Qué arco, qué tarco ou qué qui mui??
- Claude Bloc -
- Claude Bloc -
Seu Hubert Bloc Boris, meu pai, aclimatou-se nas brenhas da Serra Verde e a essa terra se entregou de corpo e alma e, assim, debaixo de pau e pedra, estava ele nas estradas, na lida, a cavalo ou de jipe.
A Serra Verde nessa época tinha umas 1000 famílias e, mesmo com a ajuda de fiscais, o trabalho era incansável.
Além de outros produtos, havia não me lembro em que época do ano, a colheita do fumo classificado pela qualidade das folhas e depois preparado em rolos. Eu, muitas vezes, fui com papai, fazenda adentro, e passava com ele, o dia na casa de algum morador para acompanhar e fiscalizar o processo. Eu ia observando aquele movimento e a técnica de enrolar o fumo... O cheiro forte. O sol agindo. E ouvia de meu pai as recomendações para se conseguir uma boa qualidade do produto final. Ouvia igualmente os carões se o serviço fosse mal feito.
O dia se passava assim. Apesar do objetivo de papai ser o trabalho, eu, de minha parte, olhava além. Ia pra debaixo dos pés de cajarana, arrodeava as goiabeiras, observava as bananeiras e, sobretudo, observava aqueles jardins floridos plantados em latas de querosene o que retratava o cuidadoso zelo da dona de casa. Eu gostava especialmente do cheiro do bugari que rescendia nos finais de tarde.
Tenho certeza de que foram essas incursões pela fazenda que me fizeram amar aquela terra. Terra que me fazia sonhar com reinos que não existiam a não ser dentro de mim. Foi dessas observações que nasceu em mim a poesia, pois eu já nesse tempo, via tudo com uma cor mais forte do que a realidade mostrava.
Na boca da noite meu pai e eu pegávamos o jipe e a gente voltava pra casa meio estropiados. Mas a sensação era de paz. Mais um dia, mais uma etapa cumprida.
A essa hora os grilos já estavam de canto solto azucrinando a noite. Papai ainda passava no escritório para verificar o caixa e também para jogar um dedo de prosa com os compadres ou mesmo jogar 21 rifando bode.
Foi numa dessas que João Luiz “barbeiro” apareceu pelo escritório. Gostava de tomar uma caninha “torada” e também de contar vantagem . Nesse dia, meio “chumbado” foi logo contando “farol” pra papai, Geraldo (motorista) e Maria Alzira (secretária). Mamãe estava por perto e foi quem me contou a marmota.
Disse que conhecia a”Zalagoa”, a Paraíba, de cabo a rabo, Rio Grande do Norte e por aí vai. Disse também ter ido várias vezes a Exu e Serra Talhada. Nesse momento, papai se lembrou de um amigo de quem tinha comprado um carro nessa cidade e perguntou a João Luiz:
- O compadre João conheceu Apolônio?
- Oxente cumpadi, morei lá muitos anos!!
E você: Qué tarco, qué arco ou qué qui mui??
Claude Bloc
8 comentários:
Prezada Claude
Parabéns por este poema em forma de prosa que tem o cheiro do nosso sertão. Quando comecei a ler, pensei comigo, foi aí então que ela virou poetisa. Mais adiante você confirmou o que eu havia pensado.
Claude:
Gosto muito das suas histórias da Serra Verde. Tenho boas recordações de lá.
Abraços
Magali
Aos amigos Magali e Carlos Eduardo meu abraço e meus agradecimentos por suas palavras incentivadoras.
Quem viveu por entre pessoas simples do sertão, aprendeu lições de vida que servem por todo o sempre.
Mas acima de tudo, vale a amizade sincera e essa eu sei que vocês me têm.
Abraço,
Claude
Claude,
Em primeiro lugar: saudadessss....
E em segundo adorei essa prosa menina.Essa história meu pai já me contava comigo em seu cólo.
Ôh tempo bommmmm.
Bjos: Liduina.
Pois é, Liduína... Mistura-se aí minha história com os causos populares.
Feliz por sua presença aqui...
Abração,
Claude
Claude, gosto muito das tuas "rememorações". É gostoso ler o que escreves com tanta leveza e emoçao. Este texto tá primoroso mesmo. Gostei de tudo, mas vou te dizer: adorei encontrar a expressão "na boca da noite", que considero rica, significativa, e tão nossa!
Preciso te dizer também que, de uma forma bem especial, este texto me trouxe boas lembranças e tornaste a minha "boca da noite" de hoje, bem mais poética. Gracias.
Um abraço carinhoso pra tu.
Ei, Stela,
Fiquei muito feliz por você ter gostado do texto. Tentei introduzir alguns termos usados lá pras nossas bandas. De Ponta da Serra pra lá... Você devia voltar a contar seus "causos"... Afinal, Ponta da Serra era meu caminho e tenho uma historinha minha vivida lá, bem "pertim".
Abraço,
Claude
Como é bom ler seus contos,veuços e prosas.Tô cum sardades,beijos te amo.
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