(Só para matar a saudade de Guimarães Rosa (ou aumentá-la), trouxe aqui um pedacinho de um trabalho que fiz sobre os três amores de Riobaldo)Stela Siebra Brito
Travessia. O irremediável extenso da vida.
No range rede da vida, de cabelos brancos, Riobaldo recorda, re-elabora. Descose da sua memória a geografia do sertão que o produziu, depois o engoliu, depois o cuspiu do quente da boca.
Sertão de tudo misturado, sem pastos demarcados. Sertão dos grandes silêncios. O silêncio da travessia. Silêncio dos ventos verdes dos buritizais. Aragem do Sagrado. Silêncio pra se pegar e pôr no colo. Silêncio para atravessar grotões, serras, rios. Águas de silêncio dentro do sertão de cada ser. Sertão e silêncio: da noite, da lua, do sete-estrelo, da estrela-d‘alva, do orvalho da manhã. Silêncio pra quem quer escutar e purgar o medo. E atravessar. E Ser. Humano.
Quieto é que a gente chama o amor: pedras que mudam de nome e de destino: topázio, safira, ametista.
Riobaldo ama - com vexame e com ardor - Reinaldo/Diadorim, seu companheiro de guerra, amor de prata, amor de ouro, amor em silêncios, amor que tenteia o sofrido ar do que é saudade com cheiro de campos em flores. Travessia.
Riobaldo ama - com volúpia e alegria - Nhorinhá, a bela bondade, a força vital de Eros, rapariga perdida no ser do sertão. Travessia.
Riobaldo ama - com admiração e contemplação - Otacília, criatura de belezas no quadrado da janela, figurando uma Nossa Senhora barroca nos sertões dos Gerais. Travessia.
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