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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 8 de maio de 2010

CARTA A DEDÉ FRANÇA - Por: Dihelson Mendonça



CARTA A DEDÉ FRANÇA ( Sobre Roza Guede )
Por: Dihelson Mendonça

Meu caro amigo Dedé,
se você visse cuma é,
a bagunça que tá o mundo,
com esse tá de Forró Brega,
qualquer das moça se entrega
pras trinca de vagabundo

Tá muito mais pió agora
A esculhambação de outrora
já num é mais novidade
e pra piorar inda mais
as rádia não fica atrás
só toca imbecilidade

Agora tem um tal de "Di Jays"
que querem falar ingrês
mas de inglês num sabem nada
só sabem mesmo é budejar
passam o dia a arremedar
jumento bebendo água

Num tem uma rádio que preste
desde o sertão ao agreste
tudo só toca porcaria
tem uma tá de somzoomsat
que pega em qualquer parte
divulgando as baixaria

Num tem mais gente decente
as festa são decadente
quaje tudo termina em briga
pra você ter uma idéia
os cantor grita pra platéia
-- Aí tem moça ou rapariga ?

Mas tudo é culpa da ambição
desses maluco do cão
que vieram da capitá
poluíram nossa cidade
troxeram infelicidade
pras pessoa do lugar

Eu tenho muita fé em deus
que um dia esses fariseus
inda vão perder o nome
que dê uma gripe afônica
morram de peste bubônica
ou que se acabem de fome

Dedé eu trouxe um amigo
que deseja prosear contigo
dar-te uma palavrinha
Ele é poeta letrado
por vates grandes clamado
um mestre da escrivaninha

Assim ele diz:

"Envolto em couro, em gibão,
rejubila-se o Rei, Gonzagão
que transcendeu a arte infinda
com uma pureza abstrata
entoou versos, serenata,
que ecoam no universo ainda

Nas noites de lua cheia
os vates à luz vagueiam
plangendo ternos violões
ostentando-se para donzelas
gentis loas, aquarelas
entrelaçadas de sons

Imortais noites queridas
dos sonhos da minha vida
de outro tempo, se encerra
na pureza das crianças
nas danças, nas contradanças
de um sertão de outras eras

Campos de sonhos feridos
um norte pobre, esquecido
clama por heróis gigantes
p´ra florescer a cultura
renascer nossa bravura
e a dignidade d´antes

Ó grande vate do Crato
és príncipe, és candidato
às mais divinas esferas
de deus foste a voz altiva
a revelar-nos a intriga,
o mal que o tempo espera

Nisto posto, assim almejo
a paz dos justos, desejo
e por qual eu lhe sou grato,
que ao romper de aurora bela
livres de toda mazela
Rosa possa vir ao Crato."

Minhas saudações, nobre Poeta!

Dihelson Mendonça,
08/05/2010


Roza Guede - Por Jose Helder França - Original





Minha fia Roza Guede
Toda sumana mi pede
Pá i pá rua comigo
Ela tem muita vontade
Di cunhecê a cidade
Mais porém acho um pirigo

Acho um pirigo é verdade
Pruque aqui na cidade
A coisa é bem deferente
Num si vê mais o respeito
Num tem nomoro dereito
O povo ta indecente

Rozinha sempre diz: pai
Quando é qui o sinhô vai
Mi leva pá vê a rua
Mais eu não tenho corage
Quando mialembro dos traje
Dessas moça quaje nua

Eu sei qui Roza é dereita
I qui essas coiza num aceita
Mais pode o diabo atentá
É mió fica nos mato
Qué que vem vê cá no Crato
É mió fica pur lá

Eu sempre digo: minha fia
Vou lhe leva quarqué dia
Só pá tu vê Cuma é
Na rua, nada tem nome
É muié virando homi
Homi virando muié

É um disparate, Rozinha
Home de carça curtinha
É o que se vê na avinida
E as muié o contrario
Uma ta moda inventáro
Tudo de carça cumprida

Perdêro a morá de tudo
Tem uns tá de cabeludo
Qué o pió qui eu acho
Uns rapaz bem parecido
Cuns cabelos tão cumprido
Qui dá mode fazer cacho.

As modas qui eles canta
São tão horrive qui ispanta
Purisso num ai inverno
Basta Rozinha qui eu diga
Qui inventáro uma cantiga
Qui manda tudo pru infermo

Derda os mais véi as criança
Todo mundo cai na dança
Isquizita cuma quê
Ficam querendo dá sarto
Sibalançando cum os quarto
É um ta de iê-iê-iê

Me dixe Mané Germano
Qui é musga de americano
Qui tão querendo imitá
E qui o pió inda vem
É ôtas dança qui tem
Pras banda da capitá

Nada disso acho bunito
E nos guverno acridito
Num pode mais fica assim
Tem qui havê argum jeito
Mode vortá o respeito
Pá tudo isso te fim

Rozinha não se iluda
Qui quarqué dia isso muda
E quando mudá de fato
E num tive mais pirigo
Eu levo vancê cumigo
Pá passiá lá no Crato

Jose Helder França
Publicado no Blog do Sanharol por Antonio Morais

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