direção à casa de Seu Manoel Dantas. Cada tarde havia, portanto, uma opção diferente para se escolher.
Nesses passeios, em cada terreiro uma saudação aos donos da casa, um gracejo, ou se ia “escruvitiar” pelo chão de terra em busca de pedrinhas coloridas ou, quem sabe, subir nos pés de cajarana em busca dos frutos de vez... Eram portanto, mil estripulias, sem contar com o drible às vacas que ruminavam pela estrada, ou pelos terreiros das casas...
Já quase chegando em casa, subíamos a última ladeira que embeiçava o açude e fatalmente passávamos por um velho pé de baraúna, altivo e sinistro. Seu tronco ocado estava sempre quase abarrotado de pedras atiradas pelos passantes. Aquele vão no tronco da árvore parecia nunca se satisfazer, pois nunca estava completamente cheio. Naquele nosso tropel, sempre conduzimos alguma pedra na mão para ali depositarmos o que, para nós, significava uma passagem sem sustos para o que nos restava de caminho até chegarmos em casa. Assim, acreditávamos estar alimentando a árvore e dessa forma não correríamos o risco de ver a assombração que aparecia no pé de baraúna a partir do cair de uma noite fechada.
Pois é, seu João Franco e Seu Joaquim Carlos juravam ter visto sair dali, no meio da escuridão, um cachorro preto de olhos de fogo... E o bicho só parava de segui-los quando chegavam no terreiro da casa-sede. Daí......... você se arriscaria a passar lá de noite sozinho/a? Quem disse? (Eu também não!)
O que se soube foi que um dia o cachorro dos olhos de fogo “deu uma carreira” em Seu João Franco e o mordeu (não sei aonde)... E conta a lenda que toda noite de lua cheia seu João Franco virava lobisomem.
Um comentário:
Grande, Claude !
Esse texto vale uma fábula !
Saudades de você, minha amiga !
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