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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010
UM CASTELO DE VERDADE - Por Edilma Saraiva Rocha
Numa tarde comum um alerta comum.
_ Correio !
Me dirigi ao portão abri o envelope contendo um convite para um casamento, local Castelo de Petrópoles no Rio de Janeiro. Bem distante mas especial pelo casal de noivos. Fui aos poucos me programando para aquela viagem que de certo o Castelo era o título de algum Buffet Serrano.
Ao desembarcar no Rio de Janeiro seguimos juntos com outros convidados em uma Topic que já nos aguardava no aeroporto Santos Dumont para levar-nos ao destino final. A hospedagem seria no próprio Buffet e a festa era com um número limitado de convidados. Mas ao me deparar no local tive a agradável surpresa de que era um castelo de verdade. Meus olhos não perdiam cada detalhe surpreendente pelo caminho até chegar aos meus aposentos. Um quarto enorme com seis camas belíssimas e bem confortáveis e decoração digna do lugar. Um armário enorme que acomodou toda a nossa bagagem e o vestido da noite sem maiores dificuldades. A sala de banho era espaçosa e com uma certa modernidade nas instalações.
Como já era tarde todos fizeram um pequeno lanche e se acomodaram nos seus respectivos aposentos. Já conhecia outros castelos espalhados pelo meio do mundo mas como turista, não como uma hóspede. Tomei banho quente, me perfumei, vesti uma camisola vermelha e longa, nos pés um par de chinelos macios e quando todos dormiram fugi com uma pequena lanterna da mesinha de cabeceira na tentativa de explorar um pouco o lugar. O silencio era total e todos, acho que dormiam profundamente. Eu era somente um vulto solitário que vagava pelo castelo na noite pisando levemente sobre os mosaicos antigos em busca de preciosidades. Minha camisola esvoaçante refletia sombras nas paredes e com passos apressados pelo prazer das descobertas. Como não tenho mesmo temor a nada certamente não ouviria o rangi das correntes e também os vultos dos fantasmas que certamente estavam surpresos com a nova visitante noturna. Atravessei um enorme corredor repleto de janelas com vitrais assinados pelos irmãos Formentti e me deparei com uma enorme escultura la no alto próximo ao teto representando um casal enamorado esculpida em mármore branco de Carrara assinada por H. Cozzo, artista consagrado na época de 1920 no Rio de Janeiro. Em seguida encontrei uma torre contendo uma enorme escadaria de madeira de lei toda trabalhada em florais e arabescos e desci cuidadosamente ao saguão de entrada. Procurei um interruptor e acendi as luzes de um belíssimo lustre de cristal contendo 24 mangas em Bacarah bisotado, um deslumbre em pedras e luzes. Em frente uma enorme porta como numa protecção e deparei-me com uma armadura medieval protegendo a sala de espelhos que ficava atrás, uma réplica do salão de Versalhes, na França. No alto da escada 3 retratos em tamanho natural decoravam as paredes numa pintura a óleo assinados por Luiz Almeida Junior, ano 1946 e 1947. Eram imagens da proprietária da casa e de suas duas filhas adolescentes. Trabalhos maravilhosos em pintura clássica.
Escutei um barulho no andar de cima e fugi rapidamente mas não me contive em parar um pouco ao passar por uma biblioteca repleta de livros em armários fechados e com portas de vidro, mas certamente eu voltaria no dia seguinte. Entrei no meu aposento e não consegui dormir imaginando todo o esplendor que ali aconteceu em festas e saraus regados a vinhos e chás quentes servidos as damas e cavalheiros...
O dia amanheceu e pulei da cama para conhecer a verdadeira história daquele lugar mágico. Encontrei no restaurante 2 netos do antigo proprietário que trabalhavam no serviço do hotel e comecei uma investigação sobre aquele lugar. O projeto foi do arquitecto Lívio Costa com inicio em 1920 e finalizado em 1927. O proprietário se chamava Sr. Lourival Lopes Ferreira e lá era a sua residência de verão. No projeto 3 torres adornavam a construção com cobertas cónicas elegantemente recobertas em escamas de ardósia. As paredes foram revestidas com pedras de granito bruto por mestres portugueses. Sr. Lourival Lopes Ferreira foi o famoso ricaço carioca dono do Casino da Urca nos anos 20 e dentro do próprio castelo existe ainda outro ambiente para jogos de roleta, poquer e bacará lacrado definitivamente que serviu para grandes perdas da fortuna da família. Em 1960 foi vendido a um grupo de investidores e no ano seguinte passou a sede do Cauntry Club ocupando os aposentos na transformação de um hotel e aluguel para eventos sociais, agredindo o projeto inicial com construção de piscinas, quadras de esportes e desmatamento para cavalgadas.
Na estrada de Petrópoles Km 83, encontrei um castelo, percorri seus bosques, admirei as enormes hortencias azuis, orquiedeas, lírios e borboletas, escutei o canto dos passáros ao longe como uma lembrança infantil na vida adulta. Assisti a uma belíssima cerimonia de casamento mas com certeza aos meus olhos e a minha sensibilidade o meu sentimento teve um diferencial dos demais convidados.
Edilma Saraiva Rocha
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Um comentário:
Esplêndida narração !
Podia ter continuado o texto , e começado a escrever um romance . Vamos lá... Volte ao cenário e come ce uma história de ficção. A gente vai ficar ligados !
Só não gostei, quando terminou... Quero mais !
Abraços.
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