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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Avatar - por José do Vale Pinheiro Feitosa

1 Rubrica: religião.
na crença hinduísta, descida de um ser divino à terra, em forma materializada [Particularmente cultuados pelos hindus são Krishna e Rama, avatares do deus Vixnu; os avatares podem assumir a forma humana ou a de um animal.]
2 processo metamórfico; transformação, mutação

James Cameron's epic motion picture, Avatar”.

Com tais palavras o site oficial do filme explica a que veio. Com todas as suas metáforas, fantasias, lendas das forjas de Hollywood, o pretensioso se mostra muito aquém (ou além) do resultado. É um filme pipoca, bebe nas águas de Walt Disney, mergulha nos diversos “Guerra nas Estrelas” e emerge, quase faltando o fôlego, com o discurso oficial da sociedade americana. Qual discurso?

Da sociedade e dos governos do hemisfério Norte. As riquezas materiais do território do sul não podem ser exploradas. Tudo aquilo que antes era reserva ao sul do equador, deve permanecer como tal para um futuro uso dos habitantes do Norte. Não é esta a metáfora direta, geraria revolta a sul e quem sabe até ao norte. É a metáfora indireta, aquela que, por travessa, diz o essencial: não toquem nisso que não é de vocês, é nosso.

É a posse “internacional” do território que antes ainda era tido como o inviolável das nações. A Amazônia é deles, o petróleo do pré-sal, também, o que é nosso é o subdesenvolvimento e a pobreza. Vamos olhar para o Avatar James Cameron: numa manifestação, internacional, contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Bem aqui no território nacional, junto a quem de direito e com o espírito, não metafórico, da mídia amiga do imperialismo.

Agora vamos à qualidade do discurso hollywoodiano tanto de Al Gore quanto este recente de Cameron. Aliás, se encontra mais explicitamente no filme 2012, quando o mundo é salvo, com uma arca de Noé moderna, construída para salvar apenas os espécimes do G8. Deve ter sido roteirizado e filmado antes da crise que caiu no colo deles com mais vigor que o argumento do filme.

É um discurso tipicamente de psicologia social, disfarçado de bem comum, para defender a reserva da qualidade de vida das sociedades avançadas, que consomem escalas assombrosas da energia do planeta e dos seus recursos minerais não renováveis e aqueles renováveis. Falam do bem comum com aquele direito de intervir no outro, preservando o seu modo como herança de privilégio.

Ora eles têm que pagar mais pelo que nos tiram. Devem consumir menos do que estragam para que, também, possamos. Precisamos de água limpa, escola decente, saúde coletiva, moradia de qualidade, melhorar enormemente as nossas cidades, articular a malha de transporte numa escala centenas de vez maior do que a de hoje. A metáfora deles corrompe os jovens e vicia os que desistiram das próprias pernas.

O Avatar não é nossa fantasia. É, sobretudo, o processo metamórfico, ou a mutação do discurso imperialista como modo de preparar o futuro exclusivo para eles. E o futuro deles não é tão distante assim. Amanhã virá o segundo capítulo com a exploração dos recursos.

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