SILVASSA · Salvador, BA
É pra ser uma resenha. De um dos livros mais geniais que li até agora. E não porque o escritor é meu irmão e chapa, parceiro de noitadas, biritas e similares. Dos bons tempos. A afirmação vem junto com a certeza de que os escritos que tenho comigo agora são verdadeiramente raros. Digo raros, pois entendo que, num mundo de escritores muito formais, ou de outros que se engajam em falsas vanguardas – um chute nos bagos em métrica e rima -, estes poemas funcionam como providenciais coquetéis Molotov.
Esse tipo de arte anda meio esquecida, já que cada vez mais os leitores preferem à prosa. Como se a velha matrona literatura jogasse pra escanteio a poesia furiosa, bela e inflamável.
Os textos que leio neste exato momento são aqueles que acordam os excessivamente metódicos. Em seus escritos e, por que não dizer, em suas vidas. Não que eu tenha nada contra os melancólicos de olhar tristonho e os filósofos de plantão – alguns donos de textos inspiradores. O que eu não tolero é o sujeito fingir que implode toda vez que escreve algo, enquanto não passa de um babaca enclausurado. Até ter a capacidade de diferenciar um do outro, vai um logo caminho. Mas a gente percebe a falsidade e a fraqueza explícita em cada ponto e vírgula depois que pega a manha.
Então, sendo isso aqui uma suposta resenha de um livro, sou obrigado a dar algumas informações didáticas e necessárias, antes de divagar um pouco.
Lupeu Lacerda, artesão e escritor, nasceu em Juazeiro do Norte. Passou bravamente – e com bêbado louvor– pelos anos setenta e de lá tirou suas melhores referências. Na verdade, longe das débeis cronologias, o escritor sacou que muita coisa hoje considerada eterna – Helter Skelter, dos Beatles; o disco Aqualung, Robert Crumb, Leminski, entre tantas outras ondas – surgiu naquela época. Tornando-se o seu lastro. Além de ser o tipo de cara que vislumbrava atrás de um muro, ou de qualquer vastidão seca, árida e meio desesperançada, um mundo de possibilidades, certamente o ar, a famosa resposta soprada pelo vento do Dylan, também deve ter feito lá seu estrago. E ele caiu fora. Viajou, montou bandas, tomou todas, escreveu pra caralho. Principalmente em fanzines, num momento em que isso implicava em datilografar os textos, recortar fotos e montar tudo com cola para, depois, tirar umas fotocópias.
Quando não era feito no jurássico e extinto mimeógrafo.
Seus textos foram “publicados” em diversos desses bravos redutos de literatura, tais como Séquiço Sacro e o Art Pop Zine, antológico zine que sacudiu a velha Juazeiro natal do sonolento João Gilberto. Viveu com a intensidade digna dos escritores que tanto admira – e esqueçam aqui o peso “clichê” da frase; se conhecerem um dia o cara verão do que falo: suas aventuras e viagens estão gravadas em seus olhos.
O livro Entre o Alho e o Sal - um petardo de 136 páginas, de qualidade gráfica indiscutível - começou a ganhar corpo no início da década de 90. Ao menos como projeto, algo que pudesse se transformar em livro. Foi nesse período que a coisa tomava um outro rumo para o poeta. Não em suas convicções, mas no mundo em si - ou alguém esqueceu que foi a partir de 1990, mais ou menos, que as nossas velhas crenças começaram a sumir com a chamada revolução tecnológica? O livro, assim como a tal revolução de bytes, teclados, chips e todo o resto, veio sem data pra terminar. Entre uma noite e outra, Lupeu enchia garrafas com gasolina e ácido sulfúrico, colocava um velho pano nos gargalos, acendia seu cigarro e esperava: ou seja, escrevia.
Na época ele já tava morando na terra natal do suposto gênio da Bossa Nova. Foi por aí que o conheci. A cidade não era mais tão sonolenta quanto seu filho desafinado e temperamental. Aqui e acolá, rolavam shows de bandas locais. Peças de teatro eram montadas no peito e na raça. Muita gente boa andava pelas estreitas ruas de pedra com Kerouac, Ginsberg, Henry Miller e Murilo Mendes debaixo do braço. Além de contar com um sebo, heroicamente comandado por Hélio, Dom Roncalli e Uberdan – nobres desconhecidos para vocês, mas fundamentais pra caras como eu. O sebo ficava numa sala pequena e acolhedora, em frente à igreja principal. E estava sempre lotado de clássicos da literatura mundial, livros Beat, quadrinhos verdadeiramente undergrounds e vinis raríssimos. Foi lá que eu vi, pela primeira vez em minha vida, um exemplar do Pasquim, da década de setenta.
Também foi ali que Ângelo Roncalli, amigo, autor do livro Orbitais e editor, teve o primeiro contato com o que seria Entre o Alho e o Sal. E gostou, batizando o tal com o título. Então, convertido numa espécie de Lawrence Ferlinghetti do São Francisco - não confundam com San Francisco -, começou a batalhar para que a obra pudesse ser publicada, muitos anos depois. Mas a falta de grana, recurso motriz de qualquer porra neste mundo confuso, jogou o projeto por água abaixo. Apesar do esforço eminente a coisa não vingou para o nosso Dom Roncalli.
Foi aí que outro cara, Sidney Rocha, amigo de longa data, sujeito nascido na Juazeiro inicial, a do Norte, topou a parada. E, “... se apaixonou pelo projeto”, como afirma o autor. Tomando pra si a iniciativa de publicar aquelas verdadeiras e ferventes sacações de mundo. E foi ele quem deu as caras e correu atrás – e deu a cara ao livro. O projeto gráfico, que contém alto relevo, ilustrações fabulosas de Leugim, colagens de Spirit, Crumb e etc – num merecido revival dos bons tempos dos zines – é algo que complementa o livro. Digo, sem risco de errar, que o editor e idealizador da Kabalah Editora tratou com todo o respeito à obra do cara. Coisa de parceiros.
***
É comum, quando alguém faz uma resenha, rolar aquele tipo de comparação fundamental com algum escritor antigo e de maior visibilidade. Geralmente, esses críticos de literatura fazem o que eles próprios chamam de “traçar um paralelo” entre o autor “x” e o “y” – na maioria dos casos o “y” é novato e tem sua obra diminuída pela comparação malfadada. E, na concepção inicial deste texto, enquanto organizava mentalmente as idéias, não foi diferente. Tive a pretensão vaga, que logo virou fumaça, de compará-lo ao Waly Salomão e Leminski. Ou até mesmo ao Gregory Corso. O que para Lupeu, creio, seria motivo de orgulho. Porém, tanto eu quanto o Roncalli e o próprio Sidney, que escrevem no livro, não caímos nesse expediente; um puta esparro. Por compreendermos tanto o livro. E por sabermos que as condições, contexto, história, vida, vontades subentendidas e escancaradas, biritas, fodas, madrugadas heróicas e outras coisas mais que fizeram surgir os poemas, foram tão diferentes e únicas, resolvemos impor nossa vontade. Colocamos Entre o Alho e o Sal ao “lado” dos grandes. Numa boa, sossegados.
Nas palavras – ou seriam tiros ? - do Sidney: “Não que eu catalogue o trabalho de Lupeu Lacerda com vanguardista ou romântico. E não o faço temendo outros críticos, que sabem muito bem que estas categorias carecem de significações mais profundas (...). Não o faço só porque não aprecio a catalogação das espécies(...)”; no que Roncalli arremata: “Entre conhecimentos que ainda não temos, entre coisas que temos e ainda não conhecemos. Lupeu é lupa e telescópio...ao mesmo tempo(...)”
Lupeu é lupa e telescópio...
Ou seja, os “molotovs” – dei esse nome pela carga explosiva contida em cada linha - deram conta do recado e incendiaram essa minha vontade de compará-lo a quem quer que fosse. E acho que eles também foram por esse caminho.
Não dá para simplificar uma obra desse quilate, quando leio, por exemplo: “uma mulher / é uma tempestade de verão / uma mulher / é uma bala perdida / na madrugada do sábado / uma mulher é um grito de gol anulado”.
Por enxergar beleza demais nas palavras; por ver, sutilmente entre uma letra e outra, além da influência dos já citados poetas, resquícios de um Murilo Mendes e de um Maiakosvky – meio chapado, de sarro e carregado de genuína esperança.
Ou então, quando mudo a página e vejo algo como: “A verdade / É que eu me amarro / Quando você me olha / Com essa cara de quem entrou / No banheiro errado. / Eu, eu entro pelas frestas / Eu, eu entro pelas saídas”. Típico texto de quem já varou diversas madrugadas tontas – e eu tava em algumas delas; os dois embriagados e divertidos pra caralho, tomando todas e mais algumas, tentando ver qual era a do próximo bar, se estava aberto ou se já tinha entregado as pontas e baixado as portas.
Outra garrafa incendiária: “quem quiser mais verde engole a serra. / quando vai falar, / cospe duzentas e trinta gramas, de bobagens coloridas. / o luar salta do bolso descorado / do mendigo em chamas / e solicita uma água tônica gelada. / o presidente cerra os dentes / e se auto-prolifera. / as feras comem a pinacoteca / do palácio da alvorada”.
Fogo, explosão. Uma espécie de “...alta temperatura anarquista (...)” como diz o editor e projetista gráfico do livro.
É por isso que não devo fazer a tal comparação, pura e simples. Recuso-me a “traçar” o tal “paralelo” tão comum aos críticos de verdade - nunca fui chegado a retas, paralelas ou não; sempre preferi parábolas e outras curvas que não sabem aonde vão chegar. Não sou jornalista, catedrático, ou coisa parecida.
Sei que se fizer isso, muita coisa se perde. A essência de todo o livro – algo não linear, que detona a tal linha reta - se corrói, desaparece. Injustamente. Cada vez que leio Entre o Alho e o Sal, acredito que ele tem o direito de reivindicar seu espaço e sua existência nas estantes desse tal mundo louco e entediado, como sendo uma obra particular e nova. Mesmo que de vez em quando a gente suponha, preguiçosamente, reconhecer uma ou outra coisa parecida com esse ou aquele escritor “estabelecido”.
Mas um livro não é inventar a roda; talvez reinventá-la, atear fogo à dita cuja...
A minha “crítica” surge da sorte assumida de poder ler essa obra, que se disfarça de pequena e casual; algo feito entre amigos numa mesa de boteco. Este meu texto começou por conhecer e admirar o cara, o autor do livro. E de poder dizer, com aquele raro orgulho, que ele é meu irmão; meu bróder, um dos escolhidos. Sem desmerecer, caindo numa espécie de descrédito ou da mais deslavada picaretagem, a qualidade de seus textos. Nem diminuir esta minha tentativa de explicar o que não tem tanta explicação assim.
Notas: Contatos com o escritor: 1 - lupeulacerda@gmail.com 2 - (87) 8812 9504 3 - (74) 3612-5264 / (74) 3614-2142 Onde comprar o livro: 1 - Livraria Cultura
Esse tipo de arte anda meio esquecida, já que cada vez mais os leitores preferem à prosa. Como se a velha matrona literatura jogasse pra escanteio a poesia furiosa, bela e inflamável.
Os textos que leio neste exato momento são aqueles que acordam os excessivamente metódicos. Em seus escritos e, por que não dizer, em suas vidas. Não que eu tenha nada contra os melancólicos de olhar tristonho e os filósofos de plantão – alguns donos de textos inspiradores. O que eu não tolero é o sujeito fingir que implode toda vez que escreve algo, enquanto não passa de um babaca enclausurado. Até ter a capacidade de diferenciar um do outro, vai um logo caminho. Mas a gente percebe a falsidade e a fraqueza explícita em cada ponto e vírgula depois que pega a manha.
Então, sendo isso aqui uma suposta resenha de um livro, sou obrigado a dar algumas informações didáticas e necessárias, antes de divagar um pouco.
Lupeu Lacerda, artesão e escritor, nasceu em Juazeiro do Norte. Passou bravamente – e com bêbado louvor– pelos anos setenta e de lá tirou suas melhores referências. Na verdade, longe das débeis cronologias, o escritor sacou que muita coisa hoje considerada eterna – Helter Skelter, dos Beatles; o disco Aqualung, Robert Crumb, Leminski, entre tantas outras ondas – surgiu naquela época. Tornando-se o seu lastro. Além de ser o tipo de cara que vislumbrava atrás de um muro, ou de qualquer vastidão seca, árida e meio desesperançada, um mundo de possibilidades, certamente o ar, a famosa resposta soprada pelo vento do Dylan, também deve ter feito lá seu estrago. E ele caiu fora. Viajou, montou bandas, tomou todas, escreveu pra caralho. Principalmente em fanzines, num momento em que isso implicava em datilografar os textos, recortar fotos e montar tudo com cola para, depois, tirar umas fotocópias.
Quando não era feito no jurássico e extinto mimeógrafo.
Seus textos foram “publicados” em diversos desses bravos redutos de literatura, tais como Séquiço Sacro e o Art Pop Zine, antológico zine que sacudiu a velha Juazeiro natal do sonolento João Gilberto. Viveu com a intensidade digna dos escritores que tanto admira – e esqueçam aqui o peso “clichê” da frase; se conhecerem um dia o cara verão do que falo: suas aventuras e viagens estão gravadas em seus olhos.
O livro Entre o Alho e o Sal - um petardo de 136 páginas, de qualidade gráfica indiscutível - começou a ganhar corpo no início da década de 90. Ao menos como projeto, algo que pudesse se transformar em livro. Foi nesse período que a coisa tomava um outro rumo para o poeta. Não em suas convicções, mas no mundo em si - ou alguém esqueceu que foi a partir de 1990, mais ou menos, que as nossas velhas crenças começaram a sumir com a chamada revolução tecnológica? O livro, assim como a tal revolução de bytes, teclados, chips e todo o resto, veio sem data pra terminar. Entre uma noite e outra, Lupeu enchia garrafas com gasolina e ácido sulfúrico, colocava um velho pano nos gargalos, acendia seu cigarro e esperava: ou seja, escrevia.
Na época ele já tava morando na terra natal do suposto gênio da Bossa Nova. Foi por aí que o conheci. A cidade não era mais tão sonolenta quanto seu filho desafinado e temperamental. Aqui e acolá, rolavam shows de bandas locais. Peças de teatro eram montadas no peito e na raça. Muita gente boa andava pelas estreitas ruas de pedra com Kerouac, Ginsberg, Henry Miller e Murilo Mendes debaixo do braço. Além de contar com um sebo, heroicamente comandado por Hélio, Dom Roncalli e Uberdan – nobres desconhecidos para vocês, mas fundamentais pra caras como eu. O sebo ficava numa sala pequena e acolhedora, em frente à igreja principal. E estava sempre lotado de clássicos da literatura mundial, livros Beat, quadrinhos verdadeiramente undergrounds e vinis raríssimos. Foi lá que eu vi, pela primeira vez em minha vida, um exemplar do Pasquim, da década de setenta.
Também foi ali que Ângelo Roncalli, amigo, autor do livro Orbitais e editor, teve o primeiro contato com o que seria Entre o Alho e o Sal. E gostou, batizando o tal com o título. Então, convertido numa espécie de Lawrence Ferlinghetti do São Francisco - não confundam com San Francisco -, começou a batalhar para que a obra pudesse ser publicada, muitos anos depois. Mas a falta de grana, recurso motriz de qualquer porra neste mundo confuso, jogou o projeto por água abaixo. Apesar do esforço eminente a coisa não vingou para o nosso Dom Roncalli.
Foi aí que outro cara, Sidney Rocha, amigo de longa data, sujeito nascido na Juazeiro inicial, a do Norte, topou a parada. E, “... se apaixonou pelo projeto”, como afirma o autor. Tomando pra si a iniciativa de publicar aquelas verdadeiras e ferventes sacações de mundo. E foi ele quem deu as caras e correu atrás – e deu a cara ao livro. O projeto gráfico, que contém alto relevo, ilustrações fabulosas de Leugim, colagens de Spirit, Crumb e etc – num merecido revival dos bons tempos dos zines – é algo que complementa o livro. Digo, sem risco de errar, que o editor e idealizador da Kabalah Editora tratou com todo o respeito à obra do cara. Coisa de parceiros.
***
É comum, quando alguém faz uma resenha, rolar aquele tipo de comparação fundamental com algum escritor antigo e de maior visibilidade. Geralmente, esses críticos de literatura fazem o que eles próprios chamam de “traçar um paralelo” entre o autor “x” e o “y” – na maioria dos casos o “y” é novato e tem sua obra diminuída pela comparação malfadada. E, na concepção inicial deste texto, enquanto organizava mentalmente as idéias, não foi diferente. Tive a pretensão vaga, que logo virou fumaça, de compará-lo ao Waly Salomão e Leminski. Ou até mesmo ao Gregory Corso. O que para Lupeu, creio, seria motivo de orgulho. Porém, tanto eu quanto o Roncalli e o próprio Sidney, que escrevem no livro, não caímos nesse expediente; um puta esparro. Por compreendermos tanto o livro. E por sabermos que as condições, contexto, história, vida, vontades subentendidas e escancaradas, biritas, fodas, madrugadas heróicas e outras coisas mais que fizeram surgir os poemas, foram tão diferentes e únicas, resolvemos impor nossa vontade. Colocamos Entre o Alho e o Sal ao “lado” dos grandes. Numa boa, sossegados.
Nas palavras – ou seriam tiros ? - do Sidney: “Não que eu catalogue o trabalho de Lupeu Lacerda com vanguardista ou romântico. E não o faço temendo outros críticos, que sabem muito bem que estas categorias carecem de significações mais profundas (...). Não o faço só porque não aprecio a catalogação das espécies(...)”; no que Roncalli arremata: “Entre conhecimentos que ainda não temos, entre coisas que temos e ainda não conhecemos. Lupeu é lupa e telescópio...ao mesmo tempo(...)”
Lupeu é lupa e telescópio...
Ou seja, os “molotovs” – dei esse nome pela carga explosiva contida em cada linha - deram conta do recado e incendiaram essa minha vontade de compará-lo a quem quer que fosse. E acho que eles também foram por esse caminho.
Não dá para simplificar uma obra desse quilate, quando leio, por exemplo: “uma mulher / é uma tempestade de verão / uma mulher / é uma bala perdida / na madrugada do sábado / uma mulher é um grito de gol anulado”.
Por enxergar beleza demais nas palavras; por ver, sutilmente entre uma letra e outra, além da influência dos já citados poetas, resquícios de um Murilo Mendes e de um Maiakosvky – meio chapado, de sarro e carregado de genuína esperança.
Ou então, quando mudo a página e vejo algo como: “A verdade / É que eu me amarro / Quando você me olha / Com essa cara de quem entrou / No banheiro errado. / Eu, eu entro pelas frestas / Eu, eu entro pelas saídas”. Típico texto de quem já varou diversas madrugadas tontas – e eu tava em algumas delas; os dois embriagados e divertidos pra caralho, tomando todas e mais algumas, tentando ver qual era a do próximo bar, se estava aberto ou se já tinha entregado as pontas e baixado as portas.
Outra garrafa incendiária: “quem quiser mais verde engole a serra. / quando vai falar, / cospe duzentas e trinta gramas, de bobagens coloridas. / o luar salta do bolso descorado / do mendigo em chamas / e solicita uma água tônica gelada. / o presidente cerra os dentes / e se auto-prolifera. / as feras comem a pinacoteca / do palácio da alvorada”.
Fogo, explosão. Uma espécie de “...alta temperatura anarquista (...)” como diz o editor e projetista gráfico do livro.
É por isso que não devo fazer a tal comparação, pura e simples. Recuso-me a “traçar” o tal “paralelo” tão comum aos críticos de verdade - nunca fui chegado a retas, paralelas ou não; sempre preferi parábolas e outras curvas que não sabem aonde vão chegar. Não sou jornalista, catedrático, ou coisa parecida.
Sei que se fizer isso, muita coisa se perde. A essência de todo o livro – algo não linear, que detona a tal linha reta - se corrói, desaparece. Injustamente. Cada vez que leio Entre o Alho e o Sal, acredito que ele tem o direito de reivindicar seu espaço e sua existência nas estantes desse tal mundo louco e entediado, como sendo uma obra particular e nova. Mesmo que de vez em quando a gente suponha, preguiçosamente, reconhecer uma ou outra coisa parecida com esse ou aquele escritor “estabelecido”.
Mas um livro não é inventar a roda; talvez reinventá-la, atear fogo à dita cuja...
A minha “crítica” surge da sorte assumida de poder ler essa obra, que se disfarça de pequena e casual; algo feito entre amigos numa mesa de boteco. Este meu texto começou por conhecer e admirar o cara, o autor do livro. E de poder dizer, com aquele raro orgulho, que ele é meu irmão; meu bróder, um dos escolhidos. Sem desmerecer, caindo numa espécie de descrédito ou da mais deslavada picaretagem, a qualidade de seus textos. Nem diminuir esta minha tentativa de explicar o que não tem tanta explicação assim.
Notas: Contatos com o escritor: 1 - lupeulacerda@gmail.com 2 - (87) 8812 9504 3 - (74) 3612-5264 / (74) 3614-2142 Onde comprar o livro: 1 - Livraria Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário